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Segundo turno 2020: e se as abstenções falassem?

Seguindo tendência observada no exterior, partidos brasileiros terão uma nova tarefa daqui em diante: convencer eleitores a saírem para votar

No primeiro turno das eleições municipais, abstenção chegou a 30% no país (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
FS

Fabiane Stefano

Publicado em 29 de novembro de 2020 às 19h09.

Última atualização em 29 de novembro de 2020 às 19h38.

Ainda no mestrado ouvi de um professor de microeconomia uma frase que me fez parar por alguns segundos. O mestre dizia “é mais fácil você ganhar na loteria do que seu voto fazer diferença em uma eleição majoritária?”, ou seja, a probabilidade de uma eleição ser decidida por apenas 1 voto é quase nula.

 

Sendo assim, diante dessa evidente irrelevância no resulto final, o custo de transação de sair de casa para votar não compensa economicamente o benefício. Por outro lado, a vida é feita de pequenas atos de simplicidade e votar no Brasil é simples. Além de ser “obrigatório” para os(as) brasileiros(as) e, para muitos, um dever cívico.

Os elementos filosóficos são superlativos mas os fatos apontam que a abstenção é um grande “vencedora” das eleições municipais de 2020. Quando a expandimos a coalização para brancos/nulos/abstenções temos um pelotão imbatível. Como interpretar esse fenômeno de distanciamento das urnas?

Podemos começar mencionando a pandemia do coronavírus. Outras eleições locais em países como França, Coréia do Sul e Estados Unidos mostraram que houve de 5 a 10 pontos percentuais adicionais de abstenção em função da pandemia. A julgar pelos resultados das eleições municipais o Brasil seguiu a mesma tendência. Em algumas cidades ficou evidente que essa abstenção foi mais forte em regiões de maior densidade demográfica e com maior concentração de eleitores mais velhos (acima de 50 anos).

Vale lembrar também que a classe política ainda carece de empatia com os cidadãos comuns. As pessoas seguem se sentindo pouco representadas por membros do poder executivo e a percepção que a política orbita outra dimensão planetária segue firme no imaginário da opinião pública. A curva de abstenção das eleições municipais ao longo dos últimos ciclos eleitorais é crescente e preocupante. Vivemos índices de abstenção compatíveis com países de voto facultativo.

Para completar a tecnologia pode ajudar o Brasil a se aproximar ainda mais a um ambiente de voto não obrigatório. A criação do e-título (o aplicativo do TSE para ajudar a justificar o voto) facilita a vida dos eleitores que ficam em dúvida entre sair ou não para votar. Ficando mais simples justificar, mais um motivo para não votar. A adesão do e-título tende a aumentar em 2022 e podemos ter implicações sérias de abstenção.

Portanto, se abstenção falasse diria que os partidos terão uma nova tarefa daqui em diante: convencer eleitores a saírem para votar. Mostrar a importância de exercer esse ato de cidadania. Isso implica em um outro tipo de comunicação política e eventualmente campanhas mais complexas e caras. Significa, na prática, um esforço adicional para sair da jaula das “bolhas” e dialogar com cidadãos cada vez mais distantes da política. Nada simples mas, como 2020 mostrou, não dá mais para se abster dessa realidade.

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Ainda no mestrado ouvi de um professor de microeconomia uma frase que me fez parar por alguns segundos. O mestre dizia “é mais fácil você ganhar na loteria do que seu voto fazer diferença em uma eleição majoritária?”, ou seja, a probabilidade de uma eleição ser decidida por apenas 1 voto é quase nula.

 

Sendo assim, diante dessa evidente irrelevância no resulto final, o custo de transação de sair de casa para votar não compensa economicamente o benefício. Por outro lado, a vida é feita de pequenas atos de simplicidade e votar no Brasil é simples. Além de ser “obrigatório” para os(as) brasileiros(as) e, para muitos, um dever cívico.

Os elementos filosóficos são superlativos mas os fatos apontam que a abstenção é um grande “vencedora” das eleições municipais de 2020. Quando a expandimos a coalização para brancos/nulos/abstenções temos um pelotão imbatível. Como interpretar esse fenômeno de distanciamento das urnas?

Podemos começar mencionando a pandemia do coronavírus. Outras eleições locais em países como França, Coréia do Sul e Estados Unidos mostraram que houve de 5 a 10 pontos percentuais adicionais de abstenção em função da pandemia. A julgar pelos resultados das eleições municipais o Brasil seguiu a mesma tendência. Em algumas cidades ficou evidente que essa abstenção foi mais forte em regiões de maior densidade demográfica e com maior concentração de eleitores mais velhos (acima de 50 anos).

Vale lembrar também que a classe política ainda carece de empatia com os cidadãos comuns. As pessoas seguem se sentindo pouco representadas por membros do poder executivo e a percepção que a política orbita outra dimensão planetária segue firme no imaginário da opinião pública. A curva de abstenção das eleições municipais ao longo dos últimos ciclos eleitorais é crescente e preocupante. Vivemos índices de abstenção compatíveis com países de voto facultativo.

Para completar a tecnologia pode ajudar o Brasil a se aproximar ainda mais a um ambiente de voto não obrigatório. A criação do e-título (o aplicativo do TSE para ajudar a justificar o voto) facilita a vida dos eleitores que ficam em dúvida entre sair ou não para votar. Ficando mais simples justificar, mais um motivo para não votar. A adesão do e-título tende a aumentar em 2022 e podemos ter implicações sérias de abstenção.

Portanto, se abstenção falasse diria que os partidos terão uma nova tarefa daqui em diante: convencer eleitores a saírem para votar. Mostrar a importância de exercer esse ato de cidadania. Isso implica em um outro tipo de comunicação política e eventualmente campanhas mais complexas e caras. Significa, na prática, um esforço adicional para sair da jaula das “bolhas” e dialogar com cidadãos cada vez mais distantes da política. Nada simples mas, como 2020 mostrou, não dá mais para se abster dessa realidade.

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