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Governantes, é hora de respirar e contar até 2022

Enquanto os homens públicos muitas vezes se afobam e chegam a confundir atos de exibicionismo com estratégia de comunicação política, a população segue descontente no assunto imunização contra a covid-19

A este enredo, que já é por si o mais triste que se possa imaginar, ainda conseguimos acrescer variáveis irritantes quase que diariamente (Bruno Kelly/Reuters)
KS

Karina Souza

Publicado em 14 de janeiro de 2021 às 20h44.

No mesmo dia em que a NASA divulgou que 2020 foi o ano mais quente do último século e meio, a capital do Amazonas, estado brasileiro que leva o nome do “ pulmão da Terra ”, ficou literalmente sem oxigênio. A comparação é piegas mas neste início de 2021 talvez precisemos de obviedades. Não bastasse a divulgação de dados que demonstram que o planeta está indo para o beleléu – com mudanças no volume dos oceanos, aumento de furacões e de incêndios - seres humanos permitem que seus pares morram asfixiados em leitos de hospital em consequência de uma enfermidade contra a qual outros países já aplicam a vacina.

A este enredo, que já é por si o mais triste que se possa imaginar, ainda conseguimos acrescer variáveis irritantes quase que diariamente.  É o caso do vaivém de informações sobre a eficácia da CoronaVac, do adiamento do voo que vai buscar 2 milhões de doses da vacina de Oxford na Índia, supostamente para adesivar o avião para uma foto op, ou da transmissão ao vivo da aprovação das vacinas pela Anvisa, em um domingo, como se fosse a final de um campeonato de futebol. Estes movimentos são ora considerados como erros ou acertos de comunicação ou, ainda, provas de ganhos ou perdas dos atores políticos com vistas à disputa eleitoral de 2022.

Enquanto os homens públicos muitas vezes se afobam - pressionados pela crise e pelas redes sociais – e chegam a confundir atos de exibicionismo com estratégia de comunicação política, a população segue pragmática, informada e descontente no assunto imunização contra a Covid-19. Na última pesquisa EXAME/IDEIA, realizada esta semana, 67% dos entrevistados disseram que o Brasil está atrasado para o início da vacinação com relação a outros países. Na região Norte, 80% das pessoas pensam desta forma. Entre os menos escolarizados, são 78%.

Seja pela tradição do SUS de eficiência nas campanhas de vacinação em geral no Brasil, seja pelas imagens que vêm de outros países que já começaram a imunização, as pessoas também têm claro que a responsabilidade na distribuição e aplicação é do setor público. Em outras palavras, 57% das pessoas não aceitariam pagar pela vacina contra a covid-19. Entre as pessoas de renda mais baixa, esse dado chega a 64%. E mesmo entre os entrevistados das classes A/B, a maioria (51%) não aceita pagar pela vacina.

Pode valer a pena para os governantes envolvidos com as decisões sobre a vacinação e o combate à pandemia prestarem atenção a um dos ensinamentos do livro “A organização: a Odebrecht e o esquema de corrupção que chocou o mundo” (Companhia das Letras), da jornalista Malu Gaspar. O trecho a sublinhar é o que traz a icônica frase do fundador da que foi a maior empreiteira da América Latina, Norberto Odebrecht, que considerava possível “entrar na lama com os porcos, mas sair do outro lado limpo e de terno branco”. Ao longo do livro – e da história – vemos o quanto o tempo e os fatos decorrentes da operação Lava Jato tornariam a frase tão equivocada. Não dá pra entrar na lama com os porcos, mas sair do outro lado limpo e de terno branco. Simplesmente não dá.

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No mesmo dia em que a NASA divulgou que 2020 foi o ano mais quente do último século e meio, a capital do Amazonas, estado brasileiro que leva o nome do “ pulmão da Terra ”, ficou literalmente sem oxigênio. A comparação é piegas mas neste início de 2021 talvez precisemos de obviedades. Não bastasse a divulgação de dados que demonstram que o planeta está indo para o beleléu – com mudanças no volume dos oceanos, aumento de furacões e de incêndios - seres humanos permitem que seus pares morram asfixiados em leitos de hospital em consequência de uma enfermidade contra a qual outros países já aplicam a vacina.

A este enredo, que já é por si o mais triste que se possa imaginar, ainda conseguimos acrescer variáveis irritantes quase que diariamente.  É o caso do vaivém de informações sobre a eficácia da CoronaVac, do adiamento do voo que vai buscar 2 milhões de doses da vacina de Oxford na Índia, supostamente para adesivar o avião para uma foto op, ou da transmissão ao vivo da aprovação das vacinas pela Anvisa, em um domingo, como se fosse a final de um campeonato de futebol. Estes movimentos são ora considerados como erros ou acertos de comunicação ou, ainda, provas de ganhos ou perdas dos atores políticos com vistas à disputa eleitoral de 2022.

Enquanto os homens públicos muitas vezes se afobam - pressionados pela crise e pelas redes sociais – e chegam a confundir atos de exibicionismo com estratégia de comunicação política, a população segue pragmática, informada e descontente no assunto imunização contra a Covid-19. Na última pesquisa EXAME/IDEIA, realizada esta semana, 67% dos entrevistados disseram que o Brasil está atrasado para o início da vacinação com relação a outros países. Na região Norte, 80% das pessoas pensam desta forma. Entre os menos escolarizados, são 78%.

Seja pela tradição do SUS de eficiência nas campanhas de vacinação em geral no Brasil, seja pelas imagens que vêm de outros países que já começaram a imunização, as pessoas também têm claro que a responsabilidade na distribuição e aplicação é do setor público. Em outras palavras, 57% das pessoas não aceitariam pagar pela vacina contra a covid-19. Entre as pessoas de renda mais baixa, esse dado chega a 64%. E mesmo entre os entrevistados das classes A/B, a maioria (51%) não aceita pagar pela vacina.

Pode valer a pena para os governantes envolvidos com as decisões sobre a vacinação e o combate à pandemia prestarem atenção a um dos ensinamentos do livro “A organização: a Odebrecht e o esquema de corrupção que chocou o mundo” (Companhia das Letras), da jornalista Malu Gaspar. O trecho a sublinhar é o que traz a icônica frase do fundador da que foi a maior empreiteira da América Latina, Norberto Odebrecht, que considerava possível “entrar na lama com os porcos, mas sair do outro lado limpo e de terno branco”. Ao longo do livro – e da história – vemos o quanto o tempo e os fatos decorrentes da operação Lava Jato tornariam a frase tão equivocada. Não dá pra entrar na lama com os porcos, mas sair do outro lado limpo e de terno branco. Simplesmente não dá.

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