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Eleições Municipais 2020: O “Império” contra-ataca

Eleições de 2020 criam um espaço sólido para uma oferta de candidaturas competitivas da política tradicional tanto no plano estadual quanto federal

(Rodolfo Buhrer/Reuters)
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marianamartucci

Publicado em 15 de novembro de 2020 às 17h40.

Criaturas estranhas, alienígenas, dróides robóticos e o governo nas mãos de um imperador tirano, em uma galáxia muito, muito distante…Sem dúvida uma uma história que fascina diversas gerações. A saga Star Wars, ou Guerra nas Estrelas, foi criada em 1977 pelo cineasta George Lucas, revolucionando a categoria de ficção científica no cinema.

É impossível você não ter ouvido falar sobre Luke Skywalker, Princesa Leia, Chewbacca, Han Solo, Mestre Yoda, C-3PO, R2-D2 e o mais lendário de todos os vilões do cinema, Darth Vader.A julgar pelos resultados das eleições de 2020, a era dos candidatos de “fora política” parece muito, muito distante. Os vencedores, até o momento, foram partidos e lideranças com enorme histórico político. E alguns pontos merecem atenção.

Primeiro, esse foi o pleito de continuidade. Prefeitos(as) bem avaliados tiverem conquistas galácticas na própria re-eleição ou não eleição de seus(suas) candidatos(as). Inclusive em capitais como Belo Horizonte, Curitiba, Palmas, Campo Grande, Florianópolis e Salvador. A pandemia que assolou o planeta terra ajudou a dar visibilidade aos prefeitos e prefeitas. A grande maioria se beneficiou de choques positivos de popularidade que pavimentaram um sólido caminho para as urnas e complicaram a vida dos rebeldes da oposição.

Segundo, faz-se necessário ressaltar o fortalecimento de nomes, sobrenomes e siglas da política tradicional. Exemplos não faltam: Eduardo Paes no Rio de Janeiro, Manuela D’Avila em Porto Alegre, Bruno Covas em São Paulo, Amazonino Mendes em Manaus, João Campos em Recife e Maguito Vilela na capital goiana. Partidos que orbitam entre o centro e o “centrão” como PSD, Podemos, MDB e principalmente o DEM saem maiores em grandes centros. E candidatos(as) majoritários(as) com títulos de delegados(as), capitães e derivados não surfaram em ondas tranquilas como em 2018 e passaram longe de desempenhos estelares.

Nesse contexto o Brasil segue uma tendência mundial: a narrativa de ser “de fora da política” e “diferente de tudo que está aí” tem um prazo de validade. O Podemos e Ciudadanos na Espanha, o En Marché na França, o Movimento Cinco Estrelas na Itália e o próprio Donald Trump nos Estados Unidos sofreram muito nos ciclos eleitorais posteriores a suas respectivas estreias/vitórias eleitorais. Quando esses grupos de “fora da política” passam a governar e legislar a narrativa de “ser de fora do sistema” fica distante. As consequências são a volta da “política tradicional”.

Portanto, as eleições de 2020 criam um espaço sólido para uma oferta de candidaturas competitivas da política tradicional tanto no plano estadual quanto federal. O presidente Jair Bolsonaro, ainda sem partido, apostará no Retorno do Jedi mas o alerta das urnas municipais aponta que o Império tem tudo para contra-atacar.

Presidenciais americanas: pesquisas ou tempo errados ?

O legendário escritor português José Saramago certa vez escreveu Nunca se pode saber de antemão de que são capazes as pessoas, é preciso esperar, dar tempo ao tempo, o tempo é que manda . A espera passou longe de ser o atributo principal na decisiva semana de apuração das eleições presidenciais americanas. Com menos de duas horas de apuração já pipocavam nos meios de comunicação e nas redes sociais o mantra de que “as pesquisas erraram de novo”. Peço sua permissão para questionar essas conclusões apocalíticas sobre as pesquisas.

Primeiro, é prudente somente comparar os resultados das pesquisas quando todas as urnas tiverem sido apuradas. Na noite da eleição (e nos dias seguintes) tínhamos muitos estados decisivos não tinham finalizado suas contagens de votos. Como cravar os erros sem a totalidade de votos para a apropriada comparação?

Com o final da apuração nacional (que deve demorar) é muito provável que as pesquisas nacionais estejam alinhadas (incluindo a margem de erro) com o resultado do voto popular. Isso já aconteceu em 2016 quando os levantamentos nacionais acertaram que Hillary Clinton ganharia o voto popular.

Por outro lado, a eleição americana é uma somatória de eleições estaduais. O ponto central é analisar os resultados por estado. E nesse quesito, as pesquisas acertam muito. As principais pesquisas estaduais (e vamos citar CNN, Ipsos, Fox New, NBC e até mesmo a brasileira EXAME/IDEIA) acertaram os vencedores e o resultado na margem de erro de Ohio, Flórida, Michigan e Texas. Na Flórida algumas apontaram Joe Biden como ganhador mas os percentuais de margem erro ficaram alinhados com a votação. Foram essas  mesmas pesquisas que capturaram uma curva de melhora significativa de Trump na reta final que se materializou no dia da eleição.

Todavia, as pesquisas não conseguiram capturar o comparecimento e distribuição do eleitorado do Wisconsin (repetiu-se a inconsistência de 2016). Os levantamentos apontavam uma margem muito para maior para Joe Biden que acabou vencendo por aproximadamente 1 ponto percentual. Existe um trabalho e aprendizados a ser feito para aprimorar a amostragem desse estado.

Vale lembrar que as amostragens melhoraram muito em relação a 2016. Conseguiram balancear melhor os eleitores mais “tímidos” pró-Trump e o comparecimento de cidades pequenas e rurais. Também não esquecer que o voto nos Estados Unidos não é obrigatório e todas as sondagens estimam o eleitor provável. O ambiente da pandemia tornou o desafio de antecipar quem iria votar (por correio ou presencialmente) muito maior.

Por último, não custa lembrar que pesquisas da opinião não podem ser confundidas com modelos preditivos (como o caso site FiveThirtyEight ou RealClearPolitics). Os modelos geram uma probabilidade do resultado futuro e não uma fotografia da opinião pública como fazem as sondagens. Tais modelos foram muito generosos com Joe Biden em estados como a Florida, Ohio, Carolina do Norte e Texas. E, de alguma forma, descolados das margens de erros levantadas. Portanto, como diz o Saramago “o tempo é que manda” e não as ansiedades e desejos coletivos.

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Criaturas estranhas, alienígenas, dróides robóticos e o governo nas mãos de um imperador tirano, em uma galáxia muito, muito distante…Sem dúvida uma uma história que fascina diversas gerações. A saga Star Wars, ou Guerra nas Estrelas, foi criada em 1977 pelo cineasta George Lucas, revolucionando a categoria de ficção científica no cinema.

É impossível você não ter ouvido falar sobre Luke Skywalker, Princesa Leia, Chewbacca, Han Solo, Mestre Yoda, C-3PO, R2-D2 e o mais lendário de todos os vilões do cinema, Darth Vader.A julgar pelos resultados das eleições de 2020, a era dos candidatos de “fora política” parece muito, muito distante. Os vencedores, até o momento, foram partidos e lideranças com enorme histórico político. E alguns pontos merecem atenção.

Primeiro, esse foi o pleito de continuidade. Prefeitos(as) bem avaliados tiverem conquistas galácticas na própria re-eleição ou não eleição de seus(suas) candidatos(as). Inclusive em capitais como Belo Horizonte, Curitiba, Palmas, Campo Grande, Florianópolis e Salvador. A pandemia que assolou o planeta terra ajudou a dar visibilidade aos prefeitos e prefeitas. A grande maioria se beneficiou de choques positivos de popularidade que pavimentaram um sólido caminho para as urnas e complicaram a vida dos rebeldes da oposição.

Segundo, faz-se necessário ressaltar o fortalecimento de nomes, sobrenomes e siglas da política tradicional. Exemplos não faltam: Eduardo Paes no Rio de Janeiro, Manuela D’Avila em Porto Alegre, Bruno Covas em São Paulo, Amazonino Mendes em Manaus, João Campos em Recife e Maguito Vilela na capital goiana. Partidos que orbitam entre o centro e o “centrão” como PSD, Podemos, MDB e principalmente o DEM saem maiores em grandes centros. E candidatos(as) majoritários(as) com títulos de delegados(as), capitães e derivados não surfaram em ondas tranquilas como em 2018 e passaram longe de desempenhos estelares.

Nesse contexto o Brasil segue uma tendência mundial: a narrativa de ser “de fora da política” e “diferente de tudo que está aí” tem um prazo de validade. O Podemos e Ciudadanos na Espanha, o En Marché na França, o Movimento Cinco Estrelas na Itália e o próprio Donald Trump nos Estados Unidos sofreram muito nos ciclos eleitorais posteriores a suas respectivas estreias/vitórias eleitorais. Quando esses grupos de “fora da política” passam a governar e legislar a narrativa de “ser de fora do sistema” fica distante. As consequências são a volta da “política tradicional”.

Portanto, as eleições de 2020 criam um espaço sólido para uma oferta de candidaturas competitivas da política tradicional tanto no plano estadual quanto federal. O presidente Jair Bolsonaro, ainda sem partido, apostará no Retorno do Jedi mas o alerta das urnas municipais aponta que o Império tem tudo para contra-atacar.

Presidenciais americanas: pesquisas ou tempo errados ?

O legendário escritor português José Saramago certa vez escreveu Nunca se pode saber de antemão de que são capazes as pessoas, é preciso esperar, dar tempo ao tempo, o tempo é que manda . A espera passou longe de ser o atributo principal na decisiva semana de apuração das eleições presidenciais americanas. Com menos de duas horas de apuração já pipocavam nos meios de comunicação e nas redes sociais o mantra de que “as pesquisas erraram de novo”. Peço sua permissão para questionar essas conclusões apocalíticas sobre as pesquisas.

Primeiro, é prudente somente comparar os resultados das pesquisas quando todas as urnas tiverem sido apuradas. Na noite da eleição (e nos dias seguintes) tínhamos muitos estados decisivos não tinham finalizado suas contagens de votos. Como cravar os erros sem a totalidade de votos para a apropriada comparação?

Com o final da apuração nacional (que deve demorar) é muito provável que as pesquisas nacionais estejam alinhadas (incluindo a margem de erro) com o resultado do voto popular. Isso já aconteceu em 2016 quando os levantamentos nacionais acertaram que Hillary Clinton ganharia o voto popular.

Por outro lado, a eleição americana é uma somatória de eleições estaduais. O ponto central é analisar os resultados por estado. E nesse quesito, as pesquisas acertam muito. As principais pesquisas estaduais (e vamos citar CNN, Ipsos, Fox New, NBC e até mesmo a brasileira EXAME/IDEIA) acertaram os vencedores e o resultado na margem de erro de Ohio, Flórida, Michigan e Texas. Na Flórida algumas apontaram Joe Biden como ganhador mas os percentuais de margem erro ficaram alinhados com a votação. Foram essas  mesmas pesquisas que capturaram uma curva de melhora significativa de Trump na reta final que se materializou no dia da eleição.

Todavia, as pesquisas não conseguiram capturar o comparecimento e distribuição do eleitorado do Wisconsin (repetiu-se a inconsistência de 2016). Os levantamentos apontavam uma margem muito para maior para Joe Biden que acabou vencendo por aproximadamente 1 ponto percentual. Existe um trabalho e aprendizados a ser feito para aprimorar a amostragem desse estado.

Vale lembrar que as amostragens melhoraram muito em relação a 2016. Conseguiram balancear melhor os eleitores mais “tímidos” pró-Trump e o comparecimento de cidades pequenas e rurais. Também não esquecer que o voto nos Estados Unidos não é obrigatório e todas as sondagens estimam o eleitor provável. O ambiente da pandemia tornou o desafio de antecipar quem iria votar (por correio ou presencialmente) muito maior.

Por último, não custa lembrar que pesquisas da opinião não podem ser confundidas com modelos preditivos (como o caso site FiveThirtyEight ou RealClearPolitics). Os modelos geram uma probabilidade do resultado futuro e não uma fotografia da opinião pública como fazem as sondagens. Tais modelos foram muito generosos com Joe Biden em estados como a Florida, Ohio, Carolina do Norte e Texas. E, de alguma forma, descolados das margens de erros levantadas. Portanto, como diz o Saramago “o tempo é que manda” e não as ansiedades e desejos coletivos.

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