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Eleições 2020: Você pode substituir corrupção por votação, por exemplo

Caberá ao eleitor a tarefa de ir atrás de informações e de se dedicar para fazer as melhores escolhas no seu prato político para 2021

(Divulgação/Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 25 de setembro de 2020 às 15h20.

Última atualização em 25 de setembro de 2020 às 18h29.

Aquele meme mais do que manjado da Bela Gil, “você pode substituir churrasco por melancia, por exemplo”, nunca esteve tão em alta. Serve, por exemplo, pra 77% dos brasileiros que disseram, na última pesquisaExame/IDEIA, que estão substituindo arroz por macarrão.

No levantamento realizado entre os dias 21 e 24 setembro, com 1.200 pessoas, por telefone, o patamar chega a níveis elevadíssimos em algumas faixas da população: 95% dos entrevistados da região Norte do país mencionaram a substituição do grão pela massa alimentícia. Para 75% da população mais pobre, o arroz está mais caro e houve diminuição do consumo.

A perspectiva tampouco é animadora: 55% acredita que o arroz e outros alimentos seguirão aumentando, sendo os mais pobres os mais pessimistas (75%). Mas e na campanha municipal que começa na próxima semana, será que o eleitor também optará pelas substituições?

Não se pode dizer que a oferta não seja farta. Nunca tivemos tantos candidatos como este ano. O número final só será conhecido a partir de amanhã, com os registros na Justiça Eleitoral encerrados, mas o cálculo é que mais de 700 mil políticos concorrerão a prefeito e vereador em 5.570 municípios no país, um aumento de cerca de 30% com relação a 2016.

Nas 26 capitais, o engarrafamento tende a ser ainda maior, com cerca de 40% a mais de candidatos em comparação ao último pleito. O motivo mais objetivo para a elevação é o fim das coligações nas chapas proporcionais, reforma que foi votada em 2017 mas passa a servir a partir desta eleição.

Agora, cada partido concorrerá individualmente com o seu pelotão de candidatos a vereador. O sistema proporcional de lista aberta continuará valendo, com a conta difícil do quociente eleitoral na compreensão do eleitor, mas não mais um candidato do partido X será eleito graças ao voto dado para uma celebridade (os chamados puxadores de voto) do partido Y. Não é nada, não é nada, mas já é alguma coisa, nos passos miúdos que damos na direção de uma depuração do nosso complicado e por muitas vezes frustrante sistema eleitoral.

Na eleição para prefeito, a regra do jogo continua igual. A votação é majoritária e as coligações permitidas. O aumento do número de candidatos, neste caso, se dá por razões político-partidárias: sem um representante ao Executivo para chamar de seu, os candidatos a vereadores ficam com mais dificuldade de serem impulsionados pela campanha e pela legenda, uma das razões para que tenhamos mais postulantes a prefeito no primeiro turno.

Entre os desafios para os vereadores e seus partidos, está também o de cumprir com a cláusula de barreira, que estabelece que um candidato precisa de um número de votos igual ou maior do que 10% do quociente eleitoral (ou o resultado da divisão do total de votos válidos da eleição pelo número de vagas), não podendo contar mais apenas com os votos de legenda e com a sua posição na lista de mais votados. Sem um mínimo de votos, não entra. E partidos que não conseguirem ter um número mínimo de representantes também serão penalizados, deixando de ter direito a recursos financeiros e outras vantagens, o que na prática inviabiliza suas existências.

A consequência disso será o fim de algumas legendas e a fusão entre outras, mais um passo no caminho de deixarmos de ser uma das democracias com maior fragmentação partidária do mundo, liderança num campeonato que não tem nos beneficiado.

Em pesquisa do IDEIA feita com vistas às eleições de 2018, 53% dos eleitores diziam querer votar em candidatos de fora da política. De fato, os resultados da eleição provaram o diagnóstico: tivemos uma renovação de 52% dos deputados federais e de 87% dos senadores que concorreram, além de centenas de caras novas nas Assembleias Legislativas e de governadores dos quais nunca tínhamos ouvido falar.

A escolha de Jair Bolsonaro no menu de candidatos a presidente também foi guarnecida com o tempero denominado outsider. Ocorre que dois anos depois, muitos dos neo-políticos que prometiam ser churrasco viraram melancia. Vários mudaram de lado, rompendo com seus partidos e promessas, enquanto muitos outros que se diziam novos e diferentes, já enfrentam processos de impeachment ou investigações na Justiça, misturados que estão com a corrupção feito o antigo arroz com feijão. Neste cenário e com uma eleição tão diferente por causa da pandemia (menos debates e menos contato) continua a pergunta: o eleitor vai substituir a renovação pela continuidade, por exemplo?

Ninguém tem certeza da resposta mas algumas hipóteses podem ser levadas em conta. Em 2020, a responsabilização sobre a situação (ruim) na qual nos encontramos continua recaindo sobre os políticos. Quando indagados na pesquisa Exame/IDEIA sobre a fonte de recursos para um programa de renda básica, é esmagadora (73%) a percepção que deve se cortar privilégios dos políticos. Entre os mais pobres esse índice chega a 80%.

Em que pese ser ilusório viabilizar projetos desta monta somente com corte de gastos com a classe política, é clara para a população a noção de que a classe política vive uma realidade paralela no Brasil. De outro lado, há mais dificuldade do que se possa imaginar na busca por melhores representantes.

Tome-se outra pesquisa Exame/IDEIA realizada no último dia 23 no município de São Paulo e registrada na Justiça Eleitoral. A maioria (53%) não lembra em quem votou para vereador há quatro anos, enquanto 31% dizem ter votado em branco ou nulo. Este ano, 46% não sabem em quem vão votar e 37% dizem que irão votar em branco ou nulo. 37% dos entrevistados disseram que vão decidir seu voto para vereador apenas na última semana antes da eleição e 16% só vão escolher um nome no dia da votação.

Com tanto candidato disponível mas sem canais de comunicação para aprofundar propostas e posições (este ano sequer haverá bloco de propaganda na TV e no Rádio para vereador, não que fosse útil, mas era um espaço), o eleitor que se prepare para uma chuva de mensagens em seus celulares a partir de domingo, quando os candidatos podem começar a pedir votos. Caberá ao eleitor a tarefa de ir atrás de informações e de se dedicar para fazer as melhores escolhas no seu prato político para 2021, com a chance de começar a substituir corrupção por votação, por exemplo.

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Aquele meme mais do que manjado da Bela Gil, “você pode substituir churrasco por melancia, por exemplo”, nunca esteve tão em alta. Serve, por exemplo, pra 77% dos brasileiros que disseram, na última pesquisaExame/IDEIA, que estão substituindo arroz por macarrão.

No levantamento realizado entre os dias 21 e 24 setembro, com 1.200 pessoas, por telefone, o patamar chega a níveis elevadíssimos em algumas faixas da população: 95% dos entrevistados da região Norte do país mencionaram a substituição do grão pela massa alimentícia. Para 75% da população mais pobre, o arroz está mais caro e houve diminuição do consumo.

A perspectiva tampouco é animadora: 55% acredita que o arroz e outros alimentos seguirão aumentando, sendo os mais pobres os mais pessimistas (75%). Mas e na campanha municipal que começa na próxima semana, será que o eleitor também optará pelas substituições?

Não se pode dizer que a oferta não seja farta. Nunca tivemos tantos candidatos como este ano. O número final só será conhecido a partir de amanhã, com os registros na Justiça Eleitoral encerrados, mas o cálculo é que mais de 700 mil políticos concorrerão a prefeito e vereador em 5.570 municípios no país, um aumento de cerca de 30% com relação a 2016.

Nas 26 capitais, o engarrafamento tende a ser ainda maior, com cerca de 40% a mais de candidatos em comparação ao último pleito. O motivo mais objetivo para a elevação é o fim das coligações nas chapas proporcionais, reforma que foi votada em 2017 mas passa a servir a partir desta eleição.

Agora, cada partido concorrerá individualmente com o seu pelotão de candidatos a vereador. O sistema proporcional de lista aberta continuará valendo, com a conta difícil do quociente eleitoral na compreensão do eleitor, mas não mais um candidato do partido X será eleito graças ao voto dado para uma celebridade (os chamados puxadores de voto) do partido Y. Não é nada, não é nada, mas já é alguma coisa, nos passos miúdos que damos na direção de uma depuração do nosso complicado e por muitas vezes frustrante sistema eleitoral.

Na eleição para prefeito, a regra do jogo continua igual. A votação é majoritária e as coligações permitidas. O aumento do número de candidatos, neste caso, se dá por razões político-partidárias: sem um representante ao Executivo para chamar de seu, os candidatos a vereadores ficam com mais dificuldade de serem impulsionados pela campanha e pela legenda, uma das razões para que tenhamos mais postulantes a prefeito no primeiro turno.

Entre os desafios para os vereadores e seus partidos, está também o de cumprir com a cláusula de barreira, que estabelece que um candidato precisa de um número de votos igual ou maior do que 10% do quociente eleitoral (ou o resultado da divisão do total de votos válidos da eleição pelo número de vagas), não podendo contar mais apenas com os votos de legenda e com a sua posição na lista de mais votados. Sem um mínimo de votos, não entra. E partidos que não conseguirem ter um número mínimo de representantes também serão penalizados, deixando de ter direito a recursos financeiros e outras vantagens, o que na prática inviabiliza suas existências.

A consequência disso será o fim de algumas legendas e a fusão entre outras, mais um passo no caminho de deixarmos de ser uma das democracias com maior fragmentação partidária do mundo, liderança num campeonato que não tem nos beneficiado.

Em pesquisa do IDEIA feita com vistas às eleições de 2018, 53% dos eleitores diziam querer votar em candidatos de fora da política. De fato, os resultados da eleição provaram o diagnóstico: tivemos uma renovação de 52% dos deputados federais e de 87% dos senadores que concorreram, além de centenas de caras novas nas Assembleias Legislativas e de governadores dos quais nunca tínhamos ouvido falar.

A escolha de Jair Bolsonaro no menu de candidatos a presidente também foi guarnecida com o tempero denominado outsider. Ocorre que dois anos depois, muitos dos neo-políticos que prometiam ser churrasco viraram melancia. Vários mudaram de lado, rompendo com seus partidos e promessas, enquanto muitos outros que se diziam novos e diferentes, já enfrentam processos de impeachment ou investigações na Justiça, misturados que estão com a corrupção feito o antigo arroz com feijão. Neste cenário e com uma eleição tão diferente por causa da pandemia (menos debates e menos contato) continua a pergunta: o eleitor vai substituir a renovação pela continuidade, por exemplo?

Ninguém tem certeza da resposta mas algumas hipóteses podem ser levadas em conta. Em 2020, a responsabilização sobre a situação (ruim) na qual nos encontramos continua recaindo sobre os políticos. Quando indagados na pesquisa Exame/IDEIA sobre a fonte de recursos para um programa de renda básica, é esmagadora (73%) a percepção que deve se cortar privilégios dos políticos. Entre os mais pobres esse índice chega a 80%.

Em que pese ser ilusório viabilizar projetos desta monta somente com corte de gastos com a classe política, é clara para a população a noção de que a classe política vive uma realidade paralela no Brasil. De outro lado, há mais dificuldade do que se possa imaginar na busca por melhores representantes.

Tome-se outra pesquisa Exame/IDEIA realizada no último dia 23 no município de São Paulo e registrada na Justiça Eleitoral. A maioria (53%) não lembra em quem votou para vereador há quatro anos, enquanto 31% dizem ter votado em branco ou nulo. Este ano, 46% não sabem em quem vão votar e 37% dizem que irão votar em branco ou nulo. 37% dos entrevistados disseram que vão decidir seu voto para vereador apenas na última semana antes da eleição e 16% só vão escolher um nome no dia da votação.

Com tanto candidato disponível mas sem canais de comunicação para aprofundar propostas e posições (este ano sequer haverá bloco de propaganda na TV e no Rádio para vereador, não que fosse útil, mas era um espaço), o eleitor que se prepare para uma chuva de mensagens em seus celulares a partir de domingo, quando os candidatos podem começar a pedir votos. Caberá ao eleitor a tarefa de ir atrás de informações e de se dedicar para fazer as melhores escolhas no seu prato político para 2021, com a chance de começar a substituir corrupção por votação, por exemplo.

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