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A decisão de 2022 nas mãos das mulheres

A última pesquisa EXAME/IDEIA mostrou que mulheres se descolaram dos homens em suas posições políticas e são um eleitorado mais resistente a Jair Bolsonaro

O índice de popularidade de Bolsonaro, fator chave para definir a reeleição, tem variação significativa no recorte por gênero: enquanto 32,5% dos homens consideram o governo ótimo e bom, apenas 21% da mulheres têm a mesma opinião (Amanda Perobelli/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 14 de junho de 2021 às 10h20.

Última atualização em 14 de junho de 2021 às 10h22.

Por Cila Schulman

As jogadoras da seleção brasileira feminina de futebol bateram um bolão em Cartagena, na última sexta-feira, ao levantarem uma faixa contra o assédio sexual, pouco antes do amistoso contra a Rússia. O protesto não citou o nome mas teve como alvo o presidente afastado da CBF, Rogério Caboclo, acusado de assédio moral e sexual contra uma mulher. O gesto não é de pouca ousadia se lembrarmos que até 1981 a prática de futebol ficou proibida no Brasil por ir “contra a natureza feminina” e que as mulheres só obtiveram o direito ao voto no país há menos de 100 anos (1932).

Na última pesquisa EXAME/IDEIA, publicada sexta-feira, dia 11, chamou a atenção o quanto as mulheres se descolaram dos homens em suas posições políticas. E o quanto são, desde a campanha de 2018, um eleitorado mais resistente ao presidente Jair Bolsonaro e mais difícil de conquistar.

O primeiro eleitor padrão de Bolsonaro encontrado em pesquisas era homem, de classe média, escolarizado, da região sudeste. Esses mesmos homens escolarizados continuam a ser um dos pilares de sustenção da reeleição do presidente, ao lado de outros dois eleitorados sólidos dele: os evangélicos e a turma do agronegócio, notadamente da região centro-oeste.

O índice de popularidade de Bolsonaro – fator chave para definir a reeleição – tem uma variação significativa quando recortado por gênero. Enquanto 32,5% dos homens consideram o atual governo como ótimo e bom, apenas 21% da mulheres têm a mesma opinião. Se este dado for colocado mais na lupa, o ótimo entre os homens vai a 16,5%, enquanto que entre as mulheres cai para 9,5%. Os que avaliam o governo como ruim e péssimo estão cristalizados na faixa de 49% mas entre elas sobe para 54%, já entre eles cai para 43%.

A aprovação do governo de Bolsonaro, dado fundamental para avaliar a reeleição, já que fundamentalmente quando há um incumbente na disputa o eleitor vota pela continuidade ou não deste, também traz disparidades entre elas e eles. A aprovação nesta última pesquisa ficou em 25%, sendo que entre os homens subiu a 30,5%, já entre as mulheres desceu para pouco menos de 20%.

No centro-oeste, uma das fortalezas de apoio ao atual mandatário, como citado acima, a aprovação está em 28,5% (somado ao regular chega o apoio chega a 62%). Outra região que pesa a favor do presidente na pesquisa é a norte, com aprovação de 37,5%, mas esse dado pode ser transitório por ser resultado mais direto do auxílio emergencial em vigência. Na mesma faixa, 37% dos evangélicos aprovam a gestão atual.

Além dessa diferença histórica, os últimos acontecimentos da agenda nacional também dividiram o eleitorado feminino do masculino. Por exemplo: uma parcela significativa de homens não apoia as recentes manifestações contra Bolsonaro (35,5%), enquanto a concordância delas pelos protestos chega a 55,5%. Da mesma forma, apenas 7,5% delas participaria de uma manifestação a favor do governo, enquanto quase o dobro deles iria neste caso (14,5%).

Quando o ambiente político é ampliado para incluir a economia e o futebol, a divergência entre eles e elas não diminui. 85,5% das mulheres acredita que a realização da Copa América pode levar a uma piora da pandemia de covid-19, enquanto essa perspectiva é considerada por 63% dos homens. As mulheres também são mais desfavoráveis que os homens sobre a própria realização do campeonato no Brasil: apenas 15% delas concordam x 34% deles. A preocupação sobre um aumento na conta de luz devido a uma possível crise energética são outro ponto que tem mais peso entre elas (47%) do que entre eles (37,5%).

Tudo isso colocado, pode-se dizer que em um país polarizado entre dois projetos políticos tão distintos quanto são o de Lula e o de Bolsonaro, a vitória na eleição de 2022 pode ser definida pelo candidato que for capaz de conquistar o eleitorado feminino. A pergunta que fica é: quem marcará este gol?

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Por Cila Schulman

As jogadoras da seleção brasileira feminina de futebol bateram um bolão em Cartagena, na última sexta-feira, ao levantarem uma faixa contra o assédio sexual, pouco antes do amistoso contra a Rússia. O protesto não citou o nome mas teve como alvo o presidente afastado da CBF, Rogério Caboclo, acusado de assédio moral e sexual contra uma mulher. O gesto não é de pouca ousadia se lembrarmos que até 1981 a prática de futebol ficou proibida no Brasil por ir “contra a natureza feminina” e que as mulheres só obtiveram o direito ao voto no país há menos de 100 anos (1932).

Na última pesquisa EXAME/IDEIA, publicada sexta-feira, dia 11, chamou a atenção o quanto as mulheres se descolaram dos homens em suas posições políticas. E o quanto são, desde a campanha de 2018, um eleitorado mais resistente ao presidente Jair Bolsonaro e mais difícil de conquistar.

O primeiro eleitor padrão de Bolsonaro encontrado em pesquisas era homem, de classe média, escolarizado, da região sudeste. Esses mesmos homens escolarizados continuam a ser um dos pilares de sustenção da reeleição do presidente, ao lado de outros dois eleitorados sólidos dele: os evangélicos e a turma do agronegócio, notadamente da região centro-oeste.

O índice de popularidade de Bolsonaro – fator chave para definir a reeleição – tem uma variação significativa quando recortado por gênero. Enquanto 32,5% dos homens consideram o atual governo como ótimo e bom, apenas 21% da mulheres têm a mesma opinião. Se este dado for colocado mais na lupa, o ótimo entre os homens vai a 16,5%, enquanto que entre as mulheres cai para 9,5%. Os que avaliam o governo como ruim e péssimo estão cristalizados na faixa de 49% mas entre elas sobe para 54%, já entre eles cai para 43%.

A aprovação do governo de Bolsonaro, dado fundamental para avaliar a reeleição, já que fundamentalmente quando há um incumbente na disputa o eleitor vota pela continuidade ou não deste, também traz disparidades entre elas e eles. A aprovação nesta última pesquisa ficou em 25%, sendo que entre os homens subiu a 30,5%, já entre as mulheres desceu para pouco menos de 20%.

No centro-oeste, uma das fortalezas de apoio ao atual mandatário, como citado acima, a aprovação está em 28,5% (somado ao regular chega o apoio chega a 62%). Outra região que pesa a favor do presidente na pesquisa é a norte, com aprovação de 37,5%, mas esse dado pode ser transitório por ser resultado mais direto do auxílio emergencial em vigência. Na mesma faixa, 37% dos evangélicos aprovam a gestão atual.

Além dessa diferença histórica, os últimos acontecimentos da agenda nacional também dividiram o eleitorado feminino do masculino. Por exemplo: uma parcela significativa de homens não apoia as recentes manifestações contra Bolsonaro (35,5%), enquanto a concordância delas pelos protestos chega a 55,5%. Da mesma forma, apenas 7,5% delas participaria de uma manifestação a favor do governo, enquanto quase o dobro deles iria neste caso (14,5%).

Quando o ambiente político é ampliado para incluir a economia e o futebol, a divergência entre eles e elas não diminui. 85,5% das mulheres acredita que a realização da Copa América pode levar a uma piora da pandemia de covid-19, enquanto essa perspectiva é considerada por 63% dos homens. As mulheres também são mais desfavoráveis que os homens sobre a própria realização do campeonato no Brasil: apenas 15% delas concordam x 34% deles. A preocupação sobre um aumento na conta de luz devido a uma possível crise energética são outro ponto que tem mais peso entre elas (47%) do que entre eles (37,5%).

Tudo isso colocado, pode-se dizer que em um país polarizado entre dois projetos políticos tão distintos quanto são o de Lula e o de Bolsonaro, a vitória na eleição de 2022 pode ser definida pelo candidato que for capaz de conquistar o eleitorado feminino. A pergunta que fica é: quem marcará este gol?

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