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Comunicação Presidencial no caso Petrobras: a César o que é de César

A interferência presidencial na direção da Petrobras (independente sua validade jurídica ou institucional) escancarou algumas realidades que assustam (ou até mesmo surpreendem) alguns setores da sociedade

(Sergio Moraes/Reuters)
BG

Bibiana Guaraldi

Publicado em 26 de fevereiro de 2021 às 10h29.

Há uma passagem bíblica famosa na qual os fariseus perguntam a Jesus Cristo o seguinte: “É lícito ou não pagar o imposto a César?” Jesus pede que lhe mostrem a moeda do imposto, e pergunta: “De quem é essa imagem e inscrição?” E respondem: “De César”. Jesus arremata: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus” (cf. Mt 22,15-22). Múltiplas são as interpretações dadas a essas palavras no evangélico. A mais frequente é que Deus e dinheiro não se misturam e nada têm a ver um com o outro. Nessa semana o Presidente Jair Bolsonaro e a Petrobras, tradicional estatal brasileira (desde o “Petróleo é nosso” de Getúlio Vargas) alçaram a empresa a uma discussão pública complexa e de enormes implicações para o futuro do Brasil. E mais uma vez, o imaginário da opinião pública sofre interferência de uma comunicação fortemente focada em um determinado público e suas necessidades de curto prazo.

A interferência presidencial na direção da Petrobras (independente sua validade jurídica ou institucional) escancarou algumas realidades que assustam (ou até mesmo surpreendem) alguns setores da sociedade. Primeiro, o mercado financeiro que enxerga nesse movimento um assalto a governança corporativa da mais negociada empresa da Bolsa de Valores brasileira. Segundo, frustrou novamente um grupo (cada vez menor) de apoiadores do presidente que acreditaram no viés liberal da sua agenda econômica. Terceiro, incomodou muitos investidores pessoa-física de mercado de capitais (grupo crescente no Brasil) que novamente sentiram na pele o que o controle político de um negócio de enorme complexidade pode fazer. Quarto, foi uma facada no coração lava-jatista da classe média brasileira que acredita que a Petrobras se corrompeu por ser objeto de manobras políticas. No subconsciente desses “clusters” de opinião pública, fica a pergunta: mas por que o presidente fez isso?

Sem entrar no mérito político ou empresarial da decisão. Afinal, como sabemos, quem paga a conta dessas interferências artificias é a sociedade. A discussão de modelo energético brasileiro ainda é vazia, artificial, superficial e com pouca luz.

Dito isso, o fato é que o Presidente da República tem um método de comunicação constante e evidente: falar sempre e somente para o público que o aprova. O famoso “jogar para sua própria torcida”. O ex-presidente Donald Trump é o percussor dessa técnica comunicacional. Que parecia funcionar até a Covid se apresentar nos Estados Unidos.

Na pesquisa nacional Exame/IDEIA divulgada em 25.02.2021, com amostra de 1.200 entrevistas, apuramos dois pontos fundamentais que nos ajudam a montar o quebra-cabeças de comunicação do planalto.

Primeiro, 61% dos brasileiros aprovam a intervenção do presidente nos preços da gasolina independente do mercado internacional de petróleo. E entre os apoiadores do atual governo federal, esse número atinge aproximadamente 74%. Entre os que são contra a intervenção de preços (apenas 11%), a maioria tem ensino superior e renda mais alta. Muito provavelmente dos grupos citados acima.

Segundo ponto importante, a mesma pesquisa apurou que o país já está convivendo fortemente com a inflação no dia-a-dia. E um dos itens de maior pressão no bolso das pessoas (para quase 41%) é o custo dos combustíveis. Ou seja, nada mais popular do que brigar por algo que incomoda seus apoiadores atualmente. E como o governo ainda patina no calendário de vacinações e na retomada do auxílio emergencial (ambos objetos de grande expectativa da opinião pública no curto prazo. O mesmo levantamento mostrou que 65% acreditam que merecem receber auxílio de renda e 1/3 dos brasileiros estaria disposta a pagar pela vacina para não esperar o governo), nada melhor que lutar pela “queda” dos preços.

Sendo assim, o Presidente Bolsonaro segue entregando aos seus apoiadores os respiradores de curto prazo. Mas ainda está longe de vacinar a Petrobras com as melhores práticas de mercado para o setor de energia.  Ou melhor, segue entregando a “César o que é de César”. A conta de “César”, todavia, virá rápido e talvez com pouco espaço para auxílio emergencial.

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Há uma passagem bíblica famosa na qual os fariseus perguntam a Jesus Cristo o seguinte: “É lícito ou não pagar o imposto a César?” Jesus pede que lhe mostrem a moeda do imposto, e pergunta: “De quem é essa imagem e inscrição?” E respondem: “De César”. Jesus arremata: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus, o que é de Deus” (cf. Mt 22,15-22). Múltiplas são as interpretações dadas a essas palavras no evangélico. A mais frequente é que Deus e dinheiro não se misturam e nada têm a ver um com o outro. Nessa semana o Presidente Jair Bolsonaro e a Petrobras, tradicional estatal brasileira (desde o “Petróleo é nosso” de Getúlio Vargas) alçaram a empresa a uma discussão pública complexa e de enormes implicações para o futuro do Brasil. E mais uma vez, o imaginário da opinião pública sofre interferência de uma comunicação fortemente focada em um determinado público e suas necessidades de curto prazo.

A interferência presidencial na direção da Petrobras (independente sua validade jurídica ou institucional) escancarou algumas realidades que assustam (ou até mesmo surpreendem) alguns setores da sociedade. Primeiro, o mercado financeiro que enxerga nesse movimento um assalto a governança corporativa da mais negociada empresa da Bolsa de Valores brasileira. Segundo, frustrou novamente um grupo (cada vez menor) de apoiadores do presidente que acreditaram no viés liberal da sua agenda econômica. Terceiro, incomodou muitos investidores pessoa-física de mercado de capitais (grupo crescente no Brasil) que novamente sentiram na pele o que o controle político de um negócio de enorme complexidade pode fazer. Quarto, foi uma facada no coração lava-jatista da classe média brasileira que acredita que a Petrobras se corrompeu por ser objeto de manobras políticas. No subconsciente desses “clusters” de opinião pública, fica a pergunta: mas por que o presidente fez isso?

Sem entrar no mérito político ou empresarial da decisão. Afinal, como sabemos, quem paga a conta dessas interferências artificias é a sociedade. A discussão de modelo energético brasileiro ainda é vazia, artificial, superficial e com pouca luz.

Dito isso, o fato é que o Presidente da República tem um método de comunicação constante e evidente: falar sempre e somente para o público que o aprova. O famoso “jogar para sua própria torcida”. O ex-presidente Donald Trump é o percussor dessa técnica comunicacional. Que parecia funcionar até a Covid se apresentar nos Estados Unidos.

Na pesquisa nacional Exame/IDEIA divulgada em 25.02.2021, com amostra de 1.200 entrevistas, apuramos dois pontos fundamentais que nos ajudam a montar o quebra-cabeças de comunicação do planalto.

Primeiro, 61% dos brasileiros aprovam a intervenção do presidente nos preços da gasolina independente do mercado internacional de petróleo. E entre os apoiadores do atual governo federal, esse número atinge aproximadamente 74%. Entre os que são contra a intervenção de preços (apenas 11%), a maioria tem ensino superior e renda mais alta. Muito provavelmente dos grupos citados acima.

Segundo ponto importante, a mesma pesquisa apurou que o país já está convivendo fortemente com a inflação no dia-a-dia. E um dos itens de maior pressão no bolso das pessoas (para quase 41%) é o custo dos combustíveis. Ou seja, nada mais popular do que brigar por algo que incomoda seus apoiadores atualmente. E como o governo ainda patina no calendário de vacinações e na retomada do auxílio emergencial (ambos objetos de grande expectativa da opinião pública no curto prazo. O mesmo levantamento mostrou que 65% acreditam que merecem receber auxílio de renda e 1/3 dos brasileiros estaria disposta a pagar pela vacina para não esperar o governo), nada melhor que lutar pela “queda” dos preços.

Sendo assim, o Presidente Bolsonaro segue entregando aos seus apoiadores os respiradores de curto prazo. Mas ainda está longe de vacinar a Petrobras com as melhores práticas de mercado para o setor de energia.  Ou melhor, segue entregando a “César o que é de César”. A conta de “César”, todavia, virá rápido e talvez com pouco espaço para auxílio emergencial.

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