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A nova política nova

Na expectativa de domingo, surge um novo desenho com novos personagens pintando na maior cidade do país, com consequências para 2022 e além

De pautas identitárias ao movimento de renovação política: os candidatos da diversidade que tentam uma vaga pela primeira vez ou buscam a reeleição neste ano estão em todas as regiões do país  (Rafael Canoba, Fabio Rodrigues Pozzebom/ABR, Antônio Cruz/ABR/Divulgação)
De pautas identitárias ao movimento de renovação política: os candidatos da diversidade que tentam uma vaga pela primeira vez ou buscam a reeleição neste ano estão em todas as regiões do país (Rafael Canoba, Fabio Rodrigues Pozzebom/ABR, Antônio Cruz/ABR/Divulgação)
I
IDEIA Pública

Publicado em 26 de novembro de 2020 às, 14h36.

Quem diz é o IBGE, que Geraldo e Luis eram populares até os anos 1960 e que a partir dos 1980 Bruno e Guilherme galgaram posições entre os 20 nomes preferidos para dar aos recém-nascidos. Assim é que neste segundo turno testemunhamos uma disputa mais jovem em São Paulo, com um Bruno, de 40 anos, de um lado, e um Guilherme, de 38, do outro. Nos debates, nenhum dos dois arrisca uma camiseta ou um hoodie, mas Covas se apresenta de camisa branca e paletó aberto e Boulos apenas de camisa azul, ambos sem gravata. No tom da narrativa, também surge algum frescor, com demonstrações de humor e de respeito nos bastidores e visões comparativas no ar. De vez em quando, os ataques ganham um colorido mais forte, afinal, isso é campanha.

A se observar São Paulo até aqui, podemos imaginar o surgimento de uma nova geração na política, depois de um mergulho profundo na mesmice, na decepção, no desalento e daí no pantano do populismo. De um lado, isso é verdade: nestas eleições municipais, apesar de uma certa velha repetição de sobrenomes, ganharam protagonismo nos vários lados do país os Joãos, as Marílias, as Patricias, as Manuelas e os Arthurs, que se somam aos Felipes, Lucas, Tabatas, Eduardos e Tiagos, que por sua vez abrem as portas dos gabinetes para toda uma turma de gente da idade deles e menos. Se a renovação de nomes e de roupagem é real e será parte do cenário político a partir de agora - queiram ou não os velhos caciques -, os dados do Brasil profundo trazem um quadro um tanto mais monótono.

A rigor, o típico prefeito eleito no primeiro turno de 2020 é um homem branco, casado, com ensino superior completo e mais para 50 anos de idade do que para menos de 40. Um em cada cinco é milionário e apesar do estímulo da legislação, que além da garantia de vagas estabeleceu prioridade de recursos, apenas 3 a cada 10 dos eleitos são negros e somente 12% do total são mulheres. Um despontamento para quem esperava que esta seria a vez das mulheres e dos negros.

Tampouco - e com semelhança com as escolhas recentes em outros países neste ciclo - brilharam os outsiders, os tais “diferentes de tudo o que está aí”. Ainda que grupos como o Renova Brasil, movimento que prepara candidatos que nunca tiveram mandato a ingressarem na política, ter eleito de 147 alunos em 123 municípios diferentes (entre prefeitos e vereadores), esta foi a vez da experiência. O fenômeno é comum nas rodadas municipais, em que o eleitor costuma preferir prosseguir com um prefeito razoavelmente bem avaliado a ousar uma mudança baseada em ideologia. Agora, de maneira inédita, pesou também a insegurança pela pandemia, a incerteza econômica e a falta do calor da campanha de rua, substituída pelo distanciamento, pela escassez de recursos em geral e pela prioridade de tempo dada pelo eleitor às inquietações do dia a dia, em detrimento da curiosidade pela novela eleitoral.

Na primeira pesquisa do segundo turno EXAME/IDEIA, divulgada dia 17 de novembro e registrada pela Justiça Eleitoral (SP-07424/2020), observamos a tendência apontada desde as urnas de dois dias antes e que viria a se consolidar em São Paulo nesta reta final: a preponderância do voto em Boulos pelos jovens de 16 a 24 anos (69% x 31%). Vimos ainda, já no primeiro turno, a ocupação do time azul (liderado pelo PSDB) das franjas da cidade, um espaço anteriormente dominado pelos vermelhos, até então representados pelo PT. Fato é que enquanto os vermelhos brigavam, os azuis ocuparam a periferia e enquanto os azuis faziam a política tradicional de aliança com o velho MDB de guerra, os jovens (inclusive e principalmente de classe mais alta) aventuraram-se para o lado do novo vermelho, liderado pelo PSOL. Dessa maneira, na expectativa de domingo, enxergamos um novo desenho com novos personagens pintando na maior cidade do país, com consequências para 2022 e além.

Como dizia uma canção politicamente muito incorreta de Moreira da Silva, idade não é documento, mas que a gente sonha com mais Letícias, Luanas, Paulas, Julias, Laras, Lauras, Mayas, Estelas e Alices negras e brancas nas prefeituras, governos estaduais, nacionais e onde mais elas quiserem, isso a gente sonha. E a cada eleição, comparecendo pra votar, dá mais um passo neste caminho.