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Você pode conseguir o que quiser se estiver disposto a pagar o preço, afirma Vitor Mendes

Na coluna desta semana, conheça a história de Vitor Mendes Vice President Distribution Services at Red Bull Distribution Company

 (Foto Editora Global Partners)

(Foto Editora Global Partners)

Publicado em 7 de fevereiro de 2025 às 11h19.

Última atualização em 7 de fevereiro de 2025 às 11h19.

Gosto de aprender e fazer acontecer. Para mim, ficar parado não existe. O que me move é sempre estar criando, aprendendo ou tentando atingir algo que considero desafiante. É isso que me dá motivação. Não forço ninguém a tê-la; a motivação verdadeira vem de dentro, e entendo que o meu papel é orientar e tentar criar uma ponte para que cada um encontre sua própria força e direção. Quando conseguimos alinhar os objetivos pessoais de cada um com os do time ou da empresa, aí sim conseguimos um time motivado.

Os primeiros anos de vida foram em São Paulo, mais precisamente em um bairro chamado Alto da Lapa. Nossa família mantinha um bom padrão econômico, viajávamos bastante e pude estudar em boas escolas.

Contudo, na metade da adolescência as coisas mudaram. Os negócios passaram por dificuldades por conta da mudança da moeda e da estruturação do Real no Brasil, e a partir deste momento nosso padrão de vida mudou bastante. Eu passei a enfrentar situações mais complicadas e a entender a questão relacionada ao dinheiro, entender o que era economizar, onde gastar… E esse se transformou em um tópico bem forte na nossa família.

Comecei a trabalhar aos 17 anos, na loja de roupas Richards, no Shopping Iguatemi. Foi a primeira vez que lidei com pessoas completamente diferentes, e tive de entender a dinâmica do que queriam, perceber que estavam em diferentes fases da vida e tinham objetivos distintos ao meu.

Nessa época, academicamente, terminei o Ensino Médio e já entrei para a faculdade. Nunca estudei muito; era da turma do fundão. Mas, ainda assim, consegui uma vaga no curso de Administração da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), sem ter que fazer cursinho. Também não fui um bom aluno na faculdade, e estava ali mais para ficar com os amigos e conhecer aquele mundo. Porém, mal sabia que, dentro de pouco tempo, um antigo desejo me impulsionaria a mudar a rota.

Corra atrás dos seus sonhos

Sempre tive o sonho de estudar fora do país. E isso me fez sempre guardar dinheiro, esperando um dia isso acontecer. Simultaneamente, assim que iniciei a faculdade passei a estagiar no HSBC, onde fiquei por pouco mais de um ano, e depois fui para a Leaseplan, pois desejava aprender outras coisas. Nesse meio-tempo, um amigo que estava na Inglaterra fazendo pós-graduação retornou ao Brasil e compartilhou comigo sobre sua rotina e os custos que eu poderia ter com escola e moradia naquele país. Conversei com meus pais e, como tinha grande parte do dinheiro que precisava neste primeiro momento, tranquei a faculdade e embarquei para a Inglaterra.

Fui para lá com a passagem, a escola e dois meses de moradia pagos. E como lá você pode legalmente trabalhar meio período, o plano era estudar por um ano para aprender inglês, visto que não dominava o idioma, trabalhar no período liberado para garantir o sustento e depois voltar para a faculdade, no Brasil. E, dessa forma, um novo momento tão desejado por mim se iniciava.

Não se limite diante de situações desafiadoras

Embarcar para a Inglaterra foi uma das melhores decisões da minha vida. Mas isso não quer dizer que não tenha passado por situações desafiadoras — muito pelo contrário. Para começar, eu não sabia falar nada de inglês. Precisei do auxílio de um tradutor ao passar pela imigração e, ao finalmente pisar em terras londrinas, segui para a casa de Mônica Watts, em Bournemouth, no sudoeste da Inglaterra.

Quando você não consegue se comunicar com ninguém, tudo o que quer fazer é muito difícil. Mas como fui muito determinado a aprender o idioma, na minha cabeça eu queria distância de brasileiros para ter uma imersão completa na língua e na cultura. Passei as primeiras três semanas curtindo as novidades, mas após este período a preocupação de arranjar um trabalho era algo latente. E como se procura um emprego sem falar a língua local? Não sabia o que fazer. Estudei algumas frases básicas e fui batendo de porta em porta, mas o fato é que ninguém te contrata se você não fala nada.

Consegui sair desse impasse após fazer amizade com um brasileiro — alguém de quem, até então, eu tentava manter distância para não cair na tentação de falar português. Ao perceber que eu estava em busca de uma oportunidade, ele me chamou para ir até o hotel onde trabalhava e tentar uma vaga.

Lembro-me muito bem desse dia. Cheguei à cozinha do hotel pela porta dos fundos, um espaço relativamente grande e barulhento. Fui direto para a pia, repleta de louças e com a água entupida. Ao lado, havia uma estante onde se acumulavam pratos, panelas e utensílios sujos usados pelos chefs. “É isso aqui! Põe a mão primeiro, desentope a pia e lave tudo”, disse o encarregado, já enfiando minha mão naquela água parada. E assim começou meu primeiro emprego na Inglaterra.

Na ocasião, ganhava cerca de 100 pounds por semana. Deste montante, 80 eram destinados para a casa, onde estavam inclusos o café da manhã e o jantar. No restaurante, tinha direito a uma refeição, então, na prática, não precisava gastar com comida. Sobraram-me 20 pounds na semana. Trabalhava das 15h às 21h, e neste período a limpeza de todo o ambiente ficava comigo. Muitas vezes, ao tirar o lixo da cozinha, eu era “premiado” com o chorume pingando em mim e voltava para casa fedendo a lixo. Nessas horas, eu pensava: “Deus, o que estou fazendo aqui? Foi para isso que vim para cá?” Foi uma fase bem difícil, em que chorei muitas vezes. Mas, como eu tinha meu objetivo muito claro, nunca pensei em desistir.

Após alguns meses, comecei a falar inglês e a me aproximar dos colegas, com quem construí uma ótima relação. Com a maior fluência, fui promovido a garçom e, assim, além de aprimorar o idioma, passei a receber gorjetas. Nesta época, na casa onde residia, veio também morar um professor árabe da Líbia, de 40 anos, e uma austríaca de 60 anos, a Brigitte, que também não falava inglês e estava lá com o intuito de aprender a língua. Fiquei muito amigo dela e a gente se ajudava muito. Nos meus últimos 45 dias, fiz um mochilão pela Europa e cheguei a passar uma semana na Áustria, na casa dessa amiga, que já havia retornado. E após este ano intenso e repleto de descobertas, regressei ao Brasil. Um mês depois, recebo em casa um livro da Brigitte contando as suas aventuras em Londres, e eu estou na contracapa da obra, como um dos personagens. Foi uma grata e agradável surpresa.

Pague o preço e aproveite as conquistas

A estadia na Inglaterra transformou minha vida. Consegui juntar dinheiro, aprendi inglês, tive contato com múltiplas culturas… E tive acesso a oportunidades diferentes a partir de então. Foi uma época muito boa, em que aprendi que você consegue fazer o que quiser se estiver disposto a pagar o preço. Às vezes, é limpar lixo; outras, é dormir na cabine telefônica… Se souber onde quer ir, siga com esforço, boa vontade e bom senso, e conseguirá fazer o que quiser.

Nesse novo momento, consegui um estágio na Red Bull, onde estou desde 2005. A fluência e o fato de ter tido muito contato com a Áustria me ajudaram a garantir o posto. Entrei como estagiário, fui promovido a analista da América Latina após um ano, e depois tive a oportunidade de ser coordenador de Business Intelligence em São Paulo. Em 2011, tive a oportunidade de vir para os Estados Unidos para trabalhar em um projeto específico, e acabei ficando por aqui, galgando diferentes cargos na Red Bull – e hoje ocupando o cargo de vice-presidente de Serviços de Distribuição.

Esteja atento à mudança e, ao mesmo tempo, seja sempre atual

Entre os principais desafios que enfrentei dentro da Red Bull, tirando os projetos, creio que o mais difícil é me adaptar à condição certa na hora certa. Aprender quando é preciso abaixar a cabeça, quando é necessário pisar firme e quando é essencial se adaptar e mudar, senão se fica para trás. O maior desafio é estar sempre em mudança e, ao mesmo tempo, sempre atualizado, sem ficar perdido olhando para trás.

Três habilidades que um líder deve ter

Existem três características que valorizo quando se fala em liderança: adaptabilidade, bom senso e trabalho. Adaptabilidade para entender o novo, o diferente, porque não existe só um jeito para se chegar no resultado final. E é preciso entender onde se está, com quem se está lidando e o que você precisa. Não adianta forçar para que tudo saia da sua maneira. Seja fluido! O resto se aprende com o tempo. É muito mais difícil fazer alguém ter essas três habilidades do que alguém ter que aprender um conhecimento técnico.

Dedique-se e mantenha a leveza

Quem se esforça, estuda e se dedica tem que ser notado com admiração e não com falta de respeito. O conceito de “CDF” não pode ser visto como algo pejorativo.

Dedicar-se deveria ser motivo de orgulho para as pessoas. E isso não significa que você não possa brincar ou curtir. Mas, na hora de estudar, na hora de focar no que tem que aprender, mergulhe! Muitos se dedicam a jogar videogame para serem os melhores, e está tudo certo! Mas por que não manter o mesmo entusiasmo também para a parte acadêmica? Eu não precisava ter passado por muitas das situações que enfrentei. A falta de inglês, por exemplo, limitava bastante minhas opções de estágio. Em algum momento, diante dessa deficiência, tive o bom senso e a determinação para mudar a rota.

Aprenda com os erros e não fique paralisado diante deles

Apenas fazemos aquilo que tentamos. Errar é normal, e o importante é aprender e não repetir o erro. É muito difícil executar algo que não se domina. Mas acredite: todos já passaram por isso algum dia. E os veteranos têm que entender que os novos vão passar por esse processo. Aprenda com os erros e siga em frente. Às vezes, a gente se trava ou se bloqueia no desenvolvimento por medo de errar. Ter os primeiros funcionários diretos é algo difícil... ter as primeiras conversas difíceis também é difícil. E nem sempre falamos a coisa certa. Se isso ocorrer, corrija! As pessoas e as empresas só evoluem se estiverem dispostas a errar.

Leitura recomendada por Vitor Mendes:

A marca da vitória: a autobiografia do criador da Nike, de Phil Knight. Editora Sextante, 2016.

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