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Valorize a busca por conhecimentos e aposte nos valores para se tornar um profissional de sucesso

Na coluna desta semana, conheça a história de Ricardo Martins, vice-presidente administrativo na Hyundai Motor Central & South America Regions

(Reprodução/Reprodução)
DR

Da Redação

Publicado em 24 de junho de 2022 às 14h31.

Por Fabiana Monteiro

Aprendi desde jovem a fomentar princípios e valores primordiais para me desenvolver como uma pessoa íntegra e um profissional devidamente qualificado. Paulista de Santo André, nascido a 14 de maio de 1970, sou fruto de uma família constituída por imigrantes portugueses e italianos, que buscaram no Brasil oportunidades melhores, granjeando conquistas no decorrer do século XX. Embasado pelos alicerces consolidados pelos meus familiares, estabeleci a minha trajetória, estruturada por muito estudo, dedicação e relações interpessoais extremamente sadias, sempre com o intuito de atingir metas formidáveis.

Muitos dos meus parentes se dedicaram ao comércio e à prestação de serviços variados ao longo dos anos, atuando como carpinteiros, mecânicos e comerciantes, assim aprendi sobre o respeito, a dedicação, o trabalho e a amizade. Concomitantemente a isto, estudei em uma escola particular em Santo André, Instituto Coração de Jesus, o que contribuiu na instrução religiosa e na formação social. Desde criança, fui contemplado pela influência indelével propiciada pelos meus pais. Meu pai, Alfredo Augusto Martins, foi aluno do primeiro curso de mecânica do Senai, trabalhou em indústrias e posteriormente se formou em Administração de Empresas, ao passo que minha mãe, Maria Julia Martins, marcou época como a primeira cabelereira no município de Mauá-SP.

Tendo em vista esta sólida formação, afirmo sem hesitar que os meus pais são os meus maiores mentores, pois sempre inspiraram, apoiaram e se dedicaram para que eu e minha irmã pudéssemos estudar nas melhores escolas. Crescemos com visão de futuro profissional, a partir dos valores familiares e pessoais que nos foram transferidos durante anos, e que colaboraram muito na capacidade de análise e solução de problemas, inteligência emocional e resiliência. Portanto, trata-se de algo que procuro transmitir ao meu filho, prestes a completar onze anos. Há um fato marcante para mostrar essa relação de como compreender situações complexas desde cedo. Quando houve o Plano Collor, meus pais explicaram como deveríamos lidar com os acontecimentos que seguiriam com esta medida. Sem dúvida, foi um diferencial possuir estas referências dentro de casa, e o meu filho, inclusive, aprende sobre planejamento financeiro na escola, já na quinta série.

Aprender, constantemente, sempre representou amadurecimento para mim. Realizei o Ensino Médio e Técnico em Eletrônica na Escola Estadual Industrial Jorge Street, em São Caetano do Sul. Optei por este percurso, pois no Brasil, neste período, todos os segmentos industrias, comerciais e de serviços necessitavam de profissional, logo os salários eram atraentes. E o meu primeiro emprego foi como Técnico em uma pequena assistência de computadores, porém, após sete meses, recebi uma oferta para atuar no antigo Banco Banespa. Na sequência, em 1990, prestei vestibular para cursar Engenharia Eletrônica na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Precisei sair do emprego para me dedicar à faculdade, mas após um ano busquei outra ocupação para pagar os custos da mensalidade, o que me levou a ser professor auxiliar para o curso noturno de Técnico em Eletrônica do Colégio Humberto de Campos, localizado em Mauá, onde atuei por quase 10 anos.

Conhecimento e educação são temas primordiais

Enquanto lecionava e me dedicava aos assuntos acadêmicos, candidatei ao processo de trainee na Philips Telecomunicações e Componentes Eletrônicos e, aprovado, atuei nesta corporação até me formar. Na sequência, fui contratado pela General Motors para atuar em uma unidade de negócios na área de Engenharia de Produtos, sendo que, em 1999, a GM dividiu o setor, derivando na Delphi Automotive Systems, na qual permaneci até 2011. À época, passei por diversas experiências profissionais relacionadas à engenharia de produto, manufatura, vendas, marketing, finanças, análise de fusões e aquisições, como também na abertura de 12 novas fábricas e operações na América Latina e Europa.

O Gábor Deák, quem considero um grande mentor, foi o meu chefe direto na Delphi, e atualmente é diretor-executivo da Sindipeças. Conversarmos frequentemente, e uma das grandes lições aprendidas foi sobre o senso de urgência. O Brasil não é para poucos – se o líder não estiver com os times bem-estruturados, com os talentos corretos, nas posições certas, não há como realizar coisas no tempo necessário. O tempo nunca estará ao seu favor no mundo dos negócios; não se pode perder o timing, caso o objetivo seja de fortalecer a empresa.

Além disso, durante o período que atuei na Delphi, tive a oportunidade de residir e de trabalhar nos Estados Unidos e na Alemanha, onde pude realizar cursos de pós-graduação em Gestão de Projetos pela Universidade de Michigan e Gestão de Manufatura pela Universidade de Darmstadt. Ao retornar ao Brasil, realizei um MBA em Operações Internacionais pela FIA e um mestrado em Administração de Empresas pela Universidade de Grenoble. Cursar Engenharia Eletrônica possibilitou a construção do meu conhecimento tecnológico, ciente de que esta formação consolidaria a abertura de oportunidades dentro de diversos segmentos de mercado. Concluí diversos cursos de pós-graduações, MBA, mestrado e agora sou doutorando em Administração de Empresas pela FGV, por acreditar nos valores dos conhecimentos acadêmicos e científicos para auxiliar no Desenvolvimento e Inovação de Empresas.

Analiso como tais decisões contemplam o processo de aprimoramento e de evolução contínuos de profissionais que atuam em companhias com foco em tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação. Sem o aprimoramento pessoal, não existirão empresas que se sustentarão no futuro próximo, devido à competitividade do mercado em todos os segmentos. Todas as empresas necessitam pensar em inovação, e por isso neste fator necessita de pessoas curiosas, inseridas em ambientes criativos, gerando a inovação pretendida. Compartilhar conhecimento e absorver pensamentos distintos, ajuda a mitigar possíveis erros, acelera a entrega de resultados, com o time fluindo melhor.

Em suma, amparado pelas competências acadêmicas, pude almejar “voos mais altos” e, em junho de 2011, saí da Delphi para iniciar as minhas atividades na Hyundai Motor. Nessa fase, adquiri novas habilidades gerenciais, até alcançar a posição atual, como Vice-presidente Administrativo da companhia para o BRASIL e Regiões das Américas Central e do Sul, sendo responsável por 42 países. Considero a Hyundai uma corporação que compreende o valor do aperfeiçoamento constante e das habilidades profissionais e pessoais, ou seja, partilhamos os mesmos ideais.

Grandes responsabilidades e conquistas marcantes

Com a passagem por duas grandes empresas multinacionais e atualmente estabelecido em outra, consigo apontar uma série de conquistas até o momento. Na Philips, meu primeiro momento de destaque foi o de contribuir com o projeto chamado CENTURIUM 2.000, resultando na reestruturação total da companhia com o foco em buscar produtos e gerir recursos diversos em inovação. O desafio foi de situar a empresa de forma global, em uma posição de competitividade abrangente, passando pelo encerramento de atividades, pela abertura de novas fabricas, aquisições, fusões e parcerias até mesmo com concorrentes de mercado. Em seguida, durante quase 17 anos de Delphi, estive inserido em equipes multifuncionais – às vezes gerindo, ou mesmo contribuindo diretamente nas análises, estudos e aplicação de metodologias, tendo como meta a reorganização das operações a partir do zero até lograr alguma lucratividade.

Já na Hyundai, fui contratado para colaborar na implementação de toda a operação, desde a determinação das funções, contratações, treinamentos e criação dos cargos e atividades. Nestes 11 anos de empresa, garanto que todos os dias são desafiadores. Não devido ao processo organizacional, mas devido à situação da pandemia, à falta de insumos produtivos, à guerra na Ucrânia e ainda riscos advindos da geopolítica global, que atrapalham a logística de materiais. Ademais, atuar na América Latina compreende um desafio enorme. As operações possuem características regulatórias, governamentais, culturais e econômicas muito distintas dentre os 42 países integrantes da região. Com isso, posso dizer que cada dia é um dia diferente e laborioso em todos os sentidos.

Sou o Vice-presidente Administrativo, que engloba uma série de responsabilidades, como os recursos humanos, incluindo relações sindicais, gestão de pessoas, talentos, negociações de PLR, contratos e benefícios. Ademais, necessito me ater ao campo jurídico que dá suporte a todos os outros setores da companhia, além de gerir a área de relações institucionais e governamentais, integrando outros boards. O planejamento estratégico corporativo, em relação ao fluxo de investimentos, provendo suporte, também, para a parte de manufatura, compras e vendas, está sob minha supervisão, tal como os setores pertinentes à gestão predial, ou seja, parte de manutenção, meio ambiente, saúde, segurança e medicina do trabalho. Obviamente, o meu cargo lidera o segmento de TI, dada a relevância dos processos.

Posso citar que meu último case de sucesso foi justamente dentro da Hyundai, na construção da fábrica atual da montadora, localizada em Piracicaba-SP. Em um ano e meio, realizamos desde terraplenagem, construção, instalação, contratação e treinamento de mão de obra até sua entrada em operação. Logo após a inauguração, observamos que haveria uma demanda maior de produtos e, em três meses, operacionalizamos contratação, treinamento e início de operação do 3º turno de trabalho, ampliando a operação fabril para 24 horas por dia. Isso ocorreu em função da alta procura pelo HB20, um veículo que se tornou um enorme sucesso mercadológico e proveu robustez à marca.

Consolidar um projeto inicial, preparado para trabalhar somente dois turnos e transformá-lo dessa maneira, exigiu muita análise e ações de mitigações de riscos, sejam estas trabalhistas, logísticas, ambientais, sendo tudo atrelado aos conceitos modernos de manufatura. O diferencial foi de perceber o conhecimento e a capacidade técnica das pessoas envolvidas nos processos. Mapear e designar novas posições, e pessoas para os lugares certos, nos momentos corretos, de cada tempo e em cada área da operação. Isso nunca é fácil. Às vezes, contratamos e contamos com pessoas que acreditamos estarem preparadas para os desafios e, não raro, notamos a necessidade de reestruturações, a fim de recuperar as perdas ou de resolver os problemas. Assim, obtém-se o equilíbrio e, ao mesmo tempo, a criação de um ambiente salutar e inspirador para que indivíduos possam se desenvolver, concebendo processos de crescimento pessoal, de atração e retenção de talentos.

Colaboração e comprometimento

Sem dúvida, o meu turning point mais significativo se deu com a decisão de deixar a minha carreira muito bem consolidada na Delphi, para aceitar o desafio de entrar na Hyundai. Decidi encarar os desafios vindouros, e os riscos pessoais de colocar uma nova operação de manufatura de veículos, desde a sua etapa inicial. O começo dentro de uma nova empresa – que ainda seria construída e constituída – exigiu muita resiliência e equilíbrio psicológico. Quando passamos muito tempo dentro de uma cultura corporativa, e nos deparamos com uma cultura corporativa asiática, totalmente diferente daquilo da qual se está acostumado, com procedimentos e modelos de gestão distintos, os desafios se tornam rotineiros.

Sem resiliência, vontade de colaborar, de me comunicar e sobretudo, ouvir, entender e explorar as perspectivas múltiplas no relacionamento interpessoal para a solução de problemas – dos mais simples aos mais complexos –, não haveria um crescimento pessoal que hoje reconheço ao analisar todo o cenário desafiador, permeado por aprendizados. Ensinamentos novos adquiridos e responsáveis pelo aprendizado constante, possibilitando compartilhá-los, como no treinamento e na preparação de novos executivos.

Ao examinar estas trajetórias, torna-se mais simples de explanar como vislumbro o mercado e todos atores envolvidos no universo corporativo. Além disso, aprendi com meus pais e com minha experiência corporativa que o fator mais prejudicial na evolução da carreira profissional é a própria pessoa. É preciso analisar diariamente, com muita paciência, como os indivíduos se comportam durante suas atividades laborais. Não pensar somente em si, mas naquilo que sua equipe de trabalho e que sua empresa necessitam. Realizar a autoavaliação diária sobre suas posturas, expressões e execuções é fundamental para evoluir.

Ao atuar em equipe, os pensamentos e as atitudes devem estar focados no todo, e não no pouco – as ferramentas devem atrair e não repelir quem está a seu redor. Devemos pensar que estamos trabalhando com propósitos específicos, colaborativos para a construção de resultados amplos. Além disso, ética e responsabilidade, estar sempre em compliance com as leis, procedimentos e códigos de conduta, constituem normas primordiais para evitar armadilhas diárias nas atividades profissionais e pessoais.

Aperfeiçoamento contínuo e resiliência

Devemos compreender que concorrência na vida profissional sempre existiu, jamais foi maior ou menor ao longo do tempo. Muitos possuem a percepção errônea de que está mais concorrido, pois as pessoas chegam cada vez mais com experiências e com conhecimentos diferentes. Psicologicamente, entendemos que estamos ficando velhos e incapazes de acompanhar a equipe. É preciso aceitar que a concorrência existe em todos os momentos e lugares, faz parte da vida profissional. Cabe a cada um analisar e entender se o ambiente de trabalho é estimulante e possibilita o reconhecimento, crescimento e traz oportunidades, seja para atuar em diversos departamentos, operações ou negócios.

Um ponto importantíssimo: contínuo aperfeiçoamento e resiliência. Sem a percepção de que existem oportunidades de buscar novos conhecimentos, e assim se manter entusiasta quanto às tecnologias, aos modelos de gestão ou mesmo de possuir resiliência suficiente para aceitar os desafios e equilibrar os aspectos psicológicos e fisiológicos, não há como se manter competitivo profissionalmente em qualquer lugar, mesmo como empreendedor.

A fase da contratação de um profissional é muito delicada e estratégica para qualquer companhia. É muito importante mapear as necessidades e as características substanciais para cada posição e assim, com este mapa, identificar os potenciais candidatos, sejam estes internos ou externos. Durante a fase de entrevistas, a metodologia utilizada pelo recrutador na análise, percepção psicológica e de assessement dos candidatos é o que trará a certeza do melhor candidato a ser contratado para a posição. De resto, os atributos são sempre pelas experiências em relacionamento interpessoal, conhecimentos e habilidades em comunicação, como saber se expressar e despertar interesse, e de transferência de conhecimentos, incluindo o de envolver pessoas e o de estimular as equipes na gestão de atividades.

Disseminar conhecimento é o meu maior legado

O grande desafio na ressignificação das relações entre profissionais e instituições será o tempo para que todos se acomodem às maneiras e utilização das novas tecnologias. Digo isso, não somente sobre a questão das atividades virtuais como reuniões, orientações, aperfeiçoamentos, decisões, gestão, home office, pois se nota esta ressignificação nas questões jurídicas e legais também. Um exemplo é a assinatura de documentos, de contratos e de acordos de forma digital, sem a necessidade da assinatura ou presença física dos responsáveis pelo mesmo. Antes da pandemia, certificar documentos presencialmente era a única possibilidade viável e, atualmente, a adaptação transmutou em atividades diárias, acelerando todos os níveis burocráticos. A digitalização é a forma encontrada durante a pandemia e pós-pandemia para a relação empresarial e institucional.

Com a pandemia, digitalização e virtualização de gestão, o tempo tornou-se mais desafiador, não somente para mim, mas para qualquer executivo. Estamos conectados a tudo, 100% do tempo e, muitas vezes, causadas pelas prioridades e pelas necessidades de soluções imediatas, atendemos duas ou três reuniões virtuais, trocando e-mails, mensagens de toda a espécie. Isto constitui perda de qualidade e de foco, tornando-nos mais generalistas, pois tudo se transformou em prioridade. Devemos, com urgência, ter mais afinco na construção de equipes devidamente especializadas, que tragam alternativas, com o propósito de suportar as decisões executivas.

Ao discutir temas como os supracitados, reitero na formação continuada e na importância inabalável de se manter atualizado a todo custo. Friso, com humildade, que o legado a ser deixado por mim seria o de ordem intelectual, para conjeturar a solução de problemas complexos. Deparo-me constantemente com estes desafios e busco através da imersão no mundo acadêmico, conversas, fóruns e debates as ferramentas para análises e propostas dos problemas, viabilizando a transferência de conhecimento para as minhas equipes sucessórias. Evidentemente, o meu perfil comporta estes planos, já que anseio publicar artigos e seguir difundindo aprendizados, compartilhando experiências, observações e visões que estimulem modelos de gestão corporativos e pessoais.

“Cada pessoa é dona da sua carreira profissional, e não a empresa”

Por Fabiana Monteiro

Aprendi desde jovem a fomentar princípios e valores primordiais para me desenvolver como uma pessoa íntegra e um profissional devidamente qualificado. Paulista de Santo André, nascido a 14 de maio de 1970, sou fruto de uma família constituída por imigrantes portugueses e italianos, que buscaram no Brasil oportunidades melhores, granjeando conquistas no decorrer do século XX. Embasado pelos alicerces consolidados pelos meus familiares, estabeleci a minha trajetória, estruturada por muito estudo, dedicação e relações interpessoais extremamente sadias, sempre com o intuito de atingir metas formidáveis.

Muitos dos meus parentes se dedicaram ao comércio e à prestação de serviços variados ao longo dos anos, atuando como carpinteiros, mecânicos e comerciantes, assim aprendi sobre o respeito, a dedicação, o trabalho e a amizade. Concomitantemente a isto, estudei em uma escola particular em Santo André, Instituto Coração de Jesus, o que contribuiu na instrução religiosa e na formação social. Desde criança, fui contemplado pela influência indelével propiciada pelos meus pais. Meu pai, Alfredo Augusto Martins, foi aluno do primeiro curso de mecânica do Senai, trabalhou em indústrias e posteriormente se formou em Administração de Empresas, ao passo que minha mãe, Maria Julia Martins, marcou época como a primeira cabelereira no município de Mauá-SP.

Tendo em vista esta sólida formação, afirmo sem hesitar que os meus pais são os meus maiores mentores, pois sempre inspiraram, apoiaram e se dedicaram para que eu e minha irmã pudéssemos estudar nas melhores escolas. Crescemos com visão de futuro profissional, a partir dos valores familiares e pessoais que nos foram transferidos durante anos, e que colaboraram muito na capacidade de análise e solução de problemas, inteligência emocional e resiliência. Portanto, trata-se de algo que procuro transmitir ao meu filho, prestes a completar onze anos. Há um fato marcante para mostrar essa relação de como compreender situações complexas desde cedo. Quando houve o Plano Collor, meus pais explicaram como deveríamos lidar com os acontecimentos que seguiriam com esta medida. Sem dúvida, foi um diferencial possuir estas referências dentro de casa, e o meu filho, inclusive, aprende sobre planejamento financeiro na escola, já na quinta série.

Aprender, constantemente, sempre representou amadurecimento para mim. Realizei o Ensino Médio e Técnico em Eletrônica na Escola Estadual Industrial Jorge Street, em São Caetano do Sul. Optei por este percurso, pois no Brasil, neste período, todos os segmentos industrias, comerciais e de serviços necessitavam de profissional, logo os salários eram atraentes. E o meu primeiro emprego foi como Técnico em uma pequena assistência de computadores, porém, após sete meses, recebi uma oferta para atuar no antigo Banco Banespa. Na sequência, em 1990, prestei vestibular para cursar Engenharia Eletrônica na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Precisei sair do emprego para me dedicar à faculdade, mas após um ano busquei outra ocupação para pagar os custos da mensalidade, o que me levou a ser professor auxiliar para o curso noturno de Técnico em Eletrônica do Colégio Humberto de Campos, localizado em Mauá, onde atuei por quase 10 anos.

Conhecimento e educação são temas primordiais

Enquanto lecionava e me dedicava aos assuntos acadêmicos, candidatei ao processo de trainee na Philips Telecomunicações e Componentes Eletrônicos e, aprovado, atuei nesta corporação até me formar. Na sequência, fui contratado pela General Motors para atuar em uma unidade de negócios na área de Engenharia de Produtos, sendo que, em 1999, a GM dividiu o setor, derivando na Delphi Automotive Systems, na qual permaneci até 2011. À época, passei por diversas experiências profissionais relacionadas à engenharia de produto, manufatura, vendas, marketing, finanças, análise de fusões e aquisições, como também na abertura de 12 novas fábricas e operações na América Latina e Europa.

O Gábor Deák, quem considero um grande mentor, foi o meu chefe direto na Delphi, e atualmente é diretor-executivo da Sindipeças. Conversarmos frequentemente, e uma das grandes lições aprendidas foi sobre o senso de urgência. O Brasil não é para poucos – se o líder não estiver com os times bem-estruturados, com os talentos corretos, nas posições certas, não há como realizar coisas no tempo necessário. O tempo nunca estará ao seu favor no mundo dos negócios; não se pode perder o timing, caso o objetivo seja de fortalecer a empresa.

Além disso, durante o período que atuei na Delphi, tive a oportunidade de residir e de trabalhar nos Estados Unidos e na Alemanha, onde pude realizar cursos de pós-graduação em Gestão de Projetos pela Universidade de Michigan e Gestão de Manufatura pela Universidade de Darmstadt. Ao retornar ao Brasil, realizei um MBA em Operações Internacionais pela FIA e um mestrado em Administração de Empresas pela Universidade de Grenoble. Cursar Engenharia Eletrônica possibilitou a construção do meu conhecimento tecnológico, ciente de que esta formação consolidaria a abertura de oportunidades dentro de diversos segmentos de mercado. Concluí diversos cursos de pós-graduações, MBA, mestrado e agora sou doutorando em Administração de Empresas pela FGV, por acreditar nos valores dos conhecimentos acadêmicos e científicos para auxiliar no Desenvolvimento e Inovação de Empresas.

Analiso como tais decisões contemplam o processo de aprimoramento e de evolução contínuos de profissionais que atuam em companhias com foco em tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação. Sem o aprimoramento pessoal, não existirão empresas que se sustentarão no futuro próximo, devido à competitividade do mercado em todos os segmentos. Todas as empresas necessitam pensar em inovação, e por isso neste fator necessita de pessoas curiosas, inseridas em ambientes criativos, gerando a inovação pretendida. Compartilhar conhecimento e absorver pensamentos distintos, ajuda a mitigar possíveis erros, acelera a entrega de resultados, com o time fluindo melhor.

Em suma, amparado pelas competências acadêmicas, pude almejar “voos mais altos” e, em junho de 2011, saí da Delphi para iniciar as minhas atividades na Hyundai Motor. Nessa fase, adquiri novas habilidades gerenciais, até alcançar a posição atual, como Vice-presidente Administrativo da companhia para o BRASIL e Regiões das Américas Central e do Sul, sendo responsável por 42 países. Considero a Hyundai uma corporação que compreende o valor do aperfeiçoamento constante e das habilidades profissionais e pessoais, ou seja, partilhamos os mesmos ideais.

Grandes responsabilidades e conquistas marcantes

Com a passagem por duas grandes empresas multinacionais e atualmente estabelecido em outra, consigo apontar uma série de conquistas até o momento. Na Philips, meu primeiro momento de destaque foi o de contribuir com o projeto chamado CENTURIUM 2.000, resultando na reestruturação total da companhia com o foco em buscar produtos e gerir recursos diversos em inovação. O desafio foi de situar a empresa de forma global, em uma posição de competitividade abrangente, passando pelo encerramento de atividades, pela abertura de novas fabricas, aquisições, fusões e parcerias até mesmo com concorrentes de mercado. Em seguida, durante quase 17 anos de Delphi, estive inserido em equipes multifuncionais – às vezes gerindo, ou mesmo contribuindo diretamente nas análises, estudos e aplicação de metodologias, tendo como meta a reorganização das operações a partir do zero até lograr alguma lucratividade.

Já na Hyundai, fui contratado para colaborar na implementação de toda a operação, desde a determinação das funções, contratações, treinamentos e criação dos cargos e atividades. Nestes 11 anos de empresa, garanto que todos os dias são desafiadores. Não devido ao processo organizacional, mas devido à situação da pandemia, à falta de insumos produtivos, à guerra na Ucrânia e ainda riscos advindos da geopolítica global, que atrapalham a logística de materiais. Ademais, atuar na América Latina compreende um desafio enorme. As operações possuem características regulatórias, governamentais, culturais e econômicas muito distintas dentre os 42 países integrantes da região. Com isso, posso dizer que cada dia é um dia diferente e laborioso em todos os sentidos.

Sou o Vice-presidente Administrativo, que engloba uma série de responsabilidades, como os recursos humanos, incluindo relações sindicais, gestão de pessoas, talentos, negociações de PLR, contratos e benefícios. Ademais, necessito me ater ao campo jurídico que dá suporte a todos os outros setores da companhia, além de gerir a área de relações institucionais e governamentais, integrando outros boards. O planejamento estratégico corporativo, em relação ao fluxo de investimentos, provendo suporte, também, para a parte de manufatura, compras e vendas, está sob minha supervisão, tal como os setores pertinentes à gestão predial, ou seja, parte de manutenção, meio ambiente, saúde, segurança e medicina do trabalho. Obviamente, o meu cargo lidera o segmento de TI, dada a relevância dos processos.

Posso citar que meu último case de sucesso foi justamente dentro da Hyundai, na construção da fábrica atual da montadora, localizada em Piracicaba-SP. Em um ano e meio, realizamos desde terraplenagem, construção, instalação, contratação e treinamento de mão de obra até sua entrada em operação. Logo após a inauguração, observamos que haveria uma demanda maior de produtos e, em três meses, operacionalizamos contratação, treinamento e início de operação do 3º turno de trabalho, ampliando a operação fabril para 24 horas por dia. Isso ocorreu em função da alta procura pelo HB20, um veículo que se tornou um enorme sucesso mercadológico e proveu robustez à marca.

Consolidar um projeto inicial, preparado para trabalhar somente dois turnos e transformá-lo dessa maneira, exigiu muita análise e ações de mitigações de riscos, sejam estas trabalhistas, logísticas, ambientais, sendo tudo atrelado aos conceitos modernos de manufatura. O diferencial foi de perceber o conhecimento e a capacidade técnica das pessoas envolvidas nos processos. Mapear e designar novas posições, e pessoas para os lugares certos, nos momentos corretos, de cada tempo e em cada área da operação. Isso nunca é fácil. Às vezes, contratamos e contamos com pessoas que acreditamos estarem preparadas para os desafios e, não raro, notamos a necessidade de reestruturações, a fim de recuperar as perdas ou de resolver os problemas. Assim, obtém-se o equilíbrio e, ao mesmo tempo, a criação de um ambiente salutar e inspirador para que indivíduos possam se desenvolver, concebendo processos de crescimento pessoal, de atração e retenção de talentos.

Colaboração e comprometimento

Sem dúvida, o meu turning point mais significativo se deu com a decisão de deixar a minha carreira muito bem consolidada na Delphi, para aceitar o desafio de entrar na Hyundai. Decidi encarar os desafios vindouros, e os riscos pessoais de colocar uma nova operação de manufatura de veículos, desde a sua etapa inicial. O começo dentro de uma nova empresa – que ainda seria construída e constituída – exigiu muita resiliência e equilíbrio psicológico. Quando passamos muito tempo dentro de uma cultura corporativa, e nos deparamos com uma cultura corporativa asiática, totalmente diferente daquilo da qual se está acostumado, com procedimentos e modelos de gestão distintos, os desafios se tornam rotineiros.

Sem resiliência, vontade de colaborar, de me comunicar e sobretudo, ouvir, entender e explorar as perspectivas múltiplas no relacionamento interpessoal para a solução de problemas – dos mais simples aos mais complexos –, não haveria um crescimento pessoal que hoje reconheço ao analisar todo o cenário desafiador, permeado por aprendizados. Ensinamentos novos adquiridos e responsáveis pelo aprendizado constante, possibilitando compartilhá-los, como no treinamento e na preparação de novos executivos.

Ao examinar estas trajetórias, torna-se mais simples de explanar como vislumbro o mercado e todos atores envolvidos no universo corporativo. Além disso, aprendi com meus pais e com minha experiência corporativa que o fator mais prejudicial na evolução da carreira profissional é a própria pessoa. É preciso analisar diariamente, com muita paciência, como os indivíduos se comportam durante suas atividades laborais. Não pensar somente em si, mas naquilo que sua equipe de trabalho e que sua empresa necessitam. Realizar a autoavaliação diária sobre suas posturas, expressões e execuções é fundamental para evoluir.

Ao atuar em equipe, os pensamentos e as atitudes devem estar focados no todo, e não no pouco – as ferramentas devem atrair e não repelir quem está a seu redor. Devemos pensar que estamos trabalhando com propósitos específicos, colaborativos para a construção de resultados amplos. Além disso, ética e responsabilidade, estar sempre em compliance com as leis, procedimentos e códigos de conduta, constituem normas primordiais para evitar armadilhas diárias nas atividades profissionais e pessoais.

Aperfeiçoamento contínuo e resiliência

Devemos compreender que concorrência na vida profissional sempre existiu, jamais foi maior ou menor ao longo do tempo. Muitos possuem a percepção errônea de que está mais concorrido, pois as pessoas chegam cada vez mais com experiências e com conhecimentos diferentes. Psicologicamente, entendemos que estamos ficando velhos e incapazes de acompanhar a equipe. É preciso aceitar que a concorrência existe em todos os momentos e lugares, faz parte da vida profissional. Cabe a cada um analisar e entender se o ambiente de trabalho é estimulante e possibilita o reconhecimento, crescimento e traz oportunidades, seja para atuar em diversos departamentos, operações ou negócios.

Um ponto importantíssimo: contínuo aperfeiçoamento e resiliência. Sem a percepção de que existem oportunidades de buscar novos conhecimentos, e assim se manter entusiasta quanto às tecnologias, aos modelos de gestão ou mesmo de possuir resiliência suficiente para aceitar os desafios e equilibrar os aspectos psicológicos e fisiológicos, não há como se manter competitivo profissionalmente em qualquer lugar, mesmo como empreendedor.

A fase da contratação de um profissional é muito delicada e estratégica para qualquer companhia. É muito importante mapear as necessidades e as características substanciais para cada posição e assim, com este mapa, identificar os potenciais candidatos, sejam estes internos ou externos. Durante a fase de entrevistas, a metodologia utilizada pelo recrutador na análise, percepção psicológica e de assessement dos candidatos é o que trará a certeza do melhor candidato a ser contratado para a posição. De resto, os atributos são sempre pelas experiências em relacionamento interpessoal, conhecimentos e habilidades em comunicação, como saber se expressar e despertar interesse, e de transferência de conhecimentos, incluindo o de envolver pessoas e o de estimular as equipes na gestão de atividades.

Disseminar conhecimento é o meu maior legado

O grande desafio na ressignificação das relações entre profissionais e instituições será o tempo para que todos se acomodem às maneiras e utilização das novas tecnologias. Digo isso, não somente sobre a questão das atividades virtuais como reuniões, orientações, aperfeiçoamentos, decisões, gestão, home office, pois se nota esta ressignificação nas questões jurídicas e legais também. Um exemplo é a assinatura de documentos, de contratos e de acordos de forma digital, sem a necessidade da assinatura ou presença física dos responsáveis pelo mesmo. Antes da pandemia, certificar documentos presencialmente era a única possibilidade viável e, atualmente, a adaptação transmutou em atividades diárias, acelerando todos os níveis burocráticos. A digitalização é a forma encontrada durante a pandemia e pós-pandemia para a relação empresarial e institucional.

Com a pandemia, digitalização e virtualização de gestão, o tempo tornou-se mais desafiador, não somente para mim, mas para qualquer executivo. Estamos conectados a tudo, 100% do tempo e, muitas vezes, causadas pelas prioridades e pelas necessidades de soluções imediatas, atendemos duas ou três reuniões virtuais, trocando e-mails, mensagens de toda a espécie. Isto constitui perda de qualidade e de foco, tornando-nos mais generalistas, pois tudo se transformou em prioridade. Devemos, com urgência, ter mais afinco na construção de equipes devidamente especializadas, que tragam alternativas, com o propósito de suportar as decisões executivas.

Ao discutir temas como os supracitados, reitero na formação continuada e na importância inabalável de se manter atualizado a todo custo. Friso, com humildade, que o legado a ser deixado por mim seria o de ordem intelectual, para conjeturar a solução de problemas complexos. Deparo-me constantemente com estes desafios e busco através da imersão no mundo acadêmico, conversas, fóruns e debates as ferramentas para análises e propostas dos problemas, viabilizando a transferência de conhecimento para as minhas equipes sucessórias. Evidentemente, o meu perfil comporta estes planos, já que anseio publicar artigos e seguir difundindo aprendizados, compartilhando experiências, observações e visões que estimulem modelos de gestão corporativos e pessoais.

“Cada pessoa é dona da sua carreira profissional, e não a empresa”

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