Um verdadeiro líder não se constrói pelo que fala, mas sim pelo que faz e demonstra
Na coluna desta semana, conheça a história de Bert Kempeneers, Gerente-Geral Brasil da MANN+HUMMEL
Colunista
Publicado em 5 de janeiro de 2024 às 11h01.
A escolha pela Engenharia sempre foi algo bastante natural para mim. Desde muito pequeno, nunca tive dúvidas sobre qual carreira haveria de seguir, talvez pelo motivo do meu pai ser professor em uma escola técnica e meus dois irmãos serem engenheiros. Além disso, sempre gostei de exatas, e matérias como Matemática e Física eram as prediletas.
Nasci na Bélgica, em 1966, e sou o quarto de cinco filhos, sendo três homens e duas mulheres. Venho de uma família modesta. Meu pai, antes de se casar, era marinheiro, e depois do matrimônio seguiu carreira como professor. Quando éramos crianças, ele nos levava para algumas viagens e isso aguçou em mim, ainda pequeno, o desejo de conhecer outros lugares do mundo – vontade que levei comigo quando comecei a trabalhar. Foi com este sentimento que criei um movimento para expandir fronteiras muito além do oceano.
Meu primeiro ofício foi em uma pequena caldeiraria, que coincidentemente tinha como cliente a empresa que trabalho hoje, a MANN+HUMMEL, que produz filtros automotivos. Na época, a MANN+HUMMEL tinha uma pequena divisão na Bélgica que fazia sistemas de filtragem por máquinas de usinagem, mas quase não possuía clientes no país. Seus compradores vinham de regiões da França, da Alemanha e da Áustria.
Iniciei as atividades na MANN+HUMMEL pouco tempo após conhecer a sua existência. Três anos depois, em razão da atividade profissional, fiz uma viagem para a China. A missão? Montar um projeto com prazo de finalização de três meses. Preparei o terreno, retornei à base e perguntei ao gerente-geral se não poderia voltar e ficar na China acompanhando todo o processo, até a sua concretização. Foi quando ele veio para uma visita ao Brasil e perguntou se, ao invés da China, eu não gostaria de vir para o Brasil. Na hora aceitei o desafio, e pouco mais de um mês depois, aqui estava eu.
Inicialmente, a ideia era permanecer no Brasil por três meses, prazo que foi se estendendo para sete anos. Voltei à Bélgica após este período, mas quatro meses depois já havia me arrependido deste passo. Aguardei uma nova oportunidade, e um ano e meio depois estava de volta ao Brasil.
Na carteira, o cargo era o de gerente de vendas. Mas, na prática, fazia um pouco de tudo: compras, vendas, engenharia… E assim foi por sete anos. Ao regressar para a Bélgica, fui promovido a diretor industrial da planta de lá. Depois, quando viajei novamente ao Brasil, voltei para ser gerente de vendas. Esse cargo, entretanto, foi substituído após um ano, quando fui alçado a diretor industrial da planta de automotivos. Diante destas idas e vindas, quando me perguntam sobre movimentos na carreira, sempre digo: se financeiramente fizer sentido, vou a qualquer lugar; mas na hora de enterrar, eu volto para o Brasil.
A prova de que o “novo” muda a vida para melhor
Quando cheguei ao Brasil, em meados de 1995, não conhecia nada sobre o país. A internet ainda era algo muito escasso e não tínhamos a facilidade, como temos hoje, de pesquisar de forma rápida e eficaz qualquer assunto de nosso interesse. Para piorar, na Bélgica, onde morava, ninguém ensinava nada sobre o Brasil, que só conhecia pelomapa-múndi. Fui então atrás de informações em revistas e jornais, e as referências que encontrei mostravam imagens de florestas e do Carnaval. Também me deparei com uma notícia que mencionava que, por aqui, crianças eram assassinadas na frente da igreja. Demorei algum tempo para compreender que essa história se referia a uma situação específica: a Chacina da Candelária, no Rio de Janeiro, ocorrida em 23 de julho de 1993. Eram essas informações que chegavam até mim sobre o Brasil.
Contudo, ao aterrissar em terras brasileiras, fui surpreendido positivamente. O Brasil é um país moderno e muito próximo da cultura europeia, algo que não se mostrava lá fora. As imagens do que havia lido não batiam com a realidade. A adaptação foi fácil para mim, não tive problemas com isso. Hoje, olhando para trás, parece até que nasci no país errado. O idioma é que, na verdade, foi um grande desafio. Eu não falava português, e quase ninguém com quem tinha contato falava inglês ou alguma outra língua diferente. Do corpo diretivo, um falava alemão e o restante português.Fiz um curso de português com apenas um mês de duração antes de vir para o Brasil, como forma de me aclimatar. Embora não seja possível se tornar um expert no idioma nesse curto período, eu já conseguia me virar utilizando um pouco de português, um pouco de inglês e recorrendo a alguns desenhos quando necessário. Em seis meses, adquiri alguma fluência, uma vez que, além do curso, estava constantemente imerso no idioma português.
No Brasil, construí minha família. Na primeira semana por aqui, conheci a Dulci, minha esposa. Desse dia em diante, nunca mais nos largamos. Lá se vão 27 anos de casamento e duas filhas, Victoria e Rafaela.
Quando o problema se torna um grande aprendizado
Em meados de 2015, devido à crise que o Brasil passava economicamente e a baixa dentro do setor automotivo, a empresa enfrentou problemas de caixa. Neste momento, foi-me oferecida a vaga de gerente-geral. Junto da equipe, iniciei um trabalho intenso que exigiu inúmeras reuniões, planejamentos, metas e empenho de todos. Como resultado, no ano seguinte já paramos de fazer prejuízo… E oito anos depois, comemoramos o fato de a empresa se manter com um caixa saudável. Com o passar dos anos e os avanços positivos que fomos tendo ao longo do período, implementamos benefícios, comemorações e incentivos. E, assim, os colaboradores entenderam que, se a corporação está indo bem, eles também se beneficiarão. Quanto maiores os resultados, maiores os benefícios – uma realização que deixa o ambiente divertido e feliz.
Liderança humanizada amplia resultados
A liderança deve ser focada em pessoas. O autoritarismo não funciona mais. É importante motivar a equipe, descobrir por que cada um vem trabalhar, quais seus sonhos e propósitos e como o trabalho pode ajudar cada um a alcançá-los. Não espere que os colaboradores venham ao serviço pura e simplesmente para atingir o propósito da empresa. A companhia tem um motivo, e cada pessoa tem o seu, individualmente. O que acontece é que se a corporação atinge as metas, muitas vezes as pessoas conseguem também conquistar as suas. E esse movimento faz a diferença.
Outro apontamento importante que um verdadeiro líder deve ter: não é pelo que você fala, mas sim pelo que faz e demonstra. Se verem alguma inconsistência entre a afirmação e a atitude, você nunca será um bom líder, porque os colaboradores vão ficar com “um pé atrás”. Por isso, é extremamente importante tentar ser genuíno. Afinal, não conseguirá fazer isso todo santo dia, e logo a sua equipe vai perceber a inconsistência entre teoria e prática.
Desafie-se!
Saiba separar os desafios. Se trabalha como empregado, entenda que os problemas que surgirão no dia a dia não são pessoais, mas da companhia, e cabe a você encontrar estratégias para solucioná-los. Se tiver isto em mente, será menos estressante. Nesse ponto, mais uma vez, faz-se importante o fato de gerir pessoas, algo que não é fácil, mas pode ser aprendido.
Há muito tempo, no começo da carreira, tive como chefe alguém extremamente autoritário, que tinha muito sucesso financeiro e mostrava para todos o quanto era bom. Copiei muito dos hábitos dele,mas ao perceber o quão prejudiciais eram, decidi me desenvolver e me esforçar para me tornar um líder diferente.
Contudo, mais do que estudar, faz-se necessário praticar. É como andar de bicicleta. Só se aprende subindo na bicicleta e pedalando. A diferença é que quando você não faz direito, cai e se machuca. Na liderança, quando dá um feedback errado, vai aprender, mas quem fica machucado é o funcionário, não você. Precisamos tomar muito cuidado com isso.
Assim sendo, atente-se às suas qualidades e às suas deficiências, e busque sempre melhorar. Os problemas são oportunidades. Lembre-se que os desafios, apesar de te tirarem da zona de conforto e muitas vezes te deixarem em uma situação desconfortável, podem ser prazerosos, caso tenha em mente que eles podem te levar ao próximo nível.
Resiliência, o combustível para a realização dos sonhos
Por muito tempo, pensei que o perfil de liderança era algo nato. Hoje sei que essa habilidade é estudada e lapidada diariamente. E uma das características que mantém o foco neste processo é a resiliência.
Eu não tive que estudar para ser resiliente. Desde pequenininho, todo mundo me chama de cabeça dura quando coloco algo na mente.Se acredito que algo vale à pena, me encorajo e sigo em frente, e não serão comentários negativos nem situações que vão me impedir de insistir o suficiente. Aliás, acredito que o caminho mais curto para acabar com uma boa ideia que está na cabeça é contar para alguém. Esta pessoa vai falar que não é possível, que não vale a pena… Parece até que existe um grande prazer em acabar com os sonhos dos outros. Então o melhor caminho, a meu ver, é agir em silêncio e não deixar se influenciar. E quando a dúvida surgir, ancore-se em frases positivas e siga em frente!
Esteja aberto a aprender com mentores
Tive mentores que me ajudaram muito em vários aspectos. Tive um CEO chamado Alfred Weber, que, para mim, foi um grande líder, pois trazia o time para junto de si e mantinha o senso de unidade. Ele me inspirou bastante. Tenho contato com ele até hoje, apesar de ter saído da empresa há uns seis anos.
Também gostaria de citar duas famílias inspiradoras: a Mann e a Hummel. Uma delas é representada por Thomas Fischer, uma pessoa que sempre adoro encontrar, porque consigo trocar ideias e obter uma visão do mundo mais ampla, visto que ele tem oportunidade de viajar e conhecer novas culturas e pessoas de forma muito mais frequente do que eu. É bem interessante trocar ideias com aqueles que têm experiências mais amplas do que nós.
Busque obter uma experiência internacional
Sempre procuro incentivar o time a ter uma experiência fora do país natal. Esse movimento é riquíssimo, porque amplia a visão e tira o julgamento do certo e do errado. Há diversas maneiras de realizar as mesmas tarefas. Em 2022, conseguimos colocar isso em prática e cerca de 20 funcionários tiveram a oportunidade de trabalhar lá fora. Este ano, uma nova leva também foi contemplada. Alguns voltam, outros não, porque se identificam mais com o país que conheceram. É algo extremamente enriquecedor e transformador.
Seja agregador, não monopolizador
O mercado, hoje, procura pessoas que saibam trabalhar em equipe. Ninguém faz muita coisa sozinho, não é verdade? Há líderes que não deixam os outros trabalharem direito porque centralizam tudo, pois têm na mente que são melhores em todas as ações e sabem fazer tudo melhor que qualquer um. E, no final, o departamento não caminha como deveria. Os grandes destaques do mercado vão para aqueles que sabem se comunicar e extrair o melhor de cada membro de sua equipe, construindo um time sólido, assertivo e bem resolvido ao seu redor.
Lidar com pessoas, a habilidade do futuro
É preciso estudar. Sempre. E isso exige resiliência e esforço. O conhecimento nos torna melhores, mas não é tudo. Também é importante lembrar que precisamos olhar para o outro. Somos seres humanos, seres sociais. Então, não tente se trancar no seu quarto ou se esconder atrás de uma tela. Em um mundo onde assuntos como Inteligência Artificial e ferramentas como ChatGPT seguem em alta, é necessário sempre frisar a necessidade do social, de encontrar pessoas e saber lidar com elas em qualquer tipo de situação. Esta habilidade a máquina não substitui, e apenas os seres humanos conseguem ter. E isso é o básico para se fazer carreira. A tecnologia já suprimiu muitos empregos, e dezenas de outros vão desaparecer nos próximos anos. Entretanto, a habilidade de ouvir, conversar, argumentar e interagir com o próximo é capaz de te diferenciar e te levar além.
Dica de leitura:
Livro: O 8º hábito: da eficácia à grandeza, de Stephen R. Covey. Editora Alta Books, 2004.
A escolha pela Engenharia sempre foi algo bastante natural para mim. Desde muito pequeno, nunca tive dúvidas sobre qual carreira haveria de seguir, talvez pelo motivo do meu pai ser professor em uma escola técnica e meus dois irmãos serem engenheiros. Além disso, sempre gostei de exatas, e matérias como Matemática e Física eram as prediletas.
Nasci na Bélgica, em 1966, e sou o quarto de cinco filhos, sendo três homens e duas mulheres. Venho de uma família modesta. Meu pai, antes de se casar, era marinheiro, e depois do matrimônio seguiu carreira como professor. Quando éramos crianças, ele nos levava para algumas viagens e isso aguçou em mim, ainda pequeno, o desejo de conhecer outros lugares do mundo – vontade que levei comigo quando comecei a trabalhar. Foi com este sentimento que criei um movimento para expandir fronteiras muito além do oceano.
Meu primeiro ofício foi em uma pequena caldeiraria, que coincidentemente tinha como cliente a empresa que trabalho hoje, a MANN+HUMMEL, que produz filtros automotivos. Na época, a MANN+HUMMEL tinha uma pequena divisão na Bélgica que fazia sistemas de filtragem por máquinas de usinagem, mas quase não possuía clientes no país. Seus compradores vinham de regiões da França, da Alemanha e da Áustria.
Iniciei as atividades na MANN+HUMMEL pouco tempo após conhecer a sua existência. Três anos depois, em razão da atividade profissional, fiz uma viagem para a China. A missão? Montar um projeto com prazo de finalização de três meses. Preparei o terreno, retornei à base e perguntei ao gerente-geral se não poderia voltar e ficar na China acompanhando todo o processo, até a sua concretização. Foi quando ele veio para uma visita ao Brasil e perguntou se, ao invés da China, eu não gostaria de vir para o Brasil. Na hora aceitei o desafio, e pouco mais de um mês depois, aqui estava eu.
Inicialmente, a ideia era permanecer no Brasil por três meses, prazo que foi se estendendo para sete anos. Voltei à Bélgica após este período, mas quatro meses depois já havia me arrependido deste passo. Aguardei uma nova oportunidade, e um ano e meio depois estava de volta ao Brasil.
Na carteira, o cargo era o de gerente de vendas. Mas, na prática, fazia um pouco de tudo: compras, vendas, engenharia… E assim foi por sete anos. Ao regressar para a Bélgica, fui promovido a diretor industrial da planta de lá. Depois, quando viajei novamente ao Brasil, voltei para ser gerente de vendas. Esse cargo, entretanto, foi substituído após um ano, quando fui alçado a diretor industrial da planta de automotivos. Diante destas idas e vindas, quando me perguntam sobre movimentos na carreira, sempre digo: se financeiramente fizer sentido, vou a qualquer lugar; mas na hora de enterrar, eu volto para o Brasil.
A prova de que o “novo” muda a vida para melhor
Quando cheguei ao Brasil, em meados de 1995, não conhecia nada sobre o país. A internet ainda era algo muito escasso e não tínhamos a facilidade, como temos hoje, de pesquisar de forma rápida e eficaz qualquer assunto de nosso interesse. Para piorar, na Bélgica, onde morava, ninguém ensinava nada sobre o Brasil, que só conhecia pelomapa-múndi. Fui então atrás de informações em revistas e jornais, e as referências que encontrei mostravam imagens de florestas e do Carnaval. Também me deparei com uma notícia que mencionava que, por aqui, crianças eram assassinadas na frente da igreja. Demorei algum tempo para compreender que essa história se referia a uma situação específica: a Chacina da Candelária, no Rio de Janeiro, ocorrida em 23 de julho de 1993. Eram essas informações que chegavam até mim sobre o Brasil.
Contudo, ao aterrissar em terras brasileiras, fui surpreendido positivamente. O Brasil é um país moderno e muito próximo da cultura europeia, algo que não se mostrava lá fora. As imagens do que havia lido não batiam com a realidade. A adaptação foi fácil para mim, não tive problemas com isso. Hoje, olhando para trás, parece até que nasci no país errado. O idioma é que, na verdade, foi um grande desafio. Eu não falava português, e quase ninguém com quem tinha contato falava inglês ou alguma outra língua diferente. Do corpo diretivo, um falava alemão e o restante português.Fiz um curso de português com apenas um mês de duração antes de vir para o Brasil, como forma de me aclimatar. Embora não seja possível se tornar um expert no idioma nesse curto período, eu já conseguia me virar utilizando um pouco de português, um pouco de inglês e recorrendo a alguns desenhos quando necessário. Em seis meses, adquiri alguma fluência, uma vez que, além do curso, estava constantemente imerso no idioma português.
No Brasil, construí minha família. Na primeira semana por aqui, conheci a Dulci, minha esposa. Desse dia em diante, nunca mais nos largamos. Lá se vão 27 anos de casamento e duas filhas, Victoria e Rafaela.
Quando o problema se torna um grande aprendizado
Em meados de 2015, devido à crise que o Brasil passava economicamente e a baixa dentro do setor automotivo, a empresa enfrentou problemas de caixa. Neste momento, foi-me oferecida a vaga de gerente-geral. Junto da equipe, iniciei um trabalho intenso que exigiu inúmeras reuniões, planejamentos, metas e empenho de todos. Como resultado, no ano seguinte já paramos de fazer prejuízo… E oito anos depois, comemoramos o fato de a empresa se manter com um caixa saudável. Com o passar dos anos e os avanços positivos que fomos tendo ao longo do período, implementamos benefícios, comemorações e incentivos. E, assim, os colaboradores entenderam que, se a corporação está indo bem, eles também se beneficiarão. Quanto maiores os resultados, maiores os benefícios – uma realização que deixa o ambiente divertido e feliz.
Liderança humanizada amplia resultados
A liderança deve ser focada em pessoas. O autoritarismo não funciona mais. É importante motivar a equipe, descobrir por que cada um vem trabalhar, quais seus sonhos e propósitos e como o trabalho pode ajudar cada um a alcançá-los. Não espere que os colaboradores venham ao serviço pura e simplesmente para atingir o propósito da empresa. A companhia tem um motivo, e cada pessoa tem o seu, individualmente. O que acontece é que se a corporação atinge as metas, muitas vezes as pessoas conseguem também conquistar as suas. E esse movimento faz a diferença.
Outro apontamento importante que um verdadeiro líder deve ter: não é pelo que você fala, mas sim pelo que faz e demonstra. Se verem alguma inconsistência entre a afirmação e a atitude, você nunca será um bom líder, porque os colaboradores vão ficar com “um pé atrás”. Por isso, é extremamente importante tentar ser genuíno. Afinal, não conseguirá fazer isso todo santo dia, e logo a sua equipe vai perceber a inconsistência entre teoria e prática.
Desafie-se!
Saiba separar os desafios. Se trabalha como empregado, entenda que os problemas que surgirão no dia a dia não são pessoais, mas da companhia, e cabe a você encontrar estratégias para solucioná-los. Se tiver isto em mente, será menos estressante. Nesse ponto, mais uma vez, faz-se importante o fato de gerir pessoas, algo que não é fácil, mas pode ser aprendido.
Há muito tempo, no começo da carreira, tive como chefe alguém extremamente autoritário, que tinha muito sucesso financeiro e mostrava para todos o quanto era bom. Copiei muito dos hábitos dele,mas ao perceber o quão prejudiciais eram, decidi me desenvolver e me esforçar para me tornar um líder diferente.
Contudo, mais do que estudar, faz-se necessário praticar. É como andar de bicicleta. Só se aprende subindo na bicicleta e pedalando. A diferença é que quando você não faz direito, cai e se machuca. Na liderança, quando dá um feedback errado, vai aprender, mas quem fica machucado é o funcionário, não você. Precisamos tomar muito cuidado com isso.
Assim sendo, atente-se às suas qualidades e às suas deficiências, e busque sempre melhorar. Os problemas são oportunidades. Lembre-se que os desafios, apesar de te tirarem da zona de conforto e muitas vezes te deixarem em uma situação desconfortável, podem ser prazerosos, caso tenha em mente que eles podem te levar ao próximo nível.
Resiliência, o combustível para a realização dos sonhos
Por muito tempo, pensei que o perfil de liderança era algo nato. Hoje sei que essa habilidade é estudada e lapidada diariamente. E uma das características que mantém o foco neste processo é a resiliência.
Eu não tive que estudar para ser resiliente. Desde pequenininho, todo mundo me chama de cabeça dura quando coloco algo na mente.Se acredito que algo vale à pena, me encorajo e sigo em frente, e não serão comentários negativos nem situações que vão me impedir de insistir o suficiente. Aliás, acredito que o caminho mais curto para acabar com uma boa ideia que está na cabeça é contar para alguém. Esta pessoa vai falar que não é possível, que não vale a pena… Parece até que existe um grande prazer em acabar com os sonhos dos outros. Então o melhor caminho, a meu ver, é agir em silêncio e não deixar se influenciar. E quando a dúvida surgir, ancore-se em frases positivas e siga em frente!
Esteja aberto a aprender com mentores
Tive mentores que me ajudaram muito em vários aspectos. Tive um CEO chamado Alfred Weber, que, para mim, foi um grande líder, pois trazia o time para junto de si e mantinha o senso de unidade. Ele me inspirou bastante. Tenho contato com ele até hoje, apesar de ter saído da empresa há uns seis anos.
Também gostaria de citar duas famílias inspiradoras: a Mann e a Hummel. Uma delas é representada por Thomas Fischer, uma pessoa que sempre adoro encontrar, porque consigo trocar ideias e obter uma visão do mundo mais ampla, visto que ele tem oportunidade de viajar e conhecer novas culturas e pessoas de forma muito mais frequente do que eu. É bem interessante trocar ideias com aqueles que têm experiências mais amplas do que nós.
Busque obter uma experiência internacional
Sempre procuro incentivar o time a ter uma experiência fora do país natal. Esse movimento é riquíssimo, porque amplia a visão e tira o julgamento do certo e do errado. Há diversas maneiras de realizar as mesmas tarefas. Em 2022, conseguimos colocar isso em prática e cerca de 20 funcionários tiveram a oportunidade de trabalhar lá fora. Este ano, uma nova leva também foi contemplada. Alguns voltam, outros não, porque se identificam mais com o país que conheceram. É algo extremamente enriquecedor e transformador.
Seja agregador, não monopolizador
O mercado, hoje, procura pessoas que saibam trabalhar em equipe. Ninguém faz muita coisa sozinho, não é verdade? Há líderes que não deixam os outros trabalharem direito porque centralizam tudo, pois têm na mente que são melhores em todas as ações e sabem fazer tudo melhor que qualquer um. E, no final, o departamento não caminha como deveria. Os grandes destaques do mercado vão para aqueles que sabem se comunicar e extrair o melhor de cada membro de sua equipe, construindo um time sólido, assertivo e bem resolvido ao seu redor.
Lidar com pessoas, a habilidade do futuro
É preciso estudar. Sempre. E isso exige resiliência e esforço. O conhecimento nos torna melhores, mas não é tudo. Também é importante lembrar que precisamos olhar para o outro. Somos seres humanos, seres sociais. Então, não tente se trancar no seu quarto ou se esconder atrás de uma tela. Em um mundo onde assuntos como Inteligência Artificial e ferramentas como ChatGPT seguem em alta, é necessário sempre frisar a necessidade do social, de encontrar pessoas e saber lidar com elas em qualquer tipo de situação. Esta habilidade a máquina não substitui, e apenas os seres humanos conseguem ter. E isso é o básico para se fazer carreira. A tecnologia já suprimiu muitos empregos, e dezenas de outros vão desaparecer nos próximos anos. Entretanto, a habilidade de ouvir, conversar, argumentar e interagir com o próximo é capaz de te diferenciar e te levar além.
Dica de leitura:
Livro: O 8º hábito: da eficácia à grandeza, de Stephen R. Covey. Editora Alta Books, 2004.