Tudo pode ser conquistado com perseverança e objetivos bem traçados
"O que faz a diferença na carreira de qualquer pessoa é a força de vontade e a paixão que emprega", diz Roberto Godoy
Publicado em 11 de setembro de 2021 às, 13h17.
Quando paro para pensar no que me trouxe até aqui, é impossível não olhar para trás e ver aquele menino de 15 anos que saiu de casa para procurar emprego com o objetivo de ajudar a família. Foi uma decisão minha e que me permitiu entender logo cedo a importância de saber me reinventar a cada novo desafio. Sempre fui muito focado em resultados e, para alcançar meus objetivos, tive que ter muita dedicação. Afinal, o sucesso vem para quem se dedica.
Acredito que o bem mais precioso para atingir e exceder os objetivos é o capital humano. O livro “From Good to Great”, de Jim Collins, me ajudou a entender como as pessoas, os pensamentos e as ações disciplinadas são fundamentais para o sucesso.
As mensagens desse livro são totalmente atuais, mesmo tendo sido publicado em 2001. Com base em uma série de pesquisas para descobrir o que fazem as empresas “boas” se tornarem “excepcionais”, o autor mostra a importância de alguns fatores e considero dois deles mais relevantes: a composição e a dinâmica da equipe e o foco nos principais objetivos organizacionais.
Hoje levo esse conceito não apenas para o trabalho, mas para o meu lazer, que é o triathlon, atividade na qual a disciplina é a base para a conquista dos resultados.
Meus primeiros aprendizados vieram ainda na minha infância e adolescência. Venho de uma família de empreendedores. Minha mãe tinha uma pequena empresa de laticínios, enquanto meu pai era Executivo de uma empresa distribuidora de filmes cinematográficos, em Botucatu, no interior paulista. Ambos iam bem em suas atividades até que, em 1995, meu pai começou a enfrentar dificuldades nos negócios e pouco tempo depois abriu falência. Isso teve um impacto imenso no orçamento da nossa casa e, na sequência, o negócio da minha mãe também quebrou. Eu tinha 15 anos e tomei a decisão de vir para São Paulo trabalhar.
Mesmo com todas as adversidades enfrentadas pela minha família, meus pais sempre foram meu espelho de garra e empenho. Eles me ensinaram desde cedo o valor do trabalho e isso ajudou a construir não só o meu caráter e valores, mas a ter muita certeza do que eu queria e do que era necessário ser feito para se alcançar. Minha mãe foi uma pessoa fundamental nesse processo. Com ela aprendi que sem muito esforço, disposição e saúde, nada se consegue.
Pequenos trabalhos, grandes lições, enormes desafios
Tenho muito orgulho da minha trajetória profissional e pessoal. Ainda jovem, eu trabalhava em dois empregos para conseguir me manter e ajudar meus pais.
Em 1995 comecei minha carreira técnica como Programador de Informática em pequenos negócios, como pizzarias – no sistema disque-pizza – quiosques de alimentação, ou seja, uma série de operações de pequeno porte. Geralmente eu fazia dois turnos – graças ao imenso suporte que recebi do senhor Wilton Figueiredo, a quem sou eternamente grato – um na empresa em que era registrado, e complementava a renda com outros trabalhos de Programação. Nessa época eu me sentia com uma grande responsabilidade, pois a minha família contava com a minha ajuda financeira.
Cheguei a morar em um dos meus empregos para economizar o dinheiro que pagaria em uma pensão e, assim, não deixar de cumprir com as minhas obrigações em casa.
Diferentemente de muitos dos meus amigos, nessa fase da vida eu não tinha tempo nem dinheiro para sair ou viajar. Até mesmo os estudos precisei deixar de lado por um período. Estudei em bons colégios antes de surgirem os problemas financeiros de minha família, o que me ajudou a passar em faculdades de excelência. E mesmo tendo conseguido uma bolsa no Centro Universitário do Instituto Mauá de Tecnologia, onde cursei Engenharia, entre 1996 e 1998, não foi possível manter a rotina de estudos necessária, uma vez que precisava trabalhar em dois, às vezes três empregos simultaneamente.
Apesar de sempre correr atrás dos meus sonhos, não posso deixar de reconhecer que tive muita sorte e contei com a ajuda de pessoas boas que fizeram parte de minha vida. É o caso do Thomas Wessely, que conheci ainda na época que fazia trabalhos avulsos em empresas prestadoras de serviço para grandes montadoras. Ele sempre conseguia um trabalho no segundo turno e no fim de semana para mim, e com o passar dos anos nos tornamos grandes amigos.
Nessa mesma época, graças a uma amiga, consegui uma indicação para trabalhar no setor de Engenharia voltada para a área de Informática, aplicando meus conhecimentos nos sistemas de CAD, CAE e CAM, em uma companhia automobilística chamada Advance. Ali conheci o Paulo dos Anjos, dono do negócio, com quem tive uma grande afinidade. Ele apostou em mim, me proporcionando novos desafios e sempre me orientando muito de perto. Era a primeira oportunidade mais significativa na minha carreira. Saí para ser supervisor do setor de Tecnologia da Informação na IVM Brasil, uma empresa alemã prestadora de serviços de Engenharia para grandes automotivas.
Em 2001 migrei para a Tecmes, uma empresa que representava a colossal IBM. Permanecia praticamente o tempo todo alocado na Embraer e em outras empresas, implementando e desenvolvendo sistemas.
Uma das minhas virtudes era querer ser útil, por todos os lugares onde passei buscava entregar sempre mais do que me era pedido. Estava sempre tentando ajudar em algo a mais e isso me proporcionava novas experiências, ao mesmo tempo em que eu era valorizado pela minha atitude proativa. Na Tecmes não foi diferente, mas lá a minha carreira teve uma grande virada. Eu era muito atento a tudo e, a certa altura, um dos meus gestores me sugeriu uma mudança de área. Deixei a operação técnica e fui ser suporte no Departamento Comercial. O convívio com a tecnologia de ponta, que exigia constante atualização profissional, me ajudou muito nessa transição.
Angariando conhecimento para superar obstáculos
Apesar de gostar muito de trabalhar na Tecmes, depois de cinco anos sentia que era a hora de buscar novos desafios. Foi a empresa na qual permaneci por mais tempo, até então. A verdade é que, logo cedo, percebi que a maneira mais rápida de acelerar meu crescimento profissional era mudando de emprego. Por mais que contasse com a confiança dos meus gestores, as oportunidades de crescimento nem sempre apareciam na velocidade que eu precisava, ou seja, quando me sentia pronto.
Procurar por novidades e formas diferentes de desenvolver meu trabalho sempre foi muito atraente para mim. Desde criança sentia muita vontade de ter experiências novas. Essa minha inquietude é nata e, olhando para trás, vejo que é uma das qualidades que me trouxeram até aqui.
Exatamente no momento em que eu sentia que havia chegado a hora de um novo movimento na minha carreira, uma headhunter me procurou, identificando em mim o perfil que a AGFA Gevaert, do segmento de Saúde, necessitava naquele período. Em 2006, parti para esse novo desafio. Foi quando me tornei de fato um vendedor.
Há pouco tempo li um artigo do Renato Romeo – de quem sou leitor contumaz – intitulado “A Boa Preguiça”, que faz referência a esse momento da minha trajetória. O texto em questão contém a seguinte passagem: “O fato é que empresas e vendedores podem obter mais resultados fazendo melhor – e não simplesmente mais”.
Romeo usou o meu exemplo, ressaltando a alta taxa de produtividade que alcancei naquela época. Na sequência, ele relembra esse “vendedor” que, depois de mais de uma década, se tornou o Gerente-Geral para o Brasil e Diretor de Marketing para a América Latina de uma companhia francesa, no caso, a Guerbet.
Conheci o Renato Romeo na AGFA Gevaert. Ele trabalha na consultoria SaleSolution, contratada para mudar o modelo de vendas transacionais para consultivas. Fiquei surpreso e lisonjeado pela forma como ele lembrou de mim – evidentemente, liguei para ele agradecendo por ter sido mencionado e elogiado por um profissional tão destacado.
Lembro que, mesmo sem qualquer experiência em Saúde, me tornei um vendedor de destaque. Meu aproveitamento de prospecção de clientes chegou a 80%, e a média não passava de 5%. O segredo do meu sucesso foi a minha dedicação. Contei muito com o suporte do Romeo. Ele desenvolveu técnicas de vendas que eu aplicava com muita atenção. Mais uma vez o foco e a disciplina fizeram toda a diferença na minha curva de aprendizado e no resultado.
Eu procurava agir de forma estratégica, nunca deixando a ansiedade me dominar. Essa facilidade em aplicar as técnicas ajudou a me diferenciar e chamar a atenção dos diretores, que era meu objetivo. Nessa altura, minha posição era sólida e pude incentivar a carreira acadêmica da minha irmã caçula, a Maria Regina, ao passo que me responsabilizei por cuidar de nossos pais nesse ínterim.
Sempre tive uma relação muito próxima com a minha irmã e via nela um potencial enorme. Além disso, estava certo de que ela precisava ter uma vida pautada em formação de excelência e perseguir seus ideais. Maria Regina estudou arduamente e se formou na Universidade Estadual Paulista (Unesp). Sua dedicação resultou em uma bolsa para seguir a carreira acadêmica nos Estados Unidos, no setor de Saúde Animal, na qual é muito realizada e se consolidou como uma profissional de renome, vivendo lá até hoje, como Professora do pós-doutorado.
Seria ótimo se eu tivesse seguido uma formação acadêmica mais sólida quando bem jovem, mas as circunstâncias fizeram com que eu precisasse seguir outra rota. Aos 25 anos, concluí a faculdade de Ciências da Computação na Universidade Paulista (Unip), o que me proporcionou uma visão bem prática da profissão. Posteriormente cursei a pós-graduação (MBA), em uma parceria da Fundação Getúlio Vargas (FGV) com a Universidade da Califórnia, em Irvine.
O motor para o meu crescimento sempre foi a responsabilidade que assumi perante a minha família. Isso me trouxe o seguinte aprendizado: não existe o difícil nem o impossível. Todos somos capazes de grandes feitos. Ao longo da minha trajetória aprendi a ser resiliente, habilidade necessária para encarar as adversidades, superá-las e seguir adiante.
Perseverança e foco me ajudaram a vencer em um mundo tão competitivo e, como sempre contei com a ajuda de muitas pessoas, hoje busco retribuir com mentorias para outros profissionais. Trata-se de uma das maiores contribuições que posso oferecer, de maneira voluntária, compartilhando experiências e conhecimentos. Ao longo do meu caminho, especialmente no começo de carreira, mentores e chefes com pensamentos diferenciados me deram muito apoio, então o mínimo que posso fazer para recompensar é promover o desenvolvimento de outros.
Minhas conquistas nunca foram construídas facilmente, mas sim à custa de muito trabalho; o sucesso é fruto da dedicação, de traçar objetivos concretos e com o devido esforço.
Como eu havia me destacado muito nas vendas, logo comecei a receber propostas dos concorrentes e decidi aceitar a da norte-americana General Electric, que me ofereceu meu primeiro cargo de Gestor. Era a decisão mais acertada, especialmente porque eu havia me apaixonado pela área da Saúde e queria apreender mais sobre esse setor. Cheguei ao posto de Gerente de Vendas para o Brasil e todo o Cone Sul, cuidando particularmente do setor de Healthcare IT da GE.
A essa altura da minha carreira os desafios foram se multiplicando. Eu, que sempre gostei de resolver problemas, focava cada vez mais no trabalho e, ao passo que mostrava resultados, vinham promoções. O fato é que eu nunca me importei de abrir mão da vida pessoal pelo trabalho. Desde cedo foi no trabalho que eu busquei as minhas realizações.
Da GE fui para a Siemens, assumir uma responsabilidade ainda maior: ficar à frente de toda a área de Healthcare no sul do País. Por ser uma empresa alemã, a cultura era rígida; e a hierarquia, evidente – tive que me adaptar. Foi uma ótima fase, importante para o meu crescimento, principalmente porque desenvolvi algumas expertises significativas, como ser focado em métricas, acompanhar o dia a dia da empresa intensamente, analisando cada detalhe do negócio.
Na sequência, fui convidado a ser o gerente de vendas do Abbott Laboratories, o que ajudou a me consolidar definitivamente como um especialista da área de Saúde, ficando responsável por grandes contas da companhia.
Já na Carestream, onde permaneci entre 2013 e 2016, iniciei como Diretor de Vendas. O desafio era enorme, uma vez que a empresa estava perdendo participação de mercado. Tive a missão de implementar estratégias e logísticas singulares. Conseguimos alcançar a meta de tornar a instituição rentável e cheguei ao cargo de General Manager, ficando à frente de todo o negócio – Planejamento Financeiro, Gerenciamento de Desempenho, Recursos Humanos, melhoria de processos, Planejamento de Estratégias –, o que me proporcionou observar a estrutura de forma geral. Basicamente, todas as tomadas de decisões passavam pelo meu crivo, ou seja, a responsabilidade era imensa. Sempre gostei de colaborar em outras áreas e o meu crescimento profissional está vinculado ao fato de possuir essa iniciativa de transitar por todos os setores possíveis.
Trabalhar com paixão e ter objetivos bem definidos
O que faz a diferença na carreira de qualquer pessoa é a força de vontade e a paixão que emprega. No meu caso, amo o setor de Saúde e estar em contato com o cliente, com as pessoas, enfim, interagir com todo o negócio. Eu acordo satisfeito e realizado por estar fazendo exatamente o quero para a minha vida.
Outro fator fundamental para o sucesso são os objetivos. Eles precisam ser bem claros na vida de qualquer profissional, independentemente do segmento em que atue. E isso engloba, acima de tudo, o ponto de vista pessoal e o profissional. Sem saber aonde se quer chegar, não há como saber qual o caminho a ser trilhado.
Quando comecei na AGFA encarei o meu primeiro desafio nesse sentido. Não conhecia o segmento de Saúde, portanto, fui a fundo nos estudos, procurei ampliar os meus conhecimentos e, dessa maneira, pude aplicar habilidades que já possuía.
O profissional precisa ter completa noção sobre o mercado no qual está inserido, se relacionar com as pessoas que estão à sua volta, conhecer quem são os principais players e competidores. Só assim é possível sonhar com o mínimo de sucesso e estruturação em sua carreira.
Um gestor pode administrar qualquer tipo de negócio hoje em dia, basta conhecer a fundo o seu universo. A diferença é exatamente saber o que está envolvido em todos os âmbitos dessa empreitada, mas de forma extremamente intrínseca, ou seja, o diferencial é entender o contexto.
A principal orientação que costumo passar aos jovens engloba elementos como ter paciência e preparo para lidar com o projeto em questão. E são pré-requisitos: entender o mercado, a concorrência, os players, as possíveis sinergias com outros segmentos, o que pode ser viabilizado por meio de parcerias para alavancar o próprio negócio, investir no desenvolvimento de ferramentas tecnológicas e estar sempre à frente dos concorrentes.
O poder do trabalho coletivo e da garra do profissional
O próximo passo da minha trajetória se concretizou na Guerbet, uma gigante multinacional francesa do segmento da Saúde, onde cheguei como Gerente-Geral em dezembro de 2016. No Brasil, é líder de vendas no mercado de contrastes. Fui convocado com a missão de reestruturar o negócio e preparar a empresa para o futuro.
Os resultados já apareceram logo no primeiro ano de empresa. Sei que tenho a habilidade de tirar projetos do papel e os colocar em prática muito rapidamente. O papel do gestor nunca é simples. Muitas vezes, para atingir objetivos maiores, é preciso reestruturar equipes pensando em um bem maior, que são os próximos anos da companhia e tudo o que ela vai gerar de benefício para a sociedade.
Estamos diante de muitos desafios a serem enfrentados no setor da Saúde. O primeiro deles é a necessidade de as empresas buscarem soluções em toda a cadeia para promover a sustentabilidade da Saúde. Outro exemplo é como usar a inovação da Inteligência Artificial de modo a melhorar a experiência do paciente e trazer mais resultados para os clientes.
O mais importante é que me senti preparado e não estava sozinho. Contei como uma equipe talentosa, experiente e cheia de vontade. Ninguém faz uma transformação por conta própria. No caminho do sucesso, precisamos de times comprometidos e engajados no projeto, e vejo que o líder tem um papel fundamental nisso tudo, ele precisa ser inspirador. Tive grandes exemplos de gestores acima da média, com quem pude aprender a tornar os times meus aliados. A primeira coisa é oferecer o desafio e confiar na capacidade das pessoas de entregarem os resultados; a segunda, é o reconhecimento.
Para muitos líderes, conseguir equilibrar o foco no negócio, bem como o cuidado com as pessoas, é extremamente difícil. De fato, não é simples, mas acredito que é uma obrigação do gestor. Na Guerbet, pensando no bem-estar dos colaboradores, conseguimos instituir o short friday, a política de home office, além de incentivarmos os hábitos saudáveis como a ingestão de frutas e a prática de atividade física (os funcionários recebem um subsídio para Esportes).
Ao longo da minha jornada sempre ouvi das pessoas que acompanhavam a minha carreira que elas viam em mim muita energia. O engraçado é que, mesmo com pouco tempo para a vida pessoal, sempre consegui encontrar tempo para me dedicar ao cuidado com o meu bem-estar físico e mental. O que ajuda a manter minha disposição é a prática regrada do triathlon. Acordo às 5 horas da manhã todos os dias para treinar – além de fazer bem para o corpo, o esporte me ajuda a manter um estado mental sempre leve e desperto.
Ter disposição é o primeiro passo para qualquer conquista. Força de vontade, dedicação, garra, afinco com os afazeres, tenacidade e resiliência vêm na sequência, e acredito que qualquer um pode desenvolver essas qualidades, basta ter persistência. E, se um profissional decidir pautar sua estratégia de vida nesses princípios, ele será um vencedor.
*Roberto Godoy, General Manager Distributor Operation LATAM & Central America at Abbott