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Thiago Cabrino, GM Brasil da Karl Storz, nos ensina que liderança é sobre transformação constante 

Um líder não é definido por suas vitórias, mas pela capacidade de evoluir diante dos desafios 

 (Global Partners)

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Publicado em 25 de julho de 2025 às 21h21.

Última atualização em 28 de julho de 2025 às 10h20.

Sou natural de Santo André, no Grande ABC Paulista, porém, pelo fato de meu pai ter sido executivo de indústria têxtil, passei a juventude no interior paulista, junto com os meus três irmãos. Concluí os estudos iniciais, antes de encarar o desafio de me mudar para a capital, em função das minhas atividades profissionais.  

Ingressei na faculdade com apenas 17 anos e optei por cursar Propaganda e Marketing, graduando-me na Universidade de Sorocaba. A decisão de seguir essa carreira foi principalmente em função dos testes vocacionais aplicados no período pré-vestibular 

A aptidão por marketing era latente e, durante o período preparatório, contei com o privilégio de conhecer alguns profissionais da área, como um executivo responsável por realizar grandes negociações em diferentes regiões e países.  

Considerei como uma profissão interessante, pois aspirava deter uma visão mais ampla. Em complemento ao bacharelado, tratei de buscar a formação em administração, gestão e contabilidade, com a realização do MBA executivo na Fundação Getúlio Vargas (FGV), constituindo um perfil mais robusto. Alia-se a esses fatores a inspiração provida pelo meu pai, haja vista como me encantava acompanhar a sua jornada.  

Entrar em um novo mercado e enfrentar desafios de base zero abriu portas para novas perspectivas e crescimento 

Iniciei a minha trajetória no interior, mas já possuía algumas ambições pessoais – e obviamente profissionais – de alterar esse status. Assim, comecei a buscar uma oportunidade na capital e cheguei a trabalhar tanto com propaganda e marketing quanto com pesquisa de mercado. Tal iniciativa foi fundamental para compreender o segmento, incluindo a parte de backoffice para suporte comercial.  

Vislumbrei o mercado e ingressei na Johnson & Johnson em 2004 para trabalhar na área comercial, em um projeto novo da companhia. Foi um grande desafio, visto que envolvia me mudar para São Paulo, estabelecer outra base e lidar com alguns rótulos atribuídos aos cargos de vendedor na época.  

A organização estava criando uma área voltada para um negócio novo, e considerei pertinente entrar no mercado de saúde. Aceitei o desafio, significando como um grande divisor de águas na minha vida, porque, dali em diante, novas portas se abriram com outras perspectivas.  

Comecei a me desenvolver como responsável por vendas, com foco em negócios, envolvido com um projeto de grande representatividade. Precisava me dedicar com afinco, mudar o status quo dentro da companhia, por ser um trabalho de campo, a famosa e relevante atividade de “carregar pasta”, estabelecendo o progresso do negócio a partir de uma base zero. Contei com o aporte para desenvolver os projetos, trazendo muito da minha formação, embasado na organização e no planejamento estratégico.  

Ressalto o fato de ter estudado bastante sobre assuntos diversos, além de ser bastante eficiente em atividades comerciais de campo, com vendas consultivas e estruturadas, criando sólidos relacionamentos com o mercado, o que resultou em uma trajetória promissora. 

Com 24 anos, fui o mais jovem da equipe na Johnson & Johnson, alcançando reconhecimento global 

Iniciei na Johnson & Johnson aos 24 anos, como o mais jovem da equipe, aprendendo ao lado de profissionais experientes. Após dois anos de bons resultados, fui promovido a gerente, tornando-me um dos mais jovens no Brasil. A empresa investiu cinco anos na minha formação como líder, proporcionando um crescimento significativo. Após sete anos, conquistei a posição de gerente de marketing e vendas de produtos ortopédicos, com prêmios e reconhecimentos nacionais e globais. Com uma série de projetos relevantes, liderando vendas, marketing e treinamento, implementei um projeto de franquia completa no segmento de ortopedia." 

Novos desafios e mercados abriram portas para crescimento exponencial e inovação constante 

Dentro da própria companhia, considerei válido procurar novas experiências, pois almejava trocar de negócio, inclusive para expandir o nível de conhecimento, incrementar a força de atuação no mercado e entrar em contato com outras especialidades médicas.  

Porém, não havia tal oportunidade naquele momento na Johnson, e assim surgiu a oportunidade de trabalhar na Becton, Dickinson and Company (BD), em 2011. Essa etapa foi singular – tive o privilégio de atuar em outro nível de stakeholders – ao lado de médicos, enfermagem, engenharia clínica e área de compras. Basicamente, existiam três grandes pilares naquele momento: novo dinamismo à área de marketing; reconexão com o headquarter nos EUA; e lançamento de produtos específicos.  

Pontuo como se tratou de uma mudança extremamente positiva, haja vista como me conectei com uma nova cultura, angariando experiências distintas. A movimentação naquele momento fez todo o sentido, com foco em outra dinâmica de mercado, como desenvolver projetos junto à manufatura de produtos locais e relacionamento com inúmeros stakeholders internacionais, o que acarretou o ganho de uma grande bagagem. 

No início, foi gerada certa ansiedade, com introspecção e autorreflexão acerca do que eu realmente sabia realizar. Por outro lado, serviu para validar inúmeros conceitos, além de ter ativado várias das minhas experiências prévias para melhorar o meu desempenho. 

Além de ter aplicado o que havia assimilado em sete anos de Johnson, pude ir além, já com mais vivência no mundo dos negócios. Foram dois anos extremamente positivos na BD, com a implementação de projetos de enorme visibilidade, com crescimento exponencial. 

Logo na sequência, a Medtronic surgiu em minha vida e tive como missão introduzir um projeto bastante similar com quem havia realizado na Johnson, ao estabelecer uma startup de business dentro da companhia. Aceitei a missão de voltar a trabalhar com medical device, ficando à frente do setor de neurocirurgia, principalmente de produtos como neuroestimuladores para tratamento de dores crônicas, mal de Parkinson, distonia e tremor essencial.  

Tratou-se de um projeto que começou do zero, com uma equipe de três pessoas. No primeiro ano, desenvolvemos a distribuição de canais, abarcando o setor comercial, com a introdução de novas tecnologias. Depois de três anos como líder desta operação, logramos um crescimento robusto da operação, em vendas, representatividade e estrutura.  

O principal aspecto de tal empreitada diz respeito ao modo de estar ao lado das lideranças, mas também na lapidação de talentos, alcançando o patamar de 35 indivíduos atuando diretamente nos processos, além dos inúmeros parceiros comerciais espalhados pelo Brasil.  

Os fatores multiculturais e o grande turning point  

Tal experiência foi singular – promoveu uma exposição enorme – habilitando-me a participar de um projeto ainda maior, ao assumir uma posição regional para a América Latina, ficando à frente de quatro unidades de negócios, com um pipeline extenso de produtos. Ademais, voltei para assumir e organizar a empresa desenvolvendo talentos, reestruturando a operação e o incremento de novas tecnologias.  

Assim, parti para os Estados Unidos, alocado em Miami, por conta da proximidade do headquarter e do escritório regional. Foi uma experiência fantástica, com aprendizados multiculturais, passando por diversas atividades e liderança em vários países ao longo de três anos, incluindo México, Porto Rico, Colômbia, Chile e Argentina. Essa mudança do escopo regional para um novo país, com uma nova cultura, compreendendo a mentalidade norte-americana e replicando-a em outros países, representou como um forte turning point 

Com êxito, constituímos uma nova fase da organização, saltando de 20 para mais de 60 pessoas envolvidas diretamente no negócio. Enfim, um marco ao se analisar a transformação expressiva interna e externa. Com os seguidos avanços e mudanças de mercado, estabeleci-me posteriormente na Avanos Medical, numa rápida passagem como diretor Latam de negócios, até alcançar, em setembro de 2021, a posição como general manager para o Brasil da Karl Storz. 

Essa etapa coroou minha carreira, pois iniciei uma companhia com mais de 60 anos de tradição no mercado nacional, a partir do zero. Cheguei para promover um turnaround no negócio, criando uma organização fundamentada no país, com todas as áreas de suporte e backoffice, além de novas dinâmicas mercadológicas.  

Representou um enorme teste, no qual pude aplicar muitas das minhas experiências e estudos, resultando em aceleração e ótimas perspectivas de crescimento. São momentos da vida que mudam conforme os desafios se apresentam, com características variadas. Sempre amparado pela experiência, maturidade e, principalmente, pela cultura organizacional, para enfrentar o novo.  

Líderes de sucesso se destacam pela flexibilidade, capacidade de adaptação e constante aprendizado 

O mercado vem mudando demais e isso exige uma capacidade de adaptação enorme. O líder de sucesso necessita, antes de tudo, ser flexível, estabelecendo canais de comunicação devidamente alinhados com os times, imbuído de sensibilidade, para compreender o momento das organizações, ciente das escolhas que irá tomar.  

A capacidade adaptativa é essencial diante do cenário que se apresenta, sempre investindo em equipes multidisciplinares e sabendo lidar com diferentes culturas. É extremamente válido estabelecer contatos e interações próximas com os colaboradores, pois tais aspectos geram confiança, credibilidade e responsabilidade. Com tudo isso, o engajamento ideal fica mais fácil de ser notado.  

Evidentemente, o líder não age sozinho, e apostar em indivíduos com habilidades multidisciplinares é imprescindível. Além da formação, dou muita importância ao que a pessoa constrói em termos de pluralidade de conhecimento e aprecio o desejo de estar envolvido no desenvolvimento de algo significativo. 

Definitivamente, o brilho no olhar é um diferencial. É uma combinação de fatores, que inclui a vontade de aprender, a dedicação, o cumprimento das responsabilidades atribuídas e o empenho em participar de grandes projetos. 

Destaco que alguns profissionais, muitas vezes, se colocam em situações que os levam a cair na zona de conforto, algo do qual sempre me distanciei ao focar constantemente em novos desafios. Compreender e interagir com outras áreas ajuda a evitar esse tipo de armadilha. Enfim, a busca por informação é essencial para ampliar o escopo, proporcionando mais exposição dentro da organização.  

O perfil do novo profissional de marketing e vendas 

A decisão de se trabalhar com vendas é importante, porque é necessário que se tenha essa noção bem interiorizada. Não existe “estar” vendedor – você é vendedor ou não; trata-se da essência do profissional. Portanto, o primeiro ponto é assumir essa essência, com o propósito definido, ciente de que há espaço para desenvolver o seu potencial.  

Conforme relatei, quando existiam alguns rótulos há 20, 25 anos, demandava-se menos aprimoramento. Essa linha de raciocínio se contrapõe com o que se busca hoje, com foco em profissionais bem mais preparados. O mercado contemporâneo aposta em indivíduos detentores de ferramentas de análise, com visão abrangente, que busquem a formação pertinente em relação ao ambiente corporativo. Dessa maneira, trabalha-se a atividade proposta de forma organizada, com estratégia, traduzindo isso em planos táticos.  

Em relação ao marketing, acredito demasiadamente na parte estratégica, na questão visionária, de entender as tendências de mercado e suas mudanças constantes. Costumo dizer para a minha equipe que, além da questão da estratégia, o profissional necessita saber desenvolver planos táticos elaborados – caso contrário, deriva em deslocamento da estratégia em contraponto à realidade do mercado.  

Em certos momentos, há o pensamento do “vendo o que eu entendo, o que acredito”, mas é importante que o time saiba analisar o mercado, com sensibilidade, para depois traduzir esse contexto de forma aderente, para evitar a desconexão dos processos preestabelecidos.  

Aspectos essenciais para se alcançar tais objetivos passam pela criação de uma sólida base analítica, com a utilização de ferramentas para apresentar adequadamente – tanto internamente quanto externamente – comunicando de forma assertiva e estruturada. 

Ademais, requer desenvolver e praticar a comunicação – isso é básico em todas as organizações, pois, não raro, a mensagem se perde no meio do caminho. Saber ouvir, para amealhar as informações pertinentes dos outros canais, auxilia demais no desenvolvimento pessoal e da empresa. Aliado a isso, é importante encontrar modos de estruturar a questão financeira para que a venda seja devidamente efetiva, em que ambas as partes compreendam que há ganhos no projeto proposto. 

Networking e a importância das ferramentas digitais 

Networking vai além das fronteiras locais: envolve diferentes mercados, culturas e stakeholders. É essencial cultivar relações sólidas, entender as dinâmicas regionais e ampliar o olhar para o cenário internacional, assimilando boas práticas e particularidades culturais. 

No digital, a aceleração pós-pandemia evidenciou a importância de uma comunicação estruturada e inovadora. O desafio é se posicionar com clareza e manter a marca no topo da mente do público. 

Para os jovens profissionais, vale aprender com os mais experientes, mantendo dedicação, foco e mente aberta. O mercado evolui rapidamente, mas os pilares construídos com propósito continuam sendo a base para um futuro promissor. 

 

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