Somos do tamanho dos nossos sonhos
Identifiquei-me desde o começo com a Cacau Show. Lembro bem do Sr. Nicanor Adão Meira, que foi gerente da fábrica durante muitos ano
Publicado em 30 de outubro de 2021 às, 10h49.
Última atualização em 30 de outubro de 2021 às, 10h51.
Stefenson Soalheiro - Diretor de Supply Chain na Cacau Show.
Por: Fabiana Monteiro
No dia 3 de fevereiro de 1997, aos 16 anos, começava minha história na Cacau Show, mas bem antes disso já trabalhava. Vendia sorvete e café nas ruas da Zona Norte de São Paulo, onde nasci e cresci com meus seis irmãos. Daí vieram, através dos meus pais, meus valores e educação, os quais carrego até hoje e repasso para meus filhos.
Meu pai era Garçom e tinha dois empregos: trabalhava dia e noite, trabalhava duro, e aprendi com ele a valorizar o trabalho e a crença de que não se consegue nada sem trabalho duro, muito duro.
Com minha mãe, aprendi a valorizar os relacionamentos; ela é aquela que consegue vender qualquer coisa para qualquer pessoa e em qualquer momento.
A minha história na Cacau Show começou numa turma que foi contratada em regime temporário como parte dos esforços de produção para a Páscoa daquele ano, processo que acontece até hoje e, ao final do qual, uns acabam sendo efetivados, em substituição àqueles que não estavam se saindo muito bem.
Naquela época, o trabalho era feito na própria máquina e, no final de cada turno, tínhamos que limpar todo o maquinário, inclusive a área em volta do local de trabalho. A Empresa era bem menor, então dávamos conta do serviço. Desde lá, já pensava em como me diferenciar daquele monte de gente que estava ali naquele momento, na mesma condição de trabalho temporário.
Então, sempre fazia algo além da minha função e, ao final, fui uma das pessoas efetivadas. Assim comecei minha história na Cacau Show, como Auxiliar de Produção temporário.
Antigamente, nas Empresas em que trabalhavam jovens, havia profissionais que auxiliavam na escolha de uma profissão, para quem pretendia cursar uma Faculdade. Nessas pequenas palestras, interessei-me por Economia e Contabilidade, porque sempre lidei muito bem com os números.
Na hora da inscrição, escolhi a Área Contábil e segui em frente. Ninguém da minha área na Empresa fazia Faculdade, e da minha família, também não. Sonhei além da realidade.
Posso dizer que não foi fácil levar o curso adiante: o valor da mensalidade era basicamente igual ao meu salário. Meu pai me ajudou no primeiro mês, mas depois tive que me virar sozinho, fazendo horas-extras e às vezes conseguindo carona.
Não sobrava dinheiro nem para comprar as cópias dos textos obrigatórios, que normalmente os professores indicavam, mas sempre fui muito estudioso e me destacava no grupo de estudos, sendo inclusive aquele que fazia a maior parte dos trabalhos. No entanto, não me identifiquei com o curso de Contabilidade e acabei mudando para Administração e Marketing no segundo ano; ali me encontrei.
Fazendo além do esperado
Identifiquei-me desde o começo com a Cacau Show. Lembro bem do Sr. Nicanor Adão Meira, que foi gerente da fábrica durante muitos anos.
Naquela época, não tinha muito isso de treinamento e integração de área, alguém falava o que devia ser feito e você tinha que se virar. Sempre fui muito curioso e, por isso, a curiosidade é uma característica que valorizo. Quis aprender outras funções que tinham na fábrica, que ainda era no bairro da Casa Verde, na Grande São Paulo. Aprendia uma e seguia para outra; em menos de 6 meses, já conhecia todos os processos que se realizavam ali. Além disso, chegava cedo, deixava a minha máquina super limpa e era disciplinado. Eram as armas que tinha para que me enxergassem em meio a tanta gente. Não tem nada a ver com ser “puxa-saco”, mas com fazer o trabalho bem-feito e transcender à função. Por isso que digo: “Faça sempre além do esperado”.
Além disso, o fato de ter conseguido entrar na Faculdade me ajudou muito. Pouco tempo depois que entrei na Empresa, coincidiu com o período em que a Cacau Show viveu a única “crise”, desde que eu estou aqui. Antes não existia loja física, não existia venda por catálogo. Toda a nossa produção era destinada ao varejo tradicional, como padarias, lanchonetes e supermercados. Nosso principal cliente era o Mappin, que quebrou (a falência foi anunciada oficialmente em julho de 1999) e ficou devendo um valor importante para nós. Foi quando o Alexandre (Alexandre Tadeu da Costa, Fundador e CEO da Cacau Show) decidiu que a partir dali nenhum outro cliente representaria mais do que 10% do negócio. Houve a necessidade de ajuste de quadro e algumas pessoas foram desligadas, mas eu me mantive na fábrica.
Depois começamos com a venda com catálogo, como a Avon e a Natura, o que deu origem a um departamento específico para cuidar disso. Foi nesse momento que o Alê olhou para mim e me deu a oportunidade de começar naquele setor — que ainda era muito pequeno —, como Assistente de Vendas Diretas. Naquela condição, eu fazia de tudo, desde atendimento das vendedoras até separar pedidos e emitir nota fiscal.
Só que aquilo foi crescendo muito rápido e, quando tinha 19 anos, virei Chefe de Expedição, tendo 22 pessoas respondendo para mim, incluindo profissionais com mais de 60 anos. Foi um grande desafio. Hoje, vendo jovens nessa mesma faixa etária, consigo entender quanta maturidade eu tive que ter naquela época. Convivi com muitos questionamentos nessa fase, tive dificuldade no começo para transpor as barreiras, amadureci muito rápido e as coisas foram acontecendo. Enfim, consegui conduzir a situação e aproveitar a oportunidade.
Apostei no futuro e acreditei no sonho dos outros
Um ano depois, eu já era Chefe de Expedição de toda a fábrica, que já tinha uma estrutura bem maior. Nesse ponto, lembro-me de que, quando ainda estava fazendo a Faculdade de Contabilidade, recebi um convite para trabalhar em um escritório contábil, onde iria ganhar mais. Não era muito mais, porém, diante do que ganhava na fábrica como auxiliar de produção, era significativo. Só que consegui analisar até onde chegaria naquele escritório de Contabilidade e vislumbrei aonde a Cacau Show poderia me levar. Acredito que não haja certo ou errado, mas que temos de ser coerentes com aquilo que queremos para nossa vida. E, para isso, às vezes, significa apostar no futuro, acreditar também no sonho dos outros e fazer desse sonho parte do seu. E isso foi um pouquinho do que eu fiz.
Desde o momento em que recusei aquela proposta, foi tudo muito rápido. Em 2000, o acontecimento tão esperado: foi aberta a primeira loja com a marca Cacau Show, em Piracicaba. Nesse mesmo ano, conheci minha esposa e começamos a namorar. No ano seguinte, inauguramos a primeira unidade especializada e padronizada no Shopping Suzano. Lembro-me muito bem desse dia, pois era a minha última prova da Faculdade, estava chovendo muito, eu tinha apenas uma moto e, dessa forma, não pude ir à inauguração.
Mas, a partir dali, não paramos mais. No mês de março já eram seis lojas e, nesse período, fui convidado a sair da área de Expedição e ir para a Comercial. Era uma área que estava começando e tinha a função de abrir novas lojas. Eu visitava determinado local, analisava o ponto, fazia reuniões e dava treinamento. Ficava viajando pelo Brasil inteiro. As 152 primeiras lojas foram aprovadas por mim.
Hoje, tudo é muito grande, mas, evidentemente, não era assim. Fiquei como Supervisor de Franquias por um tempo, e aí o negócio começou a expandir.
Passei em seguida para Supervisor de Marketing e, aos 27 anos, quando me casei, fui promovido a Gerente dessa área. Gostava do que fazia e ainda gosto da área de Marketing, mas percebi que ali o meu crescimento não seria tão rápido, pois sou uma pessoa mais analítica do que criativa.
Em 2009, apareceu uma oportunidade de criar uma área ainda não existente, a de Supply Chain, que foi para onde fui encaminhado e estou até hoje. Comecei a construi-la do zero e acho que me dou muito melhor no que faço agora do que naquilo que fazia antes.
Considero importante que durante a nossa trajetória entendamos aquilo que nos faz mais sentido, e não simplesmente o que é mais gostoso de se fazer. As pessoas, em geral, por princípio, tendem a rejeitar aquilo que dá mais trabalho, porém, o que faz mais sentido e é mais importante, é o que, no final, nos leva mais longe. Percebi que a Área de Operações era a que ia me levar mais longe, porque tem um campo muito mais amplo para ser explorado.
Além disso, tenho facilidade de cuidar de várias coisas ao mesmo tempo e tenho grande controle emocional. Isso me ajuda a cuidar de determinados processos nesta área que é reconhecidamente muito tensa e que, frequentemente, apresenta problemas. Enfim, é preciso ter uma resiliência muito grande.
Transcender à função abre oportunidades
Procurei cada vez mais conhecimento na área de Supply Chain, na qual, por se tratar de uma área mais “exata”, é mais claro demonstrar os resultados. Assim fui crescendo na estrutura da Cacau Show e assumindo outras áreas. Hoje tenho mais de dez áreas das quais cuido e que estão abaixo de mim. Dois aspectos me ajudaram e me ajudam muito na edificação de minha trajetória: a habilidade em negociar e a capacidade de me manter equilibrado. Por isso, consigo conduzir reuniões extremamente estressantes e penso muito antes de falar.
Tinha 29 anos quando migrei para Supply Chain. Comecei a me estruturar, a entregar resultados e, aos 34, fui alçado à condição de Diretor: o mais jovem a atingir tal posto, excluindo evidentemente o Alexandre, que criou tudo isso. De novo, foi algo bastante desafiador. Com o novo cargo, meu escopo seguiu aumentando e fui agregando mais áreas.
Acredito que transcender à minha função é algo que foi sempre me abrindo oportunidades. Desde que mudei para Supply Chain, tinha para mim que ia sempre colocar gente boa trabalhando comigo. Isso pra mim é fundamental na minha estruturação. Todos aqueles que estão comigo conhecem mais do assunto pelo qual é responsável do que eu. Procuro escolher e colocar profissionais qualificados e capazes de dar conta daquilo que exigimos, que “preencham a cadeira”. Assim me mantenho sempre aberto para pegar mais responsabilidades e também dar oportunidades para outras pessoas crescerem.
Em 2017, por exemplo, começamos a construir o complexo Cacau Show, em Itapevi, na Região Metropolitana de São Paulo. O Alê é uma pessoa que gosta muito da parte arquitetônica e pediu ajuda na execução do projeto. Eu já era Diretor, mas chegava às 7h30 e ficava até as 14h lidando diretamente com os trabalhadores da obra. Só conseguia fazer isso porque tinha por trás uma equipe muito bem estruturada. De vez em quando, é importante voltar um pouco. Neste exemplo, a Cacau Show precisava daquele esforço extra e conseguimos inaugurar o espaço naquele mesmo ano. Depois, em 2018, abrimos a primeira Mega Store, no Morumbi Shopping, que foi um sucesso imediato, criando assim mais um departamento de implantação dessas “megalojas”, e, como eu já tinha um pouco de conhecimento em obras, acabei recebendo mais essa oportunidade.
Se eu conseguir inspirar uma pessoa com minha história, já terá valido a pena
A gente costuma dizer que na Cacau Show não tem moita para se esconder. No meu caso, nunca faltei um dia sequer ao trabalho nos meus 24 anos de casa. Pode-se dizer que eu tenho um pouquinho de sorte de não ficar doente, porém, também ajudo me cuidando. Procuro motivos para vir trabalhar, e não para faltar. Evidentemente, de vez em quando, acordo indisposto, com dor de cabeça, mas isso, até hoje, não me impediu de trabalhar. Entendo que é muito mais fácil arranjar desculpas para deixar de fazer alguma coisa do que motivos para fazer. Difícil é ser disciplinado, regrado, mas felizmente, tenho isso como característica.
Como trabalho bastante, quando chego em casa não me dedico a assistir séries ou fazer outras coisas. Quero mesmo é dar atenção para minha família que, para mim, é a base de tudo. Minha esposa, Aline Soalheiro, que está comigo há 20 anos, é meu porto seguro e tem sido fiel escudeira ao longo de minha jornada. Sem ela, nada disso seria possível. Aliás, é muito importante ter pessoas próximas que o levem para frente, que o estimulem a fazer melhor. Tenho o privilégio de ter uma esposa e dois filhos maravilhosos (Leonardo e Felipe), que me estimulam dia a dia a ser uma pessoa melhor, em casa e também no trabalho. Se você tem tranquilidade em casa, você rende e vai muito mais longe na sua carreira.
Digo isso aos jovens com quem converso, que procurem identificar e ter por perto exatamente aqueles que os inspiram a ir cada vez mais longe e que queiram de verdade o bem deles. Isso faz toda a diferença. E falo assim pois sou um exemplo disso. Além dos meus pais, esposa e família mais próxima, incluo o Alexandre, que para mim é uma grande inspiração; o Marco Aurélio Lauria (Lelio), nosso ex-vice-presidente, que é uma pessoa extremamente sensata e que me ajudou bastante, entre outros, que estão comigo nessa jornada faz muito tempo e que me desafiam todos os dias a ir mais longe e ser uma pessoa melhor.
Sempre que possível, procuro conversar com as pessoas, principalmente os mais jovens. Se eu conseguir inspirar e colaborar para mudar a vida de um deles, para mim, já vai valer a pena. Uma das coisas das quais mais me orgulho na Cacau Show é a quantidade de promoções que proporcionamos, o impacto positivo que causamos na vida de tantas pessoas.
Aqui é um celeiro de oportunidades. Usam muito a minha história como exemplo, e isso me dá bastante orgulho. Mas não sou o único. Tem um monte de gente que começou como jovem aprendiz e que hoje é Analista Sênior, Coordenador, Gerente etc. Aqui, todo mundo tem oportunidades, e faço questão de que todos, inclusive aqueles que fazem parte do Instituto Cacau Show, que hoje cuida de 3 mil crianças, entendam que é possível construir um futuro diferente, que só depende de a pessoa acreditar e correr atrás dos seus sonhos.
Um tombo para aprender
Eu já tive loja da Cacau Show. Mais ou menos em 2005, quando já estava no departamento de Marketing, o Alexandre, junto com outro funcionário, tinha uma unidade das franquias no Shopping D e precisava de alguém que cuidasse do estabelecimento. Então, me convidaram para ser Sócio, e passei a ter uma pequena participação. Trabalhava lá, mas sem abrir mão de minhas funções na Empresa. Depois daquela, acabamos abrindo outra, mas dessa vez apenas com o Alê. Estava feliz, no entanto, comecei a me distanciar das lojas, porque foi crescendo a minha demanda na Empresa, estava recém-casado, estudava inglês e fazia MBA.
Como todos sabem, nesse tipo de negócio, é preciso que o dono esteja muito próximo. Dessa forma, tive que passar as duas lojas para alguém que pudesse se dedicar, para assim elas não fechassem. Acabei, no final, perdendo parte desse investimento, porém ganhei uma grande lição. Eu me culpei no momento, e foi muito frustrante. Isso foi um tombo para mim, pelo qual paguei um alto preço, mas com o qual aprendi muito e me tornou mais maduro. Eu tinha de ter falado “não” em alguns momentos, seja para o MBA, para a aula de inglês ou para uma ou ambas as lojas.
Hoje sou uma pessoa muito mais consciente quando decido assumir determinadas responsabilidades. No caso das áreas aqui na Cacau Show, vou estruturando antes e pegando aos poucos. Também sou convidado para muitos eventos, seja jantares, palestras, entrevistas, mas sou mais seletivo para escolher aquilo que vai me agregar alguma coisa.
A medida de um sonho
Tenho orgulho da história que construí aqui dentro, e meus filhos sentem o mesmo por eu trabalhar na Cacau Show. E isso não tem preço.
Entendo que as oportunidades foram surgindo para mim, eu estava preparado e soube aproveitá-las. Por isso digo que cada um deve ser protagonista de sua própria história, ser o dono do seu destino. Não coloque o peso de não ser bem-sucedido no outro.
No Brasil há muitas oportunidades e, acredite, uma delas está reservada para aqueles que trabalham duro e não desistem de sonhar. Cada um de nós somos e seremos do tamanho dos nossos sonhos.