Exame.com
Continua após a publicidade

Resiliência e foco conduzem às conquistas e ao legado, afirma Jimmy Chavez Romero da Pandora

Na coluna desta semana, conheça a história de Jimmy Chavez Romero, Latam Finance Lead na Pandora

Jimmy Chavez Romero, Latam Finance Lead na Pandora (Reprodução/Reprodução)
Jimmy Chavez Romero, Latam Finance Lead na Pandora (Reprodução/Reprodução)

A minha vida se desenvolveu de maneira bastante interessante, em função de deter um perfil curioso, sempre ávido por novos desafios, e pela busca constante por conhecimentos diversos. Imbuído de resiliência, foco nas atividades e pela ampla capacidade de valorizar as relações interpessoais, trato de me reinventar sempre que necessário, com o propósito de estar apto a atender os compromissos atribuídos a mim. Atualmente, ocupo com imenso orgulho a cadeira de Latam Finance Lead na Pandora.

Nasci e cresci em Quito, capital do Equador, em 1974. Apesar de ser uma cidade de médio porte – se comparada às grandes metrópoles brasileiras – desfrutei de uma infância muito divertida, junto aos meus familiares, assimilando aprendizados valiosos dos meus pais Mario e Teresa, e dos meus avós. Minha avó costumava dizer que pessoas inteligentes aprendem com os próprios erros, enquanto as sábias aprendem com os outros, uma frase de impacto que guardei como lição para a vida.

Muitas dessas histórias começaram a fazer sentido conforme fui amadurecendo. Estudei em escolas católicas, então, obviamente, lidei com métodos mais rígidos. Enfim, havia muita disciplina, auxiliando-me a ter uma rotina devidamente estabelecida. Também já estudava inglês – algo fundamental para alavancar a carreira já no início, mas aproveitava para me divertir sempre que possível.

Meu pai possuía um negócio próprio, uma concessionária automotiva, o que me permitiu guarnecer alguns ensinamentos elementares durante a adolescência, uma época muito rica. Ele me contava sobre sua história como empreendedor, e é muito diferente do que ser um executivo, como sou atualmente. Seu círculo social, recordo-me, era expressivo, o que me ajudou a ser menos introspectivo, fato decisivo para me orientar.

Na época de ingressar na faculdade, comecei a estudar contabilidade, por influência familiar, mas sentia ser algo demasiadamente rotineiro. Gosto muito de Engenharia, da parte técnica das fábricas, de como funcionam os processos. Como sempre, fui um aluno aplicado – inclusive ganhei um prêmio de mérito no colégio, dispunha de algumas opções para pensar sobre o Ensino Superior. Portanto, optei por cursar Engenharia Comercial/Administração na Universidad Politécnica Salesiana del Ecuador, onde me graduei em 2005.

O principal ativo de uma empresa é o fator humano

O meu perfil curioso conduziu os meus primeiros passos e, desta maneira, estagiei e trabalhei na IBM, na área de contabilidade. Enfim, a tecnologia é algo que me fascina desde jovem. O inglês foi um diferencial para me destacar na multinacional, proporcionando-me mais oportunidades para dialogar com clientes, algo responsável por abrir várias portas. Além disso, representou uma abertura de mente enorme, especialmente na fase em que a tecnologia estava se desenvolvendo – faço parte da geração que vivenciou este farto período de transição. Fiquei deslumbrado por essa experiência inicial, chegando a aprender programação, algo muito voltado para lógica.

Conforme demonstrava competência, tornava-me relevante e ampliava o escopo de conhecimentos. Reitero: informação é poder, portanto, saber se comunicar é uma característica a qual destaco como essencial para edificar uma jornada de sucesso. O profissional moderno precisa saber se expressar adequadamente, ser claro, estruturar as ideias assertivamente. Eu gostava da parte técnica, mas passei a ser mais participativo durante a faculdade, expandindo essa capacidade de diálogo.

O fato de gostar muito de pessoas me auxiliou a buscar ser uma pessoa mais preparada nas relações interpessoais. Sem dúvida, o principal ativo de uma empresa é o fator humano. Essa mentalidade, adquirida ainda no início da carreira, permeia até hoje as minhas ações e decisões.

A próspera e desafiadora jornada na Philips

Sendo assim, em 2000, comecei a minha longa trajetória na Philips, na área de iluminação, especificamente para trabalhar com lâmpadas incandescentes, determinando o meu primeiro passo como profissional. Novamente, o inglês foi um fator determinante para me sobressair na empresa, porque havia pouca gente com o domínio do idioma. Isso me deu uma exposição muito boa e, claro, por conta disso, detinha mais acesso aos clientes, mesmo sendo bastante jovem.

Os excelentes resultados logo foram recompensados com promoções e novos desafios. Deixei a posição na contabilidade para ser o controller no setor comercial. Contei com a ajuda de muitas pessoas, e passei a viajar para fora do país, realizando o sonho de conhecer o mundo corporativo como expatriado. Naquela época, no começo dos anos 2000, a terceirização de armazéns e de operações logísticas estava na moda. A Philips do Equador era um excelente piloto, com processos menores, mas que contemplava todas as operações. Qualquer teste era realizado lá, provendo-me a chance de conhecer o negócio de forma ampla.

Assumi projetos logísticos com terceirizações de armazéns, e essa atividade chamou a atenção do escritório regional, conduzindo-me a ampliar o escopo dos processos no Peru e Colômbia. Enfatizo como passei a aprender sobre a multiculturalidade a fundo. São países próximos, mas existem grandes diferenças – na forma de se expressar, por exemplo. Essa oportunidade de aprender demais na sede regional viria a ter reflexo futuramente.

Após esse começo vitorioso, a Philips me alocou no programa High Potencial, no qual recebi vários cursos de treinamento, incluindo comunicação, resolução de problemas, visando à formação de novos líderes. Muitas pessoas que estiveram na minha turma, hoje também ocupam cargos de alta relevância.

Com tal projeção, recebi o convite para trabalhar no Brasil, um salto muito vultuoso profissionalmente, e também de cunho pessoal, pois vim com a minha família, com as minhas filhas Gabriela e Paola, com diversos benefícios ofertados. Neste momento, fiquei mais à frente de negócios, como análises de resultados, já com a experiência adquirida na área. Tratava direto com a matriz nos EUA, e foi excelente para incorporar habilidades.

Sem dúvida, com tantos projetos, a passagem pela Philips rendeu aprendizados significativos – aprendi a lidar com projetos diversos, a conduzir reuniões, em meio aos inevitáveis choques culturais. Considero como uma contribuição híbrida, entre um executivo latino com a cultura norte-americana.

Segui meu crescimento na empresa, com projetos industriais, levando-me a assumir a controladoria regional automotiva. Passei a viajar por todo o Brasil, para visitar as plantas, e a maior dificuldade foi a de lidar com o idioma, por conta das diferenças de sotaques. Compreender o tamanho do país foi de suma importância para seguir me aprimorando na companhia. Dentro da indústria automotiva, nos destacávamos, sempre de olho na concorrência.

Pouco depois, surgiu outra oportunidade dentro da própria Philips, na área de healthcare. Éramos líderes em áudio, vídeo, som, com uma fábrica espetacular em Manaus, e mesmo assim a organização resolveu investir pesado em um novo setor, amparada na visão inovadora. Tratei de realizar aquisições, em Blumenau, Manaus e no Rio de Janeiro, ou seja, tive contato com diferentes aspectos mercadológicos do país.

A motivação por novos desafios e o sucesso como diretor

Apesar de estar satisfeito na Philips, em 2012 recebi uma oferta da Eaton, que desenvolvia peças automotivas, sendo que assumi para comandar o setor de hidráulica, na posição de Diretor Financeiro para a América Latina. Aceitei o desafio, deveras interessante, agregada a uma oferta financeira irrecusável. Foi uma decisão difícil de ser tomada, após a jornada de quase 14 anos na Philips.

Marcou como uma fase bastante enriquecedora, pois operávamos com bastante tecnologia, inovação, com o propósito de prover restruturações. Conforme os projetos geravam resultados, guarnecia mais influência na organização, inclusive precisando viajar constantemente para o Chile. Apesar de finanças representar ganhos expressivos, passei a me interessar demais pela área comercial.

Novamente, obtive uma visão diferente, algo imprescindível para manter a motivação e o foco. Permaneci pouco mais de dois anos na Eaton, até migrar para Kohler, multinacional norte-americana de manufatura. A companhia necessitava de um especialista em finanças para gerir a parte elétrica. Inicialmente, relutei em aceitar o convite, mas eles gostaram demais do meu perfil.

A Kohler se estabeleceu no Brasil, após processos de aquisições, especialmente da Fiori, e esse desafio me motivou, pois iríamos aportar em um mercado novo, como startup. Fui literalmente o terceiro funcionário da empresa no país quando iniciamos nossas operações por aqui.

Simplifico em uma frase: foi puro desafio o que me levou a aceitar a proposta. A parte econômica era muito boa, mas a movimentação me encantou, de poder conhecer todo o grupo nos EUA, o posicionamento de mercado – fatores espetaculares, uma oportunidade única na vida. Voltei para assinar o contrato de compra da Fiori e, neste mesmo dia, partimos para Andradas (MG) para anunciar o acordo, um evento singular para a cidade inteira.

Posteriormente, assumi como diretor-presidente, com um trabalho imenso a ser implementado, à frente da inauguração de 38 pontos de venta. Cito como reformular o setor de marketing e de como demonstrar ao público a nossa excelência em termos de produtos e atendimento marcou bastante; demandou enorme esforço de todas as equipes envolvidas.

Já no início de 2020, pouco antes da Pandemia de Covid-19, também via recomendação, a Pandora me procurou com uma proposta diferenciada, afinal, trata-se do mercado de luxo. Uma organização detentora de 150 lojas, no formato de varejo clássico, um projeto do qual jamais havia participado. De imediato, como Country Manager, tive a missão de estabelecer a base estratégica de crescimento exponencial. Já havia me desligado da Kohler, mas com a extensão da pandemia houve um momento de tensão grande na hora de dar essa guinada.

A Pandora estava com o objetivo claro de se reinventar, enfim, um desafio diferente precipitava-se ao horizonte, algo superinteressante. E a crise gerada pela pandemia também significou como uma oportunidade única, porque demonstrou haver saídas para inúmeros problemas até então considerados intransponíveis. Com as mudanças operacionais, marketing de branding, atingimos os nossos objetivos com êxito. Recentemente, recebi uma proposta para trabalhar no escritório regional, no Panamá, para replicar as operações por toda a América Latina.

Quanto maior o risco, maior será a recompensa

Enfatizo como os meus ciclos sempre foram bem curtos entre os cargos, aproximadamente entre dois, três anos. Promovido constantemente, assumindo novos desafios, tenho a convicção de ter logrado sucesso por onde passei, apostando na tese de quanto maior o risco assumido, maior será a recompensa.

Conforme supracitado, os sucessos vieram de forma natural em minha vida, com dedicação, resiliência e foco nas empreitadas. Dentre os meus melhores cases, destaco como na Philips a reorganização das indústrias a nível global elevou o patamar do negócio. A operação envolvia China, Brasil, Alemanha, França – um projeto que requisitou muito feeling, com atenção redobrada acerca da realidade cultural de cada país. A França, com o viés sindicalista, enquanto Alemanha apresenta grandes ferramentas tecnológicas. Já a China compete por conta do melhor custo/benefício, e o Brasil precisa impor alguma vantagem para se manter expressivo. É uma experiência positiva, mas imbuída de sofrimento por conta de duras decisões, como fechar fábricas.

Outro ponto em termos de sucesso foi o de ter participado da startup com uma marca tão forte como a Kohler. Partir do zero é muito mais prazeroso e os aprendizados amealhados me deixaram mais alinhados com a situação de liderança. A experiência serve como referência, mas o melhor aprendizado é saber engajar as pessoas, colocar em prática todo um projeto, vender o sonho. Foi um desafio e uma reinvenção como pessoa, de poder gerar empatia. A conexão com as pessoas, prover conectividade, está acima de tudo, de qualquer número.

A carreira é como uma espiral, e não uma escada

É imprescindível aprender a compartilhar, delegar, comunicar. Sempre tive facilidade de comunicação com os meus pares e superiores, porém, é complexo explicar algo que se quer com exatidão. Saber expressar o que espero a alguém é um diferencial do meu perfil. Quanto mais sênior, essa habilidade torna-se cada vez mais primordial. Quando compreendi isso, mudei inclusive a forma política de atuar, algo essencial para crescer na carreira.

Pontuo também a resiliência, especialmente no período da Kohler. Chega a um ponto no qual há foco sobre várias atividades distintas, mas é preciso lidar com muita burocracia, como a política externa, na explicação das complexidades dos negócios do Brasil. As coisas têm um tempo para amadurecer, não há como depender de resultados imediatos sem o devido planejamento. Quando comecei a minha carreira, a preocupação era o preparo técnico, mas hoje sei como é possível encontrar o fôlego extra para prosperar.

Ressalto como a experiência de ser líder, a importância de saber que a carreira é como uma espiral, e não uma escada, são determinadas por decisões bem planejadas, mas também com uma boa dose de coragem. Chega um momento em que é necessário dar um salto, mas sempre preparado para voltar pelo conhecimento que ficou atrás, caso assim seja necessário.

O contato ajuda no engajamento com as novas gerações

Sendo assim, há uma nova discussão a respeito sobre como trabalhar com as novas gerações. Para quem é mais experiente e ocupa cargos mais altos, é essencial saber atuar tanto com millennials quanto com a Geração Z, pois são muitos jovens com visões diferentes do mundo, e precisamos respeitar, entender e assimilar tais ideias. É preciso compreender como convergir os objetivos e os propósitos das empresas englobando todas as gerações. Essa é a maior dificuldade que observo nas lideranças atualmente.

Vejo a indústria, sobretudo, tentando voltar a uma prática muito hierárquica – e a hierarquia é cada vez menos significativa. Vamos saber qual é o melhor modelo somente daqui a alguns anos, mas o que importa, de fato, é a comunicação efetiva com os colaboradores. O líder tem a obrigação de conhecer os fatores motivadores. Às vezes, é só dinheiro, mas atualmente, não é o caminho mais procurado. Creio que o futuro está pautado no sistema colaborativo, com pessoas atuando com alegria, agregado com a firmeza de um líder que lute por resultados efetivos.

Precisamos nos adequar ao novo mercado de trabalho, que possui novas demandas. O varejo está passando por um momento diferente e com os juros altos, algumas empresas estão com dificuldades. O trabalho em atendimento é uma excelente oportunidade para quem está começando. A profissão de vendedor não é vista como uma profissão – é preciso valorizar esse cargo. Com treinamentos, podemos mudar essa mentalidade, pois em muitos casos, atuar nessa área é a única solução para muitos jovens. A linha de atendimento pode e deve ser aprimorada, e não apenas ser uma ocupação pontual para indivíduos sem oportunidades mais adequadas.

Evidentemente, o mercado não está tão consumidor quanto antes da pandemia, portanto, precisamos nos diferenciar. Analiso como ainda é muito tradicional, estruturado. Considero-me um adepto e entusiasta da tecnologia, ou seja, vejo a inovação como um processo natural para aprimorar a área. Viajo por muitos países, e os shoppings contêm a nossa matéria-prima. Enfim, o benchmark é uma mudança importante, que demanda ser mais destacada.

Resiliência e foco conduzem às conquistas e ao legado

As pessoas são mais importantes do que qualquer outra coisa. Durante a minha trajetória, tive conflitos pessoais, mas, de alguma forma, busquei alinhar respeito e admiração mútuos com outros indivíduos.

Pontos de vista diferentes são normais e construtivos, para se obter o contraponto no momento de se argumentar sobre política, economia e outros tópicos primordiais para a sociedade. Isso resulta em trocas e, saber que de alguma forma você tocou na vida de outra pessoa, é uma forma de deixar um legado.

Ademais, aconselho sempre: saibam curtir o tempo. Trata-se de um tema, um diferencial muito importante. A atual geração possui uma ansiedade enorme, mas os riscos e os esforços sempre derivarão em resultados positivos, na consequência daquilo que você faz. Saiba criar resiliência, com foco, pois isso conduzirá às conquistas”.