(Global Partners)
Colunista
Publicado em 8 de agosto de 2025 às 21h20.
Eu sou do Rio de Janeiro, nascido e criado em uma família que me ensinou desde cedo que nada vem de graça. Cresci observando meu pai trabalhar no comércio e, de alguma forma, aquilo me despertou um fascínio por entender como os negócios funcionam, como as coisas podem ser feitas de forma mais eficiente, mais inteligente.
Minha mãe é formada em Direito, mas eu rapidamente percebi que aquele caminho não era para mim. Havia algo no universo das leis e dos artigos – com sua lógica fria e linguagem precisa – que me parecia demasiado abstrato. Sempre gostei do “concreto”, de resolver problemas, entender processos, buscar soluções. Foi por influência de um amigo que escolhi fazer um curso técnico em Programação durante o Ensino Médio. Na época, eu sequer imaginava que, ao digitar minhas primeiras linhas de código, estava abrindo uma janela para um novo mundo – e que isso me levaria a construir uma carreira no mundo da tecnologia.
Quando chegou a hora da universidade, escolhi Informática na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), por ser o curso com maior foco em negócios. Só que nem tudo foi simples. Minha família enfrentou dificuldades financeiras, e precisei trancar a faculdade por um semestre. Aquilo me ensinou que nem sempre o caminho é reto – às vezes, é preciso dar um passo para trás ou fazer algumas curvas para conseguir avançar depois. E, sim, valeu a pena.
Com o tempo, percebi que, além da tecnologia, era preciso ampliar o olhar – entender de negócios, estratégia, finanças, marketing... Foi esse impulso que me levou, em 2008, a buscar um MBA Executivo. E, desde então, sigo aprendendo. Mais recentemente, fiz uma extensão em Estratégia, porque entendi que, no mundo de hoje, aprender deixou de ser uma fase: virou um modo de estar. Afinal, parar de aprender é começar a ficar para trás.
Minha trajetória internacional começou em 2007, quando recebi a missão de liderar um projeto no Peru. O detalhe? Eu não falava espanhol. Diante disso, fiz o melhor que podia com o tempo que me foi dado. Mergulhei em uma imersão nos Estados Unidos para reforçar meu inglês e garantir uma base de comunicação comum. Já no Peru, aprendi espanhol no ritmo da vida real – errando, acertando, me adaptando. Foi uma das lições mais marcantes da minha carreira: sobre resiliência, flexibilidade e a necessidade de se abrir ao novo.
Cada etapa da vida tem seus próprios desafios
No começo, o desafio era sobreviver, pagar as contas, construir uma carreira. Mas, com o tempo, algo mudou. Percebi que, se eu quisesse realmente crescer, não só profissionalmente, mas em impacto, precisaria ir além do fazer bem feito. Era preciso entender a fundo como as empresas funcionam, como resolver problemas complexos e, acima de tudo, como gerar transformação de verdade. Foi aí que minha atitude mudou: deixei de apenas executar para começar a pensar estrategicamente.
Aprendi que decisões de impacto não podem ser tomadas nem cedo demais, nem tarde demais; elas têm uma relação muito íntima com o tempo correto para serem efetivas. E que, acima de tudo, precisam estar alinhadas aos nossos princípios, aos nossos valores. Sempre que enfrento uma decisão difícil, me pergunto: isso faz sentido para mim? É ético? É justo? Como isso vai impactar as pessoas ao meu redor?
Eu me vejo como um solucionador de problemas. Gosto de entender onde estou, qual o cenário, para onde queremos ir – e só então buscar o caminho.
Se há algo que aprendi ao longo da minha trajetória é que os problemas fazem parte do caminho. Eles não representam o fim, mas sim o início de algo novo, oportunidades disfarçadas que nos desafiam a evoluir, a crescer e a encontrar maneiras mais inteligentes e poderosas de seguir em frente.
Soft skills não são “acessórios” – são fundamentais
Se me pedissem para escolher entre alguém altamente técnico e alguém com forte capacidade de comunicação, colaboração e resolução de conflitos, minha resposta seria imediata: as soft skills fazem toda a diferença. Aprender um novo software ou metodologia é, muitas vezes, apenas uma questão de tempo. Mas desenvolver a habilidade de inspirar confiança, de construir pontes em vez de muros, é o que realmente sustenta relações duradouras e transforma ambientes. Isso, sim, é um diferencial de valor inestimável.
Acredito profundamente na transparência, no diálogo e na humildade de escutar genuinamente. Sempre há algo a aprender – seja com um CEO, seja com alguém que cruza nosso caminho no cotidiano. Muitas vezes, as lições mais valiosas surgem justamente dos encontros mais inesperados. É preciso sensibilidade para reconhecer e sabedoria para acolher esses aprendizados que vêm de onde menos esperamos.
Disciplina na era das distrações
Viver no mundo da tecnologia é fascinante. Estamos cercados de possibilidades, de conexões instantâneas, de acesso a tudo o tempo todo. Mas, ao mesmo tempo, é um terreno repleto de distrações. Somos constantemente bombardeados por informações, alertas, feeds que nunca terminam. E, se não estivermos atentos, é fácil se perder nesse ruído e deixar que ele consuma o que temos de mais precioso: tempo, presença, atenção.
Por algum tempo, até mergulhei nesse ritmo acelerado achando que era sinônimo de produtividade. Mas entendi, aos poucos, que a verdadeira entrega não vem da velocidade. Vem da presença. Hoje, mesmo consumindo muitos conteúdos e sendo naturalmente curioso, aprendi a ser seletivo. Quando estou trabalhando, foco com intensidade. Quando estou com minha família, me desligo do resto para estar inteiro. Parece simples, mas não é. É um exercício de consciência, todos os dias.
Na liderança, isso se torna ainda mais desafiador e necessário. Estar a serviço do time exige entrega, escuta, disponibilidade. Mas servir não é se apagar. É preciso coragem e disciplina para também se preservar, para proteger o próprio espaço, para dizer não quando necessário. Só assim conseguimos sustentar o ritmo, manter o olhar claro e cuidar, com verdade, dos outros e de nós mesmos. Porque, no fim das contas, é a disciplina que sustenta a presença. E é a presença que transforma.
Alta performance é sobre consistência, não sobre velocidade
Alta performance não é sobre correr mais rápido. É sobre seguir com constância. Quando eu era mais jovem, acreditava que tudo precisava acontecer depressa, como numa corrida de 100 metros. Mas a vida, com sua sabedoria, me mostrou que a jornada é outra: é uma maratona. E que não adianta acelerar hoje para quebrar amanhã.
O que sustenta um time, uma carreira, uma vida com propósito é a consistência. É o esforço silencioso do dia a dia, a escolha de fazer bem feito mesmo quando ninguém está olhando. É a paciência de quem entende que excelência se constrói devagar – e que nem todos os dias serão brilhantes. E tudo bem. Por isso, cercar-se de pessoas com quem se pode contar, formar uma rede de apoio verdadeira, é tão essencial quanto qualquer habilidade técnica. Porque, no fim, ninguém chega longe sozinho.
O que é sucesso, afinal?
Hoje, quando me perguntam o que é sucesso, eu já não penso apenas em números ou conquistas materiais. Cresci em um Brasil onde tudo era instável – os preços mudavam do dia pra noite, e a urgência de vencer era quase uma defesa. Mas a vida, e especialmente algumas perdas importantes, me ensinaram outra coisa. Quando perdi minha avó depois de muitos meses viajando a trabalho, aquilo virou uma chave na minha cabeça.
Sucesso, pra mim, é estar onde importa, com quem importa. É poder buscar meu filho na escola no meio da tarde sem carregar culpa. É ver pessoas com quem caminhei prosperando, abrindo seus próprios caminhos. É ter saúde, tempo, propósito.
No fim das contas, sucesso é viver com verdade. É fazer escolhas alinhadas com o que tem valor – não apenas no currículo, mas no coração.
Para fechar: não perca o essencial
Se eu pudesse deixar dicas para quem está começando – ou para quem está no meio do caminho, repensando suas escolhas – seriam estas: