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Paixão, cooperação e alinhamento com os propósitos norteiam a jornada, afirma Mauro Rial, da Accor

Na coluna desta semana, conheça a história de Mauro Rial Chief operating officer (COO), North & Hispanic Americas da Accor

Mauro Rial, COO North & Hispanic Americas na Accor (Divulgação/Divulgação)
Mauro Rial, COO North & Hispanic Americas na Accor (Divulgação/Divulgação)

Ao analisar a minha trajetória, costumo enfatizar como sempre me dediquei com afinco para aplicar o meu melhor em todos os aspectos da vida. A alta capacidade de adaptação, o senso de colaboração, a preocupação com as temáticas sociais e o comprometimento com todas as minhas empreitadas ajudaram a forjar o perfil de um executivo em equilíbrio com as demandas que se apresentaram no decorrer dessa história. Com muito orgulho, atualmente ocupo a cadeira de COO North & Hispanic Americas na Accor.

Natural de Bahía Blanca, cidade ao sul da Argentina, realizei toda a minha educação básica no Colégio Salesiano Dom Bosco. Posteriormente, graduei-me em Contabilidade pela Universidad Nacional del Sur, em 2000. Oriundo de uma família de descendência italiana e espanhola, desde jovem gostava muito de praticar esportes, principalmente o rúgbi, modalidade a qual me dediquei por mais de dez anos. Além disso, fui escoteiro por cerca de cinco anos, fator que me ajudou bastante a adquirir disciplina – cheguei a ser o líder do grupo, e a sintonia com a natureza me encantava.

Durante o Ensino Médio, optei por me especializar em Ciências Contábeis, porque sempre apreciei o ambiente de negócios e finanças, ou seja, já vislumbrava meu plano de carreira nesta etapa da vida. Antes de me decidir por Contabilidade, pensei em cursar Economia, pelo apreço que possuo pela área. Gostava do mundo de consultoria, da estratégia, dos negócios e, naquela época, enveredar por economia poderia me ajudar a estar mais próximo deste universo. Por questões financeiras, resolvi estudar em minha cidade natal – quando estava finalizando os estudos preliminares, meus pais se mudaram para Bariloche, e passei a morar com os meus avós maternos, Julio e Never. Meu pai Ricardo era empresário e possuía um posto de gasolina com a bandeira da petroleira norte-americana Esso. Certamente, a trajetória bem-sucedida dele, sempre acompanhado pela minha mãe Silvia, me inspirou a edificar a minha própria rota. Aliás, ressalto o valor de toda a família como fator motivacional para lapidar o meu caráter.

Nesta época, aproveitei para estagiar em bancos, escritórios de contabilidade e, já próximo de terminar a faculdade, comecei a minha própria empresa, junto de um amigo, com foco em estudos técnicos mercadológicos. Apoiávamos grandes companhias de marketing de Buenos Aires, para efetuarmos pesquisas em Bahía Blanca e adjacências. Em determinado momento, logramos uma vultuosa força de venda com contratos de TVs a cabo. Mas, definitivamente, eu pretendia ir além.

Sendo assim, em determinado momento, conversando com meu tio Julio, fui aconselhado a terminar os estudos, apesar de estar amealhando boas economias com a minha empreitada. Ele foi bastante assertivo, argumentando de que poderia ganhar ainda mais caso me formasse, ao aproveitar as oportunidades de “aprender com os grandes”, fomentado por uma base mais robusta de ensinamentos. Refleti bastante sobre isso – meu tio estava certo dentro de sua linha de raciocínio, o que me levou a ceder a minha parte da empresa para o meu amigo.

O início como executivo no mundo das finanças

Portanto, ao me formar, comecei a trabalhar na Pistrelli, Diaz, firma associada a Arthur Andersen, que posteriormente passaria a integrar a Ernst & Young, umas das maiores consultorias do mundo. Tal movimentação me levou a ir morar em Buenos Aires para atuar como auditor de contas, além de realizar consultoria de finanças para grandes empresas, especialmente pelo fato de a organização ser a mais importante do ramo na Argentina.

Dedicado a granjear mais conhecimentos, realizei uma pós-graduação em Finanças Corporativas, na Universidad del CEMA, quando já estava operando diretamente com consultoria. Enfim, o meu plano foi o de começar na área financeira, aprimorando o meu escopo acadêmico, para avaliar as oportunidades que, porventura, poderiam surgir no horizonte. Enfim, busquei me especializar antes, antevendo o que poderia colher no futuro, devidamente melhor preparado.

A intenção de me projetar internacionalmente ganhou mais ímpeto nesta fase, conduzindo-me a planejar a minha carreira de outra forma, trabalhando além das fronteiras argentinas. Tanto a Arthur Andersen como a EY detinham enorme presença no exterior, e tive a oportunidade de gerenciar um projeto em Porto Rico, para implementar o primeiro assignment internacional para uma grande companhia francesa, no processo de take-over de uma concessão de água.

O poder de adaptação conduz às novas oportunidades

A partir de então, motivei-me a seguir por tal caminho, pois, meses depois, fui convidado pelo meu cliente a formar parte da sua equipe. Dessa forma, ingressei na empresa em questão, a Suez, em agosto de 2004, como controller, alocado em Porto Rico.

A minha primeira experiência internacional foi bastante difícil, porque estava com um modelo mental estabelecido na Argentina, e em Porto Rico, as situações eram bem diferentes, envolvido com outra cultura, em relação ao trato com as equipes e especialmente no desenvolvimento de pessoas. Algumas questões parecem óbvias em seu país de origem, porém, ao ser expatriado, há a necessidade de se adaptar às realidades do novo local.

Essa mudança de mindset acabou sendo bastante positiva para mim, pois os excelentes resultados obtidos neste trabalho forneceram-me a possibilidade de começar a minha carreira internacional, significando como o ponto de partida para voos mais altos, alavancando-me a obter maiores desafios conforme apresentava soluções para a organização.

Dentre as inúmeras subsidiárias da corporação, obtive a oportunidade de enriquecer a minha formação e know-how em diversas posições, em países distintos, como Chile, França, Espanha e Brasil. Fui progredindo na pirâmide organizacional até atingir a posição de CFO LATAM, com a missão de estabelecer projetos de expansão, rightsizing, reengenharia de processos, implementação de ERPs, construção de parcerias estratégicas e M&As.

Já em setembro de 2017, com a experiência de estar morando em São Paulo há cinco anos, recebi a oferta da Accor para assumir como CFO para a América do Sul. Reportava diretamente para o CEO do grupo. Dentro do meu escopo, lidava com todos os assuntos pertinentes ao cargo para a Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Peru e Uruguai, além das franquias situadas no Equador, na Bolívia e no Paraguai. A Accor proveu-me a oportunidade de liderar a transformação da função de administração e finanças na região, com base na construção de uma equipe, além de processos e sistemas alinhados com o ambicioso plano de desenvolvimento da organização.

Ademais, aprendi a gerenciar melhor determinadas situações e a apoiar o negócio desde dentro, como quando liderei o projeto de aquisição da cadeia hoteleira chilena Atton, com operações no Chile, no Peru, na Colômbia e em Miami, incluindo o spin-off entre os imóveis com a operadora da marca. Após cinco anos, passei a ser o COO da empresa, como diretor de Operações, com ênfase nas regiões Norte e América Hispânica, para as marcas Premium, Midscale e Economy do nosso portfólio.

Enfatizo como o esforço compensa, portanto, o extremo engajamento com o que se propõe a realizar é primordial na lapidação da carreira. Dediquei-me genuinamente ao longo de minha jornada, sempre buscando o aperfeiçoamento acerca dos processos internos das empresas, conhecendo o business e suas peculiaridades. E estudando – fiz estudos complementares na London Business School e em Cornell University, mas também de maneira informal “on the job”, pautado em compreender o impacto do que estava provendo e em como agregar valor aos negócios.

Humildade, esforço coletivo e a ambição sadia

Considero a ambição desmedida como a principal armadilha a ser evitada por um executivo. Inclusive, serve como um sólido conselho para as novas gerações, a quem está vivenciando as suas primeiras experiências. Em termos gerais, a formação tradicional abarca muito o conceito de leadership, e há muitos jovens que almejam cargos gerenciais logo após a obtenção do diploma. Sobretudo, no começo, é primordial contar com a humildade acima de tudo, com foco em aprender no cotidiano da corporação, do negócio, antes de pensar em galgar os degraus da pirâmide corporativa sem a devida prática.

Entretanto, às vezes é positivo contar com a ambição, desde que seja de forma sadia, formatando um planejamento adequado, de querer crescer da maneira correta, sem optar por atalhos infrutíferos. Ou seja, é imperativo perceber quando não se está preparado para uma posição de alta envergadura – tal situação certamente jogará contra o crescimento do jovem profissional. A pessoa avançará inicialmente “duas casinhas adiante” para, infelizmente, retroceder abruptamente. Portanto, reitero a importância de percorrer o caminho com passos firmes, crescendo paulatinamente, com juízo, sabendo reconhecer a chegada do momento oportuno, com o intuito de assumir posições mais destacadas. Eu digo: se você quer progredir em sua carreira, faça o seu melhor na posição atual, pois isso lhe permitirá colher os frutos com novos desafios.

No início da minha carreira, preparei-me com os pés no chão, tendo em vista a realidade a qual estava experimentando, no interior da Argentina. E, felizmente, a minha carreira transcorreu de outra maneira, bem melhor do que imaginava. Talvez, se tivesse feito algo diferente, teria partido antes para estudar em Buenos Aires, por se tratar de um grande centro, mais próximo de minhas ambições. Poderia ter me preparado um pouco melhor nesse aspecto, mas, sem dúvida, abracei a minha oportunidade quando a tive, e tudo transcorreu próximo da perfeição.

É preciso revisitar o passado para analisar como a trajetória se consolida. A minha própria história com o rúgbi me fortaleceu em inúmeros aspectos. Inicialmente, destaco o valor de se trabalhar em equipe, pois se trata de uma modalidade que requer a participação conjunta, a colaboração de todos os envolvidos. E é assim no mundo dos negócios – existem pessoas brilhantes, que se diferenciam, mas ninguém executa nada sozinho. E, hoje, tudo está cada vez mais complexo, há a necessidade do input de diversas disciplinas técnicas, inclusive no âmbito das tomadas de decisões, na formulação dos propósitos para se apresentar projetos vigorosos. Enfim, o trabalho coletivo é a chave para a vitória.

O segundo aspecto engloba o esforço. O rúgbi parece ser um esporte muito bruto, mas que, na verdade, apesar de demandar força, exige outros atributos, como velocidade, agilidade e tática. Portanto, apenas a técnica não basta – o seu adversário pode deter as mesmas características e, inclusive, ser até melhor. O ponto crucial passa pela estratégia, pelo planejamento, para sobrepujar o rival rumo à vitória. Equiparando-se ao universo corporativo, é evidente como a disciplina, o planejamento, a organização e a metodologia fazem a diferença.

Líderes e times alinhados com os propósitos da empresa

Na minha visão, o principal desafio do líder é conseguir montar uma equipe eficiente, escolhendo os profissionais certos para o desafio de cada cargo, dentro do momento específico da empreitada. As pessoas são os diferenciais nesta equação. Em grandes empresas, mesmo com a importância da tecnologia, no fim das contas, os indivíduos responsáveis por cuidar de tais procedimentos, que vão escolher os métodos inovadores propícios, são os grandes assets da organização.

Embasado por essa lógica, corroboro o valor de se escolher as pessoas adequadas para lhe apoiar na busca das conquistas, dos objetivos predeterminados. Ao ressaltar as equipes, reafirmo tópicos fundamentais, como o alinhamento entre as ambições pessoais e os objetivos das empresas. Além, obviamente, das habilidades adquiridas e das inatas, sendo que tudo passa pelo desenvolvimento dos times. O mundo está muito volátil, portanto, conseguir aprimorar os colaboradores é um elemento essencial, junto ao poder de adaptação, conforme os negócios evoluem exponencialmente neste contexto.

Tendo em vista essa linha de raciocínio, procuro por profissionais que sejam, inclusive melhores do que eu mesmo, “que me puxem para acima”, detentores da escuta ativa, uma capacidade a qual considero indispensável. Aprendi muito com isso desde cedo, algo que ajudou a alavancar a minha carreira. É primordial assimilar a percepção das outras pessoas, pois somos parte de algo maior dentro da companhia.

Por fim, passa pelo ato de como contribuir para o crescimento da instituição, influenciando outras pessoas, em outros departamentos – todos devem trabalhar com o foco em um objetivo comum. Ao entender a demanda dos stakeholders, vamos nos engajar juntos para alcançar as metas. A capacidade de escuta, deter a visão do todo, com mente aberta, são fatores demasiadamente importantes.

Além disso, menciono a flexibilidade de saber como se adaptar e estar constantemente aprendendo coisas novas. De nada adianta ficar estagnado com os conhecimentos adquiridos no início da jornada, considerando que estes serão suficientes para se manter em ascensão. Na verdade, observo como é essencial acompanhar a dinâmica do mercado e de como os processos mudam de maneira cada vez mais veloz.

O profissional, sobretudo, precisa apresentar a iniciativa e a proatividade em suas empreitadas. Ou seja, com a visão global apurada, a pessoa tem a capacidade de participar com atitudes inovadoras para melhorar o negócio, com procedimentos aperfeiçoados, incluindo a tecnologia. Fazer sempre mais e melhor são predicados notáveis, aos quais presto bastante atenção.

ESG e inovação são soluções para desafios complexos

Acredito na importância do trabalho presencial, porém sou bastante flexível neste sentido. Inovação é um mote bastante em voga, inclusive em função da grave crise sanitária pela qual passamos, mas há algumas atividades que, remotamente, são melhor executadas. Trabalhar em casa ajuda a melhorar a qualidade de vida e, por conseguinte, as entregas são mais eficazes.

Mas jamais deixarei de acreditar no presencial. Seres humanos precisam de interações sociais e, portanto, dentro da organização provemos atividades, reuniões para não perdermos a essência de estarmos juntos. Talvez, no pós-pandemia, o modelo antigo retorne, mas, certamente, impactado por tudo o que aconteceu.

Conforme superamos obstáculos, acenamos para cenários mais otimistas. No Brasil, o setor de turismo em geral, e o hoteleiro em particular, têm enormes oportunidades de crescimento. Trata-se de um país com riquezas naturais e culturais enormes. Claro, ainda com uma série de desafios a serem contornados. Mas, ao contemplar os destinos de viagens, a natureza, o acolhimento do povo brasileiro, esse leque de desenvolvimento – em especial o turismo internacional – torna-se ainda maior.

O Brasil recebe anualmente cerca de seis milhões de turistas, apenas – quantidade similar à do Chile. Em termos de benchmark, a Argentina tem uma participação de oito milhões. O principal desafio do Brasil frente a isso é o de aprimorar a sua infraestrutura, especialmente em relação aos aeroportos, haja vista como os indivíduos levam horas para se deslocar nas metrópoles. E de colocar o Brasil na vitrine do mundo com novas ideias e soluções.

Outro ponto diz respeito à segurança pública, muito falha no país – certamente é um fator que gera receio aos estrangeiros. Além disso, o investimento na qualidade nos hotéis requer robustez, algo no qual estamos contribuindo, fazendo a nossa parte. Quando se compara a outros destinos internacionais, analiso como tem muito trabalho a ser realizado. Há mais de 40 anos, a Accor vem incentivando, apoiando e trabalhando nesse sentido, o que nos posiciona solidamente no mercado hoteleiro.

A Accor não somente investe no desenvolvimento deste nicho no Brasil, como também está demasiadamente alinhada às pautas contemporâneas, como o ESG. O meio ambiente está precisando da gente. É muito bacana que os nossos jovens percebam a importância de cuidar do mundo; não só do ponto de vista ambiental, mas também no âmbito social. Definitivamente, precisamos desse propósito.

Para a Accor, o ESG é fundamental para o bem-estar geral, agregando valores, principalmente o compromisso com o comportamento ético. Costumo dizer que as nossas atividades cotidianas tranquilizam as nossas consciências. Definitivamente, os fins não justificam os meios. A sociedade deve estar coesa na luta por seus objetivos, abarcando o calendário global. Esse pensamento está interligado ao legado que deixarei para os meus filhos e futuros netos.

Paixão e comprometimento são essenciais na jornada

“Todos nós, de uma forma ou outra, devemos trabalhar com o propósito de deixarmos um mundo melhor para as futuras gerações. No meu caso, tenho a plena convicção de que atuo para atingir tal meta. Sempre fiz e faço o meu melhor. Temos muito a realizar ainda e, para tal, aplicar-se aos princípios e valores é uma ação urgente.

Dependendo dos países, continentes, as prioridades são diferentes. Por aqui, não temos a mesma realidade da Europa. Temos déficits básicos na América Latina que precisam de muita cooperação e ajuda mútua para serem reparados.

Ao me dirigir aos jovens – simplesmente amparado pela humildade – deixo a singela e essencial mensagem: ajudem-nos a continuar fazendo a diferença para melhorar o mundo. Se cada um fizer sua parte, certamente a prosperidade surgirá, com equilíbrio.

Elucido como em minha vida o fato de ter batalhado pelos meus sonhos, ambições, sempre foi permeado por trabalho duro. O comprometimento, o engajamento e a dedicação são atributos que me fortalecem constantemente. Ademais, saliento como a paixão é imprescindível ao estabelecer o plano para se conquistar uma carreira exitosa.

Por último, mas o mais importante, tudo isso foi, ou melhor dito, está sendo possível graças ao apoio incondicional da minha esposa Noelia, que me acompanha, me apoia e me aconselha desde o início da jornada; e, já há algum tempo, também das minhas filhas Chloé e Alma.