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O sucesso vem no tempo dele, não no nosso tempo

Na coluna desta semana, conheça a história de Sebastião Sahão Júnior - Presidente no CPQD - Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações

(Histórias de sucesso/Reprodução)
DR

Da Redação

Publicado em 22 de julho de 2022 às 14h33.

Por Fabiana Monteiro

Muito prazer, eu sou o Sebastião, mas desde criança, muitos me conhecem pelo apelido: “Tuca”. Nasci em 1961, no interior de São Paulo, na cidade Ibitinga. Vivi a minha infância e minha adolescência com meus quatro irmãos, ao lado da minha família que é miscigenada. Meus avós paternos vieram do Líbano, fugindo da guerra, tornando meu pai descendente de sírio-libanês. Já por parte de mãe, meu avô era espanhol e minha avó, italiana.

Eu sempre gostei muito de estudar e tinha o sonho de fazer a diferença no mundo, através da minha profissão. Por isto, em toda a minha trajetória escolar, sempre fui muito estudioso, esforçado e fiz o meu melhor. Mesmo assim, ao prestar vestibular pela primeira vez, não passei. Então, fui fazer cursinho em Ribeirão Preto, o que me preparou para, futuramente, ingressar em uma das melhores universidades do país.

Em todas as escolas que estudei, sempre admirei e respeitei meus professores. Eles foram grandes mentores da minha vida e me ensinaram a importância da disciplina e de ouvir para entender e aprender. Estas lições foram valiosas e me ajudaram ao longo da minha trajetória pessoal e profissional, inclusive como líder de uma organização, pois nós podemos superar desafios com disciplina, respeito, ouvindo o time.

A ESCOLHA DA ÁREA

Eu sempre gostei muito da área de exatas. Além disso, desejava estudar na cidade de São Carlos pela excelência das universidades e por ser uma cidade próxima da minha família. Então, minhas opções foram a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e a Universidade de São Paulo (USP). E fui aprovado em Engenheira de Materiais na UFSCar, de 1980 até 1986 morei e estudei em São Carlos. Naquele período, a Engenharia de Materiais era uma área nova. Foi, então, uma oportunidade de estar em um setor inédito e que estava crescendo. Com isso, pude evoluir profissionalmente.

AS OPORTUNIDADES DA VIDA

Aos 23 anos, ainda durante a minha graduação em São Carlos, tive a minha primeira experiência profissional em uma empresa, como estagiário. O local tinha algumas falhas técnicas que poderiam prejudicar a segurança dos funcionários. Em vista disso, argumentei com meus gestores para melhorar as condições trabalhistas. Dois meses depois, a situação foi resolvida e os funcionários começaram a me ver como uma liderança. Essa experiência foi uma grande oportunidade de aprendizado, pois entendi a importância de uma gestão humana, preocupada com o bem-estar dos colaboradores e embasada em nobres valores.

Fiquei pouco tempo naquela empresa, e a maior parte do meu estágio profissional fiz na própria universidade. Com isso, criei um ambiente de confiança com os professores, com quem sempre tive bom relacionamento. Assim, quando surgiu uma oportunidade de trabalho em Campinas para atuar no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD) da Telebrás, meus professores me indicaram. Fui para Campinas em 1986, com 25 anos, onde estou até hoje.

No CPQD, pude crescer e evoluir profissionalmente, junto com a organização. Ao longo dos 36 anos de trajetória corporativa, passei por diversas áreas de atuação, o que me permitiu ter uma visão holística da empresa e uma formação multidisciplinar. Comecei como colaborador, tornei-me coordenador, gerente, diretor, vice-presidente financeiro, e por fim presidente. Tive a felicidade de passar por todos os degraus da organização, com experiência nas áreas técnicas e administrativas. Isso foi um diferencial na minha carreira e permitiu que eu tivesse “bagagem” para assumir a grande responsabilidade que é ser ou estar, como gosto de dizer - presidente.

CAPACITAÇÃO CONTÍNUA

Durante a minha jornada no CPQD, eu sempre pensei: “preciso continuar estudando”. Seja por meio de cursos ou de leituras, acredito que a busca por aprimoramento deve ser constante e necessária para a formação do bom profissional e de um líder.  Isso contribui e acelera o aprendizado, além de ampliar nosso olhar para o mundo. Assim, para complementar os meus conhecimentos e tirar as minhas inseguranças, no início da minha carreira na área técnica, fiz um mestrado, o qual defendi em 1995, na UFSCar.  Com esse conhecimento adquirido, comecei a ministrar cursos de Ensaios Mecânicos na UFSCar, durante as minhas férias.

Alguns anos depois, como diretor, vi a necessidade de aprimorar meus conhecimentos na área administrativa. Então, de 2002 a 2004, fiz o MBA em Gestão Empresarial na Fundação Getúlio Vargas (FGV). Além disso, em 2010, fiz um curso de Business Advanced pela INSEAD na França. E, em 2020, já presidente do CPQD, realizei uma formação para Conselheiro de Administração e Governança Corporativa pelo IBGC.

SALTOS NA CARREIRA

Toda a minha trajetória profissional aconteceu no CPQD. Assumi meu primeiro cargo de liderança em 1998, como gerente de uma área técnica. Três anos depois, em 2001, fui convidado a me tornar diretor. Foi um período que assumi muitas responsabilidades e que trouxemos grandes resultados ao CPQD na área de laboratórios voltados ao processo de certificação e qualificação de produtos. Essas experiências e esses aprendizados contribuíram para o meu crescimento profissional.  Então, quando fui convidado para ser vice-presidente financeiro, em 2013, aceitei esse desafio, mesmo sem entender muito bem o novo papel que eu desempenharia.

Eu já havia vivenciado diversos estágios de dificuldade, desde a coordenação, gerência técnica e diretoria. Em cada etapa, aumentava a dimensão das discussões sobre a gestão, inovação e sobre o financeiro, o que me preparou para o próximo degrau da minha carreira. Como vice-presidente financeiro tive oportunidade de trabalhar com profissionais competentes. Foi um grande desafio, mas se você está aberto a aprender e a compartilhar é uma maravilha, o “melhor dos mundos”. Fiquei nessa função por dois anos, de 2013 a 2015, quando fui indicado e escolhido para assumir o cargo de presidente, em junho daquele ano.

Eu acredito que tudo na vida é aprendizado. Mas só o tempo nos permite explorar o que estudamos e experenciamos. Desta forma, vamos adquirindo sabedoria que é a união dos nossos aprendizados com o tempo. Não existe forma de antecipar esse processo. “A natureza não dá saltos”. Assim, quando assumi a presidência, após 29 anos de profissão, sinto que estava mais preparado. Porém, isso não me poupou de todas as inseguranças que senti.

Logo que me tornei presidente, as primeiras questões que me vieram no pensamento foram: quais eram as minhas defasagens e em que eu precisava me preparar mais. Além disso, eu via necessidade de mapear a situação da organização e de estruturar os próximos passos para fazê-la crescer. Era o momento de dar sequência à história do CPQD, mas fazendo diferente.

Com esse propósito, precisei olhar a empresa como um todo para definir um plano de ação aliado à estruturação do planejamento estratégico, o que é extremamente complexo. Essa foi, sem dúvida alguma, a minha maior insegurança. Para superar esse desafio, dispus de uma rede de apoio interna e externa. Um líder não constrói algo sozinho, e tão pouco é detentor de todo conhecimento. O presidente só tem mais responsabilidade, não mais que isso. Nessa trajetória, é necessário ter pessoas de confiança para debater, para trazer insights e, assim, ir além. Novas e diferentes reflexões são fundamentais para mudar o status quo da organização. Todo esse suporte me auxiliou a dar os primeiros passos como presidente.

O trabalho de coaching também fez parte dessa rede de apoio e foi essencial para a minha trajetória. É um processo que permite ao ser humano, não apenas ao profissional, mudar de dentro para fora. Dessa forma, comecei a entender melhor o meu papel como presidente e como exercer efetivamente essa nova função.

HUMILDADE É A CHAVE

Ninguém nasce presidente, não existe curso ou manual para isso. Você aprende a ser presidente. O dia a dia é a nossa maior escola e o nosso maior aliado. O aprendizado é contínuo e não tem fim. Por isso, é preciso paciência, perseverança, determinação. Além de humildade para buscar e aceitar ajuda, generosidade para compartilhar com seu time, e coragem. Um líder não é perfeito. Ele está em constante desenvolvimento, tem suas vulnerabilidades, precisa aprender a ter inteligência emocional e equilíbrio para lidar com as constantes pressões, com os conflitos internos e externos na tomada de decisões que impactam um grande número de pessoas. Ademais, o papel de presidente exige demais, pois você passa a ser um benchmarking, isto é, uma referência dentro e fora da empresa. Mas depois que você entende as suas atribuições, fazer parte da liderança é fantástico, pois nos dá a possibilidade de contribuir muito com a organização e com a sociedade. Ou seja, de efetivamente fazer a diferença no mundo.

Costumo dizer que o presidente é o maior líder de uma organização, representa o maior grau de responsabilidade que uma pessoa pode ter. Quando assumimos uma função dessa magnitude, você tem a responsabilidade de fazer com que as pessoas entendam a missão, os valores e a importância de praticá-los. No fundo, o presidente é um grande direcionador, responsável por engajar e inspirar as pessoas na superação dos desafios em busca de um objetivo comum e de bons resultados para a organização. Além disso, precisa fazer com que as pessoas tenham um senso de propósito, e entendam o motivo de estarem ali, do trabalho que executam e aonde queremos chegar.

Outro ponto importante é o time com quem você trabalha. Na minha infância e juventude, sempre pratiquei esportes coletivos, como futebol e basquete. A partir dali, aprendi a necessidade do trabalho em equipe e de cada um no time. Não basta ser o melhor sozinho, você não vai conquistar algo. Logo, isso vale para a vida profissional também. O ser humano é complexo e tem uma trajetória única, por isso precisamos respeitar o próximo e trabalhar em coletividade.

Ser um gestor é utilizar o que você e quem está ao seu redor têm de melhor. É preciso empregar o conhecimento e a sabedoria do time para resolver um problema ou atingir algum objetivo. Além de ter humildade que é fundamental. É uma armadilha pensar que você saberá ou entenderá tudo. Sempre haverá alguém que conhecerá algo a mais que você, e isso não é algum demérito. Por isso, é imprescindível a formação de um time com pessoas diversas e com a capacidade de compartilhar o conhecimento. Isso é saber trabalhar em equipe. Pois, trabalhar em equipe não é simplesmente unir pessoas, mas ter um grupo que saiba compartilhar um pouco do que cada um tem de melhor. Assim, teremos uma equipe vencedora e bem-sucedida.

Seguindo essa linha, na minha trajetória, eu faria algumas coisas diferentes. Hoje, pela maturidade e pela experiência, aprendi que um time deve ter pessoas preparadas para executarem as funções certas, que respeitem os valores da organização e ajam com respeito, com humildade, com autenticidade, com transparência e com ética. Se isso não acontecer, o trabalho não funciona. É aquele ditado: “traga as pessoas certas para o lugar certo”. É simples, mas tem uma profundidade enorme nisso. E os valores morais sempre serão inegociáveis.

APRENDIZADOS E SONHOS DE UM LÍDER

Em todos esses anos de profissão e como líder de uma organização, aprendi que os desafios nunca cessam, por isso temos que celebrar e agradecer cada pequena conquista, cada vitória. Gosto de dizer que eu não “sento no sucesso”. É preciso continuar crescendo, manter-se em movimento, subindo um degrau de cada vez. Logo, nesse processo é imprescindível nos reconhecermos vitoriosos, sabermos que fizemos um bom trabalho e performamos como equipe. Fizemos, conseguimos e temos gratidão por toda a trajetória que nos levou até ali. Isso nos dá força para alçarmos novos voos e superarmos novos desafios.

Além disso, acredito que um grande indicador para o sucesso é a felicidade. Mas não adianta eu ser feliz sozinho, seria o “palhaço solitário”. Todos na organização precisam estar felizes juntos. Quando atendemos às expectativas das pessoas e dos clientes que nos contrataram, e entregamos o que é esperado, isso é felicidade. Atender às próprias expectativas e ter o sentimento de autorrealização também é muito importante na nossa trajetória, traz autoconfiança e segurança às nossas ações e decisões. Para isso, é essencial o desenvolvimento da inteligência emocional, a fim de equilibrar as próprias exigências e de controlar o ego, buscando sempre liderar a partir da modéstia e da humildade.

Pensando em toda a minha trajetória, eu gostaria de ser lembrado como um líder simples, que através do trabalho coletivo está cumprindo a missão e o propósito da organização. Como já mencionei, o presidente não está acima de alguém e não faz algo sozinho, só tem mais responsabilidades a cumprir. Nesse sentido, acredito que meu maior legado é mostrar que a construção de um líder é diária e contínua. Não perder a essência e os valores morais, independentemente do cargo de liderança que assumir, é fundamental, pois somente por meio da simplicidade e da sua verdadeira essência que é possível cumprir o seu propósito.

Se eu pudesse deixar uma mensagem diria que a caminhada profissional e os passos para se tornar um líder são de muito empenho, dedicação. Mas não se deve desistir ou se intimidar ao longo do caminho. Mesmo diante das dificuldades que naturalmente surgirão é permitido e necessário sonhar com uma carreira de sucesso. O bom aluno, o aluno dedicado, terá um retorno desse empenho. Não desista! Também acredito que não existem atalhos na vida, seja profissional ou pessoal. A trajetória é longa, mas com esforço, empenho e dedicação é uma trajetória de felicidade e bem-sucedida. O sucesso vem no tempo dele, não no nosso tempo. A realização também. Posso dizer que realizei meu sonho como profissional e desejo que as próximas gerações possam sentir o mesmo. Acredito que eles são as novas luzes de esperança para um futuro mais sustentável, diverso, respeitoso e de igualdade para o mundo.

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Por Fabiana Monteiro

Muito prazer, eu sou o Sebastião, mas desde criança, muitos me conhecem pelo apelido: “Tuca”. Nasci em 1961, no interior de São Paulo, na cidade Ibitinga. Vivi a minha infância e minha adolescência com meus quatro irmãos, ao lado da minha família que é miscigenada. Meus avós paternos vieram do Líbano, fugindo da guerra, tornando meu pai descendente de sírio-libanês. Já por parte de mãe, meu avô era espanhol e minha avó, italiana.

Eu sempre gostei muito de estudar e tinha o sonho de fazer a diferença no mundo, através da minha profissão. Por isto, em toda a minha trajetória escolar, sempre fui muito estudioso, esforçado e fiz o meu melhor. Mesmo assim, ao prestar vestibular pela primeira vez, não passei. Então, fui fazer cursinho em Ribeirão Preto, o que me preparou para, futuramente, ingressar em uma das melhores universidades do país.

Em todas as escolas que estudei, sempre admirei e respeitei meus professores. Eles foram grandes mentores da minha vida e me ensinaram a importância da disciplina e de ouvir para entender e aprender. Estas lições foram valiosas e me ajudaram ao longo da minha trajetória pessoal e profissional, inclusive como líder de uma organização, pois nós podemos superar desafios com disciplina, respeito, ouvindo o time.

A ESCOLHA DA ÁREA

Eu sempre gostei muito da área de exatas. Além disso, desejava estudar na cidade de São Carlos pela excelência das universidades e por ser uma cidade próxima da minha família. Então, minhas opções foram a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e a Universidade de São Paulo (USP). E fui aprovado em Engenheira de Materiais na UFSCar, de 1980 até 1986 morei e estudei em São Carlos. Naquele período, a Engenharia de Materiais era uma área nova. Foi, então, uma oportunidade de estar em um setor inédito e que estava crescendo. Com isso, pude evoluir profissionalmente.

AS OPORTUNIDADES DA VIDA

Aos 23 anos, ainda durante a minha graduação em São Carlos, tive a minha primeira experiência profissional em uma empresa, como estagiário. O local tinha algumas falhas técnicas que poderiam prejudicar a segurança dos funcionários. Em vista disso, argumentei com meus gestores para melhorar as condições trabalhistas. Dois meses depois, a situação foi resolvida e os funcionários começaram a me ver como uma liderança. Essa experiência foi uma grande oportunidade de aprendizado, pois entendi a importância de uma gestão humana, preocupada com o bem-estar dos colaboradores e embasada em nobres valores.

Fiquei pouco tempo naquela empresa, e a maior parte do meu estágio profissional fiz na própria universidade. Com isso, criei um ambiente de confiança com os professores, com quem sempre tive bom relacionamento. Assim, quando surgiu uma oportunidade de trabalho em Campinas para atuar no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD) da Telebrás, meus professores me indicaram. Fui para Campinas em 1986, com 25 anos, onde estou até hoje.

No CPQD, pude crescer e evoluir profissionalmente, junto com a organização. Ao longo dos 36 anos de trajetória corporativa, passei por diversas áreas de atuação, o que me permitiu ter uma visão holística da empresa e uma formação multidisciplinar. Comecei como colaborador, tornei-me coordenador, gerente, diretor, vice-presidente financeiro, e por fim presidente. Tive a felicidade de passar por todos os degraus da organização, com experiência nas áreas técnicas e administrativas. Isso foi um diferencial na minha carreira e permitiu que eu tivesse “bagagem” para assumir a grande responsabilidade que é ser ou estar, como gosto de dizer - presidente.

CAPACITAÇÃO CONTÍNUA

Durante a minha jornada no CPQD, eu sempre pensei: “preciso continuar estudando”. Seja por meio de cursos ou de leituras, acredito que a busca por aprimoramento deve ser constante e necessária para a formação do bom profissional e de um líder.  Isso contribui e acelera o aprendizado, além de ampliar nosso olhar para o mundo. Assim, para complementar os meus conhecimentos e tirar as minhas inseguranças, no início da minha carreira na área técnica, fiz um mestrado, o qual defendi em 1995, na UFSCar.  Com esse conhecimento adquirido, comecei a ministrar cursos de Ensaios Mecânicos na UFSCar, durante as minhas férias.

Alguns anos depois, como diretor, vi a necessidade de aprimorar meus conhecimentos na área administrativa. Então, de 2002 a 2004, fiz o MBA em Gestão Empresarial na Fundação Getúlio Vargas (FGV). Além disso, em 2010, fiz um curso de Business Advanced pela INSEAD na França. E, em 2020, já presidente do CPQD, realizei uma formação para Conselheiro de Administração e Governança Corporativa pelo IBGC.

SALTOS NA CARREIRA

Toda a minha trajetória profissional aconteceu no CPQD. Assumi meu primeiro cargo de liderança em 1998, como gerente de uma área técnica. Três anos depois, em 2001, fui convidado a me tornar diretor. Foi um período que assumi muitas responsabilidades e que trouxemos grandes resultados ao CPQD na área de laboratórios voltados ao processo de certificação e qualificação de produtos. Essas experiências e esses aprendizados contribuíram para o meu crescimento profissional.  Então, quando fui convidado para ser vice-presidente financeiro, em 2013, aceitei esse desafio, mesmo sem entender muito bem o novo papel que eu desempenharia.

Eu já havia vivenciado diversos estágios de dificuldade, desde a coordenação, gerência técnica e diretoria. Em cada etapa, aumentava a dimensão das discussões sobre a gestão, inovação e sobre o financeiro, o que me preparou para o próximo degrau da minha carreira. Como vice-presidente financeiro tive oportunidade de trabalhar com profissionais competentes. Foi um grande desafio, mas se você está aberto a aprender e a compartilhar é uma maravilha, o “melhor dos mundos”. Fiquei nessa função por dois anos, de 2013 a 2015, quando fui indicado e escolhido para assumir o cargo de presidente, em junho daquele ano.

Eu acredito que tudo na vida é aprendizado. Mas só o tempo nos permite explorar o que estudamos e experenciamos. Desta forma, vamos adquirindo sabedoria que é a união dos nossos aprendizados com o tempo. Não existe forma de antecipar esse processo. “A natureza não dá saltos”. Assim, quando assumi a presidência, após 29 anos de profissão, sinto que estava mais preparado. Porém, isso não me poupou de todas as inseguranças que senti.

Logo que me tornei presidente, as primeiras questões que me vieram no pensamento foram: quais eram as minhas defasagens e em que eu precisava me preparar mais. Além disso, eu via necessidade de mapear a situação da organização e de estruturar os próximos passos para fazê-la crescer. Era o momento de dar sequência à história do CPQD, mas fazendo diferente.

Com esse propósito, precisei olhar a empresa como um todo para definir um plano de ação aliado à estruturação do planejamento estratégico, o que é extremamente complexo. Essa foi, sem dúvida alguma, a minha maior insegurança. Para superar esse desafio, dispus de uma rede de apoio interna e externa. Um líder não constrói algo sozinho, e tão pouco é detentor de todo conhecimento. O presidente só tem mais responsabilidade, não mais que isso. Nessa trajetória, é necessário ter pessoas de confiança para debater, para trazer insights e, assim, ir além. Novas e diferentes reflexões são fundamentais para mudar o status quo da organização. Todo esse suporte me auxiliou a dar os primeiros passos como presidente.

O trabalho de coaching também fez parte dessa rede de apoio e foi essencial para a minha trajetória. É um processo que permite ao ser humano, não apenas ao profissional, mudar de dentro para fora. Dessa forma, comecei a entender melhor o meu papel como presidente e como exercer efetivamente essa nova função.

HUMILDADE É A CHAVE

Ninguém nasce presidente, não existe curso ou manual para isso. Você aprende a ser presidente. O dia a dia é a nossa maior escola e o nosso maior aliado. O aprendizado é contínuo e não tem fim. Por isso, é preciso paciência, perseverança, determinação. Além de humildade para buscar e aceitar ajuda, generosidade para compartilhar com seu time, e coragem. Um líder não é perfeito. Ele está em constante desenvolvimento, tem suas vulnerabilidades, precisa aprender a ter inteligência emocional e equilíbrio para lidar com as constantes pressões, com os conflitos internos e externos na tomada de decisões que impactam um grande número de pessoas. Ademais, o papel de presidente exige demais, pois você passa a ser um benchmarking, isto é, uma referência dentro e fora da empresa. Mas depois que você entende as suas atribuições, fazer parte da liderança é fantástico, pois nos dá a possibilidade de contribuir muito com a organização e com a sociedade. Ou seja, de efetivamente fazer a diferença no mundo.

Costumo dizer que o presidente é o maior líder de uma organização, representa o maior grau de responsabilidade que uma pessoa pode ter. Quando assumimos uma função dessa magnitude, você tem a responsabilidade de fazer com que as pessoas entendam a missão, os valores e a importância de praticá-los. No fundo, o presidente é um grande direcionador, responsável por engajar e inspirar as pessoas na superação dos desafios em busca de um objetivo comum e de bons resultados para a organização. Além disso, precisa fazer com que as pessoas tenham um senso de propósito, e entendam o motivo de estarem ali, do trabalho que executam e aonde queremos chegar.

Outro ponto importante é o time com quem você trabalha. Na minha infância e juventude, sempre pratiquei esportes coletivos, como futebol e basquete. A partir dali, aprendi a necessidade do trabalho em equipe e de cada um no time. Não basta ser o melhor sozinho, você não vai conquistar algo. Logo, isso vale para a vida profissional também. O ser humano é complexo e tem uma trajetória única, por isso precisamos respeitar o próximo e trabalhar em coletividade.

Ser um gestor é utilizar o que você e quem está ao seu redor têm de melhor. É preciso empregar o conhecimento e a sabedoria do time para resolver um problema ou atingir algum objetivo. Além de ter humildade que é fundamental. É uma armadilha pensar que você saberá ou entenderá tudo. Sempre haverá alguém que conhecerá algo a mais que você, e isso não é algum demérito. Por isso, é imprescindível a formação de um time com pessoas diversas e com a capacidade de compartilhar o conhecimento. Isso é saber trabalhar em equipe. Pois, trabalhar em equipe não é simplesmente unir pessoas, mas ter um grupo que saiba compartilhar um pouco do que cada um tem de melhor. Assim, teremos uma equipe vencedora e bem-sucedida.

Seguindo essa linha, na minha trajetória, eu faria algumas coisas diferentes. Hoje, pela maturidade e pela experiência, aprendi que um time deve ter pessoas preparadas para executarem as funções certas, que respeitem os valores da organização e ajam com respeito, com humildade, com autenticidade, com transparência e com ética. Se isso não acontecer, o trabalho não funciona. É aquele ditado: “traga as pessoas certas para o lugar certo”. É simples, mas tem uma profundidade enorme nisso. E os valores morais sempre serão inegociáveis.

APRENDIZADOS E SONHOS DE UM LÍDER

Em todos esses anos de profissão e como líder de uma organização, aprendi que os desafios nunca cessam, por isso temos que celebrar e agradecer cada pequena conquista, cada vitória. Gosto de dizer que eu não “sento no sucesso”. É preciso continuar crescendo, manter-se em movimento, subindo um degrau de cada vez. Logo, nesse processo é imprescindível nos reconhecermos vitoriosos, sabermos que fizemos um bom trabalho e performamos como equipe. Fizemos, conseguimos e temos gratidão por toda a trajetória que nos levou até ali. Isso nos dá força para alçarmos novos voos e superarmos novos desafios.

Além disso, acredito que um grande indicador para o sucesso é a felicidade. Mas não adianta eu ser feliz sozinho, seria o “palhaço solitário”. Todos na organização precisam estar felizes juntos. Quando atendemos às expectativas das pessoas e dos clientes que nos contrataram, e entregamos o que é esperado, isso é felicidade. Atender às próprias expectativas e ter o sentimento de autorrealização também é muito importante na nossa trajetória, traz autoconfiança e segurança às nossas ações e decisões. Para isso, é essencial o desenvolvimento da inteligência emocional, a fim de equilibrar as próprias exigências e de controlar o ego, buscando sempre liderar a partir da modéstia e da humildade.

Pensando em toda a minha trajetória, eu gostaria de ser lembrado como um líder simples, que através do trabalho coletivo está cumprindo a missão e o propósito da organização. Como já mencionei, o presidente não está acima de alguém e não faz algo sozinho, só tem mais responsabilidades a cumprir. Nesse sentido, acredito que meu maior legado é mostrar que a construção de um líder é diária e contínua. Não perder a essência e os valores morais, independentemente do cargo de liderança que assumir, é fundamental, pois somente por meio da simplicidade e da sua verdadeira essência que é possível cumprir o seu propósito.

Se eu pudesse deixar uma mensagem diria que a caminhada profissional e os passos para se tornar um líder são de muito empenho, dedicação. Mas não se deve desistir ou se intimidar ao longo do caminho. Mesmo diante das dificuldades que naturalmente surgirão é permitido e necessário sonhar com uma carreira de sucesso. O bom aluno, o aluno dedicado, terá um retorno desse empenho. Não desista! Também acredito que não existem atalhos na vida, seja profissional ou pessoal. A trajetória é longa, mas com esforço, empenho e dedicação é uma trajetória de felicidade e bem-sucedida. O sucesso vem no tempo dele, não no nosso tempo. A realização também. Posso dizer que realizei meu sonho como profissional e desejo que as próximas gerações possam sentir o mesmo. Acredito que eles são as novas luzes de esperança para um futuro mais sustentável, diverso, respeitoso e de igualdade para o mundo.

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