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O propósito, a humildade e o respeito impõem-se perante ao dinheiro ou à hierarquia

Na coluna desta semana, conheça a história de ERALDO DANTE DE PAOLA

(Histórias de Sucesso/Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 9 de dezembro de 2022 às 11h14.

Por Fabiana Monteiro

A inquietude é uma particularidade constante em minha vida, um atributo ao qual respaldo as decisões responsáveis por forjarem uma trajetória de sucesso alicerçada em valores sólidos, como a perseverança, a dedicação, o respeito, humildade, além de movimentações indispensáveis para lograr êxito em todas empreitadas nas quais propus a me desafiar. Reinventar-me constantemente, sem jamais abdicar do poder de adquirir novos conhecimentos, elevaram-me ao status de concretizar os meus sonhos, especialmente por ser o cofundador e CEO da NEO, após muitas realizações afortunadas pessoais e profissionais, em setores distintos desse mercado tão competitivo e fascinante.

*

Nasci no “seio” de uma família italiana, no tradicional bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, no dia 6 de dezembro de 1952. Minha mãe, Norma Noêmia Antonini de Paola, “deu à luz” na casa da minha avó materna – não houve tempo de chegar à maternidade e o parto aconteceu ali mesmo, no susto, com a ajuda de todos os presentes.

Desde o primeiro instante, a necessidade de improvisar e soerguer forças para seguir em frente foi uma constante na minha vida, ainda mais por ter “perdido” meu pai, Eraldo de Paola, precocemente, uma situação dura, mas fundamental para saber me desenvolver por conta própria. A força de uma família estruturada é fundamental, e sou muito grato por estar Casado há trinta anos com a magnífica Maria Cristina, arquiteta de sucesso, mãe dos nossos três filhos: Eraldo de Paola Neto, Mariana e Eduardo.

Como toda boa família italiana que se preze, possuímos a característica de sempre falarmos muito – não raro, simultaneamente – com muita interação entre as pessoas. Você aprende, desde pequeno, que precisa exercitar seu poder de convencimento para conseguir ser ouvido e atingir os seus objetivos. Essa dinâmica moldou meu modus operandi, que se tornaria bastante útil em minha trajetória profissional.

Meu pai acalantava o sonho de que eu fosse médico, e como eu amava ler, ele sempre me dava obras ligadas à Medicina. Mas, por outro lado, não havia um objeto da casa que eu não desmontasse para verificar como funcionava e tentasse – quase sempre sem sucesso – remontá-lo. Logo, graduei em Engenharia Civil, em 1975, na extinta Universidade Gama Filho, vislumbrando construir grandes obras pelo prazer de ver o início, o meio e o fim de algo do qual fosse o responsável pelo processo integral. Sempre gostei de edificar coisas; até hoje possuo uma construtora, administrada pela minha filha.

A incursão iniciada em obras e a prática no Citibank

Precisei trabalhar desde cedo para poder arcar com os altos custos das mensalidades da faculdade, e consegui meu primeiro estágio na Construtora Sisal, à época, uma das maiores do Rio de Janeiro, sendo que as minhas primeiras obras foram na Barra da Tijuca, no final dos anos de 1970. Nesta fase, construímos grandes condomínios, como o Mandala, muito inovador. Praticamente, eu dormia na obra, amparado pela perseverança e pela necessidade de somar horas extras. A maturidade adquirida me possibilitou de conduzir projetos antes mesmo de me formar, algo difícil de ocorrer em tal setor. Além disso, aprendi com grandes engenheiros na prática, pois a faculdade provém a teoria, mas essa vivência foi um “divisor de águas” para me destacar cedo.

Todavia, o meu sonho era o de participar de algo maior e, sendo assim, consegui ser transferido para a divisão de obras industriais. Considero como a engenharia que pretendia exercer, haja vista a possibilidade de me tornar o responsável por grandes obras no Rio, na consolidação da fábrica francesa de pneus Michelin, em Campo Grande, além de três supermercados de grande porte, as Casas Sendas, e uma grande estação de televisão, a Rede Globo.

Nesse tipo de ação, o profissional precisa controlar os custos, os prazos, a qualidade da obra, liderando grandes grupos de profissionais e de prestadores de serviços especializados. Considero esse passo inicial como a minha grande escola de administração, haja vista que essas realizações granjearam sucesso e, por conseguinte, renderam-me um convite para atuar no Citibank, na equipe de obras.

Nos anos de 1980, marcou como uma fase deveras importante na expansão geográfica implementada pelo banco. Por volta de 1984, existia uma regra a qual para emprestar dinheiro precisava do ativo fixo. Portanto, o banco precisava construir prédios para reter esse fluxo. O Citibank montou uma equipe de engenheiros, e considerei vantajoso participar dessa empreitada, erguendo prédios por todo o Brasil, viajando bastante pelo país.

Menciono como destaques nesta etapa o trabalho como engenheiro responsável pelas obras da filial da Rua da Alfandega, no Rio de Janeiro, na avenida Paulista, além de projetos em Salvador-BA, em Porto Alegre-RS e em Campinas-SP. Alguns executivos norte-americanos vieram visitar as obras, e, como eu falava inglês fluente, fiquei como o encarregado de explicar como os processos funcionavam. Como também era um conhecedor de temáticas como política, psiquiatria, sociologia, economia, um diretor ficou “encantando” e me chamou para atuar dentro do banco, na área financeira. Neste ponto, argumentei que precisava me preparar melhor para desempenhar corretamente as novas funções propostas.

Mudança de rota: da Engenharia para a Economia

Nesta etapa, ocorreu a minha primeira grande virada profissional, ao assumir no Citibank a posição de Gerente Financeiro, entrando desta forma no universo bancário propriamente dito. Dentro da instituição, galguei posições até alcançar a cadeira de Vice-Presidente para Pessoas Físicas. Foi um período espetacular – o banco possuía filiais no Brasil inteiro e amealhei inúmeros conhecimentos, pois o treinamento oferecido pelo Citi incluía cursos inclusive no exterior. Detinha uma enorme facilidade para lidar com os clientes e com as pessoas, e conseguia liderar as equipes, engajando-as a entrar no desafio junto comigo. Descobri-me no segmento comercial, de gestão, ficando à frente do setor por aproximadamente quatro anos.

Em uma dessas iniciativas, realizei um MBA em Administração & Economia na UFRJ, além de um Curso de Economia na NYU, nos EUA. De certa forma, considerei que a minha formação acadêmica estava completa, e contemplava mais o aspecto prático em termos de aprimoramento. Sempre fui um leitor assíduo, buscava conhecimento nos livros de marketing, administração, economia até de psicologia, sempre me atualizando.

Contudo, recebi uma oferta financeira muito boa, para reerguer as operações do Banco Nacional. Os acionistas da instituição, da família Magalhães Pinto, convidaram um grupo de executivos para promover uma reestruturação, com o intuito de fazer com que o banco “deslanchasse” como um dos principais do país. Ou seja, ainda mudei de emprego dentro do setor bancário, migrando com um grupo de executivos rumo a mais um enorme desafio, em que liderei quase 20 mil pessoas.

Neste período, recordo-me que, pela primeira vez no mercado, criamos um segmento para atender à alta renda, denominada de “Class N”. Posteriormente, o Unibanco comprou o Nacional e o nome mudou para Uniclass, sendo que a aquisição feita pelo Itaú posteriormente promoveu a marca Personnalité. Todo esse setor, hoje consolidado e conhecido como Private Bank, começou lá atrás na minha gestão no Banco Nacional, e eu me orgulho muito disso, um case que me enche de orgulho.

Significou uma mudança de paradigma na prestação de serviços, especialmente ao colocar o cliente em primeiro lugar, aproximando-se dele – tanto que criamos também na época a “Torcida Nacional”. O banco era um dos principais patrocinadores do saudoso amigo Ayrton Senna, e promovíamos em locais fechados a exibição das corridas de Fórmula 1, oferecendo café da manhã, almoço ou jantar em todas as capitais do Brasil, em circuito fechado, sendo que cada cliente era convidado a participar, caso levasse outra pessoa. Assim, expandimos enormemente a base de clientes da organização, recebíamos mensagens exclusivas do Ayrton e distribuíamos os seus famosos bonés. Sem dúvida, uma época muito gostosa de se viver.

A tecnologia e o salto em direção ao empreendedorismo

Ressalto, no entanto, a ausência de algo para que me sentisse plenamente realizado como profissional e tivesse meu sonho pessoal concretizado: o de tornar-me empresário. Certo dia, conversei com a minha esposa e contei sobre a pretensão de deixar o mercado, e investir todas as nossas economias em um projeto que havia visto florescer no período em que estive alocado nos EUA, o de Call Centers. Agendar voos, pedir comida, fazer alguma reclamação, tudo por telefone, e era uma novidade na época!

Então, junto com mais três amigos, em 1998, começamos uma empresa em São Paulo, que se tornaria, em dez anos, uma das maiores do setor, a TIVIT. A história da companhia é bastante conhecida – ela se tornou uma das maiores empresas de tecnologia do mercado, e dispusemos da honra de termos como sócios o Banco Pátria, um parceiro estratégico em termos de abertura de capital, e o Grupo Votorantim, que pretendia aplicar em tecnologia, aportando investimento, além da chegada de novos clientes.

Com os processos operando em alta, conduzimos à empresa ao IPO, em 2009, em um período no qual já contabilizávamos 26 mil funcionários, com expansões pela América Latina, nos EUA e na Europa como na França. No final da década de 1990, foi promulgada a Lei do SAC, o famoso 0800, para que os clientes pudessem ter respaldo dos atendimentos. E havíamos estreado o call center. Posteriormente, já estávamos com a internet, ou seja, foi estar no lugar certo, na hora certa.

Mais tarde, vendemos a empresa para um grupo americano chamado APAX. A empresa existe até hoje e está em plena atividade. Vendemos 100% da empresa um ano depois do IPO, por questão de a oferta ter compensado financeiramente. Em 12 anos, partimos de zero de faturamento para R$ 2 bilhões anuais, consagrando-a com uma das cinco maiores empresas de tecnologia do Brasil.

A desafiadora iniciativa à frente da NEO

Após a venda da TIVIT, abri ao lado de alguns sócios norte-americanos uma administradora de recursos para quem quisesse investir no mercado estadunidense, com a sempre recomendada ajuda de especialistas. Meu filho mais velho Eraldo, economista, é o gestor e estamos traçando um caminho bastante satisfatório, crescendo exponencialmente a cada ano.

Junto com alguns ex-sócios partimos para a China, em 2019, com o intuito de conhecer novas tecnologias, imbuídos do propósito de lograr mais informações acerca dessa temática tão contemporânea. A partir dessa iniciativa, descobrimos muitas inovações no campo da Inteligência Artificial, e robotização com foco em softwares.

Então em 2020, aqui no Brasil, recompramos dos norte-americanos um carve out da TIVIT, que se chama NEO. Adquirimos parte da carteira de clientes deles, pois o grupo estava mais concentrado em processamentos de dados e nuvem.

Nesta etapa, assumi a posição de CEO e passamos a introduzir muita tecnologia digital, criando novos produtos baseados em Inteligência Artificial, Robotização de Processos e outrem. Sendo assim, pavimentamos a trajetória para o ramo da digitalização, criando dentro da NEO uma empresa digital chamada Hypeone.

Nesses dois anos a partir da criação da hypeone, a NEO já ganhou por duas vezes o prêmio de empresa mais inovadora do Brasil dado pela revista Valor dentre todas as empresas brasileiras no setor de serviços.

Menciono como destaque o projeto de atendimento feito por robôs, substituindo as pessoas por vozes humanizadas. Tais ações agilizam os processos, e abrem espaço para o que se espera neste setor futuramente em diversas áreas. Essa tecnologia diminui o número de profissionais, reduzindo os custos operacionais da companhia, ou seja, ao longo do tempo é mais vantajoso apostar na tecnologia de ponta.

A humildade e o respeito sempre devem prevalecer

Ao avaliar a minha trajetória até o presente momento, gosto de me motivar pela maneira com a qual me portei por onde passei. Evidentemente, o feito de ter sido Vice-Presidente do Citibank, sem precisar “tomar atalhos”, é motivo de muito orgulho. Assim como ter me reinventado ao me dedicar à TIVIT, principalmente com o processo de IPO. Ambos são cases significativos – no banco ressalto o viés profissional muito importante, ao passo que, como empresário de tecnologia, logrei enorme êxito financeiro. Portanto, são dois momentos marcantes, que deixarei como legado, estruturados em valores, dedicação e ética.  Migrei da área técnica para a financeira e, posteriormente, lancei-me ao empreendedorismo, ocasionando em movimentações fundamentais para o meu constante crescimento.

Tendo em vista essa análise, elaboro uma simples constatação: algumas pessoas acham que “sabem de tudo”, consideram-se demasiadamente importantes, e tais comportamentos acarretam em fracassos retumbantes. Na verdade, a humildade e o respeito devem prevalecer sempre – quando para de funcionar, o time desmorona. Isso passa pela ilusão de deter poder, condição financeira robusta e posição privilegiada. Observo muitas pessoas escorregarem por esse caminho. E não há volta, só resta a solidão – essa marca fica impregnada no indivíduo soberbo. É incontestável a necessidade de saber escutar todos, sobre os mais variados assuntos, independentemente do cargo.

O propósito deve impor-se perante ao dinheiro e à hierarquia

Ao líder atual, reter tais habilidades e estar atento às armadilhas supracitadas é imprescindível para pavimentar uma trajetória bem-sucedida. Já passei por várias gerações, e para essa atual atesto como dinheiro e hierarquia não são as prioridades, mas, sim, o propósito. Se eles não enxergarem isso no líder, serão descartados; é essencial estar alinhado com as pautas envolvendo o meio ambiente, as benfeitorias sociais e outros projetos que englobem temáticas pujantes. Outro ponto envolve o equilíbrio entre família, casa e trabalho, pois o home office veio para ficar. O mundo mudou completamente depois de 2020, por causa da pandemia, e todo estrago derivado da grave crise sanitária.

Certamente não há mais espaço para a liderança impositiva – a ordem jamais deve vir “de cima para baixo”, isso é ultrapassado. O ofício deve ser executado em coworking; uma pessoa começa o trabalho que a outra termina – o foco na cooperação é fundamental. Aquele profissional que gosta de trabalhar sozinho perdeu o seu espaço. E acrescento como é essencial a participação do líder, ele tem que fazer parte desse grupo, colaborando na realização coletiva.

Tendo em vista esse mercado vigoroso e dinâmico, aponto justamente como nosso maior desafio o processo de contratação de jovens talentos com a formação na área digital. Ademais, lidar com o controle absoluto dos custos da operação de atendimento dos mais de oitenta clientes da nossa base, mantendo todo esse time composto por mais de 10 mil indivíduos engajados e motivados.

Olhando em retrospectiva, o garoto que cresceu tendo que aprender a convencer pessoas, mudou da engenharia para o setor financeiro e depois abraçou o empreendedorismo – foram muitas mudanças em minha vida. Todavia, a resiliência, a perseverança e a vontade de fazer as pessoas sonharem o meu sonho prevaleceram.

*

“Meus conselhos a quem está iniciando sua vida corporativa: esteja sempre atento às novas tecnologias; estude muito, mantenha-se atualizado – até hoje conservo o hábito de ler um livro por semana. Aprecio muito o Nassim Nicholas Taleb , autor de ‘Iludidos pelo Acaso’, onde ele demonstra que a SORTE também é um fator determinante no seu sucesso.

Jamais desista de seus sonhos mesmo que, por algum momento, eles fiquem guardados no seu coração. E respeite todas as pessoas ao seu redor, independentemente de cargos, pois há sempre a aprender com o próximo. A humildade é uma virtude e a frase ‘O trapezista morre quando pensa que pode voar’, do ex-ministro Mário Henrique Simonsen, deve ser lembrada como um mantra.

Por fim, aceite os desafios – eles nos fazem crescer como pessoas e profissionais. Estagnar, sem motivação para se desenvolver, demonstra como a sua vida poderia ter sido mais excitante, mais recompensadora e, acima de tudo, ter deixado você mais feliz. Acordar sem vontade de ir trabalhar é o sinal determinante para mudar de área e começar de outra maneira, revitalizado por outro propósito, com vontade e satisfação”

Grande abraço a todos vocês!

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Por Fabiana Monteiro

A inquietude é uma particularidade constante em minha vida, um atributo ao qual respaldo as decisões responsáveis por forjarem uma trajetória de sucesso alicerçada em valores sólidos, como a perseverança, a dedicação, o respeito, humildade, além de movimentações indispensáveis para lograr êxito em todas empreitadas nas quais propus a me desafiar. Reinventar-me constantemente, sem jamais abdicar do poder de adquirir novos conhecimentos, elevaram-me ao status de concretizar os meus sonhos, especialmente por ser o cofundador e CEO da NEO, após muitas realizações afortunadas pessoais e profissionais, em setores distintos desse mercado tão competitivo e fascinante.

*

Nasci no “seio” de uma família italiana, no tradicional bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, no dia 6 de dezembro de 1952. Minha mãe, Norma Noêmia Antonini de Paola, “deu à luz” na casa da minha avó materna – não houve tempo de chegar à maternidade e o parto aconteceu ali mesmo, no susto, com a ajuda de todos os presentes.

Desde o primeiro instante, a necessidade de improvisar e soerguer forças para seguir em frente foi uma constante na minha vida, ainda mais por ter “perdido” meu pai, Eraldo de Paola, precocemente, uma situação dura, mas fundamental para saber me desenvolver por conta própria. A força de uma família estruturada é fundamental, e sou muito grato por estar Casado há trinta anos com a magnífica Maria Cristina, arquiteta de sucesso, mãe dos nossos três filhos: Eraldo de Paola Neto, Mariana e Eduardo.

Como toda boa família italiana que se preze, possuímos a característica de sempre falarmos muito – não raro, simultaneamente – com muita interação entre as pessoas. Você aprende, desde pequeno, que precisa exercitar seu poder de convencimento para conseguir ser ouvido e atingir os seus objetivos. Essa dinâmica moldou meu modus operandi, que se tornaria bastante útil em minha trajetória profissional.

Meu pai acalantava o sonho de que eu fosse médico, e como eu amava ler, ele sempre me dava obras ligadas à Medicina. Mas, por outro lado, não havia um objeto da casa que eu não desmontasse para verificar como funcionava e tentasse – quase sempre sem sucesso – remontá-lo. Logo, graduei em Engenharia Civil, em 1975, na extinta Universidade Gama Filho, vislumbrando construir grandes obras pelo prazer de ver o início, o meio e o fim de algo do qual fosse o responsável pelo processo integral. Sempre gostei de edificar coisas; até hoje possuo uma construtora, administrada pela minha filha.

A incursão iniciada em obras e a prática no Citibank

Precisei trabalhar desde cedo para poder arcar com os altos custos das mensalidades da faculdade, e consegui meu primeiro estágio na Construtora Sisal, à época, uma das maiores do Rio de Janeiro, sendo que as minhas primeiras obras foram na Barra da Tijuca, no final dos anos de 1970. Nesta fase, construímos grandes condomínios, como o Mandala, muito inovador. Praticamente, eu dormia na obra, amparado pela perseverança e pela necessidade de somar horas extras. A maturidade adquirida me possibilitou de conduzir projetos antes mesmo de me formar, algo difícil de ocorrer em tal setor. Além disso, aprendi com grandes engenheiros na prática, pois a faculdade provém a teoria, mas essa vivência foi um “divisor de águas” para me destacar cedo.

Todavia, o meu sonho era o de participar de algo maior e, sendo assim, consegui ser transferido para a divisão de obras industriais. Considero como a engenharia que pretendia exercer, haja vista a possibilidade de me tornar o responsável por grandes obras no Rio, na consolidação da fábrica francesa de pneus Michelin, em Campo Grande, além de três supermercados de grande porte, as Casas Sendas, e uma grande estação de televisão, a Rede Globo.

Nesse tipo de ação, o profissional precisa controlar os custos, os prazos, a qualidade da obra, liderando grandes grupos de profissionais e de prestadores de serviços especializados. Considero esse passo inicial como a minha grande escola de administração, haja vista que essas realizações granjearam sucesso e, por conseguinte, renderam-me um convite para atuar no Citibank, na equipe de obras.

Nos anos de 1980, marcou como uma fase deveras importante na expansão geográfica implementada pelo banco. Por volta de 1984, existia uma regra a qual para emprestar dinheiro precisava do ativo fixo. Portanto, o banco precisava construir prédios para reter esse fluxo. O Citibank montou uma equipe de engenheiros, e considerei vantajoso participar dessa empreitada, erguendo prédios por todo o Brasil, viajando bastante pelo país.

Menciono como destaques nesta etapa o trabalho como engenheiro responsável pelas obras da filial da Rua da Alfandega, no Rio de Janeiro, na avenida Paulista, além de projetos em Salvador-BA, em Porto Alegre-RS e em Campinas-SP. Alguns executivos norte-americanos vieram visitar as obras, e, como eu falava inglês fluente, fiquei como o encarregado de explicar como os processos funcionavam. Como também era um conhecedor de temáticas como política, psiquiatria, sociologia, economia, um diretor ficou “encantando” e me chamou para atuar dentro do banco, na área financeira. Neste ponto, argumentei que precisava me preparar melhor para desempenhar corretamente as novas funções propostas.

Mudança de rota: da Engenharia para a Economia

Nesta etapa, ocorreu a minha primeira grande virada profissional, ao assumir no Citibank a posição de Gerente Financeiro, entrando desta forma no universo bancário propriamente dito. Dentro da instituição, galguei posições até alcançar a cadeira de Vice-Presidente para Pessoas Físicas. Foi um período espetacular – o banco possuía filiais no Brasil inteiro e amealhei inúmeros conhecimentos, pois o treinamento oferecido pelo Citi incluía cursos inclusive no exterior. Detinha uma enorme facilidade para lidar com os clientes e com as pessoas, e conseguia liderar as equipes, engajando-as a entrar no desafio junto comigo. Descobri-me no segmento comercial, de gestão, ficando à frente do setor por aproximadamente quatro anos.

Em uma dessas iniciativas, realizei um MBA em Administração & Economia na UFRJ, além de um Curso de Economia na NYU, nos EUA. De certa forma, considerei que a minha formação acadêmica estava completa, e contemplava mais o aspecto prático em termos de aprimoramento. Sempre fui um leitor assíduo, buscava conhecimento nos livros de marketing, administração, economia até de psicologia, sempre me atualizando.

Contudo, recebi uma oferta financeira muito boa, para reerguer as operações do Banco Nacional. Os acionistas da instituição, da família Magalhães Pinto, convidaram um grupo de executivos para promover uma reestruturação, com o intuito de fazer com que o banco “deslanchasse” como um dos principais do país. Ou seja, ainda mudei de emprego dentro do setor bancário, migrando com um grupo de executivos rumo a mais um enorme desafio, em que liderei quase 20 mil pessoas.

Neste período, recordo-me que, pela primeira vez no mercado, criamos um segmento para atender à alta renda, denominada de “Class N”. Posteriormente, o Unibanco comprou o Nacional e o nome mudou para Uniclass, sendo que a aquisição feita pelo Itaú posteriormente promoveu a marca Personnalité. Todo esse setor, hoje consolidado e conhecido como Private Bank, começou lá atrás na minha gestão no Banco Nacional, e eu me orgulho muito disso, um case que me enche de orgulho.

Significou uma mudança de paradigma na prestação de serviços, especialmente ao colocar o cliente em primeiro lugar, aproximando-se dele – tanto que criamos também na época a “Torcida Nacional”. O banco era um dos principais patrocinadores do saudoso amigo Ayrton Senna, e promovíamos em locais fechados a exibição das corridas de Fórmula 1, oferecendo café da manhã, almoço ou jantar em todas as capitais do Brasil, em circuito fechado, sendo que cada cliente era convidado a participar, caso levasse outra pessoa. Assim, expandimos enormemente a base de clientes da organização, recebíamos mensagens exclusivas do Ayrton e distribuíamos os seus famosos bonés. Sem dúvida, uma época muito gostosa de se viver.

A tecnologia e o salto em direção ao empreendedorismo

Ressalto, no entanto, a ausência de algo para que me sentisse plenamente realizado como profissional e tivesse meu sonho pessoal concretizado: o de tornar-me empresário. Certo dia, conversei com a minha esposa e contei sobre a pretensão de deixar o mercado, e investir todas as nossas economias em um projeto que havia visto florescer no período em que estive alocado nos EUA, o de Call Centers. Agendar voos, pedir comida, fazer alguma reclamação, tudo por telefone, e era uma novidade na época!

Então, junto com mais três amigos, em 1998, começamos uma empresa em São Paulo, que se tornaria, em dez anos, uma das maiores do setor, a TIVIT. A história da companhia é bastante conhecida – ela se tornou uma das maiores empresas de tecnologia do mercado, e dispusemos da honra de termos como sócios o Banco Pátria, um parceiro estratégico em termos de abertura de capital, e o Grupo Votorantim, que pretendia aplicar em tecnologia, aportando investimento, além da chegada de novos clientes.

Com os processos operando em alta, conduzimos à empresa ao IPO, em 2009, em um período no qual já contabilizávamos 26 mil funcionários, com expansões pela América Latina, nos EUA e na Europa como na França. No final da década de 1990, foi promulgada a Lei do SAC, o famoso 0800, para que os clientes pudessem ter respaldo dos atendimentos. E havíamos estreado o call center. Posteriormente, já estávamos com a internet, ou seja, foi estar no lugar certo, na hora certa.

Mais tarde, vendemos a empresa para um grupo americano chamado APAX. A empresa existe até hoje e está em plena atividade. Vendemos 100% da empresa um ano depois do IPO, por questão de a oferta ter compensado financeiramente. Em 12 anos, partimos de zero de faturamento para R$ 2 bilhões anuais, consagrando-a com uma das cinco maiores empresas de tecnologia do Brasil.

A desafiadora iniciativa à frente da NEO

Após a venda da TIVIT, abri ao lado de alguns sócios norte-americanos uma administradora de recursos para quem quisesse investir no mercado estadunidense, com a sempre recomendada ajuda de especialistas. Meu filho mais velho Eraldo, economista, é o gestor e estamos traçando um caminho bastante satisfatório, crescendo exponencialmente a cada ano.

Junto com alguns ex-sócios partimos para a China, em 2019, com o intuito de conhecer novas tecnologias, imbuídos do propósito de lograr mais informações acerca dessa temática tão contemporânea. A partir dessa iniciativa, descobrimos muitas inovações no campo da Inteligência Artificial, e robotização com foco em softwares.

Então em 2020, aqui no Brasil, recompramos dos norte-americanos um carve out da TIVIT, que se chama NEO. Adquirimos parte da carteira de clientes deles, pois o grupo estava mais concentrado em processamentos de dados e nuvem.

Nesta etapa, assumi a posição de CEO e passamos a introduzir muita tecnologia digital, criando novos produtos baseados em Inteligência Artificial, Robotização de Processos e outrem. Sendo assim, pavimentamos a trajetória para o ramo da digitalização, criando dentro da NEO uma empresa digital chamada Hypeone.

Nesses dois anos a partir da criação da hypeone, a NEO já ganhou por duas vezes o prêmio de empresa mais inovadora do Brasil dado pela revista Valor dentre todas as empresas brasileiras no setor de serviços.

Menciono como destaque o projeto de atendimento feito por robôs, substituindo as pessoas por vozes humanizadas. Tais ações agilizam os processos, e abrem espaço para o que se espera neste setor futuramente em diversas áreas. Essa tecnologia diminui o número de profissionais, reduzindo os custos operacionais da companhia, ou seja, ao longo do tempo é mais vantajoso apostar na tecnologia de ponta.

A humildade e o respeito sempre devem prevalecer

Ao avaliar a minha trajetória até o presente momento, gosto de me motivar pela maneira com a qual me portei por onde passei. Evidentemente, o feito de ter sido Vice-Presidente do Citibank, sem precisar “tomar atalhos”, é motivo de muito orgulho. Assim como ter me reinventado ao me dedicar à TIVIT, principalmente com o processo de IPO. Ambos são cases significativos – no banco ressalto o viés profissional muito importante, ao passo que, como empresário de tecnologia, logrei enorme êxito financeiro. Portanto, são dois momentos marcantes, que deixarei como legado, estruturados em valores, dedicação e ética.  Migrei da área técnica para a financeira e, posteriormente, lancei-me ao empreendedorismo, ocasionando em movimentações fundamentais para o meu constante crescimento.

Tendo em vista essa análise, elaboro uma simples constatação: algumas pessoas acham que “sabem de tudo”, consideram-se demasiadamente importantes, e tais comportamentos acarretam em fracassos retumbantes. Na verdade, a humildade e o respeito devem prevalecer sempre – quando para de funcionar, o time desmorona. Isso passa pela ilusão de deter poder, condição financeira robusta e posição privilegiada. Observo muitas pessoas escorregarem por esse caminho. E não há volta, só resta a solidão – essa marca fica impregnada no indivíduo soberbo. É incontestável a necessidade de saber escutar todos, sobre os mais variados assuntos, independentemente do cargo.

O propósito deve impor-se perante ao dinheiro e à hierarquia

Ao líder atual, reter tais habilidades e estar atento às armadilhas supracitadas é imprescindível para pavimentar uma trajetória bem-sucedida. Já passei por várias gerações, e para essa atual atesto como dinheiro e hierarquia não são as prioridades, mas, sim, o propósito. Se eles não enxergarem isso no líder, serão descartados; é essencial estar alinhado com as pautas envolvendo o meio ambiente, as benfeitorias sociais e outros projetos que englobem temáticas pujantes. Outro ponto envolve o equilíbrio entre família, casa e trabalho, pois o home office veio para ficar. O mundo mudou completamente depois de 2020, por causa da pandemia, e todo estrago derivado da grave crise sanitária.

Certamente não há mais espaço para a liderança impositiva – a ordem jamais deve vir “de cima para baixo”, isso é ultrapassado. O ofício deve ser executado em coworking; uma pessoa começa o trabalho que a outra termina – o foco na cooperação é fundamental. Aquele profissional que gosta de trabalhar sozinho perdeu o seu espaço. E acrescento como é essencial a participação do líder, ele tem que fazer parte desse grupo, colaborando na realização coletiva.

Tendo em vista esse mercado vigoroso e dinâmico, aponto justamente como nosso maior desafio o processo de contratação de jovens talentos com a formação na área digital. Ademais, lidar com o controle absoluto dos custos da operação de atendimento dos mais de oitenta clientes da nossa base, mantendo todo esse time composto por mais de 10 mil indivíduos engajados e motivados.

Olhando em retrospectiva, o garoto que cresceu tendo que aprender a convencer pessoas, mudou da engenharia para o setor financeiro e depois abraçou o empreendedorismo – foram muitas mudanças em minha vida. Todavia, a resiliência, a perseverança e a vontade de fazer as pessoas sonharem o meu sonho prevaleceram.

*

“Meus conselhos a quem está iniciando sua vida corporativa: esteja sempre atento às novas tecnologias; estude muito, mantenha-se atualizado – até hoje conservo o hábito de ler um livro por semana. Aprecio muito o Nassim Nicholas Taleb , autor de ‘Iludidos pelo Acaso’, onde ele demonstra que a SORTE também é um fator determinante no seu sucesso.

Jamais desista de seus sonhos mesmo que, por algum momento, eles fiquem guardados no seu coração. E respeite todas as pessoas ao seu redor, independentemente de cargos, pois há sempre a aprender com o próximo. A humildade é uma virtude e a frase ‘O trapezista morre quando pensa que pode voar’, do ex-ministro Mário Henrique Simonsen, deve ser lembrada como um mantra.

Por fim, aceite os desafios – eles nos fazem crescer como pessoas e profissionais. Estagnar, sem motivação para se desenvolver, demonstra como a sua vida poderia ter sido mais excitante, mais recompensadora e, acima de tudo, ter deixado você mais feliz. Acordar sem vontade de ir trabalhar é o sinal determinante para mudar de área e começar de outra maneira, revitalizado por outro propósito, com vontade e satisfação”

Grande abraço a todos vocês!

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