Não delegue a sua carreira para terceiros. É você com você mesmo, afirma Luciana Depieri
Na coluna desta semana, conheça a história de Luciana Depieri, Chief People & ADM officer da Logicalis Latam
Colunista
Publicado em 17 de maio de 2024 às 14h48.
A vontade de ser executiva e trabalhar em uma grande empresa surgiu em mim ainda muito nova. Desde que comecei a trabalhar, vivia repetindo isso a todos que estavam ao meu redor, mesmo morando em Brasília onde o funcionalismo público sempre teve destaque.Guardo muitas lembranças, ricas em aprendizados e amizades verdadeiras e tive contato com pessoas provenientes de todos os lugares do Brasil. Isso me permitiu conviver com grupos muito diferentes e a aprender, desde cedo, a importância da aceitação da diversidade e inclusão, valores que, inclusive, levo para meutrabalho todos os dias.
O ambiente externo não impactou na minha decisão e a maioria dos passos que dei foram planejados de forma que eu realizasse aquilo que tanto idealizava. Na hora de escolher qual graduação seguir, por exemplo, acabei optando por Psicologia, mas desde então já visava trabalhar no mundo corporativo e entrar no universo dos Recursos Humanos, mesmo sem saber muito bem o que era isso.
Não sei exatamente o porquê desse desejo latente em vivenciar o mundo corporativo. Mas se tem algo que me recordo bem é da admiração pela minha mãe, que tinha uma carreira profissional estabelecida e eu a via crescendo profissional e pessoalmente. Na época ela trabalhava como bancária, cuidava da família e era um exemplo para mim. E eu, mirando em tudo o que presenciava, cheguei à conclusão de que a mulher pode fazer o que quiser. E assim comominha mãe, tambémqueria estar em lugar de destaque quando crescesse.
Foque na meta e expanda suas habilidades
O estágio foi o primeiro passo para entrar na área que tanto almejava. Já no 1º semestre de faculdade iniciei as atividades na Politec, empresa de Tecnologia da Informação (TI) brasiliense. Isso desencadeou a oportunidade de estar próxima do pool empresarial, algo que em Brasília não era muito frequente, já que as grandes companhias nacionais geralmente escolhiam cidades maiores como São Paulo por exemplo, para se fixarem. Observava a movimentação dos executivos todos os dias e apesar de não trabalhar diretamente para eles, aquele contexto só me dava ainda mais certeza do que queria. Ao todo foram quatro meses de estágio e quatro anos e meio de trabalho intenso. A princípio, fazia recrutamento e seleção, área na qual fui efetivada, mas com o tempo passei também a atuar em gestão de pessoas, partner de Recursos Humanos em projetos e mais tarde, acabei tendo a oportunidade de trabalhar na área de Marketing, principalmente na comunicação interna, o que foi muito benéfico mais tarde para minha carreira.
Ao sair da Politec fui para a Autotrac, também do ramo de tecnologia, mas que tinha como área de atuação o rastreamento por satélite. Ali atuei como coordenadora de RH e fazia recrutamento, seleção e desenvolvimento interno. O bacana é que eu atendia todo o Brasil, viajava bastante e tive a oportunidade de expandir horizontes conhecendo a dinâmica de diferentes Estados, além de grandes profissionais muitos dos quais cultivo até hoje.
Esse contexto me impulsionou a fazer uma pós-graduação em Gestão de Recursos Humanos na Fundação Getúlio Vargas (FGV), seis meses após o término da graduação. Foi durante esta fase que, um dia, um grupo de executivos da Tata Consultancy Services passaram pela FGV com intuito de recrutar alguém para ocupar uma vaga no RH. Para a minha felicidade, eu fui a pessoa escolhida.
Ao ser desafiada, aceite o desafio!
Por estar dentro de uma multinacional, sabia que vivenciaria algo completamente diferente do que havia conhecido até então. Apesar disso, fiquei por poucos meses porque percebi que o momento da empresa era um pouco diferente do meu e então acabei optando por uma outra grande oportunidade: trabalhar do outro lado da mesa. Nesse momento fui trabalhar com uma ex-gerente que tive. Ela e seu sócio, que também era executivo de uma das empresas que trabalhei, tinham aberto uma consultoria de RH chamada Patrhimonio Humano e me convidaram para trabalhar com eles.
Por ali fiquei dois anos - e que dois anos. Trabalhando com os dois tive a oportunidade de fazer muitas coisas diferentes já que me davam bastante autonomia: desde liderar pessoas da empresa, consultorias em diferentes processos, até - no final das contas - vender, já que tinha que abrir portas para a empresa. Trabalhar nessa área me deu skills diferenciados porque estive do outro lado da mesa por algum tempo, vendendo, ouvindo a necessidade das empresas e entregando como consultora. Tenho muito orgulho de alguns trabalhos que fizemos.
Foi então que os executivos da Tata Consultancy Services me convidaram para voltar. A empresa estava vivendo um outro momento e achei que seria uma decisão acertada para minha carreira - e foi. Ali vivi uma das maiores escolas que o mundo corporativo poderia me oferecer. Mudei-me de Brasília para São Paulo, onde estou até hoje, e participei do processo de crescimento da empresa, que passou de 200 para 1,7 mil pessoas em menos de dois anos. Neste momento, a “construção” da empresa no Brasil e a contratação de funcionários andaram juntas, bem como a implementação de processos e desenvolvimento de cultura, entre outras. Foi como dar manutenção em um avião em movimento.
Neste novo cenário, consegui mostrar tudo que tinha aprendido até então. Eu estava ali sozinha e precisava fazer o negócio girar para que a empresa pudesse crescer de forma sustentável. Fui a primeira pessoa de RH da empresa no Brasil e à medida que a companhia foi alavancando, contratei todo o time de Recursos Humanos e na época passamos a ter um executivo de RH, Joaquim Rocha, uma pessoa muito importante na minha carreira, que traz consigo essa característica do “seja você mesmo”. Com o passar dos anos, tudo foi dando certo. Foi ali que me tornei executiva pela primeira vez, assumindo após alguns anos a posição de diretora de Recursos Humanos para o Brasil. Após alguns anos, surgiu a oportunidade de ir para a IBM e resolvi explorar novos desafios.
Resiliência e relacionamento com pessoas engajam ideias e propósitos
Quando cheguei à IBM, em 2009, sabia que ia ter um tipo de experiência totalmente diferente à que tinha vivido até então. Isso porque a IBM é uma empresa bastante madura, muito sistêmica, tudo funcionava bem, já existiam processos consolidados e cada um tinhasua função muito bem definida. É óbvio que existe um espaço para inovação, mas que se dá de uma forma muito diferente do que em uma empresa que está sendo construída.
Esse contexto me fez desenvolver skills completamente diferentes já que havia muito foco internamente em processos que já existiam globalmente, eu precisava entender qual seria o espaço que eu poderia ganhar. E para isso tive que aprender a ser muito mais resiliente no relacionamento com as pessoas e a cultura da empresa. Então, para mim, os soft skills na IBM foram muito mais fortes do que a parte técnica ou criativa. E foi aí que entendi que relacionamentos importam demais, aprendi a influenciar e negociar, aprendi como é importante ter uma rede de suporte e apoio na carreira e nos projetos sendo desenvolvidos e fiquei mais resiliente, entre muitos outros aprendizados que tive.
Nessa escalada, dei mais um passo na carreira ao mudar de função, assumindo em torno de 2010 um cargo focado na América Latina. Novamente, a busca pelo conhecimento contínuo fez total diferença, pois tive que aprender sobre a cultura de cada país e suas legislações trabalhistas, entre outros tópicos importantes.
No auge da escalada na IBM, resolvi sair da zona de conforto e começar um novo ciclo na Vmware, em 2013, uma empresa menor, mas com outros desafios e extremamente inovadora, onde aprendi muito e permaneci por quase seis anos. A VMware certamente sempre estará no meu coração. Foi uma experiência fantástica onde pude colocar em prática todos os conhecimentos adquiridos, técnicos e soft skills. Foram anos de muitos projetos reconhecidos e muita mudança positiva implementada para a empresa na América Latina em parceria com grandes profissionais. Até que, em 2019, retornei para a IBM em uma posição que acreditei seria um novo marco na minha carreira - e foi. Aí fiquei até 2021, quando fui para a Kyndryl em um grande spin off, onde passei a ser vice-presidente de Recursos Humanos para América Latina.
Seja você mesmo, porque aí é que você vai ganhar
Assumi cargos de liderança desde cedo, sem saber muito bem o que era ser uma líder. Mas de um ponto eu tinha certeza: queria que tudo desse certo e me empenharia ao máximo para assimilar o que fosse necessário para atingir meus objetivos. Grande parte deste aprendizado ocorreu na prática, entre erros e acertos e nessa jornada sempre tive apoio dos meus líderes. Hoje, já do outro lado, busco fazer o mesmo. Quando coloco alguém em um papel de liderança, busco tirar da frente algumas barreiras que tive que quebrar na época em que a mudança era comigo.
Acredito que uma dessas barreiras é conceitual: não existe um perfil pré-moldado de líder. Cada um deve oferecer o seu melhor, entendendo e se adaptando ao ambiente e trabalhando da melhor forma possível. Se posso dar um conselho que funcionou para mim é “não entre em uma ‘caixinha’, pois isso não funciona e só gera frustração”. Você precisa saber usar o que tem de bom da melhor forma e ter dentro de si uma mentalidade de crescimento, estando ciente de que não sabe tudo e tem que se aprimorar continuamente. Esta mentalidade vale para todos os profissionais, independentemente do segmento que atuam ou do cargo que ocupam.
Também acredito que o líder deve ser um pouco mais gentil consigo mesmo. Muitos se cobram demais buscando um nível de perfeição inatingível, se colocando em um lugar de solidão, em vez de identificarem suas expertises e imperfeições e trabalharem de acordo com essas características. É nessa hora que vale saber escolher as pessoas com quem se vai trabalhar, buscando talentos que se complementam e, ao mesmo tempo, ajudando cada um deles a continuar se desenvolvendo. Ter um time que nos apoia e que se complementa faz uma grande diferença porque ninguém cresce sozinho. Uma das minhas grandes características, certamente, é que eu sou diferente, preciso sempre me cercar de pessoas que me complementem. E isso não é bom nem ruim. É quem eu sou.
Destacar talentos e criatividade traz maiores chances de êxito
Eu gosto muito de trabalhar com pessoas que pensem diferente e tenham criatividade. Quando penso no meu time, em uma vaga e no grupo a que ela fará parte, procuro complementar talentos. Então, se tenho por exemplo alguém que é muito bom em análise, busco uma pessoa que é ótima em relacionamento e outra que traz como ponto forte o gerenciamento de projetos. Precisa haver um complemento dentro do time, isso é essencial. O papel do líder é entender a função de cada membro da equipe. Também prefiro sempre segurar a empurrar. Então prefiro falar: “calma, você está indo muito rápido”, do que dizer: “você não está indo no ritmo que a empresa precisa”. Gosto bastante de trabalhar com pessoas aceleradas, e que ao mesmo tempo tenham foco. Mas como disse, acredito que o diferencial é o complemento de skills dentro de um time.
Mantenha-se atento e extraia o melhor dos seus líderes
Durante a minha jornada contei com vários mentores. A minha primeira gerente, Patricia Mussnich, surgiu quando ainda era estagiária, não entendia nada de Recursos Humanos e nem do que era uma corporação. Ela sempre me ajudou e me apoiou. Foi uma grande líder e muito do que sou hoje, devo a ela. Logo depois tive uma outra gerente, Cristina Rego, com quem aprendi skills bem diferentes e a quem admiro muito como pessoa.
Anos depois, alguns gerentes e diretores que tive também me ajudaram nesse processo de crescimento profissional. O Joaquim Rocha, que mencionei acima, foi um deles, um executivo fantástico, que sempre deu várias dicas muito valiosas, e várias “broncas” muito valiosas também. Toda esta situação foi me lapidando, de alguma forma, a ter uma casca mais dura para aguentar algumas situações desafiadoras que, como executiva, tenho que enfrentar. Eu tive um chefe na Índia também, Novonil, que foi um exemplo para mim, porque ele não entendia nada de Brasil e se dispôs a aprender, o que me auxiliou no manejo da compreensão de diferentes culturas.
Outra executiva por quem nutro grande respeito e admiração é a Luciana Camargo, da IBM, que além de mentora, se tornou uma grande amiga. Temos perfis diferentes, é verdade, mas é legal ver que nem sempre as pessoas que são iguais a você se tornarão seus mentores ou exemplos. É possível aprender muito com pessoas que são completamentediferentes.Aliás, é aí que saímos da zona de conforto das nossas habilidades e temos a maior chance de crescer.
Durante tantos anos nesse mundo corporativo, foram muitos líderes, pares, colegas de trabalho e liderados que me ensinaram e ensinam até hoje, difícil citar todos eles. Mas também, preciso dizer que houve alguns líderes que foram importantes, mas da forma contrária, com eles entendi o que eu não queria fazer e como eu não gostaria de ser como líder.
RH estratégico impulsiona resultados de pessoas e negócios
O RH evoluiu com o passar dos anos. Se antes era uma área que tinha um foco em cuidar das pessoas, hoje expandiu seus tentáculos e se transformou em um departamento estratégico que ajuda as empresas a alcançarem seus objetivos de negócio. Não trabalhamos mais só para as pessoas e sim para garantir que estas tenham qualidade de vida, saúde emocional e uma felicidade organizacional que as permita trabalhar de forma mais efetiva e tudo isso com objetivo final de atingir as metas da empresa.
Um dos desafios é que a expectativa que muitas pessoas têm do RH ainda está em desconstrução. Elas ainda esperam um Recursos Humanos que faça muito para cada um individualmente, que cuide da carreira de cada funcionário e que resolva problemas relacionados muitas vezes a questões operacionais do dia a dia. Muitas vezes se espera que o RH faça o papel que um líder precisa fazer. Atender a esta expectativa e, ao mesmo tempo, ter um Recursos Humanos estratégico que gere valor aos negócios e faz parte das decisões mais críticas e estratégicas é um desafio intrínseco hoje aos grandes líderes desta área vital.
Precisamos encontrar caminhos para maximizar o potencial dos nossos recursos humanos, que em sua grande maioria é o asset principal das empresas. Ter uma visão centralizada no empoderamento dos empregados, reforçando uma cultura inclusiva e de inovação; criar um ambiente de trabalho que impulsione a criação de um futuro com possibilidades infinitas para cada um; auxiliar no desenvolvimento contínuo de pessoas e lideranças e transformar-se em um RH digital onde a excelência operacional ajude a facilitar a expansão de estratégias mais inovadores podem ser caminhos possíveis. Mas certamente não existe um caminho certo e definitivo, por isso a importância de estar sempre buscando em sintonia com o que está vindo para nosso futuro. E é nessa busca que me encontro atualmente como Chief People & ADM officer da Logicalis América Latina, Setor de tecnologia, posição que assumi em agosto de 2023.
Cuide da sua carreira
Não delegue a sua carreira para terceiros. É você com você mesmo. Analise as opções e os momentos chave da sua trajetória, para saber quais devem ser os próximos passos. Mostre sempre o seu melhor, mas nunca deixe de ter amor pela sua carreira e nunca passe por cima de você mesmo, seus valores e sua ética profissional. Além disso, ouça as críticas e as analise. De tudo que ouvi posso mudar? E o que talvez eu queira manter e por que ou como isso pode me beneficiar? Tudo o que eu ouvi de ruim ou de bom sempre me ajudouna formulação do pensamento crítico. Sempre esteja motivado a aprender, porque é daí que vem a evolução pessoal e profissional. Lembre-se: você pode ser e fazer qualquer coisa que quiser, é só se conhecer e planejar. Esqueça frases sabotadoras como: “isso não é para mim” ou “não estou preparado para isso”. Pule de cabeça, prepare-se, pois você pode. Mas lembre-se de se inundar de conhecimento todos os dias. O grande motivador da minha carreira foi entender que eu sempre podia aprender mais e mais e, com o time certo, executar o que fosse preciso!
A vontade de ser executiva e trabalhar em uma grande empresa surgiu em mim ainda muito nova. Desde que comecei a trabalhar, vivia repetindo isso a todos que estavam ao meu redor, mesmo morando em Brasília onde o funcionalismo público sempre teve destaque.Guardo muitas lembranças, ricas em aprendizados e amizades verdadeiras e tive contato com pessoas provenientes de todos os lugares do Brasil. Isso me permitiu conviver com grupos muito diferentes e a aprender, desde cedo, a importância da aceitação da diversidade e inclusão, valores que, inclusive, levo para meutrabalho todos os dias.
O ambiente externo não impactou na minha decisão e a maioria dos passos que dei foram planejados de forma que eu realizasse aquilo que tanto idealizava. Na hora de escolher qual graduação seguir, por exemplo, acabei optando por Psicologia, mas desde então já visava trabalhar no mundo corporativo e entrar no universo dos Recursos Humanos, mesmo sem saber muito bem o que era isso.
Não sei exatamente o porquê desse desejo latente em vivenciar o mundo corporativo. Mas se tem algo que me recordo bem é da admiração pela minha mãe, que tinha uma carreira profissional estabelecida e eu a via crescendo profissional e pessoalmente. Na época ela trabalhava como bancária, cuidava da família e era um exemplo para mim. E eu, mirando em tudo o que presenciava, cheguei à conclusão de que a mulher pode fazer o que quiser. E assim comominha mãe, tambémqueria estar em lugar de destaque quando crescesse.
Foque na meta e expanda suas habilidades
O estágio foi o primeiro passo para entrar na área que tanto almejava. Já no 1º semestre de faculdade iniciei as atividades na Politec, empresa de Tecnologia da Informação (TI) brasiliense. Isso desencadeou a oportunidade de estar próxima do pool empresarial, algo que em Brasília não era muito frequente, já que as grandes companhias nacionais geralmente escolhiam cidades maiores como São Paulo por exemplo, para se fixarem. Observava a movimentação dos executivos todos os dias e apesar de não trabalhar diretamente para eles, aquele contexto só me dava ainda mais certeza do que queria. Ao todo foram quatro meses de estágio e quatro anos e meio de trabalho intenso. A princípio, fazia recrutamento e seleção, área na qual fui efetivada, mas com o tempo passei também a atuar em gestão de pessoas, partner de Recursos Humanos em projetos e mais tarde, acabei tendo a oportunidade de trabalhar na área de Marketing, principalmente na comunicação interna, o que foi muito benéfico mais tarde para minha carreira.
Ao sair da Politec fui para a Autotrac, também do ramo de tecnologia, mas que tinha como área de atuação o rastreamento por satélite. Ali atuei como coordenadora de RH e fazia recrutamento, seleção e desenvolvimento interno. O bacana é que eu atendia todo o Brasil, viajava bastante e tive a oportunidade de expandir horizontes conhecendo a dinâmica de diferentes Estados, além de grandes profissionais muitos dos quais cultivo até hoje.
Esse contexto me impulsionou a fazer uma pós-graduação em Gestão de Recursos Humanos na Fundação Getúlio Vargas (FGV), seis meses após o término da graduação. Foi durante esta fase que, um dia, um grupo de executivos da Tata Consultancy Services passaram pela FGV com intuito de recrutar alguém para ocupar uma vaga no RH. Para a minha felicidade, eu fui a pessoa escolhida.
Ao ser desafiada, aceite o desafio!
Por estar dentro de uma multinacional, sabia que vivenciaria algo completamente diferente do que havia conhecido até então. Apesar disso, fiquei por poucos meses porque percebi que o momento da empresa era um pouco diferente do meu e então acabei optando por uma outra grande oportunidade: trabalhar do outro lado da mesa. Nesse momento fui trabalhar com uma ex-gerente que tive. Ela e seu sócio, que também era executivo de uma das empresas que trabalhei, tinham aberto uma consultoria de RH chamada Patrhimonio Humano e me convidaram para trabalhar com eles.
Por ali fiquei dois anos - e que dois anos. Trabalhando com os dois tive a oportunidade de fazer muitas coisas diferentes já que me davam bastante autonomia: desde liderar pessoas da empresa, consultorias em diferentes processos, até - no final das contas - vender, já que tinha que abrir portas para a empresa. Trabalhar nessa área me deu skills diferenciados porque estive do outro lado da mesa por algum tempo, vendendo, ouvindo a necessidade das empresas e entregando como consultora. Tenho muito orgulho de alguns trabalhos que fizemos.
Foi então que os executivos da Tata Consultancy Services me convidaram para voltar. A empresa estava vivendo um outro momento e achei que seria uma decisão acertada para minha carreira - e foi. Ali vivi uma das maiores escolas que o mundo corporativo poderia me oferecer. Mudei-me de Brasília para São Paulo, onde estou até hoje, e participei do processo de crescimento da empresa, que passou de 200 para 1,7 mil pessoas em menos de dois anos. Neste momento, a “construção” da empresa no Brasil e a contratação de funcionários andaram juntas, bem como a implementação de processos e desenvolvimento de cultura, entre outras. Foi como dar manutenção em um avião em movimento.
Neste novo cenário, consegui mostrar tudo que tinha aprendido até então. Eu estava ali sozinha e precisava fazer o negócio girar para que a empresa pudesse crescer de forma sustentável. Fui a primeira pessoa de RH da empresa no Brasil e à medida que a companhia foi alavancando, contratei todo o time de Recursos Humanos e na época passamos a ter um executivo de RH, Joaquim Rocha, uma pessoa muito importante na minha carreira, que traz consigo essa característica do “seja você mesmo”. Com o passar dos anos, tudo foi dando certo. Foi ali que me tornei executiva pela primeira vez, assumindo após alguns anos a posição de diretora de Recursos Humanos para o Brasil. Após alguns anos, surgiu a oportunidade de ir para a IBM e resolvi explorar novos desafios.
Resiliência e relacionamento com pessoas engajam ideias e propósitos
Quando cheguei à IBM, em 2009, sabia que ia ter um tipo de experiência totalmente diferente à que tinha vivido até então. Isso porque a IBM é uma empresa bastante madura, muito sistêmica, tudo funcionava bem, já existiam processos consolidados e cada um tinhasua função muito bem definida. É óbvio que existe um espaço para inovação, mas que se dá de uma forma muito diferente do que em uma empresa que está sendo construída.
Esse contexto me fez desenvolver skills completamente diferentes já que havia muito foco internamente em processos que já existiam globalmente, eu precisava entender qual seria o espaço que eu poderia ganhar. E para isso tive que aprender a ser muito mais resiliente no relacionamento com as pessoas e a cultura da empresa. Então, para mim, os soft skills na IBM foram muito mais fortes do que a parte técnica ou criativa. E foi aí que entendi que relacionamentos importam demais, aprendi a influenciar e negociar, aprendi como é importante ter uma rede de suporte e apoio na carreira e nos projetos sendo desenvolvidos e fiquei mais resiliente, entre muitos outros aprendizados que tive.
Nessa escalada, dei mais um passo na carreira ao mudar de função, assumindo em torno de 2010 um cargo focado na América Latina. Novamente, a busca pelo conhecimento contínuo fez total diferença, pois tive que aprender sobre a cultura de cada país e suas legislações trabalhistas, entre outros tópicos importantes.
No auge da escalada na IBM, resolvi sair da zona de conforto e começar um novo ciclo na Vmware, em 2013, uma empresa menor, mas com outros desafios e extremamente inovadora, onde aprendi muito e permaneci por quase seis anos. A VMware certamente sempre estará no meu coração. Foi uma experiência fantástica onde pude colocar em prática todos os conhecimentos adquiridos, técnicos e soft skills. Foram anos de muitos projetos reconhecidos e muita mudança positiva implementada para a empresa na América Latina em parceria com grandes profissionais. Até que, em 2019, retornei para a IBM em uma posição que acreditei seria um novo marco na minha carreira - e foi. Aí fiquei até 2021, quando fui para a Kyndryl em um grande spin off, onde passei a ser vice-presidente de Recursos Humanos para América Latina.
Seja você mesmo, porque aí é que você vai ganhar
Assumi cargos de liderança desde cedo, sem saber muito bem o que era ser uma líder. Mas de um ponto eu tinha certeza: queria que tudo desse certo e me empenharia ao máximo para assimilar o que fosse necessário para atingir meus objetivos. Grande parte deste aprendizado ocorreu na prática, entre erros e acertos e nessa jornada sempre tive apoio dos meus líderes. Hoje, já do outro lado, busco fazer o mesmo. Quando coloco alguém em um papel de liderança, busco tirar da frente algumas barreiras que tive que quebrar na época em que a mudança era comigo.
Acredito que uma dessas barreiras é conceitual: não existe um perfil pré-moldado de líder. Cada um deve oferecer o seu melhor, entendendo e se adaptando ao ambiente e trabalhando da melhor forma possível. Se posso dar um conselho que funcionou para mim é “não entre em uma ‘caixinha’, pois isso não funciona e só gera frustração”. Você precisa saber usar o que tem de bom da melhor forma e ter dentro de si uma mentalidade de crescimento, estando ciente de que não sabe tudo e tem que se aprimorar continuamente. Esta mentalidade vale para todos os profissionais, independentemente do segmento que atuam ou do cargo que ocupam.
Também acredito que o líder deve ser um pouco mais gentil consigo mesmo. Muitos se cobram demais buscando um nível de perfeição inatingível, se colocando em um lugar de solidão, em vez de identificarem suas expertises e imperfeições e trabalharem de acordo com essas características. É nessa hora que vale saber escolher as pessoas com quem se vai trabalhar, buscando talentos que se complementam e, ao mesmo tempo, ajudando cada um deles a continuar se desenvolvendo. Ter um time que nos apoia e que se complementa faz uma grande diferença porque ninguém cresce sozinho. Uma das minhas grandes características, certamente, é que eu sou diferente, preciso sempre me cercar de pessoas que me complementem. E isso não é bom nem ruim. É quem eu sou.
Destacar talentos e criatividade traz maiores chances de êxito
Eu gosto muito de trabalhar com pessoas que pensem diferente e tenham criatividade. Quando penso no meu time, em uma vaga e no grupo a que ela fará parte, procuro complementar talentos. Então, se tenho por exemplo alguém que é muito bom em análise, busco uma pessoa que é ótima em relacionamento e outra que traz como ponto forte o gerenciamento de projetos. Precisa haver um complemento dentro do time, isso é essencial. O papel do líder é entender a função de cada membro da equipe. Também prefiro sempre segurar a empurrar. Então prefiro falar: “calma, você está indo muito rápido”, do que dizer: “você não está indo no ritmo que a empresa precisa”. Gosto bastante de trabalhar com pessoas aceleradas, e que ao mesmo tempo tenham foco. Mas como disse, acredito que o diferencial é o complemento de skills dentro de um time.
Mantenha-se atento e extraia o melhor dos seus líderes
Durante a minha jornada contei com vários mentores. A minha primeira gerente, Patricia Mussnich, surgiu quando ainda era estagiária, não entendia nada de Recursos Humanos e nem do que era uma corporação. Ela sempre me ajudou e me apoiou. Foi uma grande líder e muito do que sou hoje, devo a ela. Logo depois tive uma outra gerente, Cristina Rego, com quem aprendi skills bem diferentes e a quem admiro muito como pessoa.
Anos depois, alguns gerentes e diretores que tive também me ajudaram nesse processo de crescimento profissional. O Joaquim Rocha, que mencionei acima, foi um deles, um executivo fantástico, que sempre deu várias dicas muito valiosas, e várias “broncas” muito valiosas também. Toda esta situação foi me lapidando, de alguma forma, a ter uma casca mais dura para aguentar algumas situações desafiadoras que, como executiva, tenho que enfrentar. Eu tive um chefe na Índia também, Novonil, que foi um exemplo para mim, porque ele não entendia nada de Brasil e se dispôs a aprender, o que me auxiliou no manejo da compreensão de diferentes culturas.
Outra executiva por quem nutro grande respeito e admiração é a Luciana Camargo, da IBM, que além de mentora, se tornou uma grande amiga. Temos perfis diferentes, é verdade, mas é legal ver que nem sempre as pessoas que são iguais a você se tornarão seus mentores ou exemplos. É possível aprender muito com pessoas que são completamentediferentes.Aliás, é aí que saímos da zona de conforto das nossas habilidades e temos a maior chance de crescer.
Durante tantos anos nesse mundo corporativo, foram muitos líderes, pares, colegas de trabalho e liderados que me ensinaram e ensinam até hoje, difícil citar todos eles. Mas também, preciso dizer que houve alguns líderes que foram importantes, mas da forma contrária, com eles entendi o que eu não queria fazer e como eu não gostaria de ser como líder.
RH estratégico impulsiona resultados de pessoas e negócios
O RH evoluiu com o passar dos anos. Se antes era uma área que tinha um foco em cuidar das pessoas, hoje expandiu seus tentáculos e se transformou em um departamento estratégico que ajuda as empresas a alcançarem seus objetivos de negócio. Não trabalhamos mais só para as pessoas e sim para garantir que estas tenham qualidade de vida, saúde emocional e uma felicidade organizacional que as permita trabalhar de forma mais efetiva e tudo isso com objetivo final de atingir as metas da empresa.
Um dos desafios é que a expectativa que muitas pessoas têm do RH ainda está em desconstrução. Elas ainda esperam um Recursos Humanos que faça muito para cada um individualmente, que cuide da carreira de cada funcionário e que resolva problemas relacionados muitas vezes a questões operacionais do dia a dia. Muitas vezes se espera que o RH faça o papel que um líder precisa fazer. Atender a esta expectativa e, ao mesmo tempo, ter um Recursos Humanos estratégico que gere valor aos negócios e faz parte das decisões mais críticas e estratégicas é um desafio intrínseco hoje aos grandes líderes desta área vital.
Precisamos encontrar caminhos para maximizar o potencial dos nossos recursos humanos, que em sua grande maioria é o asset principal das empresas. Ter uma visão centralizada no empoderamento dos empregados, reforçando uma cultura inclusiva e de inovação; criar um ambiente de trabalho que impulsione a criação de um futuro com possibilidades infinitas para cada um; auxiliar no desenvolvimento contínuo de pessoas e lideranças e transformar-se em um RH digital onde a excelência operacional ajude a facilitar a expansão de estratégias mais inovadores podem ser caminhos possíveis. Mas certamente não existe um caminho certo e definitivo, por isso a importância de estar sempre buscando em sintonia com o que está vindo para nosso futuro. E é nessa busca que me encontro atualmente como Chief People & ADM officer da Logicalis América Latina, Setor de tecnologia, posição que assumi em agosto de 2023.
Cuide da sua carreira
Não delegue a sua carreira para terceiros. É você com você mesmo. Analise as opções e os momentos chave da sua trajetória, para saber quais devem ser os próximos passos. Mostre sempre o seu melhor, mas nunca deixe de ter amor pela sua carreira e nunca passe por cima de você mesmo, seus valores e sua ética profissional. Além disso, ouça as críticas e as analise. De tudo que ouvi posso mudar? E o que talvez eu queira manter e por que ou como isso pode me beneficiar? Tudo o que eu ouvi de ruim ou de bom sempre me ajudouna formulação do pensamento crítico. Sempre esteja motivado a aprender, porque é daí que vem a evolução pessoal e profissional. Lembre-se: você pode ser e fazer qualquer coisa que quiser, é só se conhecer e planejar. Esqueça frases sabotadoras como: “isso não é para mim” ou “não estou preparado para isso”. Pule de cabeça, prepare-se, pois você pode. Mas lembre-se de se inundar de conhecimento todos os dias. O grande motivador da minha carreira foi entender que eu sempre podia aprender mais e mais e, com o time certo, executar o que fosse preciso!