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Humildade e ousadia caminham em equilíbrio rumo ao propósito

Na coluna desta semana, conheça a história de Eduardo Takeshi, Vice-presidente da Beckman Coulter

(Eduardo Takeshi/Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 31 de março de 2023 às 15h36.

Por Fabiana Monteiro

O sonho de prover soluções em benefício da sociedade impulsionou-me a aplicar as minhas aptidões e valores com o propósito de atingir tal meta. Embasado por humildade, ousadia, conhecimentos acadêmicos, além de valorosos aprendizados proporcionados por líderes inspiradores e competentes, tratei de edificar uma proeminente carreira na indústria farmacêutica, conduzindo-me a ocupar, honrosamente, a cadeira de vice-presidente da Beckman Coulter.

Paulistano, nascido em 1975, sou neto de imigrantes japoneses, sendo que os meus quatro avós vieram da “Terra do Sol Nascente”, e no Brasil encontraram oportunidades, assim como outros imigrantes nipônicos. Faço parte da terceira geração da família no país, junto das minhas três irmãs. Inclusive, costumo dizer que, mesmo sem saber, naquela época já lidava com a questão do universo feminino, por conta da forte influência feminina dentro de casa. Desde jovem aprendi a conviver muito bem com esse universo, pois em casa éramos meus pais, Kenji e Marico Nozawa, eu e minhas três irmãs.

Destaco como dei meus primeiros passos de forma bastante humilde, tendo crescido próximo da represa do Guarapiranga, na extrema Zona Sul de São Paulo. Nesta fase, realizei todos os meus estudos em escolas públicas, ao passo que concluí o Ensino Fundamental em um colégio municipal, e o Ensino Médio em uma instituição estadual no Largo Treze. Porém, naquela época, frequentemente as escolas chegavam a ficar até quatro meses em greve e havia uma pequena reposição quando deveríamos estar de férias.

Inevitavelmente, para poder guarnecer mais conhecimentos antes de prestar o vestibular – vislumbrando ingressar em uma universidade pública forte –, fiz um ano de cursinho no Etapa, auxiliado por uma bolsa. Com esse suporte, obtive êxito ao entrar na USP, onde me graduei em Farmácia, em 1998. Ressalto como sempre tive a inclinação para a área de Ciências Biológicas, além de ter contado com a influência da minha irmã mais velha no momento de escolher a carreira, pois, na época, ela já era farmacêutica.

Amparado pelo sonho de descobrir curas para doenças terríveis, como a AIDS e o câncer, logo demonstrei o interesse por pesquisa e desenvolvimento. Evidentemente, precisava me sustentar, então comecei a dar aulas particulares nos dois primeiros anos da faculdade, até obter as oportunidades de estagiar.

Aprendizados sólidos e êxitos amealhados na Abbott

A minha primeira experiência como estagiário ocorreu dentro da própria USP, durante um ano, até receber um convite oriundo da indústria farmacêutica. Desta forma, iniciei a carreira na Abbott, em março de 1997. Literalmente, coloquei em prática os aprendizados amealhados na faculdade, porque ingressei na organização como assessor científico, ou seja, além do academicismo, o estágio como pesquisador também havia me ajudado a conquistar a vaga. Conforme passei a apresentar resultados acima da média, fui efetivado e dei início a uma bela história de 18 anos na corporação.

Comecei na área de serviços, exercendo basicamente o que havia estudado e, assim, permaneci durante cinco anos no nicho, ocupando três posições neste ínterim. Destaco como o Vitor Hugo Lopes e José Poianas, líderes do setor, foram pessoas de enorme importância nesta primeira fase. São indivíduos incríveis, com visão humanista, humilde, que me serviram como modelo de inspiração nos primeiros anos de empresa. Eles também me possibilitaram a primeira experiência com gestão de pessoas, em 2002, quando estava com apenas 23 anos, sendo que pouco depois passei a liderar um time de 20 profissionais.

Após esse ciclo, mais voltado ao segmento técnico, pude dar uma forte guinada na carreira, ao tomar a decisão de migrar para o setor de Marketing. Antes de tudo, conversei com a Valéria Andrade, gerente de RH, haja vista que meu perfil, mais de cientista, talvez conflitasse com a vaga que fora aberta. Novamente contei com o apoio de um excelente líder, o Roberto Ferrarini, responsável por me garantir ferramentas e conselhos essenciais nesta mudança – sua mentoria foi de suma importância para alterar o rumo de minha jornada como executivo.

Ao realizar essa abertura de carreira em “Y”, ou seja, com mais possibilidades de desenvolvimento, meu mundo se abriu – novas responsabilidades se delinearam no horizonte. As promoções surgiam bienalmente, sendo que assumi como gerente de Produtos, Vendas, consolidando esse setor comercial. Dificilmente estaria no posto que ocupo atualmente se não houvesse uma conversa franca com a gerente de RH e o incentivo do Roberto em apostar em meu potencial.

Os desafios complexos surgiram e, como gerente de Produtos, havia uma grande missão, cito até como um jargão de marketing. Obviamente, precisava aumentar a lucratividade do business e, concomitantemente, lançar a próxima geração de máquinas, com investimento pesado, inovação, norteando as estratégias da empresa a longo prazo. Enfim, a todo instante necessitava mudar o mindset para desempenhar bem ambas as funções.

Já quando era gerente de desenvolvimento de negócios, surgiu a oportunidade de integrar uma unidade recém-criada. E após semanas de conversas com o John Coulter, então presidente da América Latina, fui convidado a ocupar tal posição. Contudo, não existia ainda uma definição acerca do job description, do que teria de ser executado – o time estava sendo formado e caberia a nós liderarmos as operações. A única diretriz remetia a melhorar a lucratividade global da empresa, comigo à frente das operações no nível LATAM.

Portanto, enfatizo o valor de se confiar nos líderes seniores e atuar com extrema humildade, haja vista como esses profissionais detêm a capacidade singular de enxergar aquele potencial que nem sequer passava pela minha cabeça. Devidamente encorajado, lancei-me neste projeto global, algo deveras marcante. Era um farmacêutico pesquisador, com passagem pelo Marketing, Vendas e que, a partir daquele momento, assumiria atribuições pertinentes ao Financeiro.

Ao passar por mais esse tipping point, depois do salto de serviços ao comercial, avalio a movimentação para finanças como o melhor MBA que poderia ter feito, totalmente pautado na vida real. Assumi alguns países para a América Latina, para depois regressar às responsabilidades ao Brasil, mas fora da minha zona de conforto, na área de Diagnósticos. Em seguida, assumi a área de Oftalmologia Cirúrgica, permanecendo quatro anos liderando este campo e completando a trajetória de 18 anos de Abbott.

A ascensão rumo à Vice-Presidência da Beckman

Porém, não tardou para vivenciar o meu terceiro tipping point e, sem dúvida, o mais significativo até então. Ao decidir aceitar o convite do Sérgio Brown para me juntar à Beckman Coulter, no início de 2016, como Country Manager, já havia estabelecido que, em determinado momento, precisaria ousar para crescer. Escutava muito sobre permanecer durante muito tempo na mesma instituição, algo que poderia ser nocivo em termos de sempre “respirar” a mesma cultura, e pretendia testar-me em outro lugar, procurar por novos desafios.

Guiado por esse pensamento, empenhei-me em transferir os sucessos e aprendizados adquiridos na Abbott para uma companhia detentora de outro viés cultural. E a estratégia de fato provou-se acertada, pois, em menos de um ano, tornei-me vice-presidente para a América Latina, posição na qual me encontro.

São mais de 25 anos de carreira, tendo ocupado, até então, 11 posições distintas. Esse é o motivo que me leva a provocar, de forma sadia, as novas gerações com a pergunta: “A cada dois anos, devo ser promovido?”. De certa forma, sim, mas vale ressaltar como me dediquei durante 18 anos ao mesmo grupo, com enorme afinco, amparado pelo constante desejo de me reinventar, para que pudesse alavancar tais anseios.

O ato de migrar para a Beckman, de certa maneira, já se encontrava alicerçado em minha mente, pois tratou-se de um movimento programado – dois anos antes já estava conversando com coaches sobre a possibilidade de me aprimorar em outra corporação. Fiz um trabalho psicológico sólido para me preparar, especialmente por conta dos fatores culturais aos quais teria de me adaptar.

De imediato, considerei como a Beckman, parte do grupo Danaher, era interessante, sofisticada, organizada na área de Saúde, Odontologia, Identificação de produtos e Tratamento de águas. Portanto, a transição acabou sendo bastante tranquila, inclusive por já conhecer as minhas fortalezas e as vulnerabilidades. Ou seja, a determinação de concretizar este ponto de inflexão se deu de forma planejada e sem traumas. A disciplina também foi determinante e, no primeiro ano, aproveitei para assimilar aprendizados, enquanto que no segundo consegui entregar grandes resultados para a organização.

Execute bem o hoje antes de pensar no amanhã

Saliento, tendo como base as vivências, como não existe o amanhã sem haver um bom hoje. Ou seja, procurar por progressão de carreira é muito justo e deve ser efetuado, mas a prioridade é garantir o sucesso do que está sendo executado no presente. Sempre procurei introduzir isso em minha rotina laboral, demonstrando o resultado esperado, sem antecipar as coisas as quais posso edificar com base em planejamentos estruturados.

Outro ponto remete ao profissional subvalorizar a empresa em que se encontra. É preciso desconsiderar completamente o velho jargão de que “a grama do vizinho é mais verde”, mas, sim, confiar na liderança da instituição a qual você está integrado. Sempre haverá gente competente dentro de casa e perder tempo procurando defeitos é contraproducente.

Ademais, o crescimento demanda perseverança e resiliência. Não estudei nos Estados Unidos, tampouco realizei intercâmbios. Tudo é possível, e aconselho: corra atrás dos seus sonhos, jamais se limite por intempéries inevitáveis na construção da carreira. A minha nunca foi linear e, conforme supracitado, por ter estudado em escolas públicas, contei com enorme perseverança para alcançar a minha posição atual. Após ter erigido uma base forte, tratei de reforçá-la com estudos avançados, como MBA e especializações.

Humildade e ousadia devem coexistir em equilíbrio

Empenhei características como a humildade, coragem e até improvisei, quando foi preciso, para chegar até aqui. Durante muitos anos, enquanto estava aprimorando o meu inglês, deixava cada reunião tomando notas de como poderia incrementar o idioma. Contei com muita força de vontade para me sair bem em tais encontros e entregar as devidas mensagens, desenvolvendo tais skills naturalmente.

Ao ser indagado se faria alguma coisa de diferente nesta caminhada, até o momento, asseguro que dificilmente alteraria algo. Certamente recebi excelentes conselhos e assim pude tomar decisões acertadas, orientado também pela ousadia, que é um atributo intrínseco do meu perfil. Todavia, essa característica deve ser administrada, sem a arrogância que acomete alguns indivíduos neste nível executivo. Até pelo fato de nunca ter me imaginado na cadeira a qual ocupo, ou mesmo nas cinco ou seis últimas posições desempenhadas. Mas pessoas inspiradoras fizeram toda a diferença neste processo de crescimento, proporcionando essa mescla de humildade com ousadia. É notável também expor como jamais deixei de aceitar os desafios que me foram direcionados.

A vontade de crescer, de aprender, sem me limitar e, ao mesmo tempo, agir com humildade, estando apto a escutar as pessoas mais experientes são diferenciais. Claro, ciente de que essas relações interpessoais repletas de confiança me fortaleceram no decorrer da jornada, sem deixar de lado a dedicação. Além de saber que informação é poder – sempre me nutri até das menores referências para me inteirar acerca de todos os assuntos possíveis, com o intuito de estar preparado para encarar as mais diversas situações.

O valor do propósito dentro de um universo volátil

Ao mencionar o fator humildade, entendo este princípio como algo primordial para um líder obter êxito. O profissional que está à frente requer contar com a humildade gigantesca, estar sempre atento às novas gerações, pois elas demandam isso. Essencialmente, os gestores precisam aprender com os jovens, pelos aspectos de diversidade, inclusão, work-life balance, inovação e tecnologia. A humildade é a pauta do novo líder e as crenças antigas devem ser rasgadas, porque o mundo mudou.

Com a Pandemia de Covid-19, a guerra na Ucrânia e, por conseguinte, a alta inflação dos últimos anos, o “movimento cabeça branca” – sobre a onda de contratação de executivos mais experientes, de profissionais que já vivenciaram inúmeras crises – retornou com força. A geração na faixa dos 30 anos, apesar de deter muito conteúdo, está experimentando um cenário inédito. Trata-se de uma faixa etária que logrou sucesso sem enfrentar muitos obstáculos. Obviamente, sem desmerecê-los, haja vista como os jovens são muito mais bem preparados em termos de inovação, enquanto os mais experientes agregam em termos de vivência.

Tendo em vista essa linha de raciocínio, observo, no momento de contratar alguém, o fit cultural que se adeque ao plano da Beckman. Somos uma empresa ágil, extremamente dinâmica, que exige o ato de ir atrás, de sólido viés empreendedor. Costumo ficar com o pé atrás com algumas pessoas muito renomadas, mas que chegam de empresas muito engessadas, haja vista que temos uma política bastante volátil, detentora do espírito de empreendedorismo.

De certa forma, acompanho a filosofia do Bill Gates sobre “gostar de trabalhar com preguiçosos em algo complexo” – eles sempre vão encontrar uma maneira nova e mais rápida de realizar as coisas. Ou seja, até por isso aprecio o learning agility, com velocidade de execução, pois se encaixa ao meu perfil. Já em setores que envolvem compliance e finanças, busco perfis mais conservadores – é tudo uma questão de equilíbrio, para se evitar riscos desnecessários.

Atualmente, as pessoas querem propósito, não somente o salário, a estabilidade profissional. Há essa busca de conciliar os valores pessoais com os corporativos, englobando a qualidade de vida. O ESG é a prova de que os indivíduos estão mais propensos a se conectar com a responsabilidade ambiental, com os trabalhos realizados junto à sociedade. Além disso, esse compromisso gera renda, market share, sendo positivo para os acionistas. É um tema que ganha cada vez mais importância dentro das organizações.

No nosso setor, a consolidação do mercado segue acontecendo, após uma breve e natural interrupção durante a pandemia. Existem muitas oportunidades e riscos neste meio – conforme os mercados mais maduros, como o da Europa, desaceleram, o interesse pelo Brasil aumenta. Há novos integrantes no mercado, englobando os setores industrial e de laboratórios de análises clínicas. Evidentemente, a pandemia mudou o nosso normal, impactando o ramo. Um exemplo nítido dessa situação é como as farmácias passaram a ser procuradas para a realização de testes sanguíneos. São inúmeros os aprendizados incorporados no cotidiano – líderes e instituições devem se adequar aos novos tempos.

Ouse e, com humildade, vá atrás dos seus sonhos!

Ninguém faz nada sozinho, o líder é tão somente o reflexo de sua equipe. Conforme se cresce na carreira, sempre haverá alguém que sabe mais sobre determinado assunto no time.

Além disso, reitero a importância da humildade, da ousadia, de se investir no aprendizado contínuo – são motes indispensáveis para galgar os degraus da pirâmide corporativa.

Acredito que todo mundo acorda pela manhã com o interesse genuíno de realizar um bom trabalho. Porém, cabe ao líder compreender quais são as armadilhas ou como a intenção positiva inicial, porventura, não se converte em resultado. Portanto, é importante superar ou contornar as eventuais barreiras e buscar outros caminhos quando preciso, almejando sempre o melhor.

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Por Fabiana Monteiro

O sonho de prover soluções em benefício da sociedade impulsionou-me a aplicar as minhas aptidões e valores com o propósito de atingir tal meta. Embasado por humildade, ousadia, conhecimentos acadêmicos, além de valorosos aprendizados proporcionados por líderes inspiradores e competentes, tratei de edificar uma proeminente carreira na indústria farmacêutica, conduzindo-me a ocupar, honrosamente, a cadeira de vice-presidente da Beckman Coulter.

Paulistano, nascido em 1975, sou neto de imigrantes japoneses, sendo que os meus quatro avós vieram da “Terra do Sol Nascente”, e no Brasil encontraram oportunidades, assim como outros imigrantes nipônicos. Faço parte da terceira geração da família no país, junto das minhas três irmãs. Inclusive, costumo dizer que, mesmo sem saber, naquela época já lidava com a questão do universo feminino, por conta da forte influência feminina dentro de casa. Desde jovem aprendi a conviver muito bem com esse universo, pois em casa éramos meus pais, Kenji e Marico Nozawa, eu e minhas três irmãs.

Destaco como dei meus primeiros passos de forma bastante humilde, tendo crescido próximo da represa do Guarapiranga, na extrema Zona Sul de São Paulo. Nesta fase, realizei todos os meus estudos em escolas públicas, ao passo que concluí o Ensino Fundamental em um colégio municipal, e o Ensino Médio em uma instituição estadual no Largo Treze. Porém, naquela época, frequentemente as escolas chegavam a ficar até quatro meses em greve e havia uma pequena reposição quando deveríamos estar de férias.

Inevitavelmente, para poder guarnecer mais conhecimentos antes de prestar o vestibular – vislumbrando ingressar em uma universidade pública forte –, fiz um ano de cursinho no Etapa, auxiliado por uma bolsa. Com esse suporte, obtive êxito ao entrar na USP, onde me graduei em Farmácia, em 1998. Ressalto como sempre tive a inclinação para a área de Ciências Biológicas, além de ter contado com a influência da minha irmã mais velha no momento de escolher a carreira, pois, na época, ela já era farmacêutica.

Amparado pelo sonho de descobrir curas para doenças terríveis, como a AIDS e o câncer, logo demonstrei o interesse por pesquisa e desenvolvimento. Evidentemente, precisava me sustentar, então comecei a dar aulas particulares nos dois primeiros anos da faculdade, até obter as oportunidades de estagiar.

Aprendizados sólidos e êxitos amealhados na Abbott

A minha primeira experiência como estagiário ocorreu dentro da própria USP, durante um ano, até receber um convite oriundo da indústria farmacêutica. Desta forma, iniciei a carreira na Abbott, em março de 1997. Literalmente, coloquei em prática os aprendizados amealhados na faculdade, porque ingressei na organização como assessor científico, ou seja, além do academicismo, o estágio como pesquisador também havia me ajudado a conquistar a vaga. Conforme passei a apresentar resultados acima da média, fui efetivado e dei início a uma bela história de 18 anos na corporação.

Comecei na área de serviços, exercendo basicamente o que havia estudado e, assim, permaneci durante cinco anos no nicho, ocupando três posições neste ínterim. Destaco como o Vitor Hugo Lopes e José Poianas, líderes do setor, foram pessoas de enorme importância nesta primeira fase. São indivíduos incríveis, com visão humanista, humilde, que me serviram como modelo de inspiração nos primeiros anos de empresa. Eles também me possibilitaram a primeira experiência com gestão de pessoas, em 2002, quando estava com apenas 23 anos, sendo que pouco depois passei a liderar um time de 20 profissionais.

Após esse ciclo, mais voltado ao segmento técnico, pude dar uma forte guinada na carreira, ao tomar a decisão de migrar para o setor de Marketing. Antes de tudo, conversei com a Valéria Andrade, gerente de RH, haja vista que meu perfil, mais de cientista, talvez conflitasse com a vaga que fora aberta. Novamente contei com o apoio de um excelente líder, o Roberto Ferrarini, responsável por me garantir ferramentas e conselhos essenciais nesta mudança – sua mentoria foi de suma importância para alterar o rumo de minha jornada como executivo.

Ao realizar essa abertura de carreira em “Y”, ou seja, com mais possibilidades de desenvolvimento, meu mundo se abriu – novas responsabilidades se delinearam no horizonte. As promoções surgiam bienalmente, sendo que assumi como gerente de Produtos, Vendas, consolidando esse setor comercial. Dificilmente estaria no posto que ocupo atualmente se não houvesse uma conversa franca com a gerente de RH e o incentivo do Roberto em apostar em meu potencial.

Os desafios complexos surgiram e, como gerente de Produtos, havia uma grande missão, cito até como um jargão de marketing. Obviamente, precisava aumentar a lucratividade do business e, concomitantemente, lançar a próxima geração de máquinas, com investimento pesado, inovação, norteando as estratégias da empresa a longo prazo. Enfim, a todo instante necessitava mudar o mindset para desempenhar bem ambas as funções.

Já quando era gerente de desenvolvimento de negócios, surgiu a oportunidade de integrar uma unidade recém-criada. E após semanas de conversas com o John Coulter, então presidente da América Latina, fui convidado a ocupar tal posição. Contudo, não existia ainda uma definição acerca do job description, do que teria de ser executado – o time estava sendo formado e caberia a nós liderarmos as operações. A única diretriz remetia a melhorar a lucratividade global da empresa, comigo à frente das operações no nível LATAM.

Portanto, enfatizo o valor de se confiar nos líderes seniores e atuar com extrema humildade, haja vista como esses profissionais detêm a capacidade singular de enxergar aquele potencial que nem sequer passava pela minha cabeça. Devidamente encorajado, lancei-me neste projeto global, algo deveras marcante. Era um farmacêutico pesquisador, com passagem pelo Marketing, Vendas e que, a partir daquele momento, assumiria atribuições pertinentes ao Financeiro.

Ao passar por mais esse tipping point, depois do salto de serviços ao comercial, avalio a movimentação para finanças como o melhor MBA que poderia ter feito, totalmente pautado na vida real. Assumi alguns países para a América Latina, para depois regressar às responsabilidades ao Brasil, mas fora da minha zona de conforto, na área de Diagnósticos. Em seguida, assumi a área de Oftalmologia Cirúrgica, permanecendo quatro anos liderando este campo e completando a trajetória de 18 anos de Abbott.

A ascensão rumo à Vice-Presidência da Beckman

Porém, não tardou para vivenciar o meu terceiro tipping point e, sem dúvida, o mais significativo até então. Ao decidir aceitar o convite do Sérgio Brown para me juntar à Beckman Coulter, no início de 2016, como Country Manager, já havia estabelecido que, em determinado momento, precisaria ousar para crescer. Escutava muito sobre permanecer durante muito tempo na mesma instituição, algo que poderia ser nocivo em termos de sempre “respirar” a mesma cultura, e pretendia testar-me em outro lugar, procurar por novos desafios.

Guiado por esse pensamento, empenhei-me em transferir os sucessos e aprendizados adquiridos na Abbott para uma companhia detentora de outro viés cultural. E a estratégia de fato provou-se acertada, pois, em menos de um ano, tornei-me vice-presidente para a América Latina, posição na qual me encontro.

São mais de 25 anos de carreira, tendo ocupado, até então, 11 posições distintas. Esse é o motivo que me leva a provocar, de forma sadia, as novas gerações com a pergunta: “A cada dois anos, devo ser promovido?”. De certa forma, sim, mas vale ressaltar como me dediquei durante 18 anos ao mesmo grupo, com enorme afinco, amparado pelo constante desejo de me reinventar, para que pudesse alavancar tais anseios.

O ato de migrar para a Beckman, de certa maneira, já se encontrava alicerçado em minha mente, pois tratou-se de um movimento programado – dois anos antes já estava conversando com coaches sobre a possibilidade de me aprimorar em outra corporação. Fiz um trabalho psicológico sólido para me preparar, especialmente por conta dos fatores culturais aos quais teria de me adaptar.

De imediato, considerei como a Beckman, parte do grupo Danaher, era interessante, sofisticada, organizada na área de Saúde, Odontologia, Identificação de produtos e Tratamento de águas. Portanto, a transição acabou sendo bastante tranquila, inclusive por já conhecer as minhas fortalezas e as vulnerabilidades. Ou seja, a determinação de concretizar este ponto de inflexão se deu de forma planejada e sem traumas. A disciplina também foi determinante e, no primeiro ano, aproveitei para assimilar aprendizados, enquanto que no segundo consegui entregar grandes resultados para a organização.

Execute bem o hoje antes de pensar no amanhã

Saliento, tendo como base as vivências, como não existe o amanhã sem haver um bom hoje. Ou seja, procurar por progressão de carreira é muito justo e deve ser efetuado, mas a prioridade é garantir o sucesso do que está sendo executado no presente. Sempre procurei introduzir isso em minha rotina laboral, demonstrando o resultado esperado, sem antecipar as coisas as quais posso edificar com base em planejamentos estruturados.

Outro ponto remete ao profissional subvalorizar a empresa em que se encontra. É preciso desconsiderar completamente o velho jargão de que “a grama do vizinho é mais verde”, mas, sim, confiar na liderança da instituição a qual você está integrado. Sempre haverá gente competente dentro de casa e perder tempo procurando defeitos é contraproducente.

Ademais, o crescimento demanda perseverança e resiliência. Não estudei nos Estados Unidos, tampouco realizei intercâmbios. Tudo é possível, e aconselho: corra atrás dos seus sonhos, jamais se limite por intempéries inevitáveis na construção da carreira. A minha nunca foi linear e, conforme supracitado, por ter estudado em escolas públicas, contei com enorme perseverança para alcançar a minha posição atual. Após ter erigido uma base forte, tratei de reforçá-la com estudos avançados, como MBA e especializações.

Humildade e ousadia devem coexistir em equilíbrio

Empenhei características como a humildade, coragem e até improvisei, quando foi preciso, para chegar até aqui. Durante muitos anos, enquanto estava aprimorando o meu inglês, deixava cada reunião tomando notas de como poderia incrementar o idioma. Contei com muita força de vontade para me sair bem em tais encontros e entregar as devidas mensagens, desenvolvendo tais skills naturalmente.

Ao ser indagado se faria alguma coisa de diferente nesta caminhada, até o momento, asseguro que dificilmente alteraria algo. Certamente recebi excelentes conselhos e assim pude tomar decisões acertadas, orientado também pela ousadia, que é um atributo intrínseco do meu perfil. Todavia, essa característica deve ser administrada, sem a arrogância que acomete alguns indivíduos neste nível executivo. Até pelo fato de nunca ter me imaginado na cadeira a qual ocupo, ou mesmo nas cinco ou seis últimas posições desempenhadas. Mas pessoas inspiradoras fizeram toda a diferença neste processo de crescimento, proporcionando essa mescla de humildade com ousadia. É notável também expor como jamais deixei de aceitar os desafios que me foram direcionados.

A vontade de crescer, de aprender, sem me limitar e, ao mesmo tempo, agir com humildade, estando apto a escutar as pessoas mais experientes são diferenciais. Claro, ciente de que essas relações interpessoais repletas de confiança me fortaleceram no decorrer da jornada, sem deixar de lado a dedicação. Além de saber que informação é poder – sempre me nutri até das menores referências para me inteirar acerca de todos os assuntos possíveis, com o intuito de estar preparado para encarar as mais diversas situações.

O valor do propósito dentro de um universo volátil

Ao mencionar o fator humildade, entendo este princípio como algo primordial para um líder obter êxito. O profissional que está à frente requer contar com a humildade gigantesca, estar sempre atento às novas gerações, pois elas demandam isso. Essencialmente, os gestores precisam aprender com os jovens, pelos aspectos de diversidade, inclusão, work-life balance, inovação e tecnologia. A humildade é a pauta do novo líder e as crenças antigas devem ser rasgadas, porque o mundo mudou.

Com a Pandemia de Covid-19, a guerra na Ucrânia e, por conseguinte, a alta inflação dos últimos anos, o “movimento cabeça branca” – sobre a onda de contratação de executivos mais experientes, de profissionais que já vivenciaram inúmeras crises – retornou com força. A geração na faixa dos 30 anos, apesar de deter muito conteúdo, está experimentando um cenário inédito. Trata-se de uma faixa etária que logrou sucesso sem enfrentar muitos obstáculos. Obviamente, sem desmerecê-los, haja vista como os jovens são muito mais bem preparados em termos de inovação, enquanto os mais experientes agregam em termos de vivência.

Tendo em vista essa linha de raciocínio, observo, no momento de contratar alguém, o fit cultural que se adeque ao plano da Beckman. Somos uma empresa ágil, extremamente dinâmica, que exige o ato de ir atrás, de sólido viés empreendedor. Costumo ficar com o pé atrás com algumas pessoas muito renomadas, mas que chegam de empresas muito engessadas, haja vista que temos uma política bastante volátil, detentora do espírito de empreendedorismo.

De certa forma, acompanho a filosofia do Bill Gates sobre “gostar de trabalhar com preguiçosos em algo complexo” – eles sempre vão encontrar uma maneira nova e mais rápida de realizar as coisas. Ou seja, até por isso aprecio o learning agility, com velocidade de execução, pois se encaixa ao meu perfil. Já em setores que envolvem compliance e finanças, busco perfis mais conservadores – é tudo uma questão de equilíbrio, para se evitar riscos desnecessários.

Atualmente, as pessoas querem propósito, não somente o salário, a estabilidade profissional. Há essa busca de conciliar os valores pessoais com os corporativos, englobando a qualidade de vida. O ESG é a prova de que os indivíduos estão mais propensos a se conectar com a responsabilidade ambiental, com os trabalhos realizados junto à sociedade. Além disso, esse compromisso gera renda, market share, sendo positivo para os acionistas. É um tema que ganha cada vez mais importância dentro das organizações.

No nosso setor, a consolidação do mercado segue acontecendo, após uma breve e natural interrupção durante a pandemia. Existem muitas oportunidades e riscos neste meio – conforme os mercados mais maduros, como o da Europa, desaceleram, o interesse pelo Brasil aumenta. Há novos integrantes no mercado, englobando os setores industrial e de laboratórios de análises clínicas. Evidentemente, a pandemia mudou o nosso normal, impactando o ramo. Um exemplo nítido dessa situação é como as farmácias passaram a ser procuradas para a realização de testes sanguíneos. São inúmeros os aprendizados incorporados no cotidiano – líderes e instituições devem se adequar aos novos tempos.

Ouse e, com humildade, vá atrás dos seus sonhos!

Ninguém faz nada sozinho, o líder é tão somente o reflexo de sua equipe. Conforme se cresce na carreira, sempre haverá alguém que sabe mais sobre determinado assunto no time.

Além disso, reitero a importância da humildade, da ousadia, de se investir no aprendizado contínuo – são motes indispensáveis para galgar os degraus da pirâmide corporativa.

Acredito que todo mundo acorda pela manhã com o interesse genuíno de realizar um bom trabalho. Porém, cabe ao líder compreender quais são as armadilhas ou como a intenção positiva inicial, porventura, não se converte em resultado. Portanto, é importante superar ou contornar as eventuais barreiras e buscar outros caminhos quando preciso, almejando sempre o melhor.

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