Foco, flexibilidade e resiliência são fundamentais na busca pelo sucesso
Na vida, nem tudo se resume a trabalhar e a manter a mente completamente ocupada por assuntos somente do âmbito profissional
Da Redação
Publicado em 14 de abril de 2022 às 21h58.
Por: Fabiana Monteiro
Os valores que me conduzem aos caminhos do sucesso começaram a ser edificados ainda durante a infância. Paulistana, precisei viajar e me mudar bastante quando criança, em função da estrutura familiar que tínhamos – meus pais sempre batalharam arduamente para melhorarmos de vida. Apesar de ter nascido na capital paulista, após o meu pai se formar em Engenharia pela FEI, passamos por outras grandes cidades brasileiras, como: Santos-SP, Recife-PE e Uberlândia-MG, o que me proporcionou aprendizados fundamentais e diversidade cultural, bases para meu progresso pessoal.
Antes dessa saga de mudanças de cidades ter início, meu pai dava aulas particulares para pagar a sua faculdade, enquanto a minha mãe trabalhava e cuidava dos assuntos de casa. Eu e meu irmão mais novo ficávamos praticamente o dia todo na creche e, posteriormente, na escola. O primeiro ponto que destaco dessa dinâmica é que aprendi demais sobre como ser flexível e independente. Tive que aprender a estudar sozinha, em função das mudanças de escolas, que lidar com diferentes tipos de pessoas, das diferentes culturas, tendo em vista que o Brasil é um país de proporções continentais, ou seja, desafios gigantescos, considerando a minha tenra idade.
Obviamente, houve a dificuldade de adaptação, mas esse desafio foi bom para desenvolver habilidades que incorporei no meu cotidiano. Conforme supracitado, a flexibilidade foi se aprimorando, a ponto de ser um diferencial no campo profissional, assim como o raciocínio lógico. Neste ponto, enalteço a importância dos meus pais e do meu irmão, haja vista que eles contribuíram no fortalecimento também da minha resiliência e visão de trabalho em equipe, aspectos cruciais para estabelecimento de metas importantes e dos meios para conquistá-las. É preciso ter toda uma logística e força emocional para lidar com tantas mudanças, sendo tão jovem.
Durante o período morando em Uberlândia, iniciei o curso de Administração na Universidade Federal. Sempre fui muito estudiosa e esta é também uma característica que me acompanha até hoje. Por isso, quando meus pais precisaram regressar para São Paulo, acabei me graduando em Administração e Ciências Contábeis na UNIP. Portanto, apesar da mudança geográfica, mantive o foco nos estudos e optei por Administração pela possibilidade de começar a trabalhar cedo. Ainda adolescente atuei como vendedora em lojas e também fui pesquisadora, aquela que bate “de porta em porta”, o que me proporcionou uma habilidade adicional, a de saber ouvir, conforme abordarei mais adiante, ao analisar o “saber quando falar e saber quando ouvir”. Já Ciências Contábeis se encaixou na profissão que vislumbrava praticar adiante, o que viria a se concretizar em pouco tempo.
Antes de tudo, é importante frisar que realizei o meu primeiro estágio na Federal de Uberlândia, realizando pesquisas, através da empresa júnior da universidade. Depois colaborei no Diário Oficial do Estado de São Paulo, em 1998, e foi onde aprendi a conviver com pessoas de diferentes personalidades e a me interessar por áreas distintas. Trabalhava na área de assinaturas, que na verdade abarcava também o atendimento ao cliente. Lidava com inúmeras reclamações, de diferentes formas, pois eram provenientes de pessoas físicas, juízes ou assessores de gabinetes de políticos. Isso me levava a ter uma visão geral da entidade e dos processos de edição do diário, e descobri que o mundo era amplo e muito complexo.
“Meu começo de trajetória foi bastante comercial e depois seguiu para um rumo bastante diferente”.
Edificando a jornada profissional
O emprego de maior relevância no início da minha jornada profissional foi em uma empresa do setor tecnológico. Atuei no segmento de exportação que me trouxe uma valorosa lição: de me dedicar a outros idiomas e de aperfeiçoar o meu inglês. Entendi que aprender línguas era fundamental, especialmente por lidarmos com diversos países e diretamente com clientes do Japão. Contudo, depois de seis meses, passei a enviar currículos para companhias com foco na valorização do aprendizado. Sendo assim, ingressei na KPMG Auditores Independentes, no final de 1998. Passei por um processo seletivo e fui aprovada como trainee para trabalhar com auditoria, sem conhecer ainda muito bem como esse tipo de trabalho era desenvolvido.
Todos os trainees contavam com os seus respectivos coaches, passavam o primeiro ano auxiliando na execução dos trabalhos, nos gaps, no que foi aprendido e readequando em prol de melhorias. Todavia, após seis meses de empresa, o meu coach saiu da firma, justamente quando estava à frente de um grande projeto em Campinas, em uma divisão de uma das maiores empresas do mundo. Abruptamente, deparei-me com um cenário insólito, cuidando deste projeto somente ao lado de um assistente, até que outro responsável fosse designado. Foi um grande desafio – não sabíamos exatamente o que estava acontecendo, porque não tínhamos a visão global do projeto, então tratei de estudar o que estava nos papéis de trabalho e a observar os outros profissionais para poder aprender e me desenvolver.
Passei bastante tempo realizando auditoria desse cliente e isso marcou, em linhas gerais, um período de crescimento, de entender como as pessoas funcionam, de como realizar essa leitura mais humanizada. Há de se considerar a personalidade de cada um, adjunto ao treinamento, fazendo o indivíduo entregar o seu melhor. Nem sempre as pessoas conseguem expressar o que estão sentindo ou pensando, e neste momento vale a sensibilidade do gestor em ponderar quais são os movimentos mais apropriados.
Conforme os resultados se apresentavam, o meu nome ganhava destaque e assim fui promovida de trainee para assistente. Posteriormente, passei a ser a encarregada de outros trabalhos e comecei a coordenar as equipes, além de intermediar os diálogos entre clientes, equipes e gestores. Ao me tornar gerente assumi uma carteira de clientes repleta de multinacionais o que me proporcionou me comunicar também com pessoas das equipes dos clientes e da KPMG de diversos países de EUA a Japão. Ao me tornar gerente sênior assumi o departamento de práticas profissionais e, de imediato, essa posição me alçou à condição de me reportar diretamente com a alta administração e com os C-levels da própria KPMG. Antes atuava mais no operacional, na auditoria contábil e financeira que engloba também questões operacionais, já que os números que chegam nos relatórios financeiros são resultado dos negócios, do business.
Entretanto, o país estava adotando normas contábeis internacionais de contabilidade e de auditoria e, para tal, precisava de pessoas estudiosas, então passei a me dedicar ainda mais a essa área que permaneci por aproximadamente um ano. Ajudei em boa parte da implementação das normas, mas estava realmente cansada de trabalhar excessivamente, de viajar constantemente, já que muitos dos meus clientes externos e internos ficavam em diversos estados do país.
Diante dessas condições e da necessidade de ter tempo para me dedicar a um projeto acadêmico me desliguei da firma, mas aceitei um convite do Banco Bradesco, no início de 2010. Eu tinha vontade de trabalhar no mercado financeiro, passei a atuar na área de fundos offshore. Por ser um banco muito grande – são várias as estruturas, algo deveras complexo – não conseguia visualizar o todo, pois estava focada nos fundos de investimentos e contabilidade. Senti muito a falta de ter essa visão global durante essa experiência.
Na época, meu marido também trabalhava na KPMG – inclusive o conheci na firma, em 2005. E falei para ele que não conseguiria me adaptar nesse contexto de rotina, sem flexibilidade, sem visão global. Eu sou uma pessoa que precisa entender o motivo de estar fazendo algo, ter esse raciocínio lógico, entendendo todas as etapas envolvidas e analisar o resultado. De certa forma, precisei ponderar e retornei para a KPMG. A firma me valorizou, pois como havia obtido êxito da primeira vez, não teve problema para fechar esse acordo. Ou seja, representei a KPMG por mais de 13 anos, somando essas duas passagens.
Porém, meu sonho de realizar um mestrado me fez tomar outra dura decisão, recomeçar. O curso na FECAP era durante o dia, e como descobri que meu propósito era disseminar conhecimento, passei a atuar de forma autônoma para poder me dedicar ao mestrado, e começar a trabalhar nesse propósito. Justamente pelo conhecimento de contabilidade e auditoria serem especializados, muitas pessoas precisam conhecer rapidamente as aplicações práticas e também qual o impacto em seus respectivos negócios. Eu queria que outras pessoas, além de contadores e de auditores, entendessem sobre o assunto e contava com a minha capacidade para levar esse projeto adiante. Comecei dando treinamento de contabilidade para advogados.
Nesse ínterim, em 2013, abri a ACAECONT como sócia-fundadora, que se trata de uma iniciativa de treinamento. Concomitantemente, fui chamada pelo Instituto de Auditoria Independente do Brasil, Ibracon, por ser a melhor opção no mercado em termos técnicos, alinhados aos objetivos dessa instituição do terceiro setor. Fizemos um primeiro contrato, passei a trabalhar para eles e não parei mais. Atuo assessorando a área técnica, no que tange as questões de auditoria, de contabilidade, e relacionadas a diferentes segmentos, por exemplo: de energia, gás, fundos, instituições financeiras, previdência, sustentabilidade dentre outros negócios, hoje são 18 segmentos.
Além de me comprometer assiduamente nessas duas posições, aceitei uma posição no comitê de auditoria da AACD, um convite de um sócio de uma firma de auditoria, que necessitava de alguém para trabalhar Pro Bono. O comitê requer um membro independente, especializado em finanças, e eu atendia aos requisitos. Já tinha a iniciativa de querer compartilhar conhecimentos, e amei ingressar nesse comitê. Agrego muito com os meus conhecimentos técnicos, minha visão global, de mundo, minha experiência de vida, minha visão de negócios, podendo dividir esse aprendizado, proporcionando oportunidades para a instituição e para várias pessoas.
Com toda essa vivência devidamente estabelecida, fui convidada pela Track&Field, em agosto de 2020 para fazer parte do Comitê de Auditoria e Risco e me motivei com o desafio e com as oportunidades, algo que definitivamente queria para me sentir ainda mais plena profissionalmente.
Batalhar para concretizar os sonhos
Formulei a minha carreira sempre embasada no que acreditava, no que queria, e no poder de promover a diferença nas vidas das outras pessoas. E ter essa capacidade de ir atrás dos meus ideais, independentemente de quanto for a remuneração, mas sim, pelo projeto, sempre foi um diferencial. Um exemplo nítido desse meu perfil ocorreu quando viajei para dar um treinamento, em Pucalpa, no meio da selva amazônica.
Além disso, ressalto as oportunidades de ser membro do comitê de auditoria da AACD e da Track&Field, de poder auxiliar as entidades a aprimorar sua estrutura de governança corporativa. E, recentemente, a abertura de capital da Track&Field foi um adicional . É excelente fazer parte desse grupo seleto de pessoas que fazem parte de comitês que auxiliam no processo de profissionalização de governança corporativa das empresas e de atuar no mercado de capitais.
Essas metas alcançadas, até o presente momento, não surgiram sem dedicação, muito trabalho, preparação e sem que os obstáculos fossem gerenciados com precisão. O desafio mais complexo é desapegar, deixar a zona de conforto. A auditoria em si era uma zona de conforto para mim, já que trabalhei 13 anos nesse segmento, dentro da KPMG. E deixei a firma para seguir o meu sonho, realizar o meu mestrado, para disseminar conhecimento de uma forma ampla.
Costumo apontar três pessoas que fizeram a diferença nessa jornada. O primeiro é o meu pai, que sempre me incentivou a seguir em frente, estimulando minha capacidade analítica e meu raciocínio lógico. Já minha mãe amplificou o valor da resiliência e da necessidade de relacionamentos interpessoais. E um sócio na KPMG, o Toshiharu Fujii, ensinou-me muito sobre contabilidade, auditoria e finanças. Ele é uma pessoa muito inteligente, que facilitou a minha compreensão do mundo, quando ainda era inexperiente na profissão.
Outro fator a ser ponderado passa pela questão de saber se valorizar em um universo repleto de homens. Como mulher, sei dessa necessidade de precisar se impor em momentos decisivos. As mulheres ainda estão aprendendo como conquistar o seu espaço. A mulher trabalha demais, em casa, inclusive. E estuda mais – algo comprovado pelas próprias instituições acadêmicas. Mas não sabemos valorizar tudo isso. É um desafio, que já foi mais complicado. Inclusive, passei por essa armadilha que montei para mim, sem quase perceber. E na área financeira isso é algo recorrente, pois o segmento tem mais homens que mulheres. Para escapar dessa situação é necessário aprender a fazer o marketing pessoal. Consegui isso com o tempo.
Foco e determinação
No atual cenário, com novas demandas e mudanças constantes, saber se posicionar adequadamente é um valor imprescindível para evoluir. Insisto na questão de aprender a ouvir, a respeitar a opinião de cada pessoa, ter a capacidade de absorver o conhecimento de boas fontes de informação, e saber filtrar para não se perder no meio do caminho.
O líder atual deve contar com uma equipe multidisciplinar, esse é um diferencial indispensável, abordando o tema da diversidade, algo que ganha contornos cada vez mais expressivos na sociedade e dentro das companhias. Além disso, saber valorizar o que cada um tem de melhor. Não adianta colocar as pessoas certas nos lugares errados. Os profissionais de TI, por exemplo, muitos deles sequer gostam de falar em público, mas são profissionais que atuam em funções relacionadas mais a lógica e a análises, o que foi essencial durante a pandemia, e que corrobora esse raciocínio.
Tendo em vista tais considerações, amplio esse leque de habilidades para outros princípios. A primeira coisa é o indivíduo possuir verdadeiramente a vontade de estar lá, de aprender e ter determinação, colocar o que sabe, demonstrar seu potencial. Ou seja, manter o foco naquilo que realmente deseja, e refletindo isso nas escolhas e atitudes do seu cotidiano. As informações surgem de todos os lados e, eventualmente, as pessoas se perdem e deixam escapar o que realmente almejam. Resiliência é um fator de suma importância. Nada é fácil, tudo contém ao menos um desafio, seja em qualquer área da vida.
Ao analisar a minha trajetória posso afirmar, categoricamente, como o aprendizado contínuo proporciona várias coisas boas. E atualmente não tem como ser diferente, pois é preciso estar em constante atualização, já que o mundo é dinâmico. Estar atento aos relacionamentos interpessoais proporciona fontes diferentes de assimilar conteúdos e de engajar com causas distintas. As visões diferentes sobre o mesmo assunto são comuns, portanto aprender a enxergar as coisas de forma diferente, pelo olhar do outro, compõe um gesto louvável, de aprendizado e de sucesso.
Na vida, nem tudo se resume a trabalhar e a manter a mente completamente ocupada por assuntos somente do âmbito profissional. Para relaxar e extravasar, sempre pratiquei esportes de diversos tipos. Houve um período em que fiquei parada, por causa de trabalho. Contudo, nutria a vontade de aprender a surfar e, aos 39 anos, realizei esse sonho, nunca é tarde, foi gratificante, o que mais gosto de fazer.
Além disso, o hábito da leitura é algo que estabeleci para mim desde jovem, especialmente por ser estudiosa. Gostaria de recomendar um livro que não aborda propriamente o universo corporativo, mas abrange uma temática reflexiva, voltada para o otimismo, resiliência, foco e resultado, inclusive muitos psicólogos leem esse livro, pelo método: “ Em Busca de Sentido ”, do Viktor E. Frankl, é uma obra bastante interessante, que marcou a minha vida e tem uma frase bem interessante: “O homem é capaz de mudar o mundo para melhor, se possível, e mudar a si mesmo para melhor, se necessário”.
Por: Fabiana Monteiro
Os valores que me conduzem aos caminhos do sucesso começaram a ser edificados ainda durante a infância. Paulistana, precisei viajar e me mudar bastante quando criança, em função da estrutura familiar que tínhamos – meus pais sempre batalharam arduamente para melhorarmos de vida. Apesar de ter nascido na capital paulista, após o meu pai se formar em Engenharia pela FEI, passamos por outras grandes cidades brasileiras, como: Santos-SP, Recife-PE e Uberlândia-MG, o que me proporcionou aprendizados fundamentais e diversidade cultural, bases para meu progresso pessoal.
Antes dessa saga de mudanças de cidades ter início, meu pai dava aulas particulares para pagar a sua faculdade, enquanto a minha mãe trabalhava e cuidava dos assuntos de casa. Eu e meu irmão mais novo ficávamos praticamente o dia todo na creche e, posteriormente, na escola. O primeiro ponto que destaco dessa dinâmica é que aprendi demais sobre como ser flexível e independente. Tive que aprender a estudar sozinha, em função das mudanças de escolas, que lidar com diferentes tipos de pessoas, das diferentes culturas, tendo em vista que o Brasil é um país de proporções continentais, ou seja, desafios gigantescos, considerando a minha tenra idade.
Obviamente, houve a dificuldade de adaptação, mas esse desafio foi bom para desenvolver habilidades que incorporei no meu cotidiano. Conforme supracitado, a flexibilidade foi se aprimorando, a ponto de ser um diferencial no campo profissional, assim como o raciocínio lógico. Neste ponto, enalteço a importância dos meus pais e do meu irmão, haja vista que eles contribuíram no fortalecimento também da minha resiliência e visão de trabalho em equipe, aspectos cruciais para estabelecimento de metas importantes e dos meios para conquistá-las. É preciso ter toda uma logística e força emocional para lidar com tantas mudanças, sendo tão jovem.
Durante o período morando em Uberlândia, iniciei o curso de Administração na Universidade Federal. Sempre fui muito estudiosa e esta é também uma característica que me acompanha até hoje. Por isso, quando meus pais precisaram regressar para São Paulo, acabei me graduando em Administração e Ciências Contábeis na UNIP. Portanto, apesar da mudança geográfica, mantive o foco nos estudos e optei por Administração pela possibilidade de começar a trabalhar cedo. Ainda adolescente atuei como vendedora em lojas e também fui pesquisadora, aquela que bate “de porta em porta”, o que me proporcionou uma habilidade adicional, a de saber ouvir, conforme abordarei mais adiante, ao analisar o “saber quando falar e saber quando ouvir”. Já Ciências Contábeis se encaixou na profissão que vislumbrava praticar adiante, o que viria a se concretizar em pouco tempo.
Antes de tudo, é importante frisar que realizei o meu primeiro estágio na Federal de Uberlândia, realizando pesquisas, através da empresa júnior da universidade. Depois colaborei no Diário Oficial do Estado de São Paulo, em 1998, e foi onde aprendi a conviver com pessoas de diferentes personalidades e a me interessar por áreas distintas. Trabalhava na área de assinaturas, que na verdade abarcava também o atendimento ao cliente. Lidava com inúmeras reclamações, de diferentes formas, pois eram provenientes de pessoas físicas, juízes ou assessores de gabinetes de políticos. Isso me levava a ter uma visão geral da entidade e dos processos de edição do diário, e descobri que o mundo era amplo e muito complexo.
“Meu começo de trajetória foi bastante comercial e depois seguiu para um rumo bastante diferente”.
Edificando a jornada profissional
O emprego de maior relevância no início da minha jornada profissional foi em uma empresa do setor tecnológico. Atuei no segmento de exportação que me trouxe uma valorosa lição: de me dedicar a outros idiomas e de aperfeiçoar o meu inglês. Entendi que aprender línguas era fundamental, especialmente por lidarmos com diversos países e diretamente com clientes do Japão. Contudo, depois de seis meses, passei a enviar currículos para companhias com foco na valorização do aprendizado. Sendo assim, ingressei na KPMG Auditores Independentes, no final de 1998. Passei por um processo seletivo e fui aprovada como trainee para trabalhar com auditoria, sem conhecer ainda muito bem como esse tipo de trabalho era desenvolvido.
Todos os trainees contavam com os seus respectivos coaches, passavam o primeiro ano auxiliando na execução dos trabalhos, nos gaps, no que foi aprendido e readequando em prol de melhorias. Todavia, após seis meses de empresa, o meu coach saiu da firma, justamente quando estava à frente de um grande projeto em Campinas, em uma divisão de uma das maiores empresas do mundo. Abruptamente, deparei-me com um cenário insólito, cuidando deste projeto somente ao lado de um assistente, até que outro responsável fosse designado. Foi um grande desafio – não sabíamos exatamente o que estava acontecendo, porque não tínhamos a visão global do projeto, então tratei de estudar o que estava nos papéis de trabalho e a observar os outros profissionais para poder aprender e me desenvolver.
Passei bastante tempo realizando auditoria desse cliente e isso marcou, em linhas gerais, um período de crescimento, de entender como as pessoas funcionam, de como realizar essa leitura mais humanizada. Há de se considerar a personalidade de cada um, adjunto ao treinamento, fazendo o indivíduo entregar o seu melhor. Nem sempre as pessoas conseguem expressar o que estão sentindo ou pensando, e neste momento vale a sensibilidade do gestor em ponderar quais são os movimentos mais apropriados.
Conforme os resultados se apresentavam, o meu nome ganhava destaque e assim fui promovida de trainee para assistente. Posteriormente, passei a ser a encarregada de outros trabalhos e comecei a coordenar as equipes, além de intermediar os diálogos entre clientes, equipes e gestores. Ao me tornar gerente assumi uma carteira de clientes repleta de multinacionais o que me proporcionou me comunicar também com pessoas das equipes dos clientes e da KPMG de diversos países de EUA a Japão. Ao me tornar gerente sênior assumi o departamento de práticas profissionais e, de imediato, essa posição me alçou à condição de me reportar diretamente com a alta administração e com os C-levels da própria KPMG. Antes atuava mais no operacional, na auditoria contábil e financeira que engloba também questões operacionais, já que os números que chegam nos relatórios financeiros são resultado dos negócios, do business.
Entretanto, o país estava adotando normas contábeis internacionais de contabilidade e de auditoria e, para tal, precisava de pessoas estudiosas, então passei a me dedicar ainda mais a essa área que permaneci por aproximadamente um ano. Ajudei em boa parte da implementação das normas, mas estava realmente cansada de trabalhar excessivamente, de viajar constantemente, já que muitos dos meus clientes externos e internos ficavam em diversos estados do país.
Diante dessas condições e da necessidade de ter tempo para me dedicar a um projeto acadêmico me desliguei da firma, mas aceitei um convite do Banco Bradesco, no início de 2010. Eu tinha vontade de trabalhar no mercado financeiro, passei a atuar na área de fundos offshore. Por ser um banco muito grande – são várias as estruturas, algo deveras complexo – não conseguia visualizar o todo, pois estava focada nos fundos de investimentos e contabilidade. Senti muito a falta de ter essa visão global durante essa experiência.
Na época, meu marido também trabalhava na KPMG – inclusive o conheci na firma, em 2005. E falei para ele que não conseguiria me adaptar nesse contexto de rotina, sem flexibilidade, sem visão global. Eu sou uma pessoa que precisa entender o motivo de estar fazendo algo, ter esse raciocínio lógico, entendendo todas as etapas envolvidas e analisar o resultado. De certa forma, precisei ponderar e retornei para a KPMG. A firma me valorizou, pois como havia obtido êxito da primeira vez, não teve problema para fechar esse acordo. Ou seja, representei a KPMG por mais de 13 anos, somando essas duas passagens.
Porém, meu sonho de realizar um mestrado me fez tomar outra dura decisão, recomeçar. O curso na FECAP era durante o dia, e como descobri que meu propósito era disseminar conhecimento, passei a atuar de forma autônoma para poder me dedicar ao mestrado, e começar a trabalhar nesse propósito. Justamente pelo conhecimento de contabilidade e auditoria serem especializados, muitas pessoas precisam conhecer rapidamente as aplicações práticas e também qual o impacto em seus respectivos negócios. Eu queria que outras pessoas, além de contadores e de auditores, entendessem sobre o assunto e contava com a minha capacidade para levar esse projeto adiante. Comecei dando treinamento de contabilidade para advogados.
Nesse ínterim, em 2013, abri a ACAECONT como sócia-fundadora, que se trata de uma iniciativa de treinamento. Concomitantemente, fui chamada pelo Instituto de Auditoria Independente do Brasil, Ibracon, por ser a melhor opção no mercado em termos técnicos, alinhados aos objetivos dessa instituição do terceiro setor. Fizemos um primeiro contrato, passei a trabalhar para eles e não parei mais. Atuo assessorando a área técnica, no que tange as questões de auditoria, de contabilidade, e relacionadas a diferentes segmentos, por exemplo: de energia, gás, fundos, instituições financeiras, previdência, sustentabilidade dentre outros negócios, hoje são 18 segmentos.
Além de me comprometer assiduamente nessas duas posições, aceitei uma posição no comitê de auditoria da AACD, um convite de um sócio de uma firma de auditoria, que necessitava de alguém para trabalhar Pro Bono. O comitê requer um membro independente, especializado em finanças, e eu atendia aos requisitos. Já tinha a iniciativa de querer compartilhar conhecimentos, e amei ingressar nesse comitê. Agrego muito com os meus conhecimentos técnicos, minha visão global, de mundo, minha experiência de vida, minha visão de negócios, podendo dividir esse aprendizado, proporcionando oportunidades para a instituição e para várias pessoas.
Com toda essa vivência devidamente estabelecida, fui convidada pela Track&Field, em agosto de 2020 para fazer parte do Comitê de Auditoria e Risco e me motivei com o desafio e com as oportunidades, algo que definitivamente queria para me sentir ainda mais plena profissionalmente.
Batalhar para concretizar os sonhos
Formulei a minha carreira sempre embasada no que acreditava, no que queria, e no poder de promover a diferença nas vidas das outras pessoas. E ter essa capacidade de ir atrás dos meus ideais, independentemente de quanto for a remuneração, mas sim, pelo projeto, sempre foi um diferencial. Um exemplo nítido desse meu perfil ocorreu quando viajei para dar um treinamento, em Pucalpa, no meio da selva amazônica.
Além disso, ressalto as oportunidades de ser membro do comitê de auditoria da AACD e da Track&Field, de poder auxiliar as entidades a aprimorar sua estrutura de governança corporativa. E, recentemente, a abertura de capital da Track&Field foi um adicional . É excelente fazer parte desse grupo seleto de pessoas que fazem parte de comitês que auxiliam no processo de profissionalização de governança corporativa das empresas e de atuar no mercado de capitais.
Essas metas alcançadas, até o presente momento, não surgiram sem dedicação, muito trabalho, preparação e sem que os obstáculos fossem gerenciados com precisão. O desafio mais complexo é desapegar, deixar a zona de conforto. A auditoria em si era uma zona de conforto para mim, já que trabalhei 13 anos nesse segmento, dentro da KPMG. E deixei a firma para seguir o meu sonho, realizar o meu mestrado, para disseminar conhecimento de uma forma ampla.
Costumo apontar três pessoas que fizeram a diferença nessa jornada. O primeiro é o meu pai, que sempre me incentivou a seguir em frente, estimulando minha capacidade analítica e meu raciocínio lógico. Já minha mãe amplificou o valor da resiliência e da necessidade de relacionamentos interpessoais. E um sócio na KPMG, o Toshiharu Fujii, ensinou-me muito sobre contabilidade, auditoria e finanças. Ele é uma pessoa muito inteligente, que facilitou a minha compreensão do mundo, quando ainda era inexperiente na profissão.
Outro fator a ser ponderado passa pela questão de saber se valorizar em um universo repleto de homens. Como mulher, sei dessa necessidade de precisar se impor em momentos decisivos. As mulheres ainda estão aprendendo como conquistar o seu espaço. A mulher trabalha demais, em casa, inclusive. E estuda mais – algo comprovado pelas próprias instituições acadêmicas. Mas não sabemos valorizar tudo isso. É um desafio, que já foi mais complicado. Inclusive, passei por essa armadilha que montei para mim, sem quase perceber. E na área financeira isso é algo recorrente, pois o segmento tem mais homens que mulheres. Para escapar dessa situação é necessário aprender a fazer o marketing pessoal. Consegui isso com o tempo.
Foco e determinação
No atual cenário, com novas demandas e mudanças constantes, saber se posicionar adequadamente é um valor imprescindível para evoluir. Insisto na questão de aprender a ouvir, a respeitar a opinião de cada pessoa, ter a capacidade de absorver o conhecimento de boas fontes de informação, e saber filtrar para não se perder no meio do caminho.
O líder atual deve contar com uma equipe multidisciplinar, esse é um diferencial indispensável, abordando o tema da diversidade, algo que ganha contornos cada vez mais expressivos na sociedade e dentro das companhias. Além disso, saber valorizar o que cada um tem de melhor. Não adianta colocar as pessoas certas nos lugares errados. Os profissionais de TI, por exemplo, muitos deles sequer gostam de falar em público, mas são profissionais que atuam em funções relacionadas mais a lógica e a análises, o que foi essencial durante a pandemia, e que corrobora esse raciocínio.
Tendo em vista tais considerações, amplio esse leque de habilidades para outros princípios. A primeira coisa é o indivíduo possuir verdadeiramente a vontade de estar lá, de aprender e ter determinação, colocar o que sabe, demonstrar seu potencial. Ou seja, manter o foco naquilo que realmente deseja, e refletindo isso nas escolhas e atitudes do seu cotidiano. As informações surgem de todos os lados e, eventualmente, as pessoas se perdem e deixam escapar o que realmente almejam. Resiliência é um fator de suma importância. Nada é fácil, tudo contém ao menos um desafio, seja em qualquer área da vida.
Ao analisar a minha trajetória posso afirmar, categoricamente, como o aprendizado contínuo proporciona várias coisas boas. E atualmente não tem como ser diferente, pois é preciso estar em constante atualização, já que o mundo é dinâmico. Estar atento aos relacionamentos interpessoais proporciona fontes diferentes de assimilar conteúdos e de engajar com causas distintas. As visões diferentes sobre o mesmo assunto são comuns, portanto aprender a enxergar as coisas de forma diferente, pelo olhar do outro, compõe um gesto louvável, de aprendizado e de sucesso.
Na vida, nem tudo se resume a trabalhar e a manter a mente completamente ocupada por assuntos somente do âmbito profissional. Para relaxar e extravasar, sempre pratiquei esportes de diversos tipos. Houve um período em que fiquei parada, por causa de trabalho. Contudo, nutria a vontade de aprender a surfar e, aos 39 anos, realizei esse sonho, nunca é tarde, foi gratificante, o que mais gosto de fazer.
Além disso, o hábito da leitura é algo que estabeleci para mim desde jovem, especialmente por ser estudiosa. Gostaria de recomendar um livro que não aborda propriamente o universo corporativo, mas abrange uma temática reflexiva, voltada para o otimismo, resiliência, foco e resultado, inclusive muitos psicólogos leem esse livro, pelo método: “ Em Busca de Sentido ”, do Viktor E. Frankl, é uma obra bastante interessante, que marcou a minha vida e tem uma frase bem interessante: “O homem é capaz de mudar o mundo para melhor, se possível, e mudar a si mesmo para melhor, se necessário”.