Fabrício Debortoli: O líder deve tomar decisões com agilidade e sem medo
Na coluna desta semana, conheça a história de Fabrício Debortoli - Conselheiro de Administração da USIMINAS
Da Redação
Publicado em 15 de julho de 2022 às 14h05.
Por Fabiana Monteiro
Aprendi desde jovem a seguir valores sólidos para me tornar um indivíduo preparado, tanto do ponto de vista pessoal quanto profissional. Nascido em Biguaçu, cidade situada na Grande Florianópolis/SC, em 1979, absorvi inúmeros conhecimentos por meio dos ensinamentos dos meus pais e do convívio na sociedade local, na comunidade da Igreja, pautados em uma criação rica e voltada para o bem-estar das relações e da importância do ser humano.
De origem humilde, observei com meu pai, José Debortoli, que era mestre de obras, e com minha mãe, Valdirce Maria dos Santos Debortoli, funcionária pública, o esforço para que eu tivesse possibilidades de crescer na vida. Filho único, sempre estudei em escolas públicas, até ingressar em Ciências Contábeis na Universidade do Vale do Itajaí, que havia instalado um campus na minha cidade, facilitando assim, meu acesso ao ensino superior, em 1999. Na época, minha mãe atuava como tesoureira da prefeitura e lidava com números, logo me influenciou no momento de optar por este curso.
Mencionando os meus primeiros passos, eu gosto de pontuar a importância de ter me destacado na vivência comunitária, pois já demonstrava o aspecto da liderança, mesmo que de maneira informal – pessoas próximas me procuravam e gostavam que eu participasse de projetos desde o início. Hoje, consigo identificar quando estou liderando, e isso é fruto de uma base bem edificada e trabalhada.
Quando optei por Ciências Contábeis, vislumbrava um mercado de trabalho pujante, pois o leque de opções de trabalho do profissional contábil é amplo, e entre o quarto e o sexto período, iniciei o estágio no escritório de contabilidade RG contadores associados, cujos sócios eram Nilson, Nilton e Solange Goedert, três irmãos de família tradicional da nossa região, onde fui bem acolhido por eles e consegui transitar entre os planos acadêmicos e laborais.
Permaneci por dois anos e, ao me formar, fui contratado para ser auxiliar contábil, como analista, e assim atuei durante cinco anos nesta firma. Já com uma certa vivência, não hesitei em investir numa pós-graduação em Gestão Tributária, também na Universidade do Vale do Itajaí. Aprimorar o meu currículo era um plano maior, haja vista que até aquela fase estava muito inserido em meras formalidades, burocracias, e aspirava por metas mais ousadas.
O sonho de trabalhar em uma grande empresa
Nunca pensei em abrir escritório de contabilidade, mas em trabalhar no ambiente corporativo, nas grandes empresas. O meu sonho sempre foi de me tornar um executivo de uma companhia renomada, da qual pudesse me desenvolver profissionalmente. Sabia deter o potencial para que a minha profissão causasse impacto junto aos executivos, era instigado por isso – já me enxergava em outra colocação profissional – inserido na parte de planejamento e gestão.
Embasado nesta estratégia, prestei concurso e ingressei na CELESC, maior estatal de Santa Catarina. Permaneci lá por cinco anos, iniciando minhas atribuições como contador, e posteriormente, após um ano, tornei-me chefe da área tributária. Novos desafios foram surgindo – fui convidado pelo diretor jurídico, Marcelo Gasparino da Silva, com quem tenho relações profissionais até hoje, para cuidar de processos administrativos tributários, e atuar em uma controladoria tributária.
Todavia, a CELESC passou por um momento de reestruturação societária. No meu caso, por ter sido um jovem com propensão à liderança, era uma referência também junto à diretoria da Holding do Grupo, conduzindo-me a novos projetos. A principal etapa se referia a implementação das Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS), em 2011. E por se tratar de uma instituição de capital aberto, era necessário reportar ao mercado e aos principais acionistas sobre as mudanças legais. Contratamos a consultoria da Price, a atual PwC, e fiquei à frente deste processo como contador responsável pelas Demonstrações Financeiras da Holding do Grupo Celesc, o que culminou em uma exposição positiva junto à administração da empresa, diretoria executiva e conselho de administração e fiscal.
Reprogramando o plano de carreira
Considero este momento como uma grande virada, pois foi quando comecei a interagir diretamente com membros do Conselho Fiscal e de Administração, que conheci a Sra. Telma Mezia, e o investidor Lírio Parisotto, que ocupavam cargos no conselho fiscal e de administração, respectivamente. Quando apresentei o trabalho que desenvolvi naquele período, a Sra. Telma indicou meu nome a Lírio que me convidou para reorganizar toda as áreas de controladoria, contábil e fiscal de sua empresa. E assim, fui atuar ao lado do Lírio, e sua ex-esposa Tânia ( in memoriam ) no estado de São Paulo, na Videolar S.A.
Tratou-se de um movimento inesperado e rápido, ou seja, com pouco tempo para ponderar as condições. Apesar de estar bem colocado na CELESC, concursado, sentia que faltava algo mais e, assim, a decisão de partir não foi um obstáculo. Durante dois anos permaneci licenciado na estatal, mas tive que me desligar devido ao sucesso que obtive. De imediato, conseguimos organizar todos os setores demandados, para podermos reportar números com mais segurança e transparência.
O Lírio teve uma ideia muito importante ao começar a apostar no segmento plástico e petroquímico, ainda enquanto Videolar, pois mais tarde tivemos a oportunidade de adquirir da Innova S.A. Em termos profissionais, este foi o meu maior desafio, embarcar nesse projeto de M&A com a compra da Innova S.A. Ficar responsável pelo processo de incorporação, alicerçando o planejamento tributário, a estrutura organizacional e a gestão financeira e administrativa centralizada.
Cito este como um grande desafio, justamente pelo fato de gerenciar pessoas durante essa reorganização. Não por acaso, aponto como o grande case da minha vida em termos de experiência, pois se antes me ocupava somente do mundo tributário e contábil, esta etapa determinou a descoberta de habilidades diversas, das quais incorporei ao meu repertório profissional. A Innova me proporcionou tal caminhada de estabilidade, como principal executivo da área financeira, assim “mergulhei a fundo”, comecei a desenvolver aptidões para lidar com todos os setores, destacando-me mais no mundo das finanças.
Pesou em demasia o desafio de gerenciar pessoas, algo que saliento como um ponto a ser trabalhado pelos líderes. Quando envolve questão técnica do trabalho na área de finanças, a principal adversidade é a de criar uma equipe coesa, que consiga angariar autonomia e que possua a percepção de conquistar seus espaços sem estar, necessariamente, vinculado ao gestor. Sempre busco gerar um processo de sucessão, dos meus gerentes, dos meus supervisores, permitindo-me voar mais alto ao deixar o trabalho bem estabelecido.
Contudo, necessitei regressar à Santa Catarina, pois fui convidado para um projeto de consultoria, junto a um grande amigo, Dr. Antônio Gavazzoni, advogado renomado e ex-CEO da CELESC, onde nos conhecemos. Apesar do excelente momento, surgiu uma outra possibilidade de destaque em meu estado natal. O conceito poderia ter funcionado, ainda que o negócio não tenha se concretizado à maneira como esperava, serviu de enorme valia, como aprendizado. Eu era um executivo e precisaria me transformar em um consultor – simplesmente não funcionou.
Na Innova alcancei essa meta e vivenciei a alegria de completar o plano pré-estabelecido. Estava “na vitrine”, e isso incomodava algumas pessoas do mundo corporativo, infelizmente, ocorre de algumas pessoas “atirarem pedras” em você. Tais indivíduos focam em buscar erros, e tentam mesmo “puxar o tapete” quando a pessoa se destaca. Quando este tipo de hostilidade aparece, é o momento de entrar em cena o perfil agregador e, acima de tudo, ser franco. Foi o que fiz com o Lírio na época, expliquei os motivos que me fizeram sair naquele momento, e ao me desvincular da companhia, tratei a sucessão, durante três meses, com êxito, sem carregar qualquer fardo.
Sendo assim, resolvi juntar toda a experiência acumulada, e iniciei um trabalho ao lado do Marcelo Gasparino, que foi o diretor jurídico da CELESC, e quem me levou para o conselho de administração da empresa, pois confiava na minha capacidade. Ele é o “braço-direito” do Lírio Parisotto, nas questões de governança corporativa e de atuação nos conselhos de administração do fundo LPar, em que Lírio tem um dos maiores fundos de investimentos de pessoas físicas na bolsa de valores.
Quando estava terminando o projeto de reestruturação da Innova, o Lírio precisava de colocar alguém no conselho da CELESC. Como eu era ex-funcionário, entrei, e assim tive o meu primeiro contato com conselho fiscal. Fiquei um ano no fiscal, outro no conselho de administração, e agora, em abril de 2022, encerro meu terceiro mandato. Enfim, considero que empenhamos um belo trabalho e deixarei para o meu sucessor dar continuidade.
Quando fui trabalhar com o Marcelo Gasparino em outros projetos, tive a oportunidade de ser indicado para o conselho fiscal da ETERNIT, onde participei junto ao Conselho de Administração da reestruturação da área tributária, bem no início do processo de Recuperação Judicial, fato que colaborou com uma gestão mais eficiente dos recursos financeiros da Companhia. Depois de um mandato no conselho fiscal da ETERNIT, fui conduzido para três anos de mandato no Conselho Fiscal da USIMINAS, do qual encerrei em abril de 2022. Com o término deste mandato, os acionistas preferencialistas da USIMINAS, elegeram-me no dia 28/04/2022 para o mandato de dois anos no Conselho de Administração, mais um grande desafio para minha carreira.
A zona de conforto é uma armadilha traiçoeira
Importante frisar a importância do Lírio em meu desenvolvimento. Não costumo tratá-lo como mentor direto, pois convivi poucos anos com ele, mas este convívio foi muito intenso, que me identifiquei por ser uma pessoa muito comprometida com o trabalho, focada em resultado, e apesar do seu jeito rude em lidar com algumas situações, tem um censo de justiça fantástico. O Lírio, como investidor, dono de empresa, uma pessoa sempre presente, que vivia, transpirava a empresa, sempre um exemplo. Aprendi muito com ele, principalmente da forma como ele lidera. Possuímos uma relação de respeito mútuo – vejo como ele valoriza o que falo, pois confia na minha capacidade técnica, e eu absorvi as lições de gestor que ele sempre implantou na Companhia. Ele é uma referência para mim, um empresário que gera empregos e riqueza para o país, inclusive a planta petroquímica de Triunfo é a única autossustentável em energia, respeitando o meio ambiente.
Além da relação profissional, considero primordial mencionar como a partir de nossa interação obtive o meu grande turning point. Quando aceitei o convite para trabalhar em São Paulo, compreendi que não precisava mais depender de um emprego com estabilidade, ficar “refém” da famigerada zona de conforto. Precisei permanecer longe da família, ter uma rotina diferenciada, realizei uma escolha difícil e renunciei a muitas coisas, apesar de ter ido com incentivos para lá. Mas abdiquei de alguns benefícios em busca do meu sonho, o de ser executivo de empresa, e estava ciente que dentro da CELESC só obteria tal cargo às custas de vínculos políticos, pois alcancei o meu auge como gerente, e dali em diante só granjearia colocações por meio de conveniências diplomáticas. Contudo, em função da indicação da senhora Thelma Mezia, consegui ir adiante na carreira – ela convenceu o Lírio a apostar em mim.
Sem medo de ser ágil, nem de recuar
Costumo dizer que estou a todo instante me reprogramando. Vide o ocorrido da pandemia, quando algo toma uma proporção inédita, algo que jamais havíamos vivenciado em termos de tomada de decisões, sem saber o que aconteceria no dia seguinte. Isso surgiu para eu entender o seguinte: as decisões, mesmo que difíceis, precisam ser tomadas com agilidade.
Durante esse período o psicológico foi testado, assim como o profissional. Tomar decisões sem saber o futuro na área financeira, não é algo bom.
O perfil da liderança segue essa linha, tomar decisão com agilidade e principalmente com bastante informação. É necessário possuir o mapa de risco, bem preparado, para conhecer “onde está pisando”. O líder, além de ágil, deve muitas vezes rever as decisões – esse passo atrás jamais será demérito. Particularmente, não acredito em decisões que não possam reverter, pois a coerência deve imperar, principalmente dentro do colegiado de uma diretoria ou do conselho de administração.
Ao analisar as gerações vindouras busco pelo brilho no olhar, a sinceridade transbordante, o profissional precisa disso. Da minha parte, tenho que “enxergar a pessoa”, além de capacidades e de condições técnicas, mas também o sentimento do querer realizar, estar disposto a “vir comigo”. Isso faz todo o sentido, a sinergia é um princípio essencial. A relação se estabelece quando existe sintonia para as coisas acontecerem – sem consonância, os erros surgem de todos os lados.
Já vivi isso e as experiências anteriores me preparam para eventuais falhas. Não há projeto perfeito, equipes impecáveis, mas quando se vence a barreira dos 50% mais um, maioria das pessoas com esse perfil, abre-se o espaço para influenciar as pessoas ao redor, resultando na entrega. Os diálogos em todas as escalas hierárquicas, com os devidos feedbacks, confluem para o sucesso individual e coletivo – não existe presente melhor que receber um conselho de uma pessoa humilde. Assim, agrega-se valor e a energia positiva conduz a resultados expressivos.
Outro fator determinante rumo à evolução é não se preocupar em estar preparado para assumir determinada colocação; mas é preciso se qualificar ao longo da jornada, sem jamais se subestimar. Atingi as minhas conquistas no decorrer do caminho, sem medo de arriscar. Além disso, manter o equilíbrio correto entre corpo, mente e alma é imprescindível para seguir firme – sem saúde é impossível ir longe. Quero desfrutar do convívio em família, e poder retribuir com gratidão o apoio e suporte da minha esposa Márcia e dos meus filhos Enzo e Amabily, bem como de amigos e de amigas que convivemos diariamente e nos motivam na caminhada.
A importância do legado
Ainda quando atuava na Innova aderimos ao projeto Formare que beneficiava jovens de comunidades carentes – eles se formavam com os próprios colaboradores da empresa – cada qual aplicando o curso de sua área, ajudando-os a se encontrar profissionalmente. Um excelente projeto de inclusão, sério, que contemplava a todos. Enfim, pretendo continuar fomentando iniciativas dessa natureza.
Por Fabiana Monteiro
Aprendi desde jovem a seguir valores sólidos para me tornar um indivíduo preparado, tanto do ponto de vista pessoal quanto profissional. Nascido em Biguaçu, cidade situada na Grande Florianópolis/SC, em 1979, absorvi inúmeros conhecimentos por meio dos ensinamentos dos meus pais e do convívio na sociedade local, na comunidade da Igreja, pautados em uma criação rica e voltada para o bem-estar das relações e da importância do ser humano.
De origem humilde, observei com meu pai, José Debortoli, que era mestre de obras, e com minha mãe, Valdirce Maria dos Santos Debortoli, funcionária pública, o esforço para que eu tivesse possibilidades de crescer na vida. Filho único, sempre estudei em escolas públicas, até ingressar em Ciências Contábeis na Universidade do Vale do Itajaí, que havia instalado um campus na minha cidade, facilitando assim, meu acesso ao ensino superior, em 1999. Na época, minha mãe atuava como tesoureira da prefeitura e lidava com números, logo me influenciou no momento de optar por este curso.
Mencionando os meus primeiros passos, eu gosto de pontuar a importância de ter me destacado na vivência comunitária, pois já demonstrava o aspecto da liderança, mesmo que de maneira informal – pessoas próximas me procuravam e gostavam que eu participasse de projetos desde o início. Hoje, consigo identificar quando estou liderando, e isso é fruto de uma base bem edificada e trabalhada.
Quando optei por Ciências Contábeis, vislumbrava um mercado de trabalho pujante, pois o leque de opções de trabalho do profissional contábil é amplo, e entre o quarto e o sexto período, iniciei o estágio no escritório de contabilidade RG contadores associados, cujos sócios eram Nilson, Nilton e Solange Goedert, três irmãos de família tradicional da nossa região, onde fui bem acolhido por eles e consegui transitar entre os planos acadêmicos e laborais.
Permaneci por dois anos e, ao me formar, fui contratado para ser auxiliar contábil, como analista, e assim atuei durante cinco anos nesta firma. Já com uma certa vivência, não hesitei em investir numa pós-graduação em Gestão Tributária, também na Universidade do Vale do Itajaí. Aprimorar o meu currículo era um plano maior, haja vista que até aquela fase estava muito inserido em meras formalidades, burocracias, e aspirava por metas mais ousadas.
O sonho de trabalhar em uma grande empresa
Nunca pensei em abrir escritório de contabilidade, mas em trabalhar no ambiente corporativo, nas grandes empresas. O meu sonho sempre foi de me tornar um executivo de uma companhia renomada, da qual pudesse me desenvolver profissionalmente. Sabia deter o potencial para que a minha profissão causasse impacto junto aos executivos, era instigado por isso – já me enxergava em outra colocação profissional – inserido na parte de planejamento e gestão.
Embasado nesta estratégia, prestei concurso e ingressei na CELESC, maior estatal de Santa Catarina. Permaneci lá por cinco anos, iniciando minhas atribuições como contador, e posteriormente, após um ano, tornei-me chefe da área tributária. Novos desafios foram surgindo – fui convidado pelo diretor jurídico, Marcelo Gasparino da Silva, com quem tenho relações profissionais até hoje, para cuidar de processos administrativos tributários, e atuar em uma controladoria tributária.
Todavia, a CELESC passou por um momento de reestruturação societária. No meu caso, por ter sido um jovem com propensão à liderança, era uma referência também junto à diretoria da Holding do Grupo, conduzindo-me a novos projetos. A principal etapa se referia a implementação das Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS), em 2011. E por se tratar de uma instituição de capital aberto, era necessário reportar ao mercado e aos principais acionistas sobre as mudanças legais. Contratamos a consultoria da Price, a atual PwC, e fiquei à frente deste processo como contador responsável pelas Demonstrações Financeiras da Holding do Grupo Celesc, o que culminou em uma exposição positiva junto à administração da empresa, diretoria executiva e conselho de administração e fiscal.
Reprogramando o plano de carreira
Considero este momento como uma grande virada, pois foi quando comecei a interagir diretamente com membros do Conselho Fiscal e de Administração, que conheci a Sra. Telma Mezia, e o investidor Lírio Parisotto, que ocupavam cargos no conselho fiscal e de administração, respectivamente. Quando apresentei o trabalho que desenvolvi naquele período, a Sra. Telma indicou meu nome a Lírio que me convidou para reorganizar toda as áreas de controladoria, contábil e fiscal de sua empresa. E assim, fui atuar ao lado do Lírio, e sua ex-esposa Tânia ( in memoriam ) no estado de São Paulo, na Videolar S.A.
Tratou-se de um movimento inesperado e rápido, ou seja, com pouco tempo para ponderar as condições. Apesar de estar bem colocado na CELESC, concursado, sentia que faltava algo mais e, assim, a decisão de partir não foi um obstáculo. Durante dois anos permaneci licenciado na estatal, mas tive que me desligar devido ao sucesso que obtive. De imediato, conseguimos organizar todos os setores demandados, para podermos reportar números com mais segurança e transparência.
O Lírio teve uma ideia muito importante ao começar a apostar no segmento plástico e petroquímico, ainda enquanto Videolar, pois mais tarde tivemos a oportunidade de adquirir da Innova S.A. Em termos profissionais, este foi o meu maior desafio, embarcar nesse projeto de M&A com a compra da Innova S.A. Ficar responsável pelo processo de incorporação, alicerçando o planejamento tributário, a estrutura organizacional e a gestão financeira e administrativa centralizada.
Cito este como um grande desafio, justamente pelo fato de gerenciar pessoas durante essa reorganização. Não por acaso, aponto como o grande case da minha vida em termos de experiência, pois se antes me ocupava somente do mundo tributário e contábil, esta etapa determinou a descoberta de habilidades diversas, das quais incorporei ao meu repertório profissional. A Innova me proporcionou tal caminhada de estabilidade, como principal executivo da área financeira, assim “mergulhei a fundo”, comecei a desenvolver aptidões para lidar com todos os setores, destacando-me mais no mundo das finanças.
Pesou em demasia o desafio de gerenciar pessoas, algo que saliento como um ponto a ser trabalhado pelos líderes. Quando envolve questão técnica do trabalho na área de finanças, a principal adversidade é a de criar uma equipe coesa, que consiga angariar autonomia e que possua a percepção de conquistar seus espaços sem estar, necessariamente, vinculado ao gestor. Sempre busco gerar um processo de sucessão, dos meus gerentes, dos meus supervisores, permitindo-me voar mais alto ao deixar o trabalho bem estabelecido.
Contudo, necessitei regressar à Santa Catarina, pois fui convidado para um projeto de consultoria, junto a um grande amigo, Dr. Antônio Gavazzoni, advogado renomado e ex-CEO da CELESC, onde nos conhecemos. Apesar do excelente momento, surgiu uma outra possibilidade de destaque em meu estado natal. O conceito poderia ter funcionado, ainda que o negócio não tenha se concretizado à maneira como esperava, serviu de enorme valia, como aprendizado. Eu era um executivo e precisaria me transformar em um consultor – simplesmente não funcionou.
Na Innova alcancei essa meta e vivenciei a alegria de completar o plano pré-estabelecido. Estava “na vitrine”, e isso incomodava algumas pessoas do mundo corporativo, infelizmente, ocorre de algumas pessoas “atirarem pedras” em você. Tais indivíduos focam em buscar erros, e tentam mesmo “puxar o tapete” quando a pessoa se destaca. Quando este tipo de hostilidade aparece, é o momento de entrar em cena o perfil agregador e, acima de tudo, ser franco. Foi o que fiz com o Lírio na época, expliquei os motivos que me fizeram sair naquele momento, e ao me desvincular da companhia, tratei a sucessão, durante três meses, com êxito, sem carregar qualquer fardo.
Sendo assim, resolvi juntar toda a experiência acumulada, e iniciei um trabalho ao lado do Marcelo Gasparino, que foi o diretor jurídico da CELESC, e quem me levou para o conselho de administração da empresa, pois confiava na minha capacidade. Ele é o “braço-direito” do Lírio Parisotto, nas questões de governança corporativa e de atuação nos conselhos de administração do fundo LPar, em que Lírio tem um dos maiores fundos de investimentos de pessoas físicas na bolsa de valores.
Quando estava terminando o projeto de reestruturação da Innova, o Lírio precisava de colocar alguém no conselho da CELESC. Como eu era ex-funcionário, entrei, e assim tive o meu primeiro contato com conselho fiscal. Fiquei um ano no fiscal, outro no conselho de administração, e agora, em abril de 2022, encerro meu terceiro mandato. Enfim, considero que empenhamos um belo trabalho e deixarei para o meu sucessor dar continuidade.
Quando fui trabalhar com o Marcelo Gasparino em outros projetos, tive a oportunidade de ser indicado para o conselho fiscal da ETERNIT, onde participei junto ao Conselho de Administração da reestruturação da área tributária, bem no início do processo de Recuperação Judicial, fato que colaborou com uma gestão mais eficiente dos recursos financeiros da Companhia. Depois de um mandato no conselho fiscal da ETERNIT, fui conduzido para três anos de mandato no Conselho Fiscal da USIMINAS, do qual encerrei em abril de 2022. Com o término deste mandato, os acionistas preferencialistas da USIMINAS, elegeram-me no dia 28/04/2022 para o mandato de dois anos no Conselho de Administração, mais um grande desafio para minha carreira.
A zona de conforto é uma armadilha traiçoeira
Importante frisar a importância do Lírio em meu desenvolvimento. Não costumo tratá-lo como mentor direto, pois convivi poucos anos com ele, mas este convívio foi muito intenso, que me identifiquei por ser uma pessoa muito comprometida com o trabalho, focada em resultado, e apesar do seu jeito rude em lidar com algumas situações, tem um censo de justiça fantástico. O Lírio, como investidor, dono de empresa, uma pessoa sempre presente, que vivia, transpirava a empresa, sempre um exemplo. Aprendi muito com ele, principalmente da forma como ele lidera. Possuímos uma relação de respeito mútuo – vejo como ele valoriza o que falo, pois confia na minha capacidade técnica, e eu absorvi as lições de gestor que ele sempre implantou na Companhia. Ele é uma referência para mim, um empresário que gera empregos e riqueza para o país, inclusive a planta petroquímica de Triunfo é a única autossustentável em energia, respeitando o meio ambiente.
Além da relação profissional, considero primordial mencionar como a partir de nossa interação obtive o meu grande turning point. Quando aceitei o convite para trabalhar em São Paulo, compreendi que não precisava mais depender de um emprego com estabilidade, ficar “refém” da famigerada zona de conforto. Precisei permanecer longe da família, ter uma rotina diferenciada, realizei uma escolha difícil e renunciei a muitas coisas, apesar de ter ido com incentivos para lá. Mas abdiquei de alguns benefícios em busca do meu sonho, o de ser executivo de empresa, e estava ciente que dentro da CELESC só obteria tal cargo às custas de vínculos políticos, pois alcancei o meu auge como gerente, e dali em diante só granjearia colocações por meio de conveniências diplomáticas. Contudo, em função da indicação da senhora Thelma Mezia, consegui ir adiante na carreira – ela convenceu o Lírio a apostar em mim.
Sem medo de ser ágil, nem de recuar
Costumo dizer que estou a todo instante me reprogramando. Vide o ocorrido da pandemia, quando algo toma uma proporção inédita, algo que jamais havíamos vivenciado em termos de tomada de decisões, sem saber o que aconteceria no dia seguinte. Isso surgiu para eu entender o seguinte: as decisões, mesmo que difíceis, precisam ser tomadas com agilidade.
Durante esse período o psicológico foi testado, assim como o profissional. Tomar decisões sem saber o futuro na área financeira, não é algo bom.
O perfil da liderança segue essa linha, tomar decisão com agilidade e principalmente com bastante informação. É necessário possuir o mapa de risco, bem preparado, para conhecer “onde está pisando”. O líder, além de ágil, deve muitas vezes rever as decisões – esse passo atrás jamais será demérito. Particularmente, não acredito em decisões que não possam reverter, pois a coerência deve imperar, principalmente dentro do colegiado de uma diretoria ou do conselho de administração.
Ao analisar as gerações vindouras busco pelo brilho no olhar, a sinceridade transbordante, o profissional precisa disso. Da minha parte, tenho que “enxergar a pessoa”, além de capacidades e de condições técnicas, mas também o sentimento do querer realizar, estar disposto a “vir comigo”. Isso faz todo o sentido, a sinergia é um princípio essencial. A relação se estabelece quando existe sintonia para as coisas acontecerem – sem consonância, os erros surgem de todos os lados.
Já vivi isso e as experiências anteriores me preparam para eventuais falhas. Não há projeto perfeito, equipes impecáveis, mas quando se vence a barreira dos 50% mais um, maioria das pessoas com esse perfil, abre-se o espaço para influenciar as pessoas ao redor, resultando na entrega. Os diálogos em todas as escalas hierárquicas, com os devidos feedbacks, confluem para o sucesso individual e coletivo – não existe presente melhor que receber um conselho de uma pessoa humilde. Assim, agrega-se valor e a energia positiva conduz a resultados expressivos.
Outro fator determinante rumo à evolução é não se preocupar em estar preparado para assumir determinada colocação; mas é preciso se qualificar ao longo da jornada, sem jamais se subestimar. Atingi as minhas conquistas no decorrer do caminho, sem medo de arriscar. Além disso, manter o equilíbrio correto entre corpo, mente e alma é imprescindível para seguir firme – sem saúde é impossível ir longe. Quero desfrutar do convívio em família, e poder retribuir com gratidão o apoio e suporte da minha esposa Márcia e dos meus filhos Enzo e Amabily, bem como de amigos e de amigas que convivemos diariamente e nos motivam na caminhada.
A importância do legado
Ainda quando atuava na Innova aderimos ao projeto Formare que beneficiava jovens de comunidades carentes – eles se formavam com os próprios colaboradores da empresa – cada qual aplicando o curso de sua área, ajudando-os a se encontrar profissionalmente. Um excelente projeto de inclusão, sério, que contemplava a todos. Enfim, pretendo continuar fomentando iniciativas dessa natureza.