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Equilíbrio e coragem constroem legados, afirma Dayse Guelman, VP da AngloGold Ashanti Brasil

Com foco, disciplina e propósito, Dayse Guelman abriu caminhos e inspira novas gerações.

 (Global Partners)

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Publicado em 4 de julho de 2025 às 22h28.

Ao olhar para a minha trajetória, percebo o quanto busquei construir um perfil extremamente adequado para me destacar no concorrido universo corporativo, priorizando os estudos desde jovem, almejando o desenvolvimento constante, amparada por disciplina e comprometimento

Ao longo da trajetória, precisei superar desafios complexos, diversos preconceitos, mas jamais deixei de perseverar para contemplar os meus sonhos de prosperar, sempre com equilíbrio e foco junto às empreitadas que se apresentaram.

Como executiva de finanças, detenho o orgulho de ocupar a posição de vice-presidente na AngloGold Ashanti Brasil, conceituada multinacional do segmento de mineração, com operações expressivas no mundo todo.

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Natural de Divinópolis (MG), meus pais Juscelino e Neuza se casaram bem cedo, e logo partiram para Itaúna (MG). Meu pai era militar, e saliento que a sua participação em minha formação marcou como um divisor de águas, pois me influenciou a contar com valores sólidos para ascender em todos os âmbitos.

Pontuo que a disciplina é um fator poderoso, porque me incentivou a estudar com afinco desde cedo. Havia o amplo espaço para valorizar a busca pelo conhecimento, sempre ciente de que ninguém é melhor do que o outro – um belo conceito sobre a humildade.

Somos em quatro irmãos, e fui a única a tomar a decisão de partir para Belo Horizonte, logo após me formar em Economia pela Universidade de Itaúna (UIT). Ainda morei em várias cidades, e tenho um filho – Ian Guelman –, de 25 anos, já bem encaminhado em sua própria trajetória.

pós me estabelecer na capital mineira em busca de novas oportunidades, concluí minha segunda graduação, em Comércio Exterior, pelo Centro Universitário UNA. Mais do que um diploma, tratava-se de um curso inovador que abriu portas importantes e me proporcionou uma base sólida para minha trajetória.

A relevância do autoconhecimento e os desafios iniciais como executiva

Destaco ainda que, desde jovem, faço análise com o propósito de me compreender em profundidade. Afirmo que o autoconhecimento e a inteligência emocional são imprescindíveis para prosperar na vida, especialmente na minha área de atuação, onde lido com finanças e mineração.

Costumo prestar muita atenção no comportamento das pessoas, com o intuito de amealhar ensinamentos preciosos. Com cada chefe com quem trabalhei, adquiri aprendizados distintos, para saber o que era bom ou ruim, pleiteando fomentar o meu crescimento.

Embora tenha iniciado a carreira trabalhando em bancos, migrei precocemente para o segmento de mineração, ao trabalhar na Samarco, companhia à qual me dediquei por sete anos. Atesto como se tratava de um ambiente dominado por profissionais homens. Enfim, me deparei com diversos preconceitos no começo da trajetória, mas jamais esmoreci.

À época, existiam ideias antiquadas, casos absurdos de assédio, mas, com enorme esforço e foco em me aprimorar, superei as adversidades de ambientes hostis. Pondero como sempre tratei de me impor, pois, não raro, me confundiam com pessoas de cargos inferiores, sendo que eu já era gerente nesse período.

Saiba lidar com a pressão e evite o perigoso complexo de inferioridade

Ressalto como contava com diferenciais potentes, que quase ninguém detinha: dois cursos superiores, além de já ser fluente em inglês. Era bem raro, há 30 anos, uma mulher ser líder na área financeira, mesmo com tantas competências.

Ao refletir sobre a pior armadilha que acomete a vida das pessoas, analiso como somos nós mesmos os responsáveis por nos colocarmos em situações delicadas, como é o caso do complexo de inferioridade.

Enfim, o ato de reagir de forma desequilibrada gera situações desconfortáveis, que impactam todos os segmentos da vida. Portanto, abarco a importância de ter a certeza do meu papel em minhas empreitadas, tornando tudo mais simples.

Aprecio bastante uma frase que valida essa linha de raciocínio: “O que determinada coisa é se comparada à grandeza do Universo? Nada!” Ou seja, significa conseguir saber do que se é capaz, sem cair nas próprias armadilhas, nem cometer os mesmos erros repetidamente. Ademais, é fundamental evitar ser reativo de forma exagerada.

Certa vez, escutei de um chefe australiano que “quanto mais alto, mais forte é o vento” – algo que pode ser entendido como o aumento das responsabilidades à medida que se ascende na carreira. Quem está liderando precisa aguentar firme a pressão, com resiliência; caso contrário, erros e falhas surgirão.

Decisões complexas integram a trajetória do líder bem-sucedido

A trajetória de sucesso é repleta de decisões complexas e exige um profundo autoconhecimento, a ponto de saber até que ponto os outros podem ou não influenciar nossas ações. Quando edificamos um time com relações de confiança e abertura, e a gestão atua delegando e compartilhando responsabilidades, as coisas funcionam naturalmente.

No meu caso, reitero que o primeiro ponto envolve o negócio, uma vez que as decisões são baseadas nisso – e não no que é melhor para mim. Quando isso está claro, não se trata de tomar uma decisão ruim: é o meu trabalho fazer tudo funcionar.

Sou contratada para solucionar problemas. Tenho, inclusive, uma enorme facilidade para identificar quando uma companhia não vai bem e precisa de ajustes, ainda que por meio de medidas consideradas duras. Alinhar processos, inclusive realizar demissões e realocar

pessoas, faz parte do meu escopo. Eventualmente, demissões ocorrem para que outras três mil pessoas permaneçam empregadas.

Comecei na AngloGold Ashanti em agosto de 2023, em um cenário extremamente desafiador. Geralmente sou contratada para transformar processos, tomar decisões complexas e reestruturar equipes. São ações que envolvem grande parte do negócio, mas que jamais devem ser conduzidas com injustiça em relação aos indivíduos envolvidos. Meu objetivo é tornar o negócio melhor e, por ser uma pessoa bastante racional, não tenho dificuldades em dizer “não” quando necessário.

É importante esclarecer que não existem profissionais ruins – o que existe, muitas vezes, são pessoas alocadas em posições inadequadas para determinado momento.

Assim, para alcançar os resultados previamente definidos, o caminho passa por realocar as pessoas certas nas funções adequadas. Definitivamente, o resultado vem da entrega do time, já que ninguém realiza nada sozinho.

Habilidades comportamentais e relacionamentos sadios fomentam a jornada

As relações de confiança são essenciais, com o engajamento das equipes. Para tal, é imprescindível explanar as regras de ouro do universo corporativo. E regras são regras, especialmente as de convivência, com alinhamento acerca dos objetivos, com o respeito imperando coletivamente.

Sempre trato de explicar para os times como somos pares. Preciso estar próxima aos colaboradores, sem frieza, tendo em vista saber como as pessoas se sentem, algo que se torna viável a partir de agir com foco em transparência e abertura ao diálogo. É uma tarefa que requer real cuidado junto aos colaboradores, o olhar atento – quando cuido da equipe, cuido de mim também.

Considero que essa diretriz está completamente relacionada ao sentimento de pertencimento, de fazer com que a pessoa se sinta parte de um time. Em função disso, o formato online definitivamente não me agrada, porque é inviável criar uma equipe de alta performance sem estar próxima, buscando o entrosamento com os indivíduos. O time de alta performance precisa compreender objetivos e metas com clareza, pois decisões difíceis são tomadas todos os dias.

No momento de formar uma equipe, priorizo os critérios comportamentais. Tais competências são os melhores instrumentos e indicadores de avaliação, embora os aspectos técnicos nunca possam ser desconsiderados.

Caso a pessoa seja proativa, com o perfil interpessoal positivo, detentora de habilidades comunicativas, além do desejo em realizar, terá tudo para prosperar.

O lado técnico é valioso, mas é algo que pode ser aprendido e complementado ao longo da jornada. Sou uma líder que analisa muito a história de vida da pessoa, por compreender a relevância do perfil de cada qual, com o foco em fomentar o espírito de equipe.

A revolução digital é benéfica e deve ser encarada com seriedade

Acerca da revolução digital – tema bastante em voga – ressalto que ainda não utilizamos tantas ferramentas. Temos certo receio em adotar algumas inovações devido à confidencialidade dos dados, o que exige um alto nível de proteção. Todavia, na vida pessoal, aprecio desfrutar de inúmeros benefícios e plataformas específicas.

Observo que o grande ponto da inteligência artificial é automatizar o básico, permitindo que possamos dedicar mais tempo à análise. Sou entusiasta da tecnologia, porém acredito que a qualidade dos processos se estabelece por meio dos relacionamentos, dos acordos combinados e previamente definidos, sustentados por uma comunicação ativa.

As inovações já estão fortemente conectadas à parte técnica do negócio – o avanço tecnológico será benéfico, inclusive na descoberta de novos minérios. Outras soluções também surgirão, como o carro elétrico, algo impensável há alguns anos. A evolução natural da tecnologia impactará diretamente uma mineração mais sustentável, aspecto essencial nesta atividade.

É fato que inúmeras profissões desaparecerão, mas isso faz parte do progresso – algo que já ocorreu em outras épocas com o surgimento de novas carreiras. O mundo continuará tendo espaço para todos, desde que as pessoas sejam capazes e estejam devidamente qualificadas, pois a vontade e a perseverança são princípios inegociáveis.

Portanto, a atitude de apenas reclamar em nada contribui para o crescimento de quem almeja evoluir. Sou a prova dessa linha de pensamento, tendo em vista que vim de baixo, oriunda de uma cidade do interior, e me tornei a primeira mulher, em 190 anos de empresa, a ocupar um cargo de presidência na AngloGold Ashanti.

O segmento de mineração deve estar alinhado com as práticas ESG

É importante salientar que a atividade de mineração nunca contou com uma imagem muito positiva, apesar de se tratar de algo essencial. Embora problemas sérios tenham ocorrido, há uma necessidade premente de que as pessoas conheçam melhor o setor.

A mineração é necessária, e não há como executar os processos sem alterar, de alguma forma, o entorno das operações. Logo, efetuar um amplo projeto de conscientização é essencial, para que organizações e sociedade se alinhem. Os grupos do segmento devem cumprir regras rigorosas, com ênfase na segurança, porque é uma atividade de nível 4 na classificação, a mais alta de todas.

Portanto, junto ao Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), a partir de compromissos assinados, nos prontificamos a mudar a imagem da mineração, assim como outras empresas o fizeram. A tendência é a de renovar as perspectivas, porque tratamos de implementar medidas inovadoras, pleiteando equilibrar as ações com a devida segurança.

Indubitavelmente, são atitudes que proliferam e ajudam as comunidades envolvidas – é inviável discutir o ramo da mineração a qualquer custo, sem pensar nas consequências. Com os processos sendo realizados com responsabilidade, dirimindo riscos, todos ganham.

É óbvio que as práticas ESG vieram para ficar e aprimorar os procedimentos, independentemente do segmento de atuação. E é preciso enfatizar que não se tratam de medidas paliativas, mas de planejamentos sólidos, tendo em vista o futuro.

A minha posição demanda empenhar ampla atenção ao tema e, assim, busco introduzir medidas que gerem ações positivas para a empresa e a sociedade. Sigo fielmente o lema de que a segurança deve vir sempre em primeiro lugar.

O legado constituído com equilíbrio representa o real sucesso

Há um fenômeno relevante que precisa ser tratado com seriedade: o comportamento das novas gerações. Pessoas que evitam estudar ou trabalhar padecem de baixa autoestima, algo que gera efeitos terríveis – o medo de falhar impede que muitos jovens sequer tentem.

Mesmo com medo, é importante correr atrás dos seus sonhos, buscando alcançar os objetivos. É bastante difícil compreender como alguém pode considerar normal não participar de nada, sem se sentir útil.

Incentivar os indivíduos a deixarem algo, como um legado inspirador, é uma medida essencial para quem já trilha um caminho bem-sucedido.

Posso exemplificar que enriqueci meu repertório ao assistir a uma palestra da Oprah Winfrey, uma mulher extraordinária, detentora de pensamentos magníficos. Trata-se, enfim, da capacidade de realizar com a intencionalidade de melhorar o mundo, contribuindo de alguma maneira.

Ao analisar o conceito de “sucesso”, recordo como pensava de forma diferente quando jovem, ao trabalhar na Samarco. Naquela época, considerava que alcançar o êxito profissional significava ser promovida e chegar ao 9º andar do prédio, onde ficava a diretoria – ou seja, envolvia status e ascensão hierárquica

Atualmente, depois de tantas experiências valiosas, tenho a convicção de que sucesso simplesmente é poder conseguir conciliar a vida profissional com a pessoal. Portanto, me dedico a realizar as coisas que gosto, como viajar, sempre em equilíbrio, de bem comigo mesma e cuidando da minha saúde.

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