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'Empodere seu time e veja os resultados', fala Alexandre Flaith - Gerente Geral da Quest Diagnostics

Confiança gera autonomia — e times autônomos performam mais

 (Global Partners)

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Publicado em 31 de maio de 2025 às 00h40.

Última atualização em 31 de maio de 2025 às 00h41.

Confiança gera autonomia — e times autônomos performam mais. A leitura é algo que me acompanha desde a primeira infância. Lembro que “devorava” qualquer livro que caía na minha mão e, inclusive, havia noites em que, após ser colocado para dormir, ficava quietinho esperando todos adormecerem para ficar lendo à luz de uma arandela.

Tinha um apetite voraz por aprender e nutria em mim a vontade de descobrir, através dos olhos de diversos escritores, um mundo diferente, repleto de possibilidades. E esta ânsia em conhecer outros países, culturas e conhecimentos me fez consumir, ao longo da vida, absolutamente tudo o que chegava à mão.

Esta habilidade benéfica, associada à exigência dos meus pais em relação à educação, foi determinante para o sucesso profissional. Sempre estudei muito, não só porque ambos eram muito rígidos com isso, mas também porque minha mãe, professora primária de uma escola particular, tinha como benefício uma bolsa de estudos aos filhos. E eu e minhas três irmãs, como bolsistas, tínhamos a missão de sermos excelentes alunos dentro de uma instituição que oferecia altíssima qualidade de ensino.

Nasci na cidade de São Paulo e morei no bairro de Vila Santa Catarina, zona Sul da capital paulista. Dentro de casa nunca nos faltou nada, mas também nunca sobrou. Tínhamos limitações e, exatamente por isso, aproveitar as oportunidades que surgiam à nossa frente era crucial. Assim foi quando ganhamos a bolsa de estudos. E também quando consegui aprender inglês gratuitamente com a mãe de um amigo, que era professora, competência que fez toda a diferença na minha história.

A cobrança por boas notas e o fato de estar inserido em um ambiente no qual todos tinham recursos faziam eu me sentir um pouco deslocado, visto que a minha realidade era bem diferente. Isso me fez ser uma pessoa de poucos amigos, que estudava muito e interagia pouco. Em contrapartida, fui o melhor aluno do colégio nos três anos do Ensino Médio, feito que abriu a primeira oportunidade de trabalho. Aos 15 anos, comecei a dar aulas particulares de Exatas para colegas da classe e, posteriormente, para alunos de outras salas, despontando como alguém que tinha algo considerado valioso para os outros: conhecimento.

A importância do networking

Fiz Engenharia Eletrônica no Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), na cidade de São Caetano do Sul (SP). O primeiro estágio foi no setor de informática da Prefeitura de São Paulo, e nos dois últimos anos da graduação o trabalho foi na ASEA Brown Boveri (ABB), que trabalha com equipamentos para automação em grandes indústrias e fica instalada em Osasco (SP). Nesta época, a rotina era bem corrida e o deslocamento grande. Como dividia o carro com a irmã mais velha, tínhamos que fazer verdadeiros malabarismos para conseguir ajustar todos os horários usando um único veículo. E quando as manobras não funcionavam, a solução era usar o transporte público para cruzar os mais de 100 quilômetros diários que eu tinha que percorrer.

Prestes a me formar, o gerente que me supervisionava no trabalho disse que eu estava atendendo às expectativas e iria ser efetivado. Porém, houve uma mudança interna logo em seguida, fui remanejado para outro departamento e, semanas depois, no dia da assinatura da efetivação, descobri que seria desligado. E assim, do dia para a noite, me encontrei de mãos vazias e comecei a procurar emprego.

Foi quando um dos amigos da faculdade me informou sobre um anúncio que havia visto no mural do Centro Acadêmico. A vaga era para uma empresa americana, que exigia inglês fluente e disponibilidade para viagens internacionais. “É o seu perfil! Deveria ligar para eles!”, me disse, na ocasião. Segui o conselho, participei do processo seletivo e dois meses depois estava devidamente contratado na Thermo Fisher Scientific, onde permaneci por mais de 13 anos.

Esta situação mostra, na prática, a importância do networking. As oportunidades, as respostas, os recursos e as ferramentas muitas vezes vão vir de lugares inacreditáveis. Networking é estar conectado, compartilhando com a rede, e não só receber ou buscar alguma coisa que você queira.

Tem que haver uma troca. E muitas vezes, aquilo que busca (ou o que nem sequer sabe que precisa) vai vir dessa rede. Então, estar ativo e compartilhando traz benefícios inimagináveis.

Invista em parcerias

Comecei a nova jornada em março de 1998 como engenheiro de campo. Assinei o contrato e, de repente, me vi encarregado de atender toda a América Latina, visitando os clientes, instalando e dando manutenção aos equipamentos desta região. Essa foi a rotina por cinco anos, período em que aprendi espanhol e visitei muitos países.

Após estes cinco anos, surgiu a oportunidade e mudei recém-casado para os Estados Unidos,onde fiquei dois anos dando suporte técnico para clientes nas Américas e na Europa. À medida que fui evoluindo como pessoa e como profissional, comecei a ter mais clareza do que queria. E cheguei à conclusão que deveria desbravar um novo nicho: o comercial. Quando a companhia informou que precisava de alguém para ajudar a transferir o negócio onde eu trabalhava para a Europa, na hora me coloquei à disposição. Era um trabalho técnico, mas também de suporte a vendas, e migrei com a esposa dos Estados Unidos para a Europa.

Lá, trabalhava junto com um gerente de vendas e firmamos uma parceria. Afinal, eu tinha o conhecimento técnico que ele precisava para vender bem, e ele o conhecimento comercial, conexões e habilidades de negociação. Nesse período, entre uma viagem e outra, tive a oportunidade de aprender muito sobre essa área que desejava. Quando íamos às reuniões, nos preparávamos. E, ao final de cada uma delas, buscávamos fazer um balanço do que havia dado
certo e errado.

Acompanhe o time e domine a capacidade de estar em diferentes níveis da operação

A liderança deve ser inspiradora e próxima do time e dos clientes. Vejo muitos líderes distantes que só focam no interno, não buscam entender o mercado, a concorrência e as tendências macro e microeconômicas que afetam o negócio. Certamente estas não são lideranças que inspiram. O líder deve estar na linha de frente o máximo que puder, visitando clientes, passando um tempo com a equipe, olhando de perto o negócio. Essa proximidade com o time e o mercado é
ltamente benéfica e mostra a capacidade do líder em navegar em níveis diferentes, apresentando algo ao Conselho de Administração e, ao mesmo tempo, estando cara a cara com o cliente, discutindo questões operacionais.

Outra característica importante é ser dinâmico e, ao mesmo tempo, servidor, aquele que entende que todo mundo, dentro e fora da empresa, é seu cliente. Eu tenho que servir as pessoas que fazem parte da minha equipe, assim como tenho que servir os funcionários da empresa para que eles possam dar o seu melhor todos os dias. O que precisam para ter uma alta performance? É minha responsabilidade não só entender isso, mas também o mercado. O que os clientes buscam?

Por que acreditam que a concorrência está fazendo um melhor trabalho ou tem um produto de qualidade superior? Ser capaz de trazer consenso, equilíbrio e harmonia, de trazer respostas e apresentar isso de uma forma que traga resultados tanto a curto quanto a longo prazo, é o perfil
do novo líder. Equipe empoderada desenvolve autonomia e amplia resultados Empodere as pessoas que confia para que elas possam fazer o que precisa ser feito. E seja
adaptável e conheça o seu segmento a fundo, pois o mercado muda muito rapidamente e é importante estar preparado para cada alteração. Essa habilidade é fundamental, assim como a empatia, o empoderamento, a confiança e a adaptabilidade.

Esteja em estado de movimento

A mudança sempre foi uma constante na minha vida. E não falo só de mudança de um país para outro (o que, ao todo, ocorreu por seis vezes), mas também de desafios. As viagens para outros países, por exemplo, me forçaram a aprender outro idioma e a me adaptar a novos locais e a novas culturas. Da mesma forma, quando olho especificamente para o trabalho, vejo que as missões que me foram dadas nas empresas onde trabalhei me trouxeram a possibilidade de vivenciar experiências muito diversas, que me forçaram a repensar e buscar ferramentas e fontes para ajudar a atender às expectativas esperadas.

Este movimento permanente traz entraves e benefícios em diversos âmbitos, te forçando a ser mais adaptável e sociável, além de te fazer lembrar que as dificuldades que surgem a cada dia são momentâneas, mas o benefício que advém deste processo é de longo prazo. Esteja aberto a crescer e se adaptar. As pessoas que estagnam acabam parando no tempo, e isso é muito limitante.

Planejamento e clareza fazem parte de um bom desenvolvimento profissional

A falta de clareza sobre o destino onde se quer chegar e o entendimento das suas fortalezas e deficiências são grandes armadilhas para o desenvolvimento profissional. Vejo que sempre tive muita clareza de onde eu queria ir. E, quando chegava ao destino traçado, já estava pensando no próximo.

Este planejamento deve ser entrelaçado com um entendimento honesto do que você traz à organização. O que tem de qualidades? O que precisa melhorar? Faça esta reflexão e busque agregar conhecimentos, habilidades e ajuda de algum mentor, para que possa desenvolver o que precisa e entregar os resultados desejados.

Siga o seu porquê

Nos diferentes estágios da vida, almejamos coisas diferentes. Então, durante a sua jornada, tenha clareza do que quer e onde planeja chegar. Isso vai ser a sua estrela guia, o seu norte. Desenhe um plano para obter os recursos que faltam e maximizar aqueles que você já possui. Esteja preparado para mudar a rota constantemente, pois a vida muda, os desafios caem no nosso colo sem aviso prévio e nossas prioridades e objetivos também mudam o tempo todo.

Esteja alinhado ao porquê antes de aceitar qualquer desafio ou posição, e isto vai ajudar a evitar decepções e dificuldades ao longo do caminho. E lembre-se: em posições de liderança, seja capaz de subir e descer diferentes níveis da organização e de se fazer presente junto ao seu time, pois, no final das contas, são eles que fazem as coisas acontecerem e trazem as respostas que precisamos. Ninguém resolve tudo sozinho. O fator humano, no final das contas, é o que conta e vai trazer os resultados de sucesso.

Leitura recomendada por Alexandre Flaith:
O Alquimista, de Paulo Coelho. Editora Paralela, 2017.

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