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Desafios são oportunidades e demandam desenvolvimento constante, afirma Tiago Pagotto

Na coluna desta semana, conheça a história Tiago Pagotto, vice-presidente de vendas na América do Sul na Lear Corporation

Na coluna desta semana, conheça a história Tiago Pagotto, vice-presidente de vendas na América do Sul na Lear Corporation (Divulgação/Editora Global Partners)
Na coluna desta semana, conheça a história Tiago Pagotto, vice-presidente de vendas na América do Sul na Lear Corporation (Divulgação/Editora Global Partners)

A inspiração adquirida desde jovem me motivou a alicerçar um perfil guarnecido por princípios sólidos, como a ética, o respeito e a como liderar pelo exemplo. Sempre disposto a melhorar em minhas empreitadas, foco em comunicação assertiva, tendo em vista propiciar ambientes sadios de trabalho – fatores que busco transmitir às outras pessoas. Desta forma, detenho a honra de atuar há 25 anos na Lear Corporation, como vice-presidente de Vendas na América do Sul. 

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Sou natural de Capivari (SP), mas logo me mudei para Piracicaba (SP) para cursar o Ensino Médio, sendo que fui criado pelos meus avós maternos (Labibe Roston Jannuzzi e José Leonardo Jannuzzi), fontes de inspiração para a vida toda. A minha avó (Labibe) foi professora de Língua Portuguesa, se capacitou, teve interesse em estudar inglês por conta própria, e sempre me incentivou a ler e escrever, com o intuito de incrementar o meu repertório.  

Tais ensinamentos foram fundamentais ao constituir a minha trajetória, haja vista como tudo passa pela capacidade de comunicação. O meu trabalho demanda, além da parte técnica, a ampla habilidade de conseguir dialogar de forma assertiva com as mais diferentes pessoas. 

Sinto-me afortunado por ter provido a mesma inspiração ao meu filho Guilherme, estudante de Engenharia Química na Unicamp. Apesar de deter o viés da Engenharia, ele é um ávido entusiasta de outras áreas. Certa vez, em uma viagem ao exterior, ele fez questão de visitar museus, livrarias, e tem como um dos seus escritores favoritos o mestre Franz Kafka. Vejo como tudo isso derivou da orientação provida pela minha avó. 

No meu caso, pondero como me ajudou a escolher precocemente o meu rumo, pois decidi cursar Administração na Pontifícia Universidade Católica de Campinas, graduando-me em 1994. Ainda realizei um MBA na Fundação Getulio Vargas (FGV), em Gestão Empresarial, além de ter realizado outros cursos de gestão e gerenciamento de programas e especialização em negociação. Recentemente, concluí o curso de CEO Academy, um projeto disruptivo, apresentado nos EUA.  

A prática de atividades esportivas é algo que considero fundamental, pois além do aspecto da saúde física, contribui muito para o desenvolvimento pessoal. Fui professor de tênis entre os 16 e 18 anos, e esta experiência me ajudou bastante no meu desenvolvimento. 

 O início da trajetória executiva dentro de multinacionais renomadas  

Durante a universidade, iniciei a carreira na Bosch (Campinas), como estagiário. Conforme angariei conhecimentos, ascendi a trainee, até ser efetivado na multinacional alemã. Já em 2000, recebi a oferta para integrar a Lear Corporation, multinacional norte-americana, na qual me encontro há mais de 25 anos. Desde 2011, ocupo a posição de VP de Vendas para a América do Sul.  

A proposta abarcava trabalhar em São Paulo, e a minha a família possuía um apartamento em Santos (SP). Assim, conseguia efetuar as minhas tarefas na capital paulista, mesmo morando no litoral. Contudo, quando o meu filho estava prestes a nascer, eu e minha esposa decidimos regressar a Campinas.  

É algo bem impactante em termos de qualidade de vida, haja vista como posso conciliar as minhas diversas atividades – incluindo hobbies – sem ter de viajar tanto. Além disso, o home office facilita a rotina, permitindo que eu equilibre bem a vida pessoal com a profissional.  

Nesse período de Lear, cheguei a sair durante um ano para atuar na Faurecia, multinacional francesa também do setor automotivo. Mas logo fui chamado de volta e, ao retornar, assumi mais responsabilidades, galgando degraus valiosos na companhia. Essa é a minha carreira, com passagens por três grandes multinacionais, sendo que na Lear venho constituindo uma jornada repleta de conquistas e desafios. 

As experiências relevantes rumo à ascensão como VP da Lear 

Ao ser promovido na Lear, nem sequer hesito em apontar como essa transição marcou como o meu grande momento profissional. Havia uma reunião importantíssima para o futuro da empresa e fiquei encarregado de ser o representante da organização.  

Enfim, tratava-se de um encontro da FIAT, em Turim (ITA), com o propósito de estabelecermos os rumos da companhia na América do Sul. A FIAT é uma das maiores clientes da Lear, englobando toda a carteira da Stellantis, detentora das marcas Abarth, Alfa Romeo, Chrysler, Citroën, Dodge, DS, Fiat, Jeep, Lancia, Maserati, Opel, Peugeot, Ram e Vauxhall.  

À época, estávamos trocando plataformas, com novos lançamentos, e precisávamos ganhar essa concorrência. Caso contrário, a empresa seria bastante reduzida no Brasil. Significou como uma experiência disruptiva, sendo que tive uma performance excelente, permeada por dedicação. Permaneci uma semana negociando, diuturnamente, sob enorme pressão.  

Além disso, havia a fábrica na Venezuela, cuja operação ninguém queria assumir. Mas tratei de cuidar bastante desse setor, assim como aceitei missões na Argentina, dentro de um mercado volátil, por conta das variações cambiais, com muitas dificuldades para realizar negócios e acordos comerciais.  

Encarar tais cenários com as montadoras definitivamente me posicionou em outro patamar. Reitero como isso exige esforço e a capacidade de solucionar obstáculos complexos. Indubitavelmente, a minha maior responsabilidade é a de representar a empresa com maestria no mercado de vendas e no relacionamento com os clientes. 

 

O árduo caminho para vencer no concorrido setor automotivo  

Reitero como o setor automotivo é bastante duro – considero como uma das atividades mais desafiadoras, principalmente pela dificuldade de conseguir negociar reajustes de preços dentro das montadoras. Enfim, assevero como esse desafio representa a oportunidade de realizar as coisas.  

Como vice-presidente, estou à frente de US$ 1 bilhão em vendas anuais. Ao considerar o contexto brasileiro, isso demonstra a magnitude da empresa. Nossos negócios incluem a produção de assentos automotivos e sistemas elétricos, e detemos 55% do mercado nesse nicho. Os outros 45% são divididos entre sete empresas, o que evidencia a nossa participação expressiva em um ambiente complexo, devido aos valores envolvidos. 

Saliento, contudo, como há 25 anos o negócio era muito diferente. Hoje, pautas urgentes ditam as novas formas de conduzir os processos, englobando o ESG, a diversidade, a equidade, a inclusão. A Lear possui a certificação Great Place To Work® (GPTW), algo extremamente valoroso para nos mantermos na liderança.  

No começo da carreira, lidava com o pessoal mais “old school”, e ter passado por isso me ajudou. Aprecio lidar com os desafios constantes e, para tal, tratei de me capacitar, tendo em vista mudar o modelo antigo, porque detenho a visão diferenciada, de estar sempre buscando melhorar.  

Observei bastante a questão da falta de respeito em reuniões, no cotidiano corporativo. Pensava em minha família, e isso me incomodava – queria manejar a carreira de outra forma. Saliento como aprendi lições com maus exemplos, mas soube contornar tais adversidades.   

Desde jovem, precisei tomar decisões ousadas, até para ajudar a sustentar a minha família. Sou autodidata em inglês, aprendi o essencial escutando músicas – inclusive, sou colecionador de vinis – e me empenhando. Já na época da Bosch, ao atuar com comércio exterior, pude aperfeiçoar o espanhol, devido aos contatos e interações.   

A importância da inovação em prol das pessoas e negócios 

O banco do carro conta com uma gama diferenciada de tecnologia, e somos referência nesse campo. Isso inclui o gerenciamento de distribuição elétrica e a conectividade avançada que oferecemos. A utilização de componentes eletrônicos, como massageadores, airbags, ventilação, além de assentos que medem batimentos cardíacos e emitem alertas em caso de emergência, são diferenciais potentes.  

A Lear está fortemente focada em inovação, desenvolvendo tecnologias que buscam conforto, mas principalmente priorizam a segurança. A primeira etapa na montagem de um carro envolve a instalação da fiação e dos componentes elétricos, como o painel e o controle de luzes, todos integrados aos chicotes elétricos.  

É inconcebível montar um carro sem os itens de segurança adequados, que requerem testes rigorosos e o tempo necessário para garantir que tudo seja feito corretamente. A Lear trata esse tema com a máxima seriedade – afinal, estamos falando de vidas. Eu assino os contratos da parte comercial, junto ao departamento jurídico, para garantir que tudo seja realizado dentro das normas, com embasamento sólido e critérios rigorosos. 

A Lear conta com aproximadamente 180 mil funcionários no mundo todo e está presente em 38 países. 

O que acontece no exterior abre grandes oportunidades para nós. Precisamos estar atentos e sermos competitivos, com agilidade. Dessa forma, a nossa região continuará com credibilidade, gerando ainda mais oportunidades de investimentos, renovação de tecnologia e, consecutivamente, empregos.  

O nosso produto é labor intensive. Não existe uma máquina que faça funções intrínsecas pertinentes aos nossos serviços. Enfim, exige amplo esmero na produção, pois, se enviarmos algo com defeito, o carro simplesmente deixa de funcionar. É uma grande responsabilidade que demanda tecnologia avançada. 

Ética e compliance são questões inegociáveis em todos os âmbitos  

Ressalto como aprecio atuar junto ao RH, pois gosto bastante de contribuir em outras frentes. Sou uma das referências da companhia, por estar há bastante tempo no grupo, além de contar com a confiança do presidente, do CEO e dos demais líderes.  

Após tanto tempo de carreira, enfatizo como a ética e o compliance são questões inegociáveis em qualquer segmento. É evidente que a busca por resultados é essencial, mas, mesmo sob pressão, fazer o certo está acima de qualquer coisa.    

Temos ações na Bolsa de Nova Iorque, ou seja, jamais pode-se pensar em tomar atalhos para atingir metas. A matriz fica em Detroit, portanto, há de se analisar o cenário como um todo, inclusive, acerca do budget, objetivos preestabelecidos, passando por conversas duras. E estamos crescendo, com clientes novos, com destaque para o mercado asiático.  

Ressalto ainda como é fundamental atuar com humildade, gerando confiança. Liderar pelo exemplo é essencial, pois isso resulta em uma equação eficaz e funcional. 

Noto como a falta de respeito, de humildade, o ato de tentar “achar jeitinho” para resolver as coisas, caracterizam grandes armadilhas profissionais. Não há espaço para isso.  

Uma das minhas principais funções é saber como os meus pares estão atuando em outras regiões, deter a noção global do business. As condições precisam ser parecidas, mas levando-se em conta os contextos de cada país, obviamente. Menciono, como exemplo, o fato de os executivos brasileiros serem muito procurados devido à experiência adquirida ao lidar com a hiperinflação. 

O líder deve priorizar as pessoas e atuar com humildade e respeito   

o analisar o perfil do líder contemporâneo, exalto a importância de compreender as próprias fortalezas. Não adianta querer ser especialista em todos os aspectos – isso é inviável. O correto é potencializar aquilo que se faz bem e compor um time diverso, com perfis complementares. Dessa forma, edifica-se uma equipe forte, capaz de contemplar todas as fortalezas.  

Realizo bastante o “one and one” e o “skip level meetings”, com o propósito de alinhar os objetivos. Obviamente, conto com os meus diretos, mas valorizo estar em contato e conversar com todos, sobre assuntos diversos. Algo importante é conhecer os indivíduos, quais são seus hobbies, peculiaridades, para depois falarmos de metas claras. Por meio dessa prática, recebo feedbacks efetivos. Ademais, ao ajudar as pessoas com treinamentos, job rotation, capacitação, ajustando eventuais pontos, todos saem ganhando.  

O GPTW também é essencial. Quero que todo mundo tenha a visão do business, que integrem esse universo. Falo com os diretores de outras áreas: quem faz a venda são vocês, enquanto eu e o meu time negociamos as condições.  

Isso propicia o sentimento de união, de ser dono do negócio. Logicamente, requer agir com humildade, respeito, além de evitar resolver sozinho as coisas, e de lidar com a pressão, sem tomar decisões equivocadas por pressa.  

Nesse ponto, destaco a relevância de buscar ajuda quando preciso, algo que pode ser efetuado por meio do coaching. Inclusive, sou mentor na empresa, e contamos com um processo estruturado, oficial de mentoria.  

É valioso poder contribuir para o desenvolvimento das pessoas e ser uma referência positiva. Faço essa mentoria individualmente, apostando em profissionais de alto potencial, com foco no plano de sucessão. Realizamos várias sessões ao longo do ano, com acompanhamento técnico e a percepção do próprio líder. 

Essa temática é primordial, porque precisamos realmente pensar em quem estará preparado para conduzir a companhia no futuro. Na Lear, também estou incumbido de formar a nova geração de diretores.    

A comunicação e o “querer” criam ambientes positivos e prolíficos  

A participação efetiva de todos é fundamental para sedimentar o ambiente de trabalho sadio e prolífico. Os envolvidos devem se sentir parte do negócio, compreendendo como estão auxiliando na construção dos objetivos. Enfim, com essa mentalidade, abrem-se as portas para as oportunidades.  

Costumava guarnecer mais janelas de skip levels. Agora, deixo à vontade para quem quiser participar – isso deriva em notar quem, de fato, está a fim de se desenvolver, deparar-se com desafios. O querer é fundamental para ascender profissionalmente.  

Chamo todo mundo para participar das reuniões, tendo em vista explicar os processos. Assim, cria-se o ambiente positivo – até torna mais fácil de cobrar posteriormente, pois o planejamento foi exposto e conversado. A comunicação é a chave, haja vista como a parte técnica se adquire, basta estudar.  

Saber se comunicar e transitar para avançar do nível gerencial em busca de uma nova direção demanda diálogo. Isso envolve compreender a parte política do mundo corporativo e ter uma visão ampla do negócio. Busco ajudar exatamente nesse aspecto, transmitindo meu conhecimento adiante.  

Assevero como a prioridade sempre é entender as pessoas, como estão suas vidas no aspecto privado. Batalhei para aderirmos ao home office, mesmo antes da pandemia. Viajava bastante e sentia que poderíamos render mais, pois não fazia sentido realizar reuniões presenciais com pessoas necessitando se deslocar.  

O ambiente virtual ajuda bastante, mas cada pessoa deve estar ciente de seus compromissos. Efetuamos um piloto antes da pandemia, portanto, enfrentamos a crise sanitária devidamente preparados.  

Desafios são oportunidades e demandam desenvolvimento constante  

Quando a pessoa está fazendo algo errado, ela sabe disso. As empresas estão muito abertas a ajudar – quem quer melhorar, contará com o apoio do gestor. Adversidades fazem parte da vida – não raro, é preciso trabalhar a mais algum dia, o importante é que isso não se torne regra.  

Pontuo que desafio é igual à oportunidade; sempre encarei dessa forma. Com 20 anos, já sabia que precisaria fazer mais e melhor, e acredito que tudo o que faço retorna ainda melhor para mim. Ao longo da minha jornada, acumulei conhecimentos diversos, conheci pessoas brilhantes e líderes prestigiados. Tive a sorte de estar ao lado de grandes executivos na Lear. No entanto, tudo isso remete à base, às questões familiares. Ao aprender a fazer as coisas de forma correta desde jovem, amparado pelo respeito, alicercei um caráter sólido. 

Ao me dirigir às novas gerações, aconselho com veemência: cuidado com o uso excessivo das redes sociais. A vida real não é essa; tem de ler e escrever, saber se comunicar. Não é o post bonito no Instagram que fará a pessoa ascender profissionalmente. É sobre a amplitude de conhecimentos, de aprender mais e melhor. Os jovens precisam se capacitar, encarando os desafios com dedicação e afinco.  

Menciono como o meu filho tem o perfil curioso e proativo, especialmente sobre noções de educação e gestão financeira. Compartilhamos informações e conselhos sobre o tema. Certa vez, o aconselhei a investir, e ele foi estudar sobre como aplicar. Enfim, demonstra como o preparo adequado rende frutos e prosperidade. 

Por fim, tenho enorme gratidão pelas oportunidades que tive e agradeço à minha família (Gislaine – esposa, Guilherme – filho, pais, avós, primos e tios) por todo o apoio e incentivo que sempre recebi nesta minha jornada!