Delegar não é abdicar, e sim multiplicar poder, afirma Rafael Vaz
Rafael é CEO da GlobalFruit e sempre quis criar sua própria trajetória
Colunista
Publicado em 2 de agosto de 2024 às 13h26.
Última atualização em 2 de agosto de 2024 às 20h40.
Sempre quis criar minha própria trajetória. Puxei da minha mãe, Janete Vaz, a bioquímica e uma das fundadoras do Grupo Sabin Medicina Diagnóstica, a genética do empreendedorismo. Eu me recordo que, ainda criança, aos domingos, meus irmãos e eu íamos com minha mãe para a empresa após sairmos da igreja. Lá, ela assinava com zelo e cuidado cada laudo para liberação. Desde pequeno, vivenciei a importância do trabalho e da ética em casa. Conforme fui crescendo, comecei a vislumbrar as possibilidades de me embrenhar no universo do empreendedorismo.
Nasci em Brasília e recebi do meu pai o incentivo para desbravar o mundo, conhecendo lugares e pessoas dos mais diferentes países. E uma das grandes experiências obtidas neste sentido foi em 2002, aos 15 anos, quando passei um ano na Nova Zelândia. Morando em uma casa de família, precisei aprender a respeitar outra cultura, falar outro idioma e me virar sozinho. Diria que passei de menino para homem dentro de meses, pois este caminho de aprendizados me fez enxergar outras possibilidades e me trouxe um sentido mais aguçado em relação a cuidar do próprio dinheiro e administrar os recursos.
Quando voltei para o Brasil, tinha claro o meu objetivo: seguir no mundo dos negócios. A essa altura, o Sabin já era um grupo bem-sucedido e assumi um dos postos com a pretensão de honrar o cargo ocupado, com o intuito de ser reconhecido não só por ser um dos herdeiros, mas por meritocracia de tudo o que poderia oferecer. Passei por quase todos os setores da empresa, vivenciando cada um deles para entender qual seria a minha vocação. Foi um período em que pude perceber quais habilidades eram importantes em cada área. Nessa fase, comecei a me aprofundar no nicho de Administração, área que escolhi para cursar no ensino superior, concluído em 2008 pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB).
Dedique-se em todas as etapas e aprenda com todas elas
Durante minha estada no Grupo Sabin, houve o investimento em um novo negócio, voltado à análise de alimentos, e fui convidado para gerenciar essa operação. A partir deste período, comecei a adquirir mais experiência no que se refere à gestão de pessoas e negócios. Em dois anos, saí de uma equipe de oito para 35 pessoas e encarei grandes desafios: aprender sobre o negócio, buscar a certificação, entender a metodologia e gerenciar toda a equipe. Ao final do processo, a operação acabou sendo vendida, mas este fato não tira a importância de tudo o que foi vivenciado ali. Naquela época ainda não poderia imaginar, mas hoje tenho ciência de como este momento foi importante para o desenvolvimento da carreira.
O desafio de criar um legado herdando um negócio familiar bem-sucedido
Querendo ou não, carrego o peso de herdar uma empresa de sucesso, legado que minha mãe, junto com a sócia, Sandra Soares Costa, construiu ao longo de 40 anos. Nunca pude dar chance ao erro. Havia uma grande pressão pessoal sobre o que iria ser quando crescesse, e tinha comigo o desejo de criar meu próprio legado.
Fui então vislumbrar outras possibilidades. Assim que a operação gerenciada por mim foi vendida, fui para os Estados Unidos cursar o mestrado. Em 2014, surgiu o convite para montar uma marca de açaí com o intuito de exportá-la inicialmente para os Estados Unidos e, posteriormente, para outros lugares do mundo. Acabei encabeçando este projeto e, na prática, posso dizer que ali vivenciei um verdadeiro mestrado.
Era o começo da Native Berries. Conseguimos entrar na Whole Foods Market , uma das maiores varejistas dos Estados Unidos, e tudo corria bem até que, em determinado momento, foi solicitado que estivéssemos vinculados a distribuidores específicos. A questão é que o contrato de cada distribuidor era imenso, e foi preciso analisar com cuidado e entrar em acordo com cada um deles para não dar um passo em falso.
Mas este não foi o único entrave enfrentado naquele momento. Diante da alta demanda, havia a missão de garantir a qualidade e a entrega. Necessitei ir atrás dos produtores de açaí que atendessem também aos requisitos necessários no contrato internacional. Nossa produção era terceirizada e vinha do Pará, no Brasil, e o proprietário não quis dar o passo de certificar sua fábrica. Só que naquele momento já estávamos posicionados em algumas lojas e tínhamos definido um formato específico que só aquele fabricante oferecia. Constatei, diante desta situação, que não poderia ficar refém de uma pessoa e comecei a vislumbrar a possibilidade de ter uma fábrica. Até porque nunca quis ficar limitado a somente um produto – este nunca foi o objetivo. E isto foi refletido inclusive no nome da marca, Native Berries , pois a pretensão era trabalhar com frutos silvestres, de maneira geral.
Foi quando encontramos a GlobalFruit, uma fábrica de suco na Zona da Mata Mineira que estava desativada há três anos. Era a oportunidade que buscava para colocar em prática uma ideia que há algum tempo trazia em mente.
Expanda o olhar para encontrar novos mercados
Quando trabalhava com a marca de açaí, nos Estados Unidos, cheguei a procurar uma indústria para fazer o suco de açaí por lá e me deparei com indústrias que ofereciam soluções de embalagens para outras marcas. Este é um segmento muito estruturado lá fora e comecei a enxergá-lo no Brasil, onde ainda não havia nenhuma marca ou empresa dedicada a este tipo de serviço. Visualizei logo a oportunidade de negócio, visto que a questão da marca própria das redes já era algo muito grande lá fora.
Adquirimos o espaço e entramos na operação em 2018. A partir desse momento, conseguimos ter a nossa própria produção de açaí, que continuou a ser exportada para os Estados Unidos e os Emirados Árabes. Foram dois anos de muito trabalho. Passamos também a distribuir dentro do Brasil os mesmos produtos que tínhamos lá fora e entramos em grandes redes supermercadistas, como Carrefour, Pão de Açúcar e Oba Hortifruti. Além disso, desenvolvemos produtos com a Disney, da Frozen, e assim trilhamos uma jornada muito grande dentro do açaí até 2020, quando decidimos parar a produção e focar toda a nossa energia para oferecer soluções de envasamento para terceiros.
Não foi uma decisão fácil. Mas constatamos que o mercado de congelados é muito difícil e a logística, complexa e cara no Brasil. Oferecíamos um produto de ponta, mas muitas redes menores desligavam o freezer à noite, para economizar energia, e isso alterava a textura do produto e fazia o consumidor final ter uma má experiência. E a culpa, no final das contas, acabava ficando para a marca, e não para a loja. Além disso, nosso produto era nichado demais e isso exigia uma série de certificações. E este foi um grande aprendizado para mim: tomar muito cuidado com a questão dos nichos.
Foque energias no que é realmente necessário
O fim das operações da marca Native Berries foi próximo da conquista da certificação da GlobalFruit, ocorrida na última semana de 2019. Com esta novidade conseguimos trazer grandes contas, bem como várias marcas de leites vegetais e sucos. Mas em 2020 veio a Pandemia de Covid-19 e o mercado recuou. Contudo, após três meses com todos dentro de casa, constatamos que o consumo aumentou e este fato acabou abrindo as portas para nós naquele momento. E foi aí que fizemos parceria com a Ambev, que realmente era nosso grande objetivo. Com isso, demos um salto na nossa receita. Nosso faturamento, que em 2018, primeiro ano de operação, fechou em 1,5 milhão de reais, passou para 4 milhões de reais em 2019 e 9 milhões de reais em 2020.
E o que aconteceu em 2021? No começo do ano, a Coca-Cola anunciou, por uma decisão global, que ia fechar algumas indústrias para descentralizar e ir para o co-packaging. Foi uma longa negociação, outro aprendizado absurdo adquirido: saber negociar. Para se ter uma ideia, houve um dia em que ficamos quase duas horas analisando uma frase presente no contrato por causa de uma vírgula. Mas, no final, conseguimos firmar a parceria e tivemos, novamente, outro grande salto.
Com a chegada da Coca-Cola no nosso pool de clientes, acabamos trazendo alguns executivos que eram de lá para a nossa operação, e fomos, dia após dia, modernizando a gestão e o parque fabril. E assim fechamos 2021 com um faturamento de 32 milhões de reais; avançamos em 2022 para 160 milhões de reais; e chegamos em 2023 a 198 milhões de reais. O principal de tudo isto é que entregamos 8% de EBITDA dentro da operação, ou seja, entregamos resultado. Nos próximos meses estamos trabalhando em uma série de lançamentos, e em um deles teremos a Ivete Sangalo como sócia.
Conheça o time e pratique a escuta ativa
Um líder precisa estabelecer metas. Esse é o primeiro passo para transformar o que é invisível em visível. Tenha em mente onde quer chegar, como vai chegar e o que necessita fazer para atingir a meta. E desenvolva a habilidade de extrair de cada um o seu melhor. Esse é um desafio enorme para o líder não delegar de forma equivocada, ou promover alguém que não está preparado para uma posição de liderança. Isso pode acabar com a trajetória de uma pessoa.
Por fim, pratique a habilidade de ouvir e conversar. Para liderar, é preciso aprender principalmente a escutar. Essa referência recebi em casa e vi como é importante ter a humildade de estar ali com todos os funcionários, conhecendo as suas inquietudes e anseios. Quando estou na fábrica, por exemplo, ando por todos os setores, passo de ponto em ponto e instigo as pessoas a falarem como está o trabalho, o que acham que pode ser melhorado e o que as está incomodando. Elas já sabem que podem falar comigo e que não há barreiras para nosso contato.
Contorne a ansiedade da equipe com metas claras
Hoje enxergo muito a inquietude da juventude. Todos querem tudo muito rápido. Todo mundo quer ser chefe, dar ordens, delegar tarefas e muitos se esquecem: delegar não é abdicar, e sim multiplicar poder.
Mas como driblar essa ansiedade na equipe? Acredito que cada funcionário precisa enxergar o futuro profissional dentro da empresa onde trabalha. Quando isso não ocorre, gera-se uma inquietude sobre aonde se vai chegar e quando. Para evitar este tipo de situação, é importante ser transparente, desenvolver um plano de carreira e mostrar a cada um o que será preciso fazer para atingir o objetivo almejado. Faça reuniões sazonais, mostre os pontos positivos e negativos e dialogue, sempre. Falhas na comunicação podem ocasionar situações desagradáveis e desnecessárias.
O objetivo leva à educação financeira
Cerque-se de pessoas capacitadas. E tenha visão estratégica para atingir seus objetivos. Quando traçamos metas, vamos desenhando o que fazer para atingi-las. Eisso tem muita ligação com a parte financeira. Quando conhecemos nossos sonhos, delimitamos a trajetória a ser percorrida. Independentemente do valor que se ganha, comece guardando uma quantia simbólica, mas comece. Pois só o fato de estar se policiando e se comprometendo a fazê-lo é uma conquista muito grande. Faça disso um hábito, não espere o dinheiro estar perto de acabar para guardar a parte voltada à reserva financeira. E se puder e tiver interesse, busque aprender sobre o mercado financeiro. Aliás, falando em formação, nunca abra mão de fazer cursos de especialização, sejam eles de curto ou longo prazo. Tenha humildade para aprender, pois nunca saberemos tudo. E quando lapidamos nossos conhecimentos, conseguimos ter mais sabedoria na hora das tomadas de decisão.
Leitura recomendada por Rafael Vaz:
Livro: A quietude é a chave, de Ryan Holiday. Editora Intrínseca, 2019.
Sempre quis criar minha própria trajetória. Puxei da minha mãe, Janete Vaz, a bioquímica e uma das fundadoras do Grupo Sabin Medicina Diagnóstica, a genética do empreendedorismo. Eu me recordo que, ainda criança, aos domingos, meus irmãos e eu íamos com minha mãe para a empresa após sairmos da igreja. Lá, ela assinava com zelo e cuidado cada laudo para liberação. Desde pequeno, vivenciei a importância do trabalho e da ética em casa. Conforme fui crescendo, comecei a vislumbrar as possibilidades de me embrenhar no universo do empreendedorismo.
Nasci em Brasília e recebi do meu pai o incentivo para desbravar o mundo, conhecendo lugares e pessoas dos mais diferentes países. E uma das grandes experiências obtidas neste sentido foi em 2002, aos 15 anos, quando passei um ano na Nova Zelândia. Morando em uma casa de família, precisei aprender a respeitar outra cultura, falar outro idioma e me virar sozinho. Diria que passei de menino para homem dentro de meses, pois este caminho de aprendizados me fez enxergar outras possibilidades e me trouxe um sentido mais aguçado em relação a cuidar do próprio dinheiro e administrar os recursos.
Quando voltei para o Brasil, tinha claro o meu objetivo: seguir no mundo dos negócios. A essa altura, o Sabin já era um grupo bem-sucedido e assumi um dos postos com a pretensão de honrar o cargo ocupado, com o intuito de ser reconhecido não só por ser um dos herdeiros, mas por meritocracia de tudo o que poderia oferecer. Passei por quase todos os setores da empresa, vivenciando cada um deles para entender qual seria a minha vocação. Foi um período em que pude perceber quais habilidades eram importantes em cada área. Nessa fase, comecei a me aprofundar no nicho de Administração, área que escolhi para cursar no ensino superior, concluído em 2008 pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB).
Dedique-se em todas as etapas e aprenda com todas elas
Durante minha estada no Grupo Sabin, houve o investimento em um novo negócio, voltado à análise de alimentos, e fui convidado para gerenciar essa operação. A partir deste período, comecei a adquirir mais experiência no que se refere à gestão de pessoas e negócios. Em dois anos, saí de uma equipe de oito para 35 pessoas e encarei grandes desafios: aprender sobre o negócio, buscar a certificação, entender a metodologia e gerenciar toda a equipe. Ao final do processo, a operação acabou sendo vendida, mas este fato não tira a importância de tudo o que foi vivenciado ali. Naquela época ainda não poderia imaginar, mas hoje tenho ciência de como este momento foi importante para o desenvolvimento da carreira.
O desafio de criar um legado herdando um negócio familiar bem-sucedido
Querendo ou não, carrego o peso de herdar uma empresa de sucesso, legado que minha mãe, junto com a sócia, Sandra Soares Costa, construiu ao longo de 40 anos. Nunca pude dar chance ao erro. Havia uma grande pressão pessoal sobre o que iria ser quando crescesse, e tinha comigo o desejo de criar meu próprio legado.
Fui então vislumbrar outras possibilidades. Assim que a operação gerenciada por mim foi vendida, fui para os Estados Unidos cursar o mestrado. Em 2014, surgiu o convite para montar uma marca de açaí com o intuito de exportá-la inicialmente para os Estados Unidos e, posteriormente, para outros lugares do mundo. Acabei encabeçando este projeto e, na prática, posso dizer que ali vivenciei um verdadeiro mestrado.
Era o começo da Native Berries. Conseguimos entrar na Whole Foods Market , uma das maiores varejistas dos Estados Unidos, e tudo corria bem até que, em determinado momento, foi solicitado que estivéssemos vinculados a distribuidores específicos. A questão é que o contrato de cada distribuidor era imenso, e foi preciso analisar com cuidado e entrar em acordo com cada um deles para não dar um passo em falso.
Mas este não foi o único entrave enfrentado naquele momento. Diante da alta demanda, havia a missão de garantir a qualidade e a entrega. Necessitei ir atrás dos produtores de açaí que atendessem também aos requisitos necessários no contrato internacional. Nossa produção era terceirizada e vinha do Pará, no Brasil, e o proprietário não quis dar o passo de certificar sua fábrica. Só que naquele momento já estávamos posicionados em algumas lojas e tínhamos definido um formato específico que só aquele fabricante oferecia. Constatei, diante desta situação, que não poderia ficar refém de uma pessoa e comecei a vislumbrar a possibilidade de ter uma fábrica. Até porque nunca quis ficar limitado a somente um produto – este nunca foi o objetivo. E isto foi refletido inclusive no nome da marca, Native Berries , pois a pretensão era trabalhar com frutos silvestres, de maneira geral.
Foi quando encontramos a GlobalFruit, uma fábrica de suco na Zona da Mata Mineira que estava desativada há três anos. Era a oportunidade que buscava para colocar em prática uma ideia que há algum tempo trazia em mente.
Expanda o olhar para encontrar novos mercados
Quando trabalhava com a marca de açaí, nos Estados Unidos, cheguei a procurar uma indústria para fazer o suco de açaí por lá e me deparei com indústrias que ofereciam soluções de embalagens para outras marcas. Este é um segmento muito estruturado lá fora e comecei a enxergá-lo no Brasil, onde ainda não havia nenhuma marca ou empresa dedicada a este tipo de serviço. Visualizei logo a oportunidade de negócio, visto que a questão da marca própria das redes já era algo muito grande lá fora.
Adquirimos o espaço e entramos na operação em 2018. A partir desse momento, conseguimos ter a nossa própria produção de açaí, que continuou a ser exportada para os Estados Unidos e os Emirados Árabes. Foram dois anos de muito trabalho. Passamos também a distribuir dentro do Brasil os mesmos produtos que tínhamos lá fora e entramos em grandes redes supermercadistas, como Carrefour, Pão de Açúcar e Oba Hortifruti. Além disso, desenvolvemos produtos com a Disney, da Frozen, e assim trilhamos uma jornada muito grande dentro do açaí até 2020, quando decidimos parar a produção e focar toda a nossa energia para oferecer soluções de envasamento para terceiros.
Não foi uma decisão fácil. Mas constatamos que o mercado de congelados é muito difícil e a logística, complexa e cara no Brasil. Oferecíamos um produto de ponta, mas muitas redes menores desligavam o freezer à noite, para economizar energia, e isso alterava a textura do produto e fazia o consumidor final ter uma má experiência. E a culpa, no final das contas, acabava ficando para a marca, e não para a loja. Além disso, nosso produto era nichado demais e isso exigia uma série de certificações. E este foi um grande aprendizado para mim: tomar muito cuidado com a questão dos nichos.
Foque energias no que é realmente necessário
O fim das operações da marca Native Berries foi próximo da conquista da certificação da GlobalFruit, ocorrida na última semana de 2019. Com esta novidade conseguimos trazer grandes contas, bem como várias marcas de leites vegetais e sucos. Mas em 2020 veio a Pandemia de Covid-19 e o mercado recuou. Contudo, após três meses com todos dentro de casa, constatamos que o consumo aumentou e este fato acabou abrindo as portas para nós naquele momento. E foi aí que fizemos parceria com a Ambev, que realmente era nosso grande objetivo. Com isso, demos um salto na nossa receita. Nosso faturamento, que em 2018, primeiro ano de operação, fechou em 1,5 milhão de reais, passou para 4 milhões de reais em 2019 e 9 milhões de reais em 2020.
E o que aconteceu em 2021? No começo do ano, a Coca-Cola anunciou, por uma decisão global, que ia fechar algumas indústrias para descentralizar e ir para o co-packaging. Foi uma longa negociação, outro aprendizado absurdo adquirido: saber negociar. Para se ter uma ideia, houve um dia em que ficamos quase duas horas analisando uma frase presente no contrato por causa de uma vírgula. Mas, no final, conseguimos firmar a parceria e tivemos, novamente, outro grande salto.
Com a chegada da Coca-Cola no nosso pool de clientes, acabamos trazendo alguns executivos que eram de lá para a nossa operação, e fomos, dia após dia, modernizando a gestão e o parque fabril. E assim fechamos 2021 com um faturamento de 32 milhões de reais; avançamos em 2022 para 160 milhões de reais; e chegamos em 2023 a 198 milhões de reais. O principal de tudo isto é que entregamos 8% de EBITDA dentro da operação, ou seja, entregamos resultado. Nos próximos meses estamos trabalhando em uma série de lançamentos, e em um deles teremos a Ivete Sangalo como sócia.
Conheça o time e pratique a escuta ativa
Um líder precisa estabelecer metas. Esse é o primeiro passo para transformar o que é invisível em visível. Tenha em mente onde quer chegar, como vai chegar e o que necessita fazer para atingir a meta. E desenvolva a habilidade de extrair de cada um o seu melhor. Esse é um desafio enorme para o líder não delegar de forma equivocada, ou promover alguém que não está preparado para uma posição de liderança. Isso pode acabar com a trajetória de uma pessoa.
Por fim, pratique a habilidade de ouvir e conversar. Para liderar, é preciso aprender principalmente a escutar. Essa referência recebi em casa e vi como é importante ter a humildade de estar ali com todos os funcionários, conhecendo as suas inquietudes e anseios. Quando estou na fábrica, por exemplo, ando por todos os setores, passo de ponto em ponto e instigo as pessoas a falarem como está o trabalho, o que acham que pode ser melhorado e o que as está incomodando. Elas já sabem que podem falar comigo e que não há barreiras para nosso contato.
Contorne a ansiedade da equipe com metas claras
Hoje enxergo muito a inquietude da juventude. Todos querem tudo muito rápido. Todo mundo quer ser chefe, dar ordens, delegar tarefas e muitos se esquecem: delegar não é abdicar, e sim multiplicar poder.
Mas como driblar essa ansiedade na equipe? Acredito que cada funcionário precisa enxergar o futuro profissional dentro da empresa onde trabalha. Quando isso não ocorre, gera-se uma inquietude sobre aonde se vai chegar e quando. Para evitar este tipo de situação, é importante ser transparente, desenvolver um plano de carreira e mostrar a cada um o que será preciso fazer para atingir o objetivo almejado. Faça reuniões sazonais, mostre os pontos positivos e negativos e dialogue, sempre. Falhas na comunicação podem ocasionar situações desagradáveis e desnecessárias.
O objetivo leva à educação financeira
Cerque-se de pessoas capacitadas. E tenha visão estratégica para atingir seus objetivos. Quando traçamos metas, vamos desenhando o que fazer para atingi-las. Eisso tem muita ligação com a parte financeira. Quando conhecemos nossos sonhos, delimitamos a trajetória a ser percorrida. Independentemente do valor que se ganha, comece guardando uma quantia simbólica, mas comece. Pois só o fato de estar se policiando e se comprometendo a fazê-lo é uma conquista muito grande. Faça disso um hábito, não espere o dinheiro estar perto de acabar para guardar a parte voltada à reserva financeira. E se puder e tiver interesse, busque aprender sobre o mercado financeiro. Aliás, falando em formação, nunca abra mão de fazer cursos de especialização, sejam eles de curto ou longo prazo. Tenha humildade para aprender, pois nunca saberemos tudo. E quando lapidamos nossos conhecimentos, conseguimos ter mais sabedoria na hora das tomadas de decisão.
Leitura recomendada por Rafael Vaz:
Livro: A quietude é a chave, de Ryan Holiday. Editora Intrínseca, 2019.