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Cyro Pecora Jr., VP da Nufarm, afirma: inteligência emocional impulsiona a carreira 

Com curiosidade e equilíbrio, Cyro construiu uma trajetória sólida e inspiradora 

 (Global Partners)

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Publicado em 18 de julho de 2025 às 20h09.

Última atualização em 18 de julho de 2025 às 20h10.

Natural de Itu (SP), cresci na capital paulista, ao lado dos meus pais Cyro e Eucharis, e das minhas irmãs Lucia e Lara. Apesar da origem simples, jamais faltou nada à nossa família, que sempre considerou a educação como ponto primordial rumo ao desenvolvimento.  

Ressalto que, antes de mim, ninguém em minha família havia cursado o Ensino Superior. Alcançar essa meta foi algo extremamente significativo, especialmente para o meu pai. Com dedicação, graduei-me em Engenharia Química pela Universidade Mackenzie, em 1989. Minhas irmãs seguiram jornadas distintas, mas também obtiveram êxito em suas respectivas carreiras.  

É importante frisar que meu pai também tentou se formar em Engenharia, mas, devido às responsabilidades cotidianas, não concluiu o curso. Perseverante, ele conquistou o diploma de Direito aos 52 anos. Já minha mãe se formou em Educação e chegou a realizar o mestrado. Valorizar o ensino, sem dúvida, é algo imprescindível em nossa família.  

A importância do trabalho em equipe e de valorizar o ensino 

Aos 14 anos, comecei a praticar remo. Já na época da universidade, passei por uma fase singular, ao conciliar inúmeras atividades. Acordava às 4h para treinar na raia olímpica da USP, depois viajava até o Guarujá – onde estagiava na Dow Chemical – e retornava à capital paulista, tendo em vista me dedicar à faculdade. Enfim, uma rotina repleta de disciplina e comprometimento.  

O remo é uma atividade que exige muito do trabalho em equipe. Não há forma de se vencer sozinho – o indivíduo pode ser o melhor atleta do mundo, mas se a equipe não corresponder, de nada adiantará. São aprendizados potentes que trago para o cotidiano, de como a colaboração impacta na performance no ambiente de trabalho.  

Pondero como a pessoa precisa contar com um objetivo, tendo em vista o que se pretende atingir. Passa bastante pela questão da resiliência e disciplina, com foco no que se propõe a contemplar. Um dos desafios é o de eliminar barreiras, com o propósito de sempre atingir as metas preestabelecidas.  

Ao assumir a posição de supervisor, graduei-me em Administração de Empresas, para ampliar o meu escopo. E continuei me desenvolvendo, tendo concluído um MBA na FEA/FIA da USP, e um mestrado na Purdue University, em Food and Agriculture Management. A necessidade do aprendizado contínuo me conduz a assimilar novos conhecimentos, para nunca parar de crescer.  

Os desafios iniciais superados com dedicação e senso de curiosidade 

Friso como me formei no final da década de 1980, e o Joelmir Beting – que foi o orador da nossa turma – classificou esse período como a “Década Perdida”, por conta das dificuldades econômicas enfrentadas pelo Brasil. À época, era bastante difícil conseguir um emprego, pois o país passava por um momento bastante conturbado em diversos âmbitos.  

Porém, como já me encontrava na Dow, e a empresa resolveu realizar uma expansão da fábrica do Guarujá, surgiu uma oportunidade para continuar na organização, sendo que passei a galgar diversas posições, ao longo de 26 anos dentro do grupo.  

O senso de curiosidade para aprender mais, tendo em vista entender como as coisas acontecem, foi um fator preponderante no início da carreira. Ser curioso é um diferencial relevante para mim, e tratei de estar em contato com o pessoal que operava no chão de fábrica. Meu pai foi operador de fábrica e sempre me aconselhou sobre como amealhar conhecimentos ao lado de quem conhece de fato a operação.  

Como engenheiro, operando dentro de fábrica, queria deter a noção de como tudo funcionava. De estagiário, e logo me tornei engenheiro de produção de plantas, até passar a ser supervisor de pessoas. Essa ascensão foi alavancada pela ampla curiosidade de aprender para entender. Inclusive, ganhei diversos prêmios da própria Dow, acerca do desenvolvimento e melhoria das formas de trabalho.  

Ao assumir a posição de supervisor, deparei-me com uma mudança interessante, porque passei a ser chefe das pessoas com quem atuava. Havia um enorme respeito entre nós – todos sabiam como eu conhecia os processos, a operação e as pessoas.  

Certa vez, durante uma fase de greves no segmento, a minha fábrica continuou operando, muito em função do respeito e da consideração que a equipe nutria por mim. Os envolvidos detinham a convicção de que eu estava lá para fazer o que era certo, com justiça. Todavia, é preciso dissociar o conceito de ser um líder agregador, com o viés de ser o popular. Simplesmente pensava no que era melhor para as pessoas e para a empresa.  

O conceito do inventário de conhecimentos é precioso em todos os âmbitos 

O respeito e a integração com o time são fatores essenciais – as pessoas precisam me conhecer intrinsecamente, sentir que estou presente. Em momentos de crise, gerencio os planejamentos da melhor forma, vislumbrando o entorno.  

Logo em seguida, passei a ser supervisor de outra fábrica, lidei com outro paradigma, pois estava fora da minha zona de conforto – desta vez, não conhecia a tecnologia da operação, e nem sequer as pessoas envolvidas. Passei, então, a explorar mais o inventário de conhecimento que existe em toda organização. O líder que obtém sucesso é aquele capaz de explorar esse conceito magnífico, e de fazer com que as pessoas integrem e participem trazendo o seu conhecimento. A Dow entrou em um processo, em determinada época, no qual alguns cargos deixaram de existir. Portanto, precisei empoderar as pessoas, por meio de transparência, trabalho de equipe, objetivos comuns, responsabilidades claras, medições e ao transmitir as informações com clareza.  

Então, tudo se deu a partir da eliminação de atividades que não agregavam valor, aplicando-se o inventário de conhecimento.  

Saliento, contudo, como é uma atividade delicada, porque as pessoas necessitam compreender as decisões. Os times devem fazer parte desse processo, e isso exige ouvir os indivíduos. Evidentemente, problemas surgem todos os dias, e às vezes, esquecemos de reconhecer as pessoas pelos pequenos sucessos. Ao comemorar as coisas simples, tudo passa a funcionar melhor.  

Gosto bastante de ler, e a obra The Three Signs of a Miserable Job: A Fable for Managers, do Patrick Lencioni, é magnífica. Aprendi como as pessoas precisam ser tratadas como tal, ou seja, exige de quem está à frente dos processos conhecer mais sobre seus colaboradores, estar próximo para interagir adequadamente. Outro ponto remete ao que cada indivíduo realiza, de como está conectado com a sociedade, contribuindo. Por fim, é salutar observar se obteve sucesso no seu dia a dia; é uma fórmula para mensurar metas.  

A pessoa que, por exemplo, opera um equipamento sabe mais sobre o seu ofício do que qualquer outra. O inventário de conhecimento organizacional está dentro do indivíduo, no chão de fábrica, no ato de realizar o seu trabalho. E a organização de sucesso é aquela que detém a capacidade de incentivar a pessoa a falar, para contribuir com o seu repertório.  

A sorte é o encontro da oportunidade com a preparação adequada 

Como engenheiro de fábrica, fui treinado na teoria das restrições. Durante muito tempo, foi isso o que fiz, até me deparar com a oportunidade de conhecer a arte das possibilidades. Quando há o bottleneck, com a visão fechada, é complicado conseguir expandir o seu potencial. Contudo, acredito fortemente na tese de que não existem limites, tudo é viável.  

O livro The Last Lecture, do Jeffrey Zaslow e Randy Pausch, me marcou ao abordar o tema da sorte. O Randy Pausch atesta que a sorte é o encontro da oportunidade com a preparação. Nesta linha de raciocínio, a pessoa não controla as chances que se apresentam, mas tem como estar preparada para aproveitá-las. Reitero como, a partir do momento em que se enxerga as possibilidades, com os ajustes e preparos, o leque de opções torna-se infinito.  

Alia-se a isso o campo da neurolinguística, de pensar nas possibilidades, em detrimento das restrições. O conceito engloba o que deve ser trabalhado em si próprio e, por conseguinte, estendendo a comunicação aos times. Ao líder, cabe motivar equipes bem construídas, com o intuito de realizar o que for preciso, favorecendo as ações, com a aspiração de atingir os objetivos e prioridades claras.  

A relevância da inteligência emocional e de priorizar as pessoas 

A principal pergunta é o que a pessoa quer, porque a vida possui diversas dimensões. Requer contemplar o lado social, familiar, profissional e espiritual, enfim, tudo está muito voltado ao que indivíduo quer ser.  

Me tornei facilitador do treinamento dos Seven Habits of Highly Effective People, baseado no livro do Stephen Covey. Gostei bastante quando realizei o treinamento pela primeira vez, e logo percebi o quanto precisava praticar esses hábitos tanto no âmbito profissional como no pessoal. Ao me tornar facilitador, pude estar mais conectado, revisando e praticando tais conceitos.  

Uma parte dos sete hábitos que integram o programa diz respeito exatamente sobre o que a pessoa almeja, de como gostaria de ser lembrada no futuro: “O que você gostaria que fosse dito no seu aniversário de oitenta anos?”. A partir do momento que se descobre o propósito, cria-se o foco para alcançar os objetivos.  

Ao compreender a relevância da inteligência emocional, defrontei-me com uma enorme guinada pessoal, pois logo notei como existem adversidades constantes. Permaneci na Dow por 26 anos, e sou líder da Nufarm há quase dez. São duas realidades diferentes, em empresas maravilhosas. Pela Dow, estive alocado por 12 anos nos EUA. Já como líder da Nufarm, regressei ao Brasil, onde atuei por três anos, sendo, então, transferido para a Alemanha, responsável pela operação da Nufarm na Europa, África e Oriente Médio, para resolver desafios complexos. E agora estou de volta nos Estado Unidos, responsável pela área de operações nas américas. 

Saliento, como capacidade de lidar com adversidades, sem que isso me afete, engloba a parte da inteligência emocional. Essa capacidade é adquirida no dia a dia, trata-se de como superar os obstáculos e eventuais confrontos sem se abater. Assim, estarei pronto para focar na busca de soluções, expandindo a minha influência, atingindo os resultados esperados.   

Ademais, assevero como o valor da mentoria é gigantesco. Há muita discussão sobre as diferentes gerações, mas a essência de tudo permanece na ideia de como não há maneira de gerenciar aquilo que está fora do próprio controle. É imprescindível ser um agente de mudança, de influência, para alcançar o objetivo almejado. Busco aprender com as experiências – definitivamente, a vida é uma escola.  

Conversando com os meus sete filhos, com o pessoal mais jovem e, também, aprendendo muito com a minha esposa Carol, notamos como a carência de inteligência emocional e da programação neurolinguística impacta a vida das pessoas. Exemplos simples, como queixas sobre excesso de cansaço e outras dificuldades passíveis de serem resolvidas. E sempre falo que jamais estou cansado, pois isso transmite uma carga negativa desnecessária.  

O líder deve saber montar os times e atuar ao lado dos indivíduos 

A principal virtude do líder é a de saber montar a equipe. Quando surge um desafio, requer ouvir e compreender a organização e, obviamente, não contamos com amplo espaço de tempo para realizar isso. Obviamente todos nós acordamos e começamos o nosso dia com a intenção de prover um bom trabalho, entregar o seu melhor. O gestor deve posicionar as pessoas certas nos lugares adequados – mesmo que isso signifique fora da própria empresa – para explorar plenamente o potencial de cada indivíduo. Essa é a essência de uma liderança eficiente, pois ninguém conquista nada sozinho.  

Atesto, todavia, que quando se cresce na instituição, o ego também aumenta, e isso é perigoso. Ao amealhar promoções, o indivíduo pode considerar que sabe sobre tudo. Porém, o sucesso de ontem jamais será o de amanhã. Inevitavelmente, depende das pessoas que estão em seu entorno, com a disposição e capacidade de ouvir.  

O mundo corporativo é acirrado. Saliento como o ego, orgulho e a desconexão com a realidade podem interromper carreiras promissoras. Além disso, requer a capacidade de ouvir, compreender, aprender e de construir relacionamentos sólidos. 

Como mencionei anteriormente, hoje, sou vice-presidente de operações da Nufarm Americas, e sempre vou para o chão da fábrica. É onde encontro respostas e soluções, pois fico próximo da realidade das pessoas, do cotidiano de cada um. Assim, torna-se possível edificar estratégias adequadas para executar o que é necessário. Conhecer os desafios, sempre confiando na equipe, estando presente, constituem pontos-chave para o líder prosperar. Em suma, não há espaço para ser autossuficiente. 

Voltando aos Seven Habits of Highly Effective People, gostaria de compartilhar o conceito da emotional bank account – que vale para todos os âmbitos – diz respeito aos depósitos realizados nas nossas contas emocionais. Quanto mais colaboração, ajuda, trabalho árduo e solicitude com os outros, esses depósitos são acrescidos nas respectivas contas. Porém, terão dias que demandarão retiradas. Desde que tenha saldo, manteremos relacionamentos saudáveis e duradouros, que é a natureza do networking. 

A liderança inspiradora gera engajamento com foco em pessoas 

Grandes líderes me influenciam, como Nelson Mandela e Madre Teresa de Calcutá. Eles foram – e continuam sendo – exemplos inigualáveis de liderança inspiracional, resiliente e disciplinada, com uma visão clara do que buscavam atingir, apesar de todas as dificuldades que enfrentaram. Meu pai, e também minha mãe, sempre foram exemplos acerca de trabalho, dedicação e retidão. Eles me ensinaram sobre o que é certo e errado, com clareza, algo válido para qualquer organização. Considero como inspiração o desenvolvimento dos meus próprios filhos, de como eles crescem, e a expectativa em torno de mim.  

Principalmente quando se é líder, se não estiver com o sorriso no rosto, fique em casa. Todo mundo estará olhando para você, as pessoas notam a linguagem corporal, as reações e as falas. Existe uma responsabilidade enorme em liderar equipes, é uma escolha somente sua seguir essa trajetória. 

O ato de liderar demanda preparo, estar atento a todos os contextos. Mesmo diante de adversidades, é importante jamais se deixar abater por tais fatores, pois isso afetará a equipe e  não contribui para construir relacionamentos sólidos. Reitero como o que me motiva são os desafios e busco não me abater diante dos percalços cotidianos. A energia positiva me auxilia a encontrar soluções, tudo constituído junto à inteligência emocional.  

A definição da sorte passou a ser um guia para mim, porque não dá para saber quais serão as oportunidades que surgirão. Estar preparado para se defrontar com qualquer cenário ou contexto é uma atitude inegociável. É maravilhoso saber que ter sorte, no final das contas, depende de cada um de nós. O círculo da influência entra exatamente neste mérito. Quando você foca naquilo em que se tem controle, aumenta a capacidade de influenciar, dirimindo as preocupações.  

O poder dos relacionamentos sadios e o planejamento da carreira 

É muito simples pensar no hoje – todo mundo faz isso. Mas é preciso contemplar como seremos daqui a dez anos, qual será o caminho a ser edificado. Hoje, há a possibilidade de nem sequer trabalhar ou estudar, mas o futuro é fomentado a partir do que realizamos no presente. Requer vislumbrar o futuro com seriedade, tendo clareza, ciente de que o passado já foi, o futuro está à frente, e o hoje é o presente, ou melhor, um presente. 

Enfim, aconselho a constituir relacionamentos edificantes, pois não conhecemos o amanhã – este será pautado pelos esforços do agora, ao lado das pessoas com as quais nos relacionamos. Está conectado à capacidade de criar conexões fidedignas, ao compreender, aprender e influenciar. Tudo isso cria e abre portas.  

Saliento como obtive êxito em minha trajetória, especialmente por conta da origem humilde. Portanto, conheço com afinco a importância de contribuir, compartilhar experiências e de ajudar sempre. Quando jovem, era muito mais focado em tarefas do que em pessoas. Certamente, faria diferente, mas aprendi – em virtude da maturidade – a estar mais atento e participativo. 

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