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Colunista
Publicado em 27 de dezembro de 2024 às 13h07.
A minha trajetória tem como foco acreditar em valores robustos, com ênfase em estabelecer relações sadias e de investir no desenvolvimento contínuo. Desde jovem, busquei priorizar realizações que fizessem sentido, sempre com paixão por todas as empreitadas às quais me dediquei. Em 1992, tive a honra de ingressar na multinacional alemã Siemens, onde atualmente ocupo a posição de chief executive officer (CEO) da Siemens Mobility para México, Colômbia e América Central.
Nasci e cresci em Assis, no interior de São Paulo, sendo que o meu pai é alemão, enquanto a minha mãe é italiana, e sou o primogênito de cinco irmãos. Desde jovem, desejava estudar no exterior. Aos 17 anos, fui aprovado para ser estudante em um intercâmbio nos Estados Unidos e fui morar com uma família em Longmont, no Colorado.
Essa etapa marcou como um ano especular no qual, pela primeira vez, tive de lidar sozinho com diversas situações. Precisei me adaptar para desenvolver o inglês, sedimentar novas amizades na escola e me integrar à rotina familiar de uma cultura bem diferente.
A fluência em inglês e a necessidade de adaptação a ambientes diversos foram de suma importância no desenvolvimento da minha trajetória.
Ao retornar ao Brasil, graduei-me em Engenharia Eletrônica com ênfase em telecomunicações na FEI, em São Bernardo do Campo. Já no terceiro ano, procurei testes para estágio e logo fui selecionado pela Siemens, iniciando a minha trajetória na multinacional alemã. O desafio inicial da carreira foi o de identificar e encontrar um segmento no qual me sentisse desafiado e realizado.
O estágio consistia em passar determinados períodos nas fábricas, em departamentos distintos, como os de engenharia, produtos e compras. Isso agregou muito, provendo uma ideia ampla acerca do que consistia trabalhar em outros nichos, permitindo compreender o modelo de gestão e negócios das áreas envolvidas.
Iniciei em um setor que incluía vendas, ofertas e execução, e acabei me encontrando na área de Gerenciamento de Projetos, tendo me especializado cada vez mais. Atuei como gerente de projetos por muitos anos. Após este período, passei por posições gerenciais, até alcançar a cadeira de CEO, com 39 anos, sempre trabalhando com projetos, porém desenvolvendo outras habilidades que me levaram a me apaixonar por trabalhar com vendas e desenvolvimento de negócios.
Os principais desafios sempre estiveram relacionados com a gestão de pessoas, além da resolução de problemas e, como CEO, é fundamental dispor da visão mercadológica para direcionar os negócios junto à equipe. Destaco que contei com a prestigiosa oportunidade de trabalhar no início de minha carreira em projetos de alto valor financeiro, que englobavam várias companhias, com enormes complexidades técnicas e contratuais.
Saliento que o diálogo, pautado na comunicação assertiva, encarando os problemas de frente, sempre foi o melhor caminho para tomar decisões e tratar de temas interpessoais. Acredito solidamente que a gestão de projetos – na qual sempre estamos negociando adicionais e mudanças contratuais –, além do desenvolvimento de negócios, constituem os ambientes que mais contribuíram para moldar minha visão de liderança.
Os resultados que obtive nas diversas áreas nas quais atuei abriram as portas para as oportunidades gerenciais e diretivas. Contudo, o fator que fez diferença na minha carreira foi quando, ainda bastante jovem – mas já com muita experiência no meu segmento de atuação – concluí um MBA na Fundação Dom Cabral com executivos que detinham cargos altos em empresas de referência, empresários e empreendedores que me fizeram perceber que as minhas qualificações, como a capacidade de desenvolver ideias e argumentar, eram comparáveis com as dos melhores colegas.
Assim, ganhei confiança e, com foco, minha carreira se desenvolveu rapidamente, sempre consciente de que assumir novos desafios me traria responsabilidades e oportunidades maiores.
O líder, antes de tudo, precisa estar atento para as expectativas da equipe e preparado para mudanças. As pessoas têm de trabalhar motivadas, conscientes de seus papéis, pois, quando os resultados surgem, gera-se um ambiente motivador, de satisfação pessoal.
Conseguir me posicionar, trabalhando junto às outras pessoas, me apoiou a atingir êxito em todas as minhas empreitadas. Tais aspectos foram os meus primeiros desafios ao assumir um cargo de liderança.
Em relação às mudanças, requer avaliar os contextos e estar preparado para decidir sobre as novas posições, movimentações e todos os impactos acerca da vida pessoal e familiar. Jamais imaginei que estaria gerindo uma empresa no México e aqui estou, ou seja, ao realizar um balanço da minha carreira, sinto como fui afortunado em minhas decisões.
Ao longo da jornada, sempre estamos nos espelhando em alguns modelos, que podem ser gestores da própria organização, pessoas com quem trabalhamos em conjunto ou parceiros de outras áreas. Tais exemplos podem ser positivos – algo que me dedico a ser – quanto negativos.
Os bons exemplos me inspiraram a seguir uma conduta responsável, aberta e idônea, enquanto determinados líderes me estimularam a buscar realizar da melhor forma possível, com diferenciais robustos.
Considero superimportante se dedicar aos cursos e treinamentos tendo em vista solidificar o perfil. Quando comecei, ainda não existiam especializações em gerenciamento de contratos, e realizei o primeiro curso da Fundação Getúlio Vargas neste campo. O desenvolvimento pessoal advém de experiências e vivências e é completado por diversos treinamentos e especializações.
Considero como o maior desafio para a construção de uma carreira de sucesso a edificação de uma rede de relacionamentos. É algo bastante complexo, ainda mais depois da pandemia, quando trabalhamos muito de forma remota, sendo que estamos cada vez mais conectados de forma virtual, conversando gradualmente menos.
Todas as organizações sofrem, sazonalmente, por mudanças organizacionais, seja uma reorganização ou realocação de pessoas para outras posições.
É importante desenvolver uma rede de relacionamentos e estar atento às mudanças, para possibilitar a busca de alternativas nos momentos de reestruturação. Outro ponto importante, quando uma pessoa trabalha em uma empresa internacional, sua rede de relacionamentos tem de ser desenvolvida também no exterior.
Enfatizo também que não basta realizar um bom trabalho e trazer resultados para a empresa; é necessário que a organização reconheça o indivíduo como o responsável pela conquista. Isso exige saber informar aos stakeholders – que são responsáveis por receber o seu trabalho –, dialogando com frequência sobre o negócio, possibilidades de desenvolvimento e expectativas. Neste aspecto, o domínio de outras línguas apoia esse processo de abrir oportunidades fora do seu país.
A questão da comunicação é imprescindível – hoje em dia há diálogo excessivo por meios de aplicativos, com respostas imediatas. Não raro, as pessoas só respondem, sem conseguir executar a tarefa. É mais uma questão de atender à expectativa, mas sem o resultado efetivo. Enfim, depende da qualidade da resposta, do que estão entregando – discutimos bastante esse tópico com as equipes e, cada qual, desenvolve um método.
Efetuamos uma experiência durante a pandemia para nos conhecermos melhor e replicamos o processo com a Colômbia. Foi uma forma de sair do cotidiano do trabalho para se integrar adequadamente com uns aos outros, gerando interlocuções sadias. Porém, minha experiência mostra que o contato direto, mesmo online, é essencial para acompanhar o progresso do trabalho e alinhar as expectativas de ambos os lados.
Como gestor, aprendi na pandemia como a convivência é extremamente importante, algo que remotamente é complicado de se obter, de saber como está o ambiente da empresa. Inúmeras percepções vêm à tona, algo primordial para deter o entendimento, por meio dos diálogos em todos os âmbitos, sem o nível hierárquico prevalecendo.
Indubitavelmente, um dos valores mais importantes é o trabalho em equipe. Ninguém sabe sobre tudo, portanto, é essencial escutar outras visões antes de se tomar decisões. Também considero importante promover com a minha equipe o sentimento de comprometimento, de cada um assumir responsabilidades pelas suas respectivas áreas de atuação, agregado ao respeito mútuo. Tais valores fomentam o alto desempenho dos envolvidos, atendendo às expectativas dos clientes, provendo ganhos para a organização.
A melhor forma de prover motivação é por meio da convicção de estar buscando fazer o melhor constantemente. Caso, eventualmente, algo não dê certo, servirá de aprendizado para melhorar na próxima empreitada – os resultados corroboram que, mesmo errando, há a oportunidade de se aprimorar sempre.
Além disso, observo como cuidar da saúde mental é um fator importante, pois, hoje em dia, tudo é comunicação, as informações chegam por todos os lados, algo que gera expectativas. Atualmente, tudo é performance, tem de cumprir metas de vendas, faturamento, caixa, fatores que geram ansiedade.
A minha solução parte da comunicação ativa, em todos os níveis, ao reunir a equipe direta, quinzenalmente, trazendo assuntos diversos. Operamos com pesquisas trimestrais com foco em levantar pontos acerca da cooperação no ambiente de trabalho, algo bastante salutar. Engloba discutir sobre o que pleiteamos e resultados, evitando as conversas paralelas infrutíferas.
A tecnologia é extremamente importante – cada vez mais aplicativos com Inteligência Artificial são disponibilizados. Por exemplo, em uma reunião, pode-se gerar um resumo das atividades discutidas, elaboração de relatórios, traduções online em tempo real, que facilitam a comunicação entre times diversos. A barreira dos idiomas tende a cair, algo singular e que deve ser aproveitado. Já existem softwares gerados com o apoio da IA, setor este que deve crescer muitíssimo.
Há algum tempo, era impossível imaginar um mundo sem impressão, e agora, basicamente, os processos são digitais e as pessoas trabalham remotamente. A minha equipe detém esse perfil, com pessoas alocadas em países distintos, com suas respectivas empreitadas e a tecnologia proporciona com que nos comuniquemos eficazmente.
A mobilidade motiva a equipe e a comunicação apoia na adaptação das pessoas em caso de movimentações e expatriações.
Saber lidar com as culturas de países distintos deve ser prioridade para que tudo flua da melhor forma possível. Demanda um tempo para compreender a rotina de uma equipe fora de seu país de origem, de como elas funcionam. Estou trabalhando com o México e a Colômbia desde 2020, moro no México desde 2021, já morei no Chile por três anos e tenho headquarters nos EUA, Alemanha e Espanha.
Na Colômbia, senti que as relações eram mais hierarquizadas, havia em minha organização bastante respeito por regras e formalismos interpessoais e necessitava que cada um tomasse mais responsabilidades individuais. No Chile, por ser um país pequeno, todos se conheciam e o tema das relações pessoais era muito evidente. É desafiador ser um estrangeiro em tais circunstâncias, mas tive uma reação rápida das equipes, bem mais do que esperava.
Já me deparei com dificuldades pelas diferenças culturais. Ser aceito em outro país é complicado, inclusive, por conta das minhas características, de focar em performance e resultados. Tive que aprender que relações interpessoais eram importantes para a motivação de algumas equipes e tudo mudou quando os resultados passaram a surgir.
Cada país detém a sua cultura e isso exige estar preparado para se adaptar. Realizei intercâmbio nos EUA e trabalho em uma multinacional alemã. Quando comecei, todo mundo só falava alemão, mas vivenciei o momento forte de privatizações no Brasil, especialmente nos segmentos de Telecom e de siderúrgicas. Repentinamente, passamos a ter contratos com empresas do mundo inteiro, o que exigiu o inglês em inúmeras atividades.
Existe a questão da flexibilidade, de estar preparado para atuar em outros países, enfim, conhecer outras línguas abre portas. Estou como CEO da empresa no México, e há cinco anos, não havia essa oportunidade de ocupar tal posição no Brasil. Conquistei essa oportunidade por conta do idioma e por já ter tido a experiência de trabalhar anteriormente com diversos países da América Latina, gerando um enorme crescimento profissional.
Quando somos jovens, existem muitos anseios e sonhos, como comprar um carro, um imóvel, poder viajar, constituir família ou mesmo investir em especializações acadêmicas. É prioritário estabelecer quais serão os planejamentos em termos de metas para gerar as condições propícias, com um futuro financeiro estável.
Não podemos só trabalhar sem desfrutar – saber balancear os diversos âmbitos da jornada é fundamental, priorizando aquilo que promova felicidade. A vida é um conjunto de experiências que nos proporciona o senso de realização ao longo do tempo, no decorrer do caminho.
No começo, contamos com mais disponibilidade, disposição e devemos aproveitar para desenvolver competências diversas. Desperdiçar tal etapa torna tudo mais difícil futuramente, porque outros já terão adquirido ferramentas e estarão avançados. Encontrar a satisfação auxilia a se motivar, estudar e a trabalhar melhor.
Sempre trabalhei com o que gostava; jamais por almejar uma posição. Apliquei-me em dar o meu melhor, e essa fórmula abriu as portas para que a carreira pudesse ser alicerçada de maneira exitosa. Ao olhar para trás, percebo como os momentos mais desafiadores proporcionaram as melhores experiências pessoais e de desenvolvimento profissional.