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Abrir-se a mudanças é peça-chave para avançar na carreira, afirma Patricia Munerato

Na coluna desta semana, conheça a história de Patricia Munerato, gerente-geral para a América Latina na Cepheid

Na coluna desta semana, conheça a história de Patricia Munerato, gerente-geral para a América Latina na Cepheid

Publicado em 21 de junho de 2024 às 12h29.

Costumo dizer que o ser humano é, naturalmente, resistente a mudanças, e meu grande desafio foi encará-las como oportunidades de aprendizado e crescimento profissional ao longo da vida corporativa, postura que me ajudou a assumir a posição que ocupo hoje como gerente-geral na Cepheid – uma inovadora multinacional em medicina diagnóstica de ponta, onde há três anos lidero o desafio de construir seu posicionamento no mercado na América Latina.

Foi meu pai quem me inspirou a não ter medo delas, sendo o meu exemplo de como olhar para as mudanças de planos de maneira flexível e a ser paciente diante dos imprevistos. Caminhoneiro, ele vendeu seu caminhão, comprou um trator de esteira e, junto com nossa família, foi em busca de melhores condições de vida em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, onde iniciou seu negócio de prestação de serviços de terraplanagem na região.

Até eu completar 14 anos, vivíamos em Barra Bonita, uma cidade de 30 mil habitantes no interior paulista com bastante influência de imigrantes italianos que se estabeleceram por lá, formando uma comunidade onde todos se conheciam e à qual eu pertencia.

Meu pai, minha mãe, meu irmão mais velho, tios, primos e avós, todos tivemos uma convivência familiar muito próxima nessa cidade, onde toda a população se reunia para festas religiosas e escolares, num ambiente de simplicidade ímpar e que me preenche até hoje com memórias muito afetuosas. Quando chegamos a Campo Grande, perdemos essa rede de apoio, mas nos fortalecemos ainda mais como núcleo familiar, fato que foi nosso alicerce para seguir buscando por dias mais prósperos.

Conselho para iniciantes: transforme o “não” em força

Um conselho inicial para quem está entrando no mercado de trabalho é: não desista diante das suas primeiras barreiras. Falo isso porque, ao longo da minha carreira, recebi vários “nãos”, mas sem nunca os colocar como um limitador no caminho.

O meu primeiro “não” foi ser reprovada no vestibular para Medicina depois de terminar o Ensino Médio na Escola Perpétuo Socorro em Campo Grande. Em seguida, decidi procurar um emprego para pagar um cursinho preparatório, mas isso não foi preciso: por indicação de meus professores e diretores da antiga escola, recebi um convite para estudar com bolsa 100% na rede COC, em troca de dedicar algumas horas para dar monitoria a outros alunos em disciplinas como Português, Biologia e Matemática, nas quais eu tinha facilidade.

Agora, com dedicação integral aos estudos e recebendo apoio dos tutores do cursinho, tomei a decisão de prestar o vestibular em três diferentes universidades para o curso de Farmácia – sendo aprovada em todas. Escolhi cursar a Universidade Estadual Paulista (UNESP), no câmpus de Araraquara, por ser a melhor colocada entre as faculdades.

Assim, o “não” se transformou na força motriz para eu continuar persistindo até conseguir o meu objetivo. Mais uma vez, encarei a mudança de estado – quase 800 quilômetros de distância entre Campo Grande e Araraquara – de forma positiva, afinal, estava realizando um grande sonho.

Mal imaginava que era o início de uma longa e produtiva jornada acadêmica. Já nos primeiros anos, me candidatei a uma vaga de estágio de iniciação científica no recém-construído laboratório de biologia molecular e microbiologia que o professor Sandro Valentini havia inaugurado depois de voltar de seu pós-doutorado em Harvard. A biologia molecular estava, à época, despontando como promissora área de conhecimento – e, embora tenha sido uma seleção muito concorrida, uma das quatro vagas abertas era minha!

Foram três anos de Iniciação Científica, estagiando nesse laboratório com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), de 300 reais por mês, uma remuneração que me manteve na universidade, arcando com custos de morar em república de estudantes. Os desafios foram muitos, mas todos inspiradores devido ao ambiente altamente positivo para aprendizado que era oferecido. Por esse motivo, não tive dúvidas em continuar na carreira acadêmica e, assim que me formei em Farmácia-Bioquímica, me inscrevi para a seleção de mestrado na Universidade de São Paulo (USP).

Mais uma vez, não passei, e o que esse “não” significaria? Voltar para Campo Grande, onde minha família ainda morava, ou procurar um emprego para tentar, de novo, ingressar no mestrado? Abracei, claro, a nova chance.

Da academia à indústria: jornada em busca da ciência aplicada

Na capital paulista, fui recebida na casa dos meus tios e arranjei um trabalho de meio período em uma farmácia como farmacêutica auxiliar. Em outro período, fui estagiar no Laboratório de Retrovirologia da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), onde constatei que a ciência era mais aplicada às necessidades da saúde. No final dos anos 1990, a inovação científica nas pesquisas com HIV traziam imensas oportunidades de aprendizado e possibilidades reais de causar impacto aos milhares de pacientes afetados.

Trabalhei nesse laboratório sob supervisão do professor Prof. Dr. Ricardo Sobhie Diaz, outra grande inspiração na minha jornada acadêmica: após trabalhar na Califórnia, ele montou uma infraestrutura laboratorial para pesquisas do HIV e, ao integrar a sua equipe, investiguei a resistência às drogas antirretrovirais, estudando as mutações genéticas do vírus que levavam os pacientes a não responderem ao tratamento.

O meu envolvimento com as pesquisas foi profundo. Durante oito anos, colaborei com inúmeros projetos na disciplina Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIPA) da UNIFESP, fiz mestrado e doutorado com bolsa da FAPESP. Durante este período, conheci o Julio, meu companheiro incondicional, com quem me casei em 2000 e começamos nossos planos de construir uma família. Para isso, comecei a desejar outro patamar de remuneração, o qual a academia não oferecia naquele momento. Ao mesmo tempo, comecei a ficar incomodada com a lentidão tecnológica do mundo acadêmico: para se ter uma ideia, muitos de meus colegas, ao irem morar fora, tinham acesso a inovações que levavam anos para chegar às universidades locais.

O fato é que eu queria conhecer a indústria e fui em busca de experimentar como seria a Patricia fora do mundo acadêmico. Foi quando conheci uma empresa que estava se estabelecendo no mercado brasileiro, a Applied Biosystems, que fabricava e comercializava sequenciadores de DNA – equipamentos muito inovadores focados em biologia molecular e biotecnologia.

Rapidamente, me apaixonei pelo mundo corporativo: o “meu novo lugar” me apresentou pessoas extremamente talentosas, me permitiu acessar inovações tecnológicas de forma mais veloz, além, claro, de me proporcionar a remuneração que eu desejava. Comecei no cargo de especialista de aplicações, viajando o Brasil e a América Latina inteira para dar suporte aos clientes que implantavam as novas tecnologias, com os quais pude aprender muito.

Depois de quatro anos, fui promovida ao meu primeiro cargo de gestão para gerenciar um time de cientistas e especialistas – e considero este um dos meus maiores desafios. Primeiro, porque fui promovida em licença-maternidade, uma oportunidade pela qual sou muito grata aos meus gestores da época Patricia Landsmann e Roberto Braga, por tamanha autenticidade em adotar uma genuína meritocracia, não importassem as condições apresentadas. Segundo, porque estava, àquela época, defendendo meu doutorado.

Fiz o melhor que pude para tentar equilibrar vida pessoal e profissional, mas confesso que falhei. Tive minha primeira filha e voltei antes de terminar os quatro meses de licença porque achava que tinha essa responsabilidade com a empresa. Hoje, 17 anos depois, confesso que faria diferente – mas, enfim, deu tudo certo: minha filha, Isabela, se tornou uma mulher incrível, e minha carreira seguiu, como sempre, de maneira positiva. Três anos depois, nasceu meu segundo filho, Miguel, mas já em um momento mais consciente com as escolhas pelo equilíbrio.

Segui nessa empresa durante 20 anos, período no qual foram feitas diferentes aquisições até ela ser adquirida pela Thermo Fisher Scientific. Cada aquisição veio acompanhada de mudanças drásticas na gestão, na cultura corporativa e nos desafios. Daí meu enfoque na importância da abertura a mudanças para a formação de um bom líder.

Quer se tornar um bom líder? Aprenda a ouvir e a se conectar com as pessoas

O ponto básico para se tornar um bom líder é acompanhar ativamente as constantes mudanças dentro e fora da empresa. Para isso, não basta analisar pelo celular ou ler periódicos. Aprendi que o segredo está em se conectar com as pessoas. A conexão nos ajuda a compreender onde estão os gargalhos, o que está e não está funcionando, o que há de novo e onde buscar e a quem recorrer por soluções. Assim, aprender a ouvir e a se conectar com pessoas são características essenciais para o líder tomar decisões e conduzir a empresa a uma estratégia vencedora.

O desafio da transição de carreira: do técnico à direção comercial

Um dos meus maiores êxitos profissionais sem dúvida aconteceu na transição de uma carreira puramente técnica, liderando um time de especialistas e cientistas para assumir a área comercial da empresa. E o primeiro desafio começava provando para mim mesma, e também para a gestão da empresa, que eu era capaz de fazer essa transição agregando valor à posição.

Assim, ainda como gerente sênior de aplicações do time da Thermo Fisher, assumi um stretch assignment para ocupar a liderança clínica da empresa. Eu sentia a falta de alguém liderando essa área, que era uma lacuna de mercado, e me propus a conduzir esse desafio, pois acreditava que meu perfil técnico e conhecimento adquirido de mercado eram a combinação necessária para executar esta estratégia.

Durante um ano e meio, construí o projeto com toda a equipe, o qual considero ter sido um verdadeiro sucesso. Os primeiros testes genéticos foram oferecidos no mercado de maneira disruptiva, agregando uma mudança de paradigma na genética que, até então, se tratava de uma área puramente acadêmica, mas que agora se consolidava como uma área médica.

Resultado: passamos a fazer diagnósticos de doenças raras e oncologia no Brasil, contribuindo para um melhor direcionamento de tratamento de pacientes através de testes genéticos. Quando a empresa se deu conta de que o projeto estava, de fato, consolidado, aí eu fiz a migração definitiva para assumir a divisão de análises genéticas como diretora comercial para a América Latina.

Assumi com 100% de responsabilidade todas as oportunidades que tive, adicionando outra característica que considero essencial para a formação de um líder. Trata-se de coragem. Não foram poucas as vezes em que não me senti preparada para assumir posições desafiadoras, mas aprendi que, afinal, ninguém está preparado, e basta um corajoso para dar o primeiro passo, com responsabilidade e, claro, preparo técnico.

E foi com essa coragem que, mais uma vez, me abri para mudar de empresa depois de mais de 20 anos de atuação. Em plena pandemia, em 2021, quis conhecer o mercado diagnóstico mais a fundo. Em uma mudança lateral, escolhi assumir a posição de diretora de marketing para a América Latina na Cepheid, com o objetivo de aprofundar meu aprendizado na área. Ocupei o cargo por pouco mais de um ano, até migrar para a posição que tenho hoje – a de gerente-geral para a América Latina.

A paixão pelo que faço é o que me move

Educação, para mim, sempre esteve entre os meus principais pilares e o que me inspirou a aprender cada vez mais foi o fato de minha mãe, uma dona de casa, que era apaixonada pela escola, ter tido que interromper seus estudos na quarta série do primário por imposição da família. Por isso, ela e meu pai me incentivaram muito a estudar e a conhecer o máximo possível.

Mas, por mais que tenhamos que construir um excelente currículo profissional por meio de cursos e aprendizados, nada substitui a paixão das pessoas pelo que elas fazem. Isso, para mim, é o que me move – e eu acredito de forma genuína que também mova mais pessoas.

Em muitos processos seletivos, vi candidatos talentosos, com currículos robustos em busca de melhores colocações profissionais, mas que não tinham a menor paixão pelo que faziam. Por isso, quando escolho um profissional para compor minha equipe, essa é uma das primeiras características que avalio.

Essa paixão ajuda a levar a nossa jornada profissional com mais comprometimento e, por isso, traz maior realização. O meu maior aprendizado até hoje foi justamente entender que, durante todo meu percurso profissional, o mais importante tem sido o caminho. O fim é importante? Claro, todos queremos atingir resultados e concluir os projetos com êxito, mas que não nos esqueçamos de desfrutar o caminho, sem pressa, valorizando cada aprendizado e, acima de tudo, construindo conexões. Esse é o verdadeiro legado.

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Foi meu pai quem me inspirou a não ter medo delas, sendo o meu exemplo de como olhar para as mudanças de planos de maneira flexível e a ser paciente diante dos imprevistos. Caminhoneiro, ele vendeu seu caminhão, comprou um trator de esteira e, junto com nossa família, foi em busca de melhores condições de vida em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, onde iniciou seu negócio de prestação de serviços de terraplanagem na região.

Até eu completar 14 anos, vivíamos em Barra Bonita, uma cidade de 30 mil habitantes no interior paulista com bastante influência de imigrantes italianos que se estabeleceram por lá, formando uma comunidade onde todos se conheciam e à qual eu pertencia.

Meu pai, minha mãe, meu irmão mais velho, tios, primos e avós, todos tivemos uma convivência familiar muito próxima nessa cidade, onde toda a população se reunia para festas religiosas e escolares, num ambiente de simplicidade ímpar e que me preenche até hoje com memórias muito afetuosas. Quando chegamos a Campo Grande, perdemos essa rede de apoio, mas nos fortalecemos ainda mais como núcleo familiar, fato que foi nosso alicerce para seguir buscando por dias mais prósperos.

Conselho para iniciantes: transforme o “não” em força

Um conselho inicial para quem está entrando no mercado de trabalho é: não desista diante das suas primeiras barreiras. Falo isso porque, ao longo da minha carreira, recebi vários “nãos”, mas sem nunca os colocar como um limitador no caminho.

O meu primeiro “não” foi ser reprovada no vestibular para Medicina depois de terminar o Ensino Médio na Escola Perpétuo Socorro em Campo Grande. Em seguida, decidi procurar um emprego para pagar um cursinho preparatório, mas isso não foi preciso: por indicação de meus professores e diretores da antiga escola, recebi um convite para estudar com bolsa 100% na rede COC, em troca de dedicar algumas horas para dar monitoria a outros alunos em disciplinas como Português, Biologia e Matemática, nas quais eu tinha facilidade.

Agora, com dedicação integral aos estudos e recebendo apoio dos tutores do cursinho, tomei a decisão de prestar o vestibular em três diferentes universidades para o curso de Farmácia – sendo aprovada em todas. Escolhi cursar a Universidade Estadual Paulista (UNESP), no câmpus de Araraquara, por ser a melhor colocada entre as faculdades.

Assim, o “não” se transformou na força motriz para eu continuar persistindo até conseguir o meu objetivo. Mais uma vez, encarei a mudança de estado – quase 800 quilômetros de distância entre Campo Grande e Araraquara – de forma positiva, afinal, estava realizando um grande sonho.

Mal imaginava que era o início de uma longa e produtiva jornada acadêmica. Já nos primeiros anos, me candidatei a uma vaga de estágio de iniciação científica no recém-construído laboratório de biologia molecular e microbiologia que o professor Sandro Valentini havia inaugurado depois de voltar de seu pós-doutorado em Harvard. A biologia molecular estava, à época, despontando como promissora área de conhecimento – e, embora tenha sido uma seleção muito concorrida, uma das quatro vagas abertas era minha!

Foram três anos de Iniciação Científica, estagiando nesse laboratório com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), de 300 reais por mês, uma remuneração que me manteve na universidade, arcando com custos de morar em república de estudantes. Os desafios foram muitos, mas todos inspiradores devido ao ambiente altamente positivo para aprendizado que era oferecido. Por esse motivo, não tive dúvidas em continuar na carreira acadêmica e, assim que me formei em Farmácia-Bioquímica, me inscrevi para a seleção de mestrado na Universidade de São Paulo (USP).

Mais uma vez, não passei, e o que esse “não” significaria? Voltar para Campo Grande, onde minha família ainda morava, ou procurar um emprego para tentar, de novo, ingressar no mestrado? Abracei, claro, a nova chance.

Da academia à indústria: jornada em busca da ciência aplicada

Na capital paulista, fui recebida na casa dos meus tios e arranjei um trabalho de meio período em uma farmácia como farmacêutica auxiliar. Em outro período, fui estagiar no Laboratório de Retrovirologia da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), onde constatei que a ciência era mais aplicada às necessidades da saúde. No final dos anos 1990, a inovação científica nas pesquisas com HIV traziam imensas oportunidades de aprendizado e possibilidades reais de causar impacto aos milhares de pacientes afetados.

Trabalhei nesse laboratório sob supervisão do professor Prof. Dr. Ricardo Sobhie Diaz, outra grande inspiração na minha jornada acadêmica: após trabalhar na Califórnia, ele montou uma infraestrutura laboratorial para pesquisas do HIV e, ao integrar a sua equipe, investiguei a resistência às drogas antirretrovirais, estudando as mutações genéticas do vírus que levavam os pacientes a não responderem ao tratamento.

O meu envolvimento com as pesquisas foi profundo. Durante oito anos, colaborei com inúmeros projetos na disciplina Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIPA) da UNIFESP, fiz mestrado e doutorado com bolsa da FAPESP. Durante este período, conheci o Julio, meu companheiro incondicional, com quem me casei em 2000 e começamos nossos planos de construir uma família. Para isso, comecei a desejar outro patamar de remuneração, o qual a academia não oferecia naquele momento. Ao mesmo tempo, comecei a ficar incomodada com a lentidão tecnológica do mundo acadêmico: para se ter uma ideia, muitos de meus colegas, ao irem morar fora, tinham acesso a inovações que levavam anos para chegar às universidades locais.

O fato é que eu queria conhecer a indústria e fui em busca de experimentar como seria a Patricia fora do mundo acadêmico. Foi quando conheci uma empresa que estava se estabelecendo no mercado brasileiro, a Applied Biosystems, que fabricava e comercializava sequenciadores de DNA – equipamentos muito inovadores focados em biologia molecular e biotecnologia.

Rapidamente, me apaixonei pelo mundo corporativo: o “meu novo lugar” me apresentou pessoas extremamente talentosas, me permitiu acessar inovações tecnológicas de forma mais veloz, além, claro, de me proporcionar a remuneração que eu desejava. Comecei no cargo de especialista de aplicações, viajando o Brasil e a América Latina inteira para dar suporte aos clientes que implantavam as novas tecnologias, com os quais pude aprender muito.

Depois de quatro anos, fui promovida ao meu primeiro cargo de gestão para gerenciar um time de cientistas e especialistas – e considero este um dos meus maiores desafios. Primeiro, porque fui promovida em licença-maternidade, uma oportunidade pela qual sou muito grata aos meus gestores da época Patricia Landsmann e Roberto Braga, por tamanha autenticidade em adotar uma genuína meritocracia, não importassem as condições apresentadas. Segundo, porque estava, àquela época, defendendo meu doutorado.

Fiz o melhor que pude para tentar equilibrar vida pessoal e profissional, mas confesso que falhei. Tive minha primeira filha e voltei antes de terminar os quatro meses de licença porque achava que tinha essa responsabilidade com a empresa. Hoje, 17 anos depois, confesso que faria diferente – mas, enfim, deu tudo certo: minha filha, Isabela, se tornou uma mulher incrível, e minha carreira seguiu, como sempre, de maneira positiva. Três anos depois, nasceu meu segundo filho, Miguel, mas já em um momento mais consciente com as escolhas pelo equilíbrio.

Segui nessa empresa durante 20 anos, período no qual foram feitas diferentes aquisições até ela ser adquirida pela Thermo Fisher Scientific. Cada aquisição veio acompanhada de mudanças drásticas na gestão, na cultura corporativa e nos desafios. Daí meu enfoque na importância da abertura a mudanças para a formação de um bom líder.

Quer se tornar um bom líder? Aprenda a ouvir e a se conectar com as pessoas

O ponto básico para se tornar um bom líder é acompanhar ativamente as constantes mudanças dentro e fora da empresa. Para isso, não basta analisar pelo celular ou ler periódicos. Aprendi que o segredo está em se conectar com as pessoas. A conexão nos ajuda a compreender onde estão os gargalhos, o que está e não está funcionando, o que há de novo e onde buscar e a quem recorrer por soluções. Assim, aprender a ouvir e a se conectar com pessoas são características essenciais para o líder tomar decisões e conduzir a empresa a uma estratégia vencedora.

O desafio da transição de carreira: do técnico à direção comercial

Um dos meus maiores êxitos profissionais sem dúvida aconteceu na transição de uma carreira puramente técnica, liderando um time de especialistas e cientistas para assumir a área comercial da empresa. E o primeiro desafio começava provando para mim mesma, e também para a gestão da empresa, que eu era capaz de fazer essa transição agregando valor à posição.

Assim, ainda como gerente sênior de aplicações do time da Thermo Fisher, assumi um stretch assignment para ocupar a liderança clínica da empresa. Eu sentia a falta de alguém liderando essa área, que era uma lacuna de mercado, e me propus a conduzir esse desafio, pois acreditava que meu perfil técnico e conhecimento adquirido de mercado eram a combinação necessária para executar esta estratégia.

Durante um ano e meio, construí o projeto com toda a equipe, o qual considero ter sido um verdadeiro sucesso. Os primeiros testes genéticos foram oferecidos no mercado de maneira disruptiva, agregando uma mudança de paradigma na genética que, até então, se tratava de uma área puramente acadêmica, mas que agora se consolidava como uma área médica.

Resultado: passamos a fazer diagnósticos de doenças raras e oncologia no Brasil, contribuindo para um melhor direcionamento de tratamento de pacientes através de testes genéticos. Quando a empresa se deu conta de que o projeto estava, de fato, consolidado, aí eu fiz a migração definitiva para assumir a divisão de análises genéticas como diretora comercial para a América Latina.

Assumi com 100% de responsabilidade todas as oportunidades que tive, adicionando outra característica que considero essencial para a formação de um líder. Trata-se de coragem. Não foram poucas as vezes em que não me senti preparada para assumir posições desafiadoras, mas aprendi que, afinal, ninguém está preparado, e basta um corajoso para dar o primeiro passo, com responsabilidade e, claro, preparo técnico.

E foi com essa coragem que, mais uma vez, me abri para mudar de empresa depois de mais de 20 anos de atuação. Em plena pandemia, em 2021, quis conhecer o mercado diagnóstico mais a fundo. Em uma mudança lateral, escolhi assumir a posição de diretora de marketing para a América Latina na Cepheid, com o objetivo de aprofundar meu aprendizado na área. Ocupei o cargo por pouco mais de um ano, até migrar para a posição que tenho hoje – a de gerente-geral para a América Latina.

A paixão pelo que faço é o que me move

Educação, para mim, sempre esteve entre os meus principais pilares e o que me inspirou a aprender cada vez mais foi o fato de minha mãe, uma dona de casa, que era apaixonada pela escola, ter tido que interromper seus estudos na quarta série do primário por imposição da família. Por isso, ela e meu pai me incentivaram muito a estudar e a conhecer o máximo possível.

Mas, por mais que tenhamos que construir um excelente currículo profissional por meio de cursos e aprendizados, nada substitui a paixão das pessoas pelo que elas fazem. Isso, para mim, é o que me move – e eu acredito de forma genuína que também mova mais pessoas.

Em muitos processos seletivos, vi candidatos talentosos, com currículos robustos em busca de melhores colocações profissionais, mas que não tinham a menor paixão pelo que faziam. Por isso, quando escolho um profissional para compor minha equipe, essa é uma das primeiras características que avalio.

Essa paixão ajuda a levar a nossa jornada profissional com mais comprometimento e, por isso, traz maior realização. O meu maior aprendizado até hoje foi justamente entender que, durante todo meu percurso profissional, o mais importante tem sido o caminho. O fim é importante? Claro, todos queremos atingir resultados e concluir os projetos com êxito, mas que não nos esqueçamos de desfrutar o caminho, sem pressa, valorizando cada aprendizado e, acima de tudo, construindo conexões. Esse é o verdadeiro legado.

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