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A liderança empática demanda engajamento e flexibilidade

Na coluna desta semana, conheça a história de Priscila Mezzalira - Customs -Affairs Director – Americas Alibaba Group

 (Blog/Divulgação)
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Histórias de sucesso

Publicado em 2 de setembro de 2022 às, 12h24.

A aposta no aprendizado contínuo representa a principal estratégia adotada para orientar os meus passos rumo à trajetória de sucesso edificada até o presente momento. Perseverante, jamais me permiti a abdicar dos meus sonhos ou mesmo de experimentar novos desafios, o que me conduziu a atuar em diferentes setores do universo corporativo, como executiva de indústria, de empresas e do mercado financeiro. Especialista em comércio exterior, com apreço especial por aspectos multiculturais, o meu atual foco é o de fortalecer o Grupo Alibaba no Brasil, e em demais países das Américas.

Natural de Jundiaí-SP, cresci dentro de uma estrutura familiar bastante humilde, tendo inclusive estudado somente em colégios públicos até chegar ao Ensino Superior. Ao ingressar na Universidade São Francisco, em Bragança Paulista, para cursar Administração de Empresas, comecei a desbravar novos horizontes. Inclusive, estagiei brevemente no McDonald's e na Caixa Econômica Federal, na área de habitação. À época, consegui estagiar através do CIEE que sempre promove atividades essenciais. No último ano da faculdade, precisava escolher uma especialização e optei por Comércio Exterior, ávida pelo desejo de viajar e conhecer o exterior.

A própria universidade proporcionou uma ação para compreendermos o que de fato era o Comércio Exterior na prática. Assim, a instituição levou algumas empresas para realizarem apresentações, e a Astra Indústria e Comércio S.A, muito forte em importação e exportação, foi representada por um profissional de RH, que abriu as portas para quem tivesse interesse em se candidatar a um cargo. Isso acarretou no meu começo da minha jornada como executiva. As temáticas me atraiam, especialmente devido ao aspecto multicultural.

Um amigo disparou o “gatilho” acerca do mundo que vivenciaria. Ele dissertava sobre como o comércio exterior englobava determinados nichos, requeria networking e o acumulo de experiências diversas. Assim, inscrevi-me para uma posição na Astra e entrei na empresa em dezembro de 2000, atuando como foreign trade assistant durante três anos.

Lembro-me bem do processo seletivo – passei por muitos testes e entrevistas, e enfatizei que sequer tencionava um salário, meu propósito passava por angariar prática. Essa fase foi marcante, pois despertou a paixão pelo o que exerço. Há 21 anos no mercado, sou grata por ter me encontrado tão precocemente.

O Comércio Exterior e o valor do networking

Logo notei que a questão do networking, de se relacionar com pessoas da área, seria fundamental dali em diante. Fui indicada para migrar rumo à Vulcabras, companhia detentora de inúmeras marcas renomadas, para assumir como foreign trade analyst e coordenadora de logística. Mas, até em função do meu perfil ambicioso, almejava ir mais longe e, assim, busquei no mundo acadêmico me preparar melhor, por meio de um MBA na Fundação Getúlio Vargas.

A FGV, por todo seu prestígio, encantava-me, além de incrementar demais o currículo. Meus pais estudaram somente até primeiro grau e sempre trabalharam muito – a força deles e a essência guerreira, de certa forma, geraram em mim essa ambição de querer realizar algo diferente. Aproveitei também para ampliar a minha rede, pois tive contato com auditor da Receita Federal, empreendedores e conheci minha amiga, Renata, que trabalhava alocada em São Paulo para a Nokia, terceirizada pela DHL.

O fato de partir para a capital paulista certamente alavancaria a carreira, e buscar uma oportunidade na megalópole tornou-se prioridade. A Nokia estava com uma vaga disponível e me prontifiquei a tentar conquistá-la, aproveitando do período de expansão da telefonia celular, em 2003. Após todo os processos, fui contratada como assistente de logística.

“É sempre importante ficarmos atentos às possibilidades, pois no futuro, os pequenos passos podem fazer a diferença”

Como a Nokia ainda não havia se estabelecido integralmente no Brasil, comecei terceirizada via DHL. Contudo, pouco depois, a corporação finlandesa cresceu tanto que precisou expandir. Mas apenas sete pessoas seriam escolhidas, em um grupo de 16. A Nokia significou uma autêntica escola – possuo um grande carinho pelas oportunidades que tive e pelo cuidado dispensado aos colaboradores.

Hoje, na minha liderança, espelho demais na Nokia e durante os nove anos em que estive integrada à companhia, angariei diversos aprendizados. Entrei como assistente e encerrei essa jornada, em 2009, como head of trade compliance, liderando esse segmento em toda América Latina. Aprendi demais com a Agnes Cruz, que me ensinou praticamente tudo sobre gestão. A Agnes é minha grande mentora. Além de me instigar com grandes ideais, ela me orientou no cotidiano sobre questões comportamentais e de atitude. Não raro, me aconselhava como me portar desde as pequenas até as grandes coisas, inclusive no relacionamento com executivos de diferentes culturas. O modelo de gestão que aplico adquiri com ela.

Várias pessoas me ajudaram a elevar o meu patamar. Sempre fui muito atenta aos feedbacks, aprecio ouvir o que os outros profissionais têm a dizer e também a indagá-los. Como perguntar para alguém que está em um posto acima qual a maneira de fazer para ir mais longe. Eventualmente, recebia o retorno de que faltava alguma competência técnica ou comportamental, mas nunca levei para o lado pessoal. Não é fácil, porém saber absorver a crítica para se aprimorar e moldar habilidades é imprescindível.

Logo após deixar a Nokia, recebi uma oferta da Huawei Technologies para assumir um cargo maior, como diretora. Havia uma proposta da Apple também, mas escolhi a multinacional chinesa em função do desafio. Na Huawei cheguei com a missão de realizar a implementação da área de comércio exterior, completando uma rica experiência por englobar a pauta multicultural e aderir a um segmento mais consultivo. Havia atuado em uma instituição europeia, depois fui para o trade compliance em uma empresa asiática. Inclui a parte de importação e exportação, mas também existe a questão da consultoria – gosto muito de ensinar e de compartilhar aprendizados. Até hoje, a companhia segue a política e o design elaborados por mim. Ainda sou procurada por algumas pessoas interessadas em saber como foi a concepção da ideia do desenvolvimento, e da implementação do novo modelo. Além de outros projetos de redução de impostos, que proporcionam retornos financeiros para as companhias.

Amealhando competências como líder

Ao analisar o meu currículo, pensei que faltava agregar a experiência em uma corporação estadunidense, que “respirasse” compliance. Após um ano na Huawei, um head hunter me encontrou no LinkedIn – uma ferramenta extremamente importante em minha vida, responsável por me proporcionar várias oportunidades, por ser uma enorme vitrine. Desta forma, aceitei a proposta da farmacêutica AbbVie, onde permaneci por cinco anos, liderando grandes equipes. Em determinado ponto, cheguei à conclusão de que estava realizada, não pensava mais em ser C-level. Nesta companhia, apesar de ser gerente-sênior, chefiava outros gerentes, o que significou uma experiência diferenciada.

Meu maior desafio foi exatamente esse, por estar à frente de gestores, profissionais experientes. Em contrapartida, justamente pelo alto nível dessas pessoas, aprendi demais, apesar de ter sofrido com a insegurança em certos momentos. Mas pensava: “Se estou neste cargo é porque sou capacitada para ocupá-lo.”. Esse foi o turning point mais significativo, ao desenvolver um papel fundamental como gestora dentro de uma multinacional.

Demandava muito mais do compliance, ao mesmo tempo em que liderava um time enorme, composto por gerentes. Alcançar esse ponto, angariando experiência com três tipos de culturas diferentes, a europeia, a asiática e a americana, marcou tanto a ponto de ter pensado que havia atingido o meu auge.

Em função desses dilemas, fui resgatar a estratégia do início da carreira ao me fortalecer com novos cursos. Concluí um MBA no Instituto Brasileiro de Coaching (IBC), cursos sobre liderança na Fundação Dom Cabral, enfim fui aprimorar o meu perfil. Ao mesmo tempo, questionava esses executivos sobre o que esperavam de mim como líder. Quais as metas, até onde eles pretendiam chegar e de que forma. Normalmente, o gestor propicia o feedback, mas sempre gostei de promover esse movimento contrário, independentemente do RH da empresa.

Com vinte anos de experiência, a pessoa adquire conhecimento técnico. Eu conhecia sobre mim – precisava expandir isso para alcançar o potencial das outras pessoas. É uma questão de empatia, de saber lidar com diferentes personalidades. A trajetória está conectada ao aprendizado contínuo, de sempre buscar o novo para seguir evoluindo, com pensamentos e culturas diferentes.

A pessoa precisa aprender a se comportar, lidar com o emocional, buscando ajuda. Seja com cursos, terapia, mentoria. Deixei essa empresa em 2018, e vislumbrei um novo passo em minha carreira. Sempre havia trabalhado em indústria e empresas e, por estar em uma área de compliance consultivo, pensei na possibilidade de atuar dentro de uma instituição de consultoria. Costumava contratar companhias desse segmento, mas estar dentro de uma delas era inédito.

A imersão no mercado financeiro

Admirava a Ernst & Young, especialmente por ter um grupo muito forte de trade compliance. Quando cheguei até eles, fiz questão de reiterar o desejo de ter uma Big Four em meu currículo. À época, não havia vagas, mesmo assim me perguntaram o que eu faria caso ingressasse. Propus algumas ideias, do que poderia realizar em termos de criar serviços novos e estratégias.

Após aproximadamente um ano, em março de 2020, no começo da pandemia, uma chance surgiu. Ocupava um cargo que o meu objetivo compreendia cerca de 70% para vender projetos, em uma área estratégica, portanto, como o primeiro corte das empresas abrangem esse nicho, permaneci apenas oito meses, e assim não consegui vivenciar a consultoria como gostaria.

A pandemia afetou bastante, fiquei praticamente um ano desempregada, mas me mantive motivada. Aproveitei para fazer vários cursos on-line, investindo em aprendizados que não detinha. Como já dominava conceitos do comércio exterior, considerei a hipótese de conhecer outros meios, já vislumbrando uma nova carreira.

Sendo assim, me vi dentro do mercado financeiro – veio à tona a bolsa de valores, e fui me aperfeiçoar nesse segmento, com a ajuda de cursos e de pessoas que já detinham conhecimento do nicho. Dediquei-me com afinco a estudar o setor e logrei êxito com essa empreitada – comecei a fazer investimentos, amparada com o dinheiro amealhado com reservas pessoais. Elaborei uma agenda, reservando tempo para estudar e desfrutei de um período que a bolsa já havia superado o pior momento causado pela pandemia. Desta forma, consegui criar minha própria renda com investimentos.

O gestor deve ajudar o liderado a evoluir constantemente

Por meio de postagens, compartilhamentos, artigos, oferecendo ajuda e conhecimento, sempre ativa nas redes, principalmente no LinkedIn, mantive ativa e envolvida com pautas atuais. Dentro da farmacêutica, criei uma universidade on-line, junto com todo o time, a Global Trade University. Eram treinamentos internos, com estruturas voltadas para business, habilidades técnicas, comportamento e sistemas.

A intenção era a de gerar engajamento, haja vista que muitas vezes o trabalho do outro impacta diretamente em outros setores. Basicamente, ensinávamos para os demais profissionais, tanto os novatos quanto aos mais experientes, o que praticávamos lá dentro. Marcou como um projeto piloto de enorme sucesso. Ao deixar a companhia, postei no LinkedIn um artigo sobre a importância dos treinamentos, de estar sempre se atualizando. Junto a um amigo – que partilha dos mesmos ideais – resolvemos elaborar um curso. É um projeto que ainda requer lapidação antes de ser devidamente apresentando ao público interessado.

“Treinamento é a base de tudo – sempre busquei pensar nas ferramentas necessárias para alcançar o próximo degrau em minha trajetória”.

O desafio como diretora do Grupo Alibaba

Após ter percorrido o mercado industrial, empresarial e financeiro, o LinkedIn novamente ajudou a me posicionar na minha caminhada. Ao me candidatar para uma vaga, recebi uma ligação do Grupo Alibaba no mesmo dia. A colocação abrangia todas as experiências pelas quais já havia passado, e a empresa estava no processo de trazer suas operações para o Brasil. Ou seja, a liderança procurava por uma pessoa detentora de amplo conhecimento em comércio exterior para efetuar essa ação.

As tratativas foram bem-sucedidas e ingressei no grupo em setembro de 2021, como Customs Affairs Director para as Américas. O mais interessante foi ter conseguido colocar toda a minha trajetória em prática, inclusive a parte de mercado financeiro. Trata-se de uma corporação gigante, conhecida por todos. Porém, estamos aqui no Brasil, nos construindo e tomando forma, com um dia a dia bem semelhante à de uma startup, em meio a tantas empresas de e-commerce.

Esse estágio inicial requer bastante trabalho, porque há enorme concorrência nessa área e somos cross boarder, transnacional. E o e-commerce é mais que isso – pretendemos ter os sellers locais, atraindo os pequenos e médios empreendedores, que façam compras e vendam através do Aliexpress, como outras companhias já fazem. Atualmente, dentro do Grupo Alibaba, sou a pessoa responsável pela logística nas Américas, especialmente à frente do setor de importação.

Foi muito importante ter estudado o mercado financeiro para compreender a parte de marketing, de estratégia, de como as empresas estão se estruturando. Enfim, detenho uma visão mais abrangente sobre o comércio exterior, pois com o meu conhecimento sobre as companhias, o que elas estão vivenciando, o impacto da pandemia sobre a logística, por aspectos extrínsecos, como políticos, macroeconômicos, consigo detectar o impacto nas transações.

O e-commerce tem a facilidade de proporcionar o frete gratuito em alguns casos, como promoção, uma ferramenta extremamente chamativa para o consumidor. Todavia, lido com inúmeros desafios que abrangem mais em relação ao comércio exterior. Durante o período mais crítico da pandemia, pude aprimorar um lado que tenho aplicado muito dentro dessa nova empresa.

Ética e integridade compõe o legado de sucesso

A liderança empática, com inteligência emocional, são os principais valores nesse momento. Além disso, o profissional necessita engajar-se, identificar-se com a proposta da empresa. Atento-me a isso, se o indivíduo possui a gana, quer de fato fazer parte desse projeto, imbuído de propósito. A consequência desse esforço acontece naturalmente.

Outro ponto que considero relevante diz respeito à flexibilidade. As pessoas precisam ser mais maleáveis em relação às mudanças, porque o mundo passa por transformações cada vez mais rápidas e, com a pandemia, observamos como as coisas se tornam imprevisíveis. O presumível é mais fácil de se ajustar, planejar, mas tivemos que nos adaptar à realidade desse duro momento, e isso foi possível a todos.

Quando analisamos contratempos na edificação de carreiras, eventualmente elas se verificam logo no começo da jornada. Às vezes, os próprios pais interferem equivocadamente na escolha da profissão. Acredite no seu feeling, aposte no seu dom e nos seus talentos. Logicamente, sempre se atentando às experiências, pois é importante saber ouvir. Destaco também a fator medo como um grande risco, pois ele paralisa a pessoa, assim como a insegurança pode conduzir às dúvidas insolúveis.

Alicerçada por tantas vivências, reitero os valores e os conselhos que pretendo passar para os profissionais já estabelecidos e às próximas gerações. Evidentemente, ética e integridade são princípios primordiais em qualquer função que a pessoa exerça. É preciso gerar confiança e, além disso, ampliar o seu leque de conhecimentos.

Nunca faça algo que você terá vergonha em compartilhar depois. Trata-se de uma questão de caráter, de personalidade – assim se conquista mais respeito e, por conseguinte, as coisas acontecem naturalmente. Sempre agi dessa maneira, e é o que funciona para mim.

Portanto, sempre acredite em seus sonhos pessoais e profissionais. Tudo é possível – as oportunidades existem para todos e precisamos buscar o que almejamos. Águias voam com águias, de nada adianta frequentar ambientes que não estão relacionados com as nossas metas. E existem meios para isso, estabelecendo conexões e buscas pelas ocasiões adequadas.

“Você só saberá se dará certo se arriscar e acreditar no seu sonho”.