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Você está preparado para ter conversas difíceis?

Frio na barriga, desconforto, emoções à flor da pele, tendência a adiar ou mesmo evitar, receio da reação do outro e das possíveis consequências. Estas são algumas das possíveis sensações e pensamentos envolvidos quando estamos diante da situação de lidar com uma conversa difícil. Você certamente já passou por algo parecido. Uma pessoa da equipe de trabalho, ou mesmo familiar, que está apresentando um comportamento que desagrada muito; uma discordância […] Leia mais

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2016 às 18h34.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 07h27.

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Frio na barriga, desconforto, emoções à flor da pele, tendência a adiar ou mesmo evitar, receio da reação do outro e das possíveis consequências. Estas são algumas das possíveis sensações e pensamentos envolvidos quando estamos diante da situação de lidar com uma conversa difícil. Você certamente já passou por algo parecido. Uma pessoa da equipe de trabalho, ou mesmo familiar, que está apresentando um comportamento que desagrada muito; uma discordância grave com seu chefe; um momento de encruzilhada no relacionamento com seu parceiro ou parceira.

Muitas vezes o que acaba acontecendo é que a conversa é adiada até o momento em que as emoções são tão intensas que não suportamos mais e despejamos o nosso conteúdo, do que pensamos e sentimos, de uma forma tão contundente e por vezes agressiva, que acabamos por criar um contexto de baixa capacidade de escuta no outro, ou outros envolvidos. No outro lado da história, somos nós que recebemos acusações, críticas e julgamentos do que estamos fazendo ou como estamos nos comportando. E aí somos nós que entramos em defesa e neste cenário vamos para o ataque ou fuga, ou então ficamos simplesmente congelados, sem reação diante do que acontece diante dos nossos olhos.

E se alguém nos pergunta o que aconteceu, imediatamente nos vem à mente uma série de ações e comportamentos que o outro adotou e que se tivesse feito diferente, a situação estaria bem melhor. Mas de fato, não temos controle sobre como o outro vai pensar, sentir e agir. O que temos controle realmente se restringe a 3 dimensões.

A primeira está ligada à quantidade de informações disponíveis sobre o que está acontecendo. Ao invés de ficarmos restritos ao que sabemos e pensamos, podemos expandir nossa base de informações se entrarmos no estado de curiosidade autêntica por saber mais sobre a perspectiva do outro. O que chamamos de realidade, no fundo é simplesmente nosso entendimento a sobre o que está acontecendo. Quando fazemos perguntas e ouvimos ativamente, incorporamos novos dados que facilitam a expansão da nossa percepção e a construção de novas possibilidades.

A segunda dimensão sob nosso controle é a escolha da lente com a qual vamos olhar a situação. Todos temos um modelo mental, fruto da nossa história, herança das nossas experiências de vida. Ouvi de um jovem japonês que fez um intercâmbio de um ano no Brasil um comentário muito revelador, quando lhe perguntaram sobre o que mais aprendeu em seu período no Brasil. Disse: “aprendi muito sobre o que é ser japonês”. E explicou que quando fazia alguma coisa e seus amigos brasileiros comentavam que fazia daquele jeito por ser japonês, ele se dava conta de que, o que lhe parecia óbvio e natural, não era para outros de uma cultura diferente, que usavam outras “lentes” para a situação. Cada um de nós tem uma lente única, e tornar-se curioso sobre a lente do seu interlocutor pode ajudar muito numa conversa difícil. O que será que é valor para o outro? Quais são as necessidades que o outro tem e que não estão sendo atendidas?

A terceira dimensão que está sobre nosso controle se refere a como vamos nos comportar. Acreditamos às vezes que o outro “causou” nosso sentimento e nossa reação. Fiquei com raiva e gritei com o outro porque o outro gritou comigo. Na verdade, nossos sentimentos se originam a partir de nossas necessidades atendidas ou não. Alguém gritando comigo pode originar raiva se tenho uma necessidade de ser respeitado e interpreto o grito como falta de respeito. Pode originar medo se tenho uma necessidade de me sentir seguro e o grito é lido como uma ameaça a perder o que tenho, meu emprego por exemplo. Pode também me originar culpa, se sinto que alguém grita comigo por eu não ter feito o que creio deveria ter feito e não fiz, quando minha necessidade é de me sentir reconhecido a qualquer custo. Ou um grito pode simplesmente despertar curiosidade e compaixão, se é importante para mim estar conectado e integrado com o outro: o que será que está levando o outro a se comportar de forma tão desequilibrada. Que dores e aflições ele está vivendo neste momento? Quais serão suas necessidades não atendidas?

Nesta perspectiva, nosso comportamento é em última instância uma escolha e não uma reação, e assim está sob nosso controle. Não estou dizendo que certas escolhas sejam fáceis. Muito pelo contrário, exigem muito treino e preparação, mas dependem somente de nós.

E se você tem uma conversa difícil à frente seguem algumas dicas:

1- Preparar-se: Uma boa preparação começa com ter consciência de como estamos, do que estamos sentindo e de buscar um estado de centramento. Existem muitos exercícios possíveis para entrar neste estado de maior recurso. Práticas meditativas ou orações são possibilidades e tipicamente uma alteração da nossa respiração, tornando-a mais lenta e profunda, nos reconecta com esta força interior. Quem já praticou artes marciais como é o meu caso, não tem dúvidas sobre o poder e o equilíbrio que entrar neste estado nos traz. Uma boa preparação passa também por ter clareza sobre nossa intenção para a conversa e sobre o que seria um bom resultado.

2- Fazer um bom convite: Uma vez centrado, faça um bom convite para a conversa, facilitando que o outro entre numa zona de maior segurança psicológica, onde se sentirá respeitado e reconhecido. Fale sobre sua boa intenção e encontre uma hora e local que estejam bem para a outra pessoa também.

3- Dialogar falando inicialmente mais de si que do outro: Ao falar de situações ocorridas, procure ser o mais neutro possível sem interpretações ou julgamentos. A partir deste contexto neutro procure deixar claro seus sentimentos e necessidades e, ao mesmo tempo, fique curioso sobre os sentimentos e necessidades do outro. Às vezes quando nos referimos a sentimentos parece que entramos num espaço de fragilidade e fraqueza. Pelo contrário. Estamos falando aqui de um movimento que exige coragem e ao mesmo tempo é mágico para conectar o lado humano dos envolvidos. E estamos falando de conversas que podem ser muito duras e difíceis. Mas começamos falando de nós mesmos ao invés de acusar ou julgar o outro. Existe uma diferença muito grande quando relato uma situação e revelo que me senti invadido, desrespeitado ou ignorado, falando também do que é valor para mim. O outro simplesmente não tem o que contestar. Não tem como dizer que eu não senti ou que algo não é importante para mim. No máximo pode trazer que não teve a intenção. A história seria totalmente diferente se eu tivesse dito que ele me invadiu, desrespeitou ou ignorou. Ele certamente entraria em defesa e contra-argumentaria. Estamos neste momento elevando o nível de consciência do outro, trazendo-lhe mais informações e oferecendo uma nova lente de leitura para o que ocorreu. E se também ficamos curiosos para clarificar situações a partir da lente do outro criamos um cenário propício para a expansão de múltiplas possibilidades.

4- Clarificar o que seriam bons próximos passos para vocês: Ao ter clareza sobre o que seria um bom caminho, formule pedidos e não exigências. Cheque o que também seria bom para o outro.

Assim como fazer bem um esporte, a arte de dialogar requer treino e dedicação. Espero que a “série” aqui apresentada ajude no desenvolvimento de uma boa musculatura para o diálogo aberto, robusto e repleto de bons frutos. Se quiser trocar mais ideias sobre o tema, escreva para mim. Meu e-mail é ney@corall.net.

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Frio na barriga, desconforto, emoções à flor da pele, tendência a adiar ou mesmo evitar, receio da reação do outro e das possíveis consequências. Estas são algumas das possíveis sensações e pensamentos envolvidos quando estamos diante da situação de lidar com uma conversa difícil. Você certamente já passou por algo parecido. Uma pessoa da equipe de trabalho, ou mesmo familiar, que está apresentando um comportamento que desagrada muito; uma discordância grave com seu chefe; um momento de encruzilhada no relacionamento com seu parceiro ou parceira.

Muitas vezes o que acaba acontecendo é que a conversa é adiada até o momento em que as emoções são tão intensas que não suportamos mais e despejamos o nosso conteúdo, do que pensamos e sentimos, de uma forma tão contundente e por vezes agressiva, que acabamos por criar um contexto de baixa capacidade de escuta no outro, ou outros envolvidos. No outro lado da história, somos nós que recebemos acusações, críticas e julgamentos do que estamos fazendo ou como estamos nos comportando. E aí somos nós que entramos em defesa e neste cenário vamos para o ataque ou fuga, ou então ficamos simplesmente congelados, sem reação diante do que acontece diante dos nossos olhos.

E se alguém nos pergunta o que aconteceu, imediatamente nos vem à mente uma série de ações e comportamentos que o outro adotou e que se tivesse feito diferente, a situação estaria bem melhor. Mas de fato, não temos controle sobre como o outro vai pensar, sentir e agir. O que temos controle realmente se restringe a 3 dimensões.

A primeira está ligada à quantidade de informações disponíveis sobre o que está acontecendo. Ao invés de ficarmos restritos ao que sabemos e pensamos, podemos expandir nossa base de informações se entrarmos no estado de curiosidade autêntica por saber mais sobre a perspectiva do outro. O que chamamos de realidade, no fundo é simplesmente nosso entendimento a sobre o que está acontecendo. Quando fazemos perguntas e ouvimos ativamente, incorporamos novos dados que facilitam a expansão da nossa percepção e a construção de novas possibilidades.

A segunda dimensão sob nosso controle é a escolha da lente com a qual vamos olhar a situação. Todos temos um modelo mental, fruto da nossa história, herança das nossas experiências de vida. Ouvi de um jovem japonês que fez um intercâmbio de um ano no Brasil um comentário muito revelador, quando lhe perguntaram sobre o que mais aprendeu em seu período no Brasil. Disse: “aprendi muito sobre o que é ser japonês”. E explicou que quando fazia alguma coisa e seus amigos brasileiros comentavam que fazia daquele jeito por ser japonês, ele se dava conta de que, o que lhe parecia óbvio e natural, não era para outros de uma cultura diferente, que usavam outras “lentes” para a situação. Cada um de nós tem uma lente única, e tornar-se curioso sobre a lente do seu interlocutor pode ajudar muito numa conversa difícil. O que será que é valor para o outro? Quais são as necessidades que o outro tem e que não estão sendo atendidas?

A terceira dimensão que está sobre nosso controle se refere a como vamos nos comportar. Acreditamos às vezes que o outro “causou” nosso sentimento e nossa reação. Fiquei com raiva e gritei com o outro porque o outro gritou comigo. Na verdade, nossos sentimentos se originam a partir de nossas necessidades atendidas ou não. Alguém gritando comigo pode originar raiva se tenho uma necessidade de ser respeitado e interpreto o grito como falta de respeito. Pode originar medo se tenho uma necessidade de me sentir seguro e o grito é lido como uma ameaça a perder o que tenho, meu emprego por exemplo. Pode também me originar culpa, se sinto que alguém grita comigo por eu não ter feito o que creio deveria ter feito e não fiz, quando minha necessidade é de me sentir reconhecido a qualquer custo. Ou um grito pode simplesmente despertar curiosidade e compaixão, se é importante para mim estar conectado e integrado com o outro: o que será que está levando o outro a se comportar de forma tão desequilibrada. Que dores e aflições ele está vivendo neste momento? Quais serão suas necessidades não atendidas?

Nesta perspectiva, nosso comportamento é em última instância uma escolha e não uma reação, e assim está sob nosso controle. Não estou dizendo que certas escolhas sejam fáceis. Muito pelo contrário, exigem muito treino e preparação, mas dependem somente de nós.

E se você tem uma conversa difícil à frente seguem algumas dicas:

1- Preparar-se: Uma boa preparação começa com ter consciência de como estamos, do que estamos sentindo e de buscar um estado de centramento. Existem muitos exercícios possíveis para entrar neste estado de maior recurso. Práticas meditativas ou orações são possibilidades e tipicamente uma alteração da nossa respiração, tornando-a mais lenta e profunda, nos reconecta com esta força interior. Quem já praticou artes marciais como é o meu caso, não tem dúvidas sobre o poder e o equilíbrio que entrar neste estado nos traz. Uma boa preparação passa também por ter clareza sobre nossa intenção para a conversa e sobre o que seria um bom resultado.

2- Fazer um bom convite: Uma vez centrado, faça um bom convite para a conversa, facilitando que o outro entre numa zona de maior segurança psicológica, onde se sentirá respeitado e reconhecido. Fale sobre sua boa intenção e encontre uma hora e local que estejam bem para a outra pessoa também.

3- Dialogar falando inicialmente mais de si que do outro: Ao falar de situações ocorridas, procure ser o mais neutro possível sem interpretações ou julgamentos. A partir deste contexto neutro procure deixar claro seus sentimentos e necessidades e, ao mesmo tempo, fique curioso sobre os sentimentos e necessidades do outro. Às vezes quando nos referimos a sentimentos parece que entramos num espaço de fragilidade e fraqueza. Pelo contrário. Estamos falando aqui de um movimento que exige coragem e ao mesmo tempo é mágico para conectar o lado humano dos envolvidos. E estamos falando de conversas que podem ser muito duras e difíceis. Mas começamos falando de nós mesmos ao invés de acusar ou julgar o outro. Existe uma diferença muito grande quando relato uma situação e revelo que me senti invadido, desrespeitado ou ignorado, falando também do que é valor para mim. O outro simplesmente não tem o que contestar. Não tem como dizer que eu não senti ou que algo não é importante para mim. No máximo pode trazer que não teve a intenção. A história seria totalmente diferente se eu tivesse dito que ele me invadiu, desrespeitou ou ignorou. Ele certamente entraria em defesa e contra-argumentaria. Estamos neste momento elevando o nível de consciência do outro, trazendo-lhe mais informações e oferecendo uma nova lente de leitura para o que ocorreu. E se também ficamos curiosos para clarificar situações a partir da lente do outro criamos um cenário propício para a expansão de múltiplas possibilidades.

4- Clarificar o que seriam bons próximos passos para vocês: Ao ter clareza sobre o que seria um bom caminho, formule pedidos e não exigências. Cheque o que também seria bom para o outro.

Assim como fazer bem um esporte, a arte de dialogar requer treino e dedicação. Espero que a “série” aqui apresentada ajude no desenvolvimento de uma boa musculatura para o diálogo aberto, robusto e repleto de bons frutos. Se quiser trocar mais ideias sobre o tema, escreva para mim. Meu e-mail é ney@corall.net.

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