Ser generativo ou não ser? Eis uma boa questão!
Estar em estado generativo é a fonte da alta performance. É como o que acontece com um atleta, músico ou artista que surpreende e impressiona o seu público com a expressão máxima do seu talento. Se refletirmos sobre os nossos melhores momentos e criações, percebemos que eles foram possíveis porque estávamos neste estado, mesmo que inconscientemente. Este mês tive o privilégio de passar 10 dias fazendo uma formação em Coaching […] Leia mais
Publicado em 21 de março de 2016 às, 13h31.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 07h43.
Estar em estado generativo é a fonte da alta performance. É como o que acontece com um atleta, músico ou artista que surpreende e impressiona o seu público com a expressão máxima do seu talento. Se refletirmos sobre os nossos melhores momentos e criações, percebemos que eles foram possíveis porque estávamos neste estado, mesmo que inconscientemente.
Este mês tive o privilégio de passar 10 dias fazendo uma formação em Coaching Generativo com os renomados professores Stephen Gilligan e Robert Dilts. Eles se conheceram quando eram alunos de psicologia da Universidade da Califórnia em Santa Cruz na década de 70, momento em que emergiu uma nova forma de entender e promover o desenvolvimento humano influenciado pelas experiências e práticas da programação neurolinguística e da filosofia inovadora de Milton Erickson. Ao longo dos últimos 40 anos eles estudaram, aplicaram e evoluíram desta base teórica inicial para a inclusão de outras perspectivas na construção de uma abordagem conhecida hoje como mudança generativa.
A mudança generativa visa criar algo novo, que vai além das respostas e soluções já existentes e conhecidas, seja na vida pessoal, profissional ou empresarial. Nossos mapas mentais são o principal determinante da realidade que criamos para nós no mundo. Nosso estado físico e emocional determina quais mapas mentais acessamos ao buscarmos respostas e soluções para as situações que enfrentamos na vida. Se estamos tensos, contraídos e reativos nos fechamos e não somos capazes de ver além dos mapas mentais que já possuímos e que nos limitam as opções e escolhas disponíveis. Mas, se estamos em um estado de centramento, com nossa mente aberta, conscientes dos sinais que sentimos no nosso corpo e presentes ao que ocorre no momento, conseguimos entrar em um estado generativo, sendo capazes de nos abrir e acessar um campo de infinitos recursos e incontáveis possibilidades. E, assim, criamos novos mapas mentais que potencializam a criatividade e abrem caminhos para soluções inovadoras.
Para estar em um estado generativo é preciso estar conectado à sua mente cognitiva, à sua mente somática e estar aberto a uma terceira mente, a inteligência de um campo de recursos que todos podemos acessar. A mente cognitiva pensa, raciocina, planeja e direciona muito do que fazemos na vida. A mente somática é a inteligência do corpo que tem uma sabedoria profunda que reconhecemos por meio de sinais físicos tais como a respiração acelerada, aperto no coração, frio no estômago, entre tantos outros. O campo de energia quântica nos conecta a todos, a toda nossa história, nossa ancestralidade, a todos os aprendizados e recursos da humanidade. No estado generativo as três mentes se relacionam, como se dançassem juntas, em harmonia com o fluxo da vida.
A mudança generativa se inicia com a definição de uma intenção clara e positiva, que mobiliza e conecta as três mentes. É comum, em processos de mudança, tanto pessoal, como organizacional que, ao buscarmos a realização de nossas intenções, apareçam obstáculos que limitam nosso avanço e sucesso. A nossa mente cognitiva, muitas vezes, reconhece o obstáculo como um dilema entre isto ou aquilo. A grande diferença é que a mudança generativa não vê o obstáculo como algo que se opõe à nossa intenção, meta ou objetivo, e sim como algo que faz parte, que se integra. O obstáculo deve ser acolhido porque por trás dele está contido um recurso que quando integrado contribui para identificarmos o caminho que nos levará a alcançar nossa intenção.
Em empresas e organizações, projetos de transformação, inovação e mudanças se iniciam todos os dias e, uma grande parte deles, não alcançam o sucesso desejado e acabam ficando pelo meio do caminho. Quando se identificam sinais de resistência, muitas vezes, se insiste no mesmo caminho e isso, ao invés de superar a resistência, acaba por fortalecê-la. Atuar com uma perspectiva generativa é entender e incluir a sabedoria e recursos que estão escondidos na roupagem de resistência para então encontrar um caminho que impulsione a concretização da intenção da transformação.
Nestes contextos, ser e atuar como um líder generativo pode fazer toda a diferença, principalmente quando precisamos encontrar soluções inovadoras. Um líder generativo, ao invés de definir sozinho a intenção, faz uma boa pergunta que desperta o interesse e engaja os envolvidos a co-criar juntos uma intenção que já irá incluir diversas perspectivas e terá força para mobilizar a organização. O líder tem o desafio de sustentar, com persistência e paciência, um espaço de diálogo e construção que potencializa a tensão criativa, para que a equipe possa se abrir a novos caminhos, combinando de forma inovadora informações conhecidas e insights criativos que surgem do desconhecido. Ao longo da jornada quando os obstáculos aparecem, tantos os previstos como inesperados, o líder e a sua equipe os reconhecem como respostas legítimas do sistema que contém contribuições relevantes que podem ser colocados a serviço da transformação.
Um excelente exemplo de um líder generativo é Nelson Mandela. No filme “INVICTOS”, dirigido por Clint Eastwood e estrelado por Morgan Freeman e Matt Damon, Mandela é retratado quando assume a presidência da África do Sul, no momento em que o País precisa urgentemente de uma reconciliação nacional. A Copa do Mundo de rúgbi se aproxima e pela primeira vez será realizada na região. Mandela reconhece no time nacional de rúgbi e em sua torcida branca um símbolo da resistência ao surgimento de uma nova era. Com sua sabedoria, coragem e mesmo sabendo estar agindo contra a vontade de seus apoiadores negros, decide acolher e apoiar a equipe de rúgbi. E, no final, a equipe conquista o campeonato mundial e é apoiada e festejada por brancos e negros, tornando-se um símbolo das possibilidades de uma nova África do Sul.
No Brasil, vivemos um momento de conflitos profundos em que governo e oposição estão cheios de ódio e desejam a exclusão um do outro. Neste cenário, em que as divergências se acentuam e a resistência se fortalece, precisam surgir líderes generativos, capazes de acolher os opostos, reconhecer suas fortalezas e incluir todas as perspectivas para construir juntos caminhos e soluções que possibilitem o crescimento saudável e sustentável do País.
O estado generativo, estado de criatividade plena, está disponível a todos nós seres humanos, mas para acessá-lo de forma consciente e nos mantermos conectados a ele é preciso mais do que vontade e desejo. Temos que aprender a nos centrar, desenvolver práticas que nos ajudem a aquietar a mente, perceber a energia que circula no nosso corpo, nos abrir e nos entregar a sabedoria que emana desse campo de tantos recursos. Para nos mantermos em estado generativo precisamos, acima de tudo, praticar, praticar e praticar.
Então, proponho uma reflexão – Qual fração do seu tempo você reconhece que está em estado generativo? Qual fração do seu tempo você passa no seu estado automático? Ser generativo ou não ser? Eis uma boa questão!