Semáforo ou rotatória, qual é a sua?
"Para que serve a utopia? A utopia serve para caminhar.”
corallconsultoria
Publicado em 3 de setembro de 2018 às 15h42.
Sempre que visito meu irmão em San Diego, me surpreendo com a baixíssima quantidade de semáforos, praticamente, exclusivos às grandes avenidas. O trânsito, no entanto, flui muito bem em todos os outros cruzamentos e rotatórias. No lugar do equipamento que diz quem pode prosseguir e quem deve parar, o que se vê? Dois mandamentos não escritos em lugar algum: parar em todos os cruzamentos, mesmo que não haja qualquer veículo se aproximando, e respeitar uma regra muito utilizada pela indústria para administrar seus estoques: First In First Out (FIFO), ou seja, o primeiro a chegar é o primeiro a sair.
Incrível como essas duas regrinhas básicas fazem toda a diferença. Claro que já fui motorista de primeira viagem e quase provoquei um acidente seguindo a lógica inspirada na Lei de Gerson, onde o mais esperto, o mais rápido, o mais agressivo no volante ou o dono do maior carro leva vantagem e passa na frente do outro.
Também faz parte dessa lógica aquela comparação rápida entre as duas ruas: se estou na que me parecer ser a via principal, mesmo que haja uma rotatória decido que a preferência é minha e vou impor minha passagem em detrimento do outro. Fica fácil perceber qual das duas lógicas precisa de mais controle para minimizar os riscos de acidentes.
E, no caso do trânsito, controlar significa instalar mais semáforos e ampliar a fiscalização por meio de radares e agentes do trânsito. Além de evidentemente mais custoso, por mais paradoxal que pareça mais controle gera justamente aquilo que se deseja evitar: erros, muito mais erros. Isso porque semáforos falham e, quando eles não funcionam, num piscar de olhos já estamos de novo usando a Lei de Gerson; e não se pode – pelo menos, ainda – fiscalizar tudo o tempo todo.
Em meu trabalho de ajudar organizações a inovar seus modelos de gestão, encontro muito mais semáforos do que rotatórias. A maioria ainda parece refém da busca obsessiva por semáforos infalíveis e radares cada vez mais inteligentes para comandar e controlar pessoas e processos, o que, invariavelmente, acaba gerando dor e frustração.
Outro grupo quer transformar todos os semáforos em rotatórias e desativar todos os radares – de preferência, da noite para o dia. Por sorte, raras são as empresas que levam essa ideia a cabo, porque o estrago potencial de uma mudança brusca é enorme. No entanto, não se trata apenas de educar os motoristas. A educação, nesse caso, não é o início desse processo. Ela é resultado.
No semáforo, o controle é externo, o comando vem de fora, a regra é dada, deve ser seguida à risca. A intensidade do trânsito não importa: no vermelho pare, no verde siga. Na rotatória, o controle é interno, a escolha é de cada um, o sistema é auto organizado. E todo sistema se auto organiza em torno de algo que se conserva – no caso da rotatória, conservam-se o respeito ao outro, o cuidado com o outro. Quando os motoristas passam a conservar esses valores, resultam em motoristas mais educados, que não necessitam de semáforos para lhes dizer quando parar e quando prosseguir.
A lógica é simples: o controle distribuído por todos é muito mais eficiente do que um único controle centralizado. Quando numa organização os colaboradores passam a conservar um propósito comum com o qual se identificam e valores como confiança, respeito e honestidade, semáforos e radares vão se tornando obsoletos até que, quem sabe, um dia, não sejam mais necessários.
Fique tranquilo ou tranquila se você encara essa transformação como algo utópico. Como disse o poeta Eduardo Galeano, “para que serve a utopia? A utopia serve para caminhar”. Que então busquemos criar novos caminhos onde as rotatórias façam mais sentido do que os semáforos.
Sempre que visito meu irmão em San Diego, me surpreendo com a baixíssima quantidade de semáforos, praticamente, exclusivos às grandes avenidas. O trânsito, no entanto, flui muito bem em todos os outros cruzamentos e rotatórias. No lugar do equipamento que diz quem pode prosseguir e quem deve parar, o que se vê? Dois mandamentos não escritos em lugar algum: parar em todos os cruzamentos, mesmo que não haja qualquer veículo se aproximando, e respeitar uma regra muito utilizada pela indústria para administrar seus estoques: First In First Out (FIFO), ou seja, o primeiro a chegar é o primeiro a sair.
Incrível como essas duas regrinhas básicas fazem toda a diferença. Claro que já fui motorista de primeira viagem e quase provoquei um acidente seguindo a lógica inspirada na Lei de Gerson, onde o mais esperto, o mais rápido, o mais agressivo no volante ou o dono do maior carro leva vantagem e passa na frente do outro.
Também faz parte dessa lógica aquela comparação rápida entre as duas ruas: se estou na que me parecer ser a via principal, mesmo que haja uma rotatória decido que a preferência é minha e vou impor minha passagem em detrimento do outro. Fica fácil perceber qual das duas lógicas precisa de mais controle para minimizar os riscos de acidentes.
E, no caso do trânsito, controlar significa instalar mais semáforos e ampliar a fiscalização por meio de radares e agentes do trânsito. Além de evidentemente mais custoso, por mais paradoxal que pareça mais controle gera justamente aquilo que se deseja evitar: erros, muito mais erros. Isso porque semáforos falham e, quando eles não funcionam, num piscar de olhos já estamos de novo usando a Lei de Gerson; e não se pode – pelo menos, ainda – fiscalizar tudo o tempo todo.
Em meu trabalho de ajudar organizações a inovar seus modelos de gestão, encontro muito mais semáforos do que rotatórias. A maioria ainda parece refém da busca obsessiva por semáforos infalíveis e radares cada vez mais inteligentes para comandar e controlar pessoas e processos, o que, invariavelmente, acaba gerando dor e frustração.
Outro grupo quer transformar todos os semáforos em rotatórias e desativar todos os radares – de preferência, da noite para o dia. Por sorte, raras são as empresas que levam essa ideia a cabo, porque o estrago potencial de uma mudança brusca é enorme. No entanto, não se trata apenas de educar os motoristas. A educação, nesse caso, não é o início desse processo. Ela é resultado.
No semáforo, o controle é externo, o comando vem de fora, a regra é dada, deve ser seguida à risca. A intensidade do trânsito não importa: no vermelho pare, no verde siga. Na rotatória, o controle é interno, a escolha é de cada um, o sistema é auto organizado. E todo sistema se auto organiza em torno de algo que se conserva – no caso da rotatória, conservam-se o respeito ao outro, o cuidado com o outro. Quando os motoristas passam a conservar esses valores, resultam em motoristas mais educados, que não necessitam de semáforos para lhes dizer quando parar e quando prosseguir.
A lógica é simples: o controle distribuído por todos é muito mais eficiente do que um único controle centralizado. Quando numa organização os colaboradores passam a conservar um propósito comum com o qual se identificam e valores como confiança, respeito e honestidade, semáforos e radares vão se tornando obsoletos até que, quem sabe, um dia, não sejam mais necessários.
Fique tranquilo ou tranquila se você encara essa transformação como algo utópico. Como disse o poeta Eduardo Galeano, “para que serve a utopia? A utopia serve para caminhar”. Que então busquemos criar novos caminhos onde as rotatórias façam mais sentido do que os semáforos.