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Quem me autoriza a ser eu mesmo?

Um mindset de liberdade é fundamental para dar espaço às mudanças.

(Shutterstock/ SvetaZi/Corall Consultoria)
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corallconsultoria

Publicado em 18 de junho de 2018 às 17h46.

Última atualização em 18 de junho de 2018 às 17h46.

Ao lado do meu dia-a-dia como consultor na Corall, trago a rotina de atendimentos como coach e terapeuta. E foi neste contexto que me deparei com uma percepção importante sobre um dos elementos no mindset predominante hoje nas organizações, e talvez no mundo do trabalho, e que atua como elemento de repressão aos processos de mudança e transformação organizacionais.

Recebi em semanas subsequentes duas pessoas que agendaram conversas comigo, e curiosamente, hoje pela manhã, tive mais uma conversa que trouxe à tona a mesma questão. Todos, cada um em seu caminho, haviam concluído processos de formação como terapeutas. Formações feitas em instituições distintas, linhas distintas e até mesmo países distintos. A dificuldade começou a ser expressada de forma dissimulada, não por evitarem, mas por não perceberem a princípio o que se apresentava. Pouco a pouco percebi as perguntas sobre o meu processo e o meu caminho e formação como terapeuta e aí então se mostrou lentamente a dificuldade deles em assumirem-se como terapeutas e assumirem o risco e a responsabilidade de oferecerem seu trabalho e acolherem as demandas. A origem da insegurança não vinha da dúvida sobre o seu conhecimento ou preparação, mas do medo de serem apontados por essa ou aquela pessoa ou instituição como alguém sem autorização para atender.

Nenhum dos três tinha a formação original em profissões terapêuticas, mas todos dedicavam-se há anos ao aprofundamento no entendimento do ser e nos formatos possíveis para atender, acessar e ajudar pessoas em seus caminhos de reflexão, cura e evolução. No entanto, parecia a mim, e a eles, que nada podia cumprir com o papel de ter concluído um curso universitário que os permitissem atender. Digo, uma faculdade de psicologia, fisioterapia, medicina, ou qualquer outra que tivesse intrínseco na formação profissional a autorização a atender pacientes. As instituições menores, nas quais cada um tinha trilhado sua formação, pareciam não cumprir totalmente com este papel. Socialmente, pareciam precisar de pessoas institucionais ainda maiores para aplacarem a insegurança interna em assumirem a sua condição de fazer e experimentar.

Pois bem. Pode parecer absolutamente óbvia esta questão, mas não é. É fator absolutamente predominante em nossa sociedade e em nossa cultura que as autorizações para o fazer, para o exercer de um trabalho qualquer, sejam dadas por instituições externas aos indivíduos que efetivamente farão aquilo que sabem fazer. Esta relação tem um papel importante, onde, em tese, as Instituições devem exercer uma séria curadoria sobre quem está ou não pronto a fazer algo. Quando buscamos um médico confiamos que a Universidade que concedeu a ele um diploma certificou-se de que ele esteja apto a medicar alguém, ou até mesmo abrir alguém para buscar uma cura, e do Conselho Regional que homologou a decisão da Universidade. Esta intermediação institucional protege ao paciente, e também ao médico. Caso algo dê errado, é o composto de instituições que protegerá  os envolvidos. O mesmo acontece com muitas atividades.

Minha reflexão provoca apenas uma regulagem quantitativa, visto que no mindset predominante é apenas a instituição, e não o indivíduo, que tem o poder e o valor de autorizar alguém a fazer algo. Ainda que seja a si mesmo. Permitimos que este padrão se aprofundasse tanto em nós, embebido por uma ilusão de neutralidade e padrão, que perdemos, dentro de nós, qualquer vestígio de autoridade própria. Dependemos de uma autorização externa para resgatarmos até mesmo a nossa confiança em nós mesmos. Não nos autorizamos a fazer algo antes que alguma instituição externa nos autorize.

Por um lado este padrão cria alguma organização social e certa segurança de que tenhamos maior responsabilidade no exercer dos trabalhos. Ao mesmo tempo, diminui drasticamente o grau de inovação e a ousadia, tão necessários para que possamos reinventar o mundo ou, ao menos, as organizações e profissões que precisam se reinventar neste mundo. Também questiono que os atuais parâmetros para definir a credibilidade das instituições seja tão eficiente assim, visto que pequenas instituições desconhecidas realizam por vezes trabalhos de imensa profundidade, enquanto algumas faculdades apesar da autorização, também dada por outra instituição, fazem um trabalho fraco e irresponsável, desovando profissionais despreparados para o universo de trabalho. Talvez sejam os blockchains a criarem novos sistemas de homologação. Quem sabe?

Dentro das empresas ideias incríveis morrem por ficarem aprisionadas e amedrontadas dentro de profissionais que aguardam uma autorização para falarem ou experimentarem. O mesmo acontece com pessoas incríveis em quase todas as áreas de atuação, diminuídas por não terem cumprido os caminhos institucionais. Estes caminhos, também limitados e que não conseguem fazer sentido para muitas pessoas que estão por aí estão nos fazendo desperdiçar talentos, vidas e oportunidades.

Por fim, em um mundo tão institucionalizado é fundamental resgatar um pouco do valor dos indivíduos e criar espaços extra institucionais valorizados e que tenham voz, para, talvez assim, voltar a incentivar pessoas a acreditarem em sua própria voz, em sua própria razão e opinião. Sem isto, estamos fadados a um mundo com sua capacidade de reinvenção profundamente reduzida e aprisionada.

E a sua organização? O que você faz no dia-a-dia para questionar as instituições e enxergar o que ficou perdido pela miopia das estruturas que nós mesmos criamos?

Ao lado do meu dia-a-dia como consultor na Corall, trago a rotina de atendimentos como coach e terapeuta. E foi neste contexto que me deparei com uma percepção importante sobre um dos elementos no mindset predominante hoje nas organizações, e talvez no mundo do trabalho, e que atua como elemento de repressão aos processos de mudança e transformação organizacionais.

Recebi em semanas subsequentes duas pessoas que agendaram conversas comigo, e curiosamente, hoje pela manhã, tive mais uma conversa que trouxe à tona a mesma questão. Todos, cada um em seu caminho, haviam concluído processos de formação como terapeutas. Formações feitas em instituições distintas, linhas distintas e até mesmo países distintos. A dificuldade começou a ser expressada de forma dissimulada, não por evitarem, mas por não perceberem a princípio o que se apresentava. Pouco a pouco percebi as perguntas sobre o meu processo e o meu caminho e formação como terapeuta e aí então se mostrou lentamente a dificuldade deles em assumirem-se como terapeutas e assumirem o risco e a responsabilidade de oferecerem seu trabalho e acolherem as demandas. A origem da insegurança não vinha da dúvida sobre o seu conhecimento ou preparação, mas do medo de serem apontados por essa ou aquela pessoa ou instituição como alguém sem autorização para atender.

Nenhum dos três tinha a formação original em profissões terapêuticas, mas todos dedicavam-se há anos ao aprofundamento no entendimento do ser e nos formatos possíveis para atender, acessar e ajudar pessoas em seus caminhos de reflexão, cura e evolução. No entanto, parecia a mim, e a eles, que nada podia cumprir com o papel de ter concluído um curso universitário que os permitissem atender. Digo, uma faculdade de psicologia, fisioterapia, medicina, ou qualquer outra que tivesse intrínseco na formação profissional a autorização a atender pacientes. As instituições menores, nas quais cada um tinha trilhado sua formação, pareciam não cumprir totalmente com este papel. Socialmente, pareciam precisar de pessoas institucionais ainda maiores para aplacarem a insegurança interna em assumirem a sua condição de fazer e experimentar.

Pois bem. Pode parecer absolutamente óbvia esta questão, mas não é. É fator absolutamente predominante em nossa sociedade e em nossa cultura que as autorizações para o fazer, para o exercer de um trabalho qualquer, sejam dadas por instituições externas aos indivíduos que efetivamente farão aquilo que sabem fazer. Esta relação tem um papel importante, onde, em tese, as Instituições devem exercer uma séria curadoria sobre quem está ou não pronto a fazer algo. Quando buscamos um médico confiamos que a Universidade que concedeu a ele um diploma certificou-se de que ele esteja apto a medicar alguém, ou até mesmo abrir alguém para buscar uma cura, e do Conselho Regional que homologou a decisão da Universidade. Esta intermediação institucional protege ao paciente, e também ao médico. Caso algo dê errado, é o composto de instituições que protegerá  os envolvidos. O mesmo acontece com muitas atividades.

Minha reflexão provoca apenas uma regulagem quantitativa, visto que no mindset predominante é apenas a instituição, e não o indivíduo, que tem o poder e o valor de autorizar alguém a fazer algo. Ainda que seja a si mesmo. Permitimos que este padrão se aprofundasse tanto em nós, embebido por uma ilusão de neutralidade e padrão, que perdemos, dentro de nós, qualquer vestígio de autoridade própria. Dependemos de uma autorização externa para resgatarmos até mesmo a nossa confiança em nós mesmos. Não nos autorizamos a fazer algo antes que alguma instituição externa nos autorize.

Por um lado este padrão cria alguma organização social e certa segurança de que tenhamos maior responsabilidade no exercer dos trabalhos. Ao mesmo tempo, diminui drasticamente o grau de inovação e a ousadia, tão necessários para que possamos reinventar o mundo ou, ao menos, as organizações e profissões que precisam se reinventar neste mundo. Também questiono que os atuais parâmetros para definir a credibilidade das instituições seja tão eficiente assim, visto que pequenas instituições desconhecidas realizam por vezes trabalhos de imensa profundidade, enquanto algumas faculdades apesar da autorização, também dada por outra instituição, fazem um trabalho fraco e irresponsável, desovando profissionais despreparados para o universo de trabalho. Talvez sejam os blockchains a criarem novos sistemas de homologação. Quem sabe?

Dentro das empresas ideias incríveis morrem por ficarem aprisionadas e amedrontadas dentro de profissionais que aguardam uma autorização para falarem ou experimentarem. O mesmo acontece com pessoas incríveis em quase todas as áreas de atuação, diminuídas por não terem cumprido os caminhos institucionais. Estes caminhos, também limitados e que não conseguem fazer sentido para muitas pessoas que estão por aí estão nos fazendo desperdiçar talentos, vidas e oportunidades.

Por fim, em um mundo tão institucionalizado é fundamental resgatar um pouco do valor dos indivíduos e criar espaços extra institucionais valorizados e que tenham voz, para, talvez assim, voltar a incentivar pessoas a acreditarem em sua própria voz, em sua própria razão e opinião. Sem isto, estamos fadados a um mundo com sua capacidade de reinvenção profundamente reduzida e aprisionada.

E a sua organização? O que você faz no dia-a-dia para questionar as instituições e enxergar o que ficou perdido pela miopia das estruturas que nós mesmos criamos?

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