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O que cultura tem a ver com neurociência?

Sabe aquela sensação ou a vontade incontrolável de sorrir, quando você vê alguém sorrindo? E que as vezes chega ao ponto de dar gargalhadas incontroláveis, sem nenhum motivo aparente? E notar, que mesmo antes que você perceba, os seus lábios já fizeram aquele movimento de sorrir distraidamente? Isso é a ação dos neurônios espelho. Ou então, quando assistimos alguém fazendo trapalhadas como naqueles vídeos caseiros do tombo de bicicleta, e […] Leia mais

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Gestão Fora da Caixa

Publicado em 8 de junho de 2015 às, 14h56.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 08h02.

Sabe aquela sensação ou a vontade incontrolável de sorrir, quando você vê alguém sorrindo? E que as vezes chega ao ponto de dar gargalhadas incontroláveis, sem nenhum motivo aparente? E notar, que mesmo antes que você perceba, os seus lábios já fizeram aquele movimento de sorrir distraidamente? Isso é a ação dos neurônios espelho.

Ou então, quando assistimos alguém fazendo trapalhadas como naqueles vídeos caseiros do tombo de bicicleta, e do salto mortal involuntário na cama elástica, que acaba no chão e nos percebemos sentindo as dores que a pessoa deve ter sentido? Daí fazemos aquelas caretas esquisitas e até mesmo uns “ais” que emitimos ao ver uma pessoa escorregando e caindo sentada no chão, ou batendo de cara numa porta de vidro e outras coisas assim.  Pode ser que até mesmo esta simples descrição já tenha te causado alguma sensação, encolhimento dos ombros e o apertar dos olhos, como se não quisesse ver.

Estas experiências são possíveis pela ação dos chamados neurônios espelho.

Os neurônios espelho são os responsáveis por termos a experiência de estar vivendo aquela situação que estamos assistindo. Espelhamos dentro de nós aquela imagem ou experiência, como se estivéssemos vivenciando-as.

E as vezes, esta experiência no cérebro, transborda pra fora, num comportamento, e faz a gente sorrir com o sorriso do outro.

Deve ser por isso que eu adoro assistir ao surf naquelas ondas gigantescas. Tenho aquele misto de sensação de adrenalina, prazer, medo e diversão. Claro que também gostaria de queimar todas aquelas calorias, mesmo estando sentada em frente a televisão!

Bem, voltando aos neurônios. Assim como muitas outras habilidades do cérebro, esta em especial pode nos ajudar a entender e evolucionar aspectos da cultura. Tanto organizacional, mas também familiar, social, ou outra.

Quero oferecer algumas diferentes formas de traduzir cultura em definições que nos ajudem a entender o que significa na prática:

  • Conjunto de valores que norteiam os comportamentos esperados em uma comunidade;
  • Aquilo que é criado através das mensagens emitidas e recebidas sobre como as pessoas devem se comportar;
  • Um conjunto de fazeres num determinado grupo de pessoas, agregadas por um propósito;
  • Significados articulados em mensagens que demonstram o que tem valor, o que é importante para um grupo;

Faz parte de nossa estratégia intrínseca de sobrevivência nos adaptarmos a um coletivo, para fazermos parte e pertencer. Lemos os sinais sobre o que é necessário para fazer parte e nos comportamos de acordo com eles. Assim, construímos e mantemos uma cultura.

A adolescência e seus códigos de vestir são um exemplo claro disso. Como disse um amigo, “quando vou pegar meu filho na escola, parece que ele estuda na Abercrombie”

Esta “necessidade” vem da expectativa de que se não conseguimos nos adaptar a uma determinada cultura, ou sairemos ou seremos rejeitados do sistema. Queremos e precisamos pertencer. E algumas vezes, as normas comportamentais que seguimos acabam por se tornar inconscientes. E os comportamentos estabelecidos influenciam os comportamentos de novos membros da comunidade e assim a cultura se perpetua.

Muitas vezes, nem nos perguntarmos por que (em alguns casos, infelizmente), espelhamos comportamos que vemos e identificamos no grupo. Se o grupo é sério, tendo a ser também. Se o grupo é descontraído, da mesma forma eu me descontraio.

A maioria de nós, quando entra numa agência bancária, por exemplo, exibe um comportamento mais sério, diferente de quando entramos numa sorveteria, no domingo à tarde. Novamente são os neurônios espelho, nos ajudando na adaptação, lendo e adequando a situação através da modelagem dos comportamentos naquele determinado contexto.

Imagine então a importância de pequenos comportamentos como sorrir, cumprimentar, ou franzir a testa e baixar os olhos. Faça um pequeno experimento e veja o que acontece quando você entra num elevador e sorri para as pessoas lá dentro.

Agora imagine isso em escala, ou seja, cada uma e todas as pessoas espelhando este sorriso a cada vez que cruzam com outras, no elevador, no corredor, no café, na calçada, e você verá um poderoso instrumento de evolução de uma cultura, de um conjunto de comportamentos e mensagens emitidas e recebidas num determinado contexto.

Transformação que pode começar com pequenos sinais e comportamentos daquilo que pode ser multiplicado, graças aos neurônios espelho. Claro que precisamos somar à isso a coerência destes sinais para um determinado grupo.  E também a força desta coerência com o propósito, no caso das empresas. Isso requer atenção e especialmente consciência, para podermos então utilizar este recurso a nosso favor, ao invés de sermos reféns destes  sinais. Mas isso é uma outra conversa… para a próxima.