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No início era o novo

Quando uma organização nos procura, normalmente vem com um pedido para resolver um problema. Os problemas são variados e podem estar relacionados à estratégia, à gestão, aos processos, à cultura, mas sempre, independente de sua natureza, a solução passa pelas pessoas. E pessoas não funcionam como máquinas, que pertencem ao mundo do não-vivo e são regidas pelo pensamento linear, mecanicista, que busca a “causa-raiz” para “consertar” o problema. Pessoas são […] Leia mais

DR

Da Redação

Publicado em 9 de fevereiro de 2015 às 19h33.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 08h08.

Quando uma organização nos procura, normalmente vem com um pedido para resolver um problema. Os problemas são variados e podem estar relacionados à estratégia, à gestão, aos processos, à cultura, mas sempre, independente de sua natureza, a solução passa pelas pessoas. E pessoas não funcionam como máquinas, que pertencem ao mundo do não-vivo e são regidas pelo pensamento linear, mecanicista, que busca a “causa-raiz” para “consertar” o problema. Pessoas são sistemas vivos complexos, atuam dentro de infinitas possibilidades, não podem ser “consertadas” de fora para dentro – pelo contrário evoluem a partir de suas próprias forças e de forma adaptativa aos diferentes contextos de seu viver.

E a solução em sistemas humanos segue um padrão, que se manifesta como uma evolução do sistema, uma transformação em sua identidade ou um processo de inovação.

Como disse certa vez o físico Albert Einstein, “nenhum problema pode ser resolvido pelo mesmo estado de consciência que o criou”. É preciso fazer diferente. A esse processo de fazer diferente, chamamos inovação. No entanto, muitas vezes, a ânsia por encontrar o caminho do novo coloca a inovação em contraposição a sua própria história – nesse sentido, a inovação é vista como uma novidade e a premissa é que inovar é se contrapor ao que é velho e obsoleto. Crescemos ouvindo que, para viver o futuro, é necessário abrir mão do passado. E que as soluções do passado não servem na construção de um futuro diferente – pelo contrário, só atrapalham. O filósofo Zygmunt Bauman, em seu “Amor Líquido”, corrobora essa teoria ao afirmar que “vivemos tempos líquidos, nada é feito para durar, tampouco (é) sólido”.

Por outro lado, uma outra perspectiva para inovação que nem sempre é reconhecida e que, em nossa opinião, corresponde à própria essência da inovação, é sua correlação com a ideia de original – original, que tanto significa novo e diferente, quanto referente ao primeiro, sem paralelos anteriores. Original deriva de origem que, por sua vez, vem do latim oriri – nascer, surgir, aparecer – mesmo radical para oriente – onde nasce o sol – e parente próximo de ordiri – começar, ordenar, palavra cujo significado é o de formar um conjunto seguindo certos critérios. Uma organização inovadora é, sob essa ótica, uma organização que se conecta com o que lhe é original, com o que a torna única, para formar um conjunto seguindo certos critérios.  As raízes que a fundaram, mesmo que não sejam vistas, continuam lhe dando sustentação. E quanto mais frondosa a árvore, mais fortes costumam ser suas raízes.

Desde esta perspectiva, inovar deixa de ser uma busca insana por algo que está fora, no que o outro fez, no benchmarking – caminho que nega a si mesmo -, para ser uma jornada evolutiva, onde simultaneamente a gente olha para o mundo e para as nossas raízes, e o outro, o diferente emerge como a provocação, o que permite a transformação, entendida como um processo de dentro para fora, onde a organização se conecta com a sua essência original para poder se tornar o melhor de si mesma num novo contexto.

Ao se reconectar com o sonho que a originou e sentir que há algo maior e mais poderoso do que sua conformação atual, a organização percebe que pode se desapegar dessa identidade e expandir as possibilidades para criar novas formas para manifestar seu sonho no mundo. Esse movimento pode ser feito sem grande impacto sobre a identidade (inovação incremental) ou com alto impacto sobre a identidade (inovação disruptiva). Por exemplo, em um processo de inovação incremental, o aparelho de telefone se transforma de disco em digital e, sem seguida, perde o fio, tornando-se portátil, mas ainda assim mantém sua identidade de telefone. A inovação se torna disruptiva quando surgem os smartphones, aparelhos que oferecem possibilidades que vão muito além de receber e fazer ligações. Qualquer que seja o caso, a inovação é sempre um tipo de metamorfose, onde os mesmos elementos precisam se combinar de uma maneira diferente para poder criar uma forma que funcione melhor no novo contexto. Assim ocorre, por exemplo, com os átomos de Hidrogênio e o Oxigênio, que, combinados sob determinadas condições, transformam-se em água (H2O), uma nova substância que não tem as propriedades nem de um, nem de outro. E o que faz uma organização se conformar de forma diferente? O outro, o diverso. Neste aspecto, a crise tem um papel fundamental, porque ela indica que já existe uma solução disponível no inconsciente do sistema, convidando a organização a buscar uma nova conformação, de modo congruente com sua necessidade permanente de adaptação.

Em nossa cultura, porém, que convive bem com a dor e a incerteza, as crises costumam ser evitadas e combatidas e assim vistas como problemas, que devem ter suas causas-raiz investigadas e ser corrigidos. Essa é uma forma de pensar que funciona perfeitamente no mundo da mecânica. Transportado para o complexo mundo do viver humano, o mesmo raciocínio se torna perverso, pois, na ânsia de resolver rápido o problema, não se percebe que a crise é justamente o início do caminho de solução, é a porta para a des-identificação com solução atual, para explorar e expandir outras possibilidades. É o sistema se auto regulando a partir da demanda por uma nova conformação. Infelizmente, a maior parte dos sistemas de ajuda ainda opera como sistemas de adestramento, com intervenções de fora para dentro concebidas para preencher “gaps” – intervenções corretivas que acabam por preservar a antiga identidade, dificultando que o novo emerja e aumentando o custo da transformação.

Para ativar o original em uma organização, é preciso olhar para as próprias crenças e assim identificar o que está limitando a manifestação de outras possibilidades. Como na alquimia, para o chumbo virar ouro, é preciso ser capaz de ver o ouro no chumbo. Inovar é, portanto, ser capaz de ver as infinitas possibilidades da alma original da organização, que tem o poder de se conformar de distintas maneiras, escolhendo o modo que funciona melhor a cada diferente contexto. Por isso, da próxima vez que você ouvir alguém dizendo que precisa inovar entenda que o que pessoa quer mesmo é voltar a ser original.

Quando uma organização nos procura, normalmente vem com um pedido para resolver um problema. Os problemas são variados e podem estar relacionados à estratégia, à gestão, aos processos, à cultura, mas sempre, independente de sua natureza, a solução passa pelas pessoas. E pessoas não funcionam como máquinas, que pertencem ao mundo do não-vivo e são regidas pelo pensamento linear, mecanicista, que busca a “causa-raiz” para “consertar” o problema. Pessoas são sistemas vivos complexos, atuam dentro de infinitas possibilidades, não podem ser “consertadas” de fora para dentro – pelo contrário evoluem a partir de suas próprias forças e de forma adaptativa aos diferentes contextos de seu viver.

E a solução em sistemas humanos segue um padrão, que se manifesta como uma evolução do sistema, uma transformação em sua identidade ou um processo de inovação.

Como disse certa vez o físico Albert Einstein, “nenhum problema pode ser resolvido pelo mesmo estado de consciência que o criou”. É preciso fazer diferente. A esse processo de fazer diferente, chamamos inovação. No entanto, muitas vezes, a ânsia por encontrar o caminho do novo coloca a inovação em contraposição a sua própria história – nesse sentido, a inovação é vista como uma novidade e a premissa é que inovar é se contrapor ao que é velho e obsoleto. Crescemos ouvindo que, para viver o futuro, é necessário abrir mão do passado. E que as soluções do passado não servem na construção de um futuro diferente – pelo contrário, só atrapalham. O filósofo Zygmunt Bauman, em seu “Amor Líquido”, corrobora essa teoria ao afirmar que “vivemos tempos líquidos, nada é feito para durar, tampouco (é) sólido”.

Por outro lado, uma outra perspectiva para inovação que nem sempre é reconhecida e que, em nossa opinião, corresponde à própria essência da inovação, é sua correlação com a ideia de original – original, que tanto significa novo e diferente, quanto referente ao primeiro, sem paralelos anteriores. Original deriva de origem que, por sua vez, vem do latim oriri – nascer, surgir, aparecer – mesmo radical para oriente – onde nasce o sol – e parente próximo de ordiri – começar, ordenar, palavra cujo significado é o de formar um conjunto seguindo certos critérios. Uma organização inovadora é, sob essa ótica, uma organização que se conecta com o que lhe é original, com o que a torna única, para formar um conjunto seguindo certos critérios.  As raízes que a fundaram, mesmo que não sejam vistas, continuam lhe dando sustentação. E quanto mais frondosa a árvore, mais fortes costumam ser suas raízes.

Desde esta perspectiva, inovar deixa de ser uma busca insana por algo que está fora, no que o outro fez, no benchmarking – caminho que nega a si mesmo -, para ser uma jornada evolutiva, onde simultaneamente a gente olha para o mundo e para as nossas raízes, e o outro, o diferente emerge como a provocação, o que permite a transformação, entendida como um processo de dentro para fora, onde a organização se conecta com a sua essência original para poder se tornar o melhor de si mesma num novo contexto.

Ao se reconectar com o sonho que a originou e sentir que há algo maior e mais poderoso do que sua conformação atual, a organização percebe que pode se desapegar dessa identidade e expandir as possibilidades para criar novas formas para manifestar seu sonho no mundo. Esse movimento pode ser feito sem grande impacto sobre a identidade (inovação incremental) ou com alto impacto sobre a identidade (inovação disruptiva). Por exemplo, em um processo de inovação incremental, o aparelho de telefone se transforma de disco em digital e, sem seguida, perde o fio, tornando-se portátil, mas ainda assim mantém sua identidade de telefone. A inovação se torna disruptiva quando surgem os smartphones, aparelhos que oferecem possibilidades que vão muito além de receber e fazer ligações. Qualquer que seja o caso, a inovação é sempre um tipo de metamorfose, onde os mesmos elementos precisam se combinar de uma maneira diferente para poder criar uma forma que funcione melhor no novo contexto. Assim ocorre, por exemplo, com os átomos de Hidrogênio e o Oxigênio, que, combinados sob determinadas condições, transformam-se em água (H2O), uma nova substância que não tem as propriedades nem de um, nem de outro. E o que faz uma organização se conformar de forma diferente? O outro, o diverso. Neste aspecto, a crise tem um papel fundamental, porque ela indica que já existe uma solução disponível no inconsciente do sistema, convidando a organização a buscar uma nova conformação, de modo congruente com sua necessidade permanente de adaptação.

Em nossa cultura, porém, que convive bem com a dor e a incerteza, as crises costumam ser evitadas e combatidas e assim vistas como problemas, que devem ter suas causas-raiz investigadas e ser corrigidos. Essa é uma forma de pensar que funciona perfeitamente no mundo da mecânica. Transportado para o complexo mundo do viver humano, o mesmo raciocínio se torna perverso, pois, na ânsia de resolver rápido o problema, não se percebe que a crise é justamente o início do caminho de solução, é a porta para a des-identificação com solução atual, para explorar e expandir outras possibilidades. É o sistema se auto regulando a partir da demanda por uma nova conformação. Infelizmente, a maior parte dos sistemas de ajuda ainda opera como sistemas de adestramento, com intervenções de fora para dentro concebidas para preencher “gaps” – intervenções corretivas que acabam por preservar a antiga identidade, dificultando que o novo emerja e aumentando o custo da transformação.

Para ativar o original em uma organização, é preciso olhar para as próprias crenças e assim identificar o que está limitando a manifestação de outras possibilidades. Como na alquimia, para o chumbo virar ouro, é preciso ser capaz de ver o ouro no chumbo. Inovar é, portanto, ser capaz de ver as infinitas possibilidades da alma original da organização, que tem o poder de se conformar de distintas maneiras, escolhendo o modo que funciona melhor a cada diferente contexto. Por isso, da próxima vez que você ouvir alguém dizendo que precisa inovar entenda que o que pessoa quer mesmo é voltar a ser original.

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