Escolher e respirar: O tempo e os espaços nos dias atuais
Escolhemos o tempo todo, mesmo quando não fazemos escolhas. O maior desafio do nosso tempo passa pela falta de presença.
Publicado em 11 de novembro de 2019 às, 10h01.
Última atualização em 11 de novembro de 2019 às, 10h05.
Há alguns anos aprendi com minha professora de cabala que, independente de ser consciente ou inconsciente, a todo momento fazemos duas coisas: respiramos e escolhemos. Ela nos alertava que, mesmo sem notar, estamos sempre respirando. Além disso, o mesmo dizia sobre escolhas: “mesmo que peça para alguém escolher o que vai querer pro jantar, isso também é uma escolha sua”.
Mais recentemente, numa conversa com uma amiga, me dei conta do quanto poderia ganhar e liberar poder pessoal se permanecesse mais no aqui e agora. Ou ainda: do quanto o fato de eu me distrair no momento presente me fazia perder a força, o foco e o equilíbrio pra me comunicar a cada momento da vida. São escolhas!
Como você tem escolhido gastar seu tempo?
Cognitivamente, é fácil entender o impacto disso nas coisas práticas. Por exemplo, se estamos frente a frente com alguém que conta um problema e quer acolhimento, mas não conseguimos parar de pensar na próxima reunião, isso é uma distração. Tá. Mas e daí?
E daí que isso é um problema crônico do nosso tempo. E, desde que degustei o genial “As coisas que você só vê quando desacelera”, do sul-coreano Haemin Sunim, fui compreendendo em pílulas as mazelas e os desafios práticos desse contexto na nossa era.
Temos vivido essas distrações com alta intensidade e alta frequência. Me parece que o maior desafio do nosso tempo passa pela falta de presença. Ao longo do tempo estamos perdendo o contato com a natureza, com a nossa intuição, com a vulnerabilidade e com a força curadora das emoções manifestadas através do corpo, emoções que também são sinais certeiros e precisos da alma para nos apontar como estamos lidando com a gente mesmo, com as demais pessoas e com a vida.
Que escolhas podemos fazer para investir nosso tempo no que importa?
Refletindo sobre tudo isso, comecei um mergulho profundo para depurar e organizar meus pensamentos de maneira mais objetiva. Agora, divido contigo o que tenho aprendido a partir dessa tomada de consciência:
- Concorrência entre o presencial e o virtual: tinha uma desconfiança de que eu investia mais tempo do que imaginava trocando mensagens e acompanhando postagens das redes sociais e fui explorar opções para monitorar isso. Nesta busca, soube de uma funcionalidade chamada “Tempo de Uso” do iPhone e comecei a monitorar o tempo que permanecia em cada aplicativo. No meu caso, eu investia 16% do meu dia entre WhatsApp e Redes Sociais. 2hs diárias trocando mensagens e 1h entre Instagram, Linkedin e Facebook. Decidi reduzir pela metade, com o compromisso de usar esse tempo para conversar mais com pessoas que amo sobre como estou e poder escutá-las também. Pra abrir conversas sobre novas ideias de projetos. Ou pra fazer absolutamente nada, descansar mesmo – apenas para citar alguns exemplos;
- Celular como fuga: percebi um padrão importante – em alguns momentos eu usava meu celular como distração. Seja para tentar controlar ou esconder emoções, como impaciência e irritabilidade nas conversas, ou simplesmente porque estar naquele momento durante o período acordado me deixava ansioso. Ao ter consciência disso, passei a negociar melhor onde e quanto quero estar. Em virtude disso, também tenho me desafiado a desconstruir a ideia de que é possível controlar o que sinto (ao mesmo tempo em que vou cuidando de respirar pra comunicar irritações da maneira mais amorosa que for possível);
- Os sinais do corpo: quando permaneço no aqui e agora consigo enxergar algo que antes era invisível pra mim – as reações do meu corpo a cada situação. O fluxo da respiração, o ritmo das batidas do coração, a temperatura – apenas para citar alguns exemplos. Cada um desses sinais vai me mostrando coisas diferentes, simples e inteligentes para me ajudar em como comunicar, cuidar e me responsabilizar pelo que é importante e prioritário para mim. Cada emoção que sinto é comunicada pelo corpo de maneira diferente. Se estou com medo, tenho mais pressa. Quando sinto raiva, fico mais quente. Na pressa, meu coração também fica acelerado. Ao sentir tristeza, minha respiração se lentifica e, às vezes, meus olhos lacrimejam;
- Nem tudo são espinhos: hoje é possível acessar gente e conteúdo mundo afora. Participar de comunidades, driblar o trânsito, contratar alguém da Índia pra trabalhar num projeto pontual… Além de todas essas maravilhas, podemos escolher e filtrar conexões e conteúdos. Talvez um dos insights importantes seja definir e cuidar com quem quero estar virtualmente (seguir nas redes, conversar, trocar mensagens) e pessoalmente, cuidando e sustentando espaços de presença e conexão.
Só por hoje: qual será a sua escolha?
A reflexão é complexa e urgente. Além disso, o contexto nos convida à distração dentre uma variedade de opções: redes sociais, fontes de notícias, amizades e coleguismos mundo afora.
Eu te pergunto: qual é a melhor forma de cuidar do que te importa?
Como cuidar aqui e agora do que é verdadeiro e importante para você?
Agora que terminou o texto, uma sugestão: que tal reler com um pouco mais de presença?
Marcelo Ribeiro dos Santos é sócio e consultor da Corall, coach ontológico e palestrante de Diversidade e Emoções no trabalho. Também dedica parte de tempo compartilhando sua sensibilidade através da escrita e da música.