Empatia poderosa para 2016
A crença de que, no Brasil, o ano só começa depois do Carnaval pode ser encarada como um bom primeiro passo para um 2016 melhor do que 2015. Soma-se o fato de estarmos em um ano bissexto, com menos feriados caindo em dias de semana ou favorecendo pontes, e já temos um belo início para 2016. Mas você pode ignorar esses sinais e seguir disseminando um clima de pessimismo que, […] Leia mais
Da Redação
Publicado em 11 de janeiro de 2016 às 09h38.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 07h48.
A crença de que, no Brasil, o ano só começa depois do Carnaval pode ser encarada como um bom primeiro passo para um 2016 melhor do que 2015. Soma-se o fato de estarmos em um ano bissexto, com menos feriados caindo em dias de semana ou favorecendo pontes, e já temos um belo início para 2016. Mas você pode ignorar esses sinais e seguir disseminando um clima de pessimismo que, a despeito de todas as evidências, definitivamente não tem ajudado a melhorar as coisas. Pelo contrário, mesmo justificável, o pessimismo desencadeia o ciclo do medo. No curto prazo, esse mecanismo impede que pensemos e ajamos como seres humanos – estamos sob o comando de nosso sistema mais primitivo, o reptiliano – e, a longo prazo, resulta em doenças sérias e, eventualmente, no fim de nossa autopoesis, como um professor espirituoso costuma explicar a morte.
“Certamente podemos viver cegos desde nossa própria dor, cegos à ternura, cegos ao amar que nos deu origem, cegos à dor da pobreza material e cegos à pobreza da alma.” 1 Contra a catarse da desesperança, tenho uma prática muito simples que tem se mostrado um antídoto infalível. Pelo menos, nunca falhou comigo. A capacidade que nós, como seres humanos constitutivamente amorosos, temos de nos identificar com a dor alheia. Sem o outro, nada seríamos. Como escreveu outro professor, “ninguém faz nada sozinho. Precisamos do outro desde que nascemos: é ele quem confirma a nossa existência e a recíproca é verdadeira.”2 E, no entanto, o que mais se vê entre nós são atos de crítica, julgamento, agressão e, por fim, de exclusão do outro, que perde seu posto natural de parceiro de co-evolução para o de inimigo a ser eliminado. Mesmo que isso nos custe a própria existência.
Não seria um preço alto demais a pagar?
Mais um motivo para se entregar ao fluxo natural da vida. E o viver natural do humano é o conviver com o outro, construindo mundos com o outro e crescendo junto com o outro. Essa coisa de se emocionar com o emocionar do outro não é algo trivial. A permeabilidade celular é uma propriedade que tudo o que é vivo tem, e tudo o que morre deixa de ter. Como seres vivos, somos, portanto, vulneráveis ao meio em que vivemos, nosso nicho, que nos afeta e é afetado por nós – basicamente, nós e o meio nos transformamos juntos. E muitos outros habitam este mesmo nicho ou nichos vizinhos. Somos afetados pelos outros que nos habitam. E afetamos tanto e tantos outros, que nos espantaríamos de saber o quanto e quantos.
No entanto, é impossível especificar o impacto real no outro do que fazemos ou falamos. Só sabemos que, ao nos colocarmos ao lado do outro, temos muito mais chances de construir algo que possa ser bom para os dois lados. Isso se passa na medida em que, assumindo uma atitude de empatia, não emergimos nessa relação como uma ameaça que desencadeia no outro o ciclo do medo – exatamente o que acontece quando, deliberadamente ou não, atuamos contra o outro, procurando subjugar o outro, com a intenção, consciente ou não, de ocuparmos uma posição de superioridade. Ao agirmos assim, ainda somos recompensados pela cultura matriarcal-patriarcal reinante no mundo ocidental. Os jornais vivem de dar más notícias porque já aprenderam que, numa cultura dominada pelo medo, pela exigência à obediência e por uma necessidade obsessiva de controlar a vida, a dor e o sofrimento são muito mais populares do que o prazer simples e que não requer teorias explicativas, o prazer do viver e conviver, a base do viver sem esforço.
Isso porque não há esforço no viver biológico de qualquer ser vivo. Há somente o viver contínuo que segue se mantendo enquanto nós e nosso nicho continuarmos num conviver onde o que se conserva recursivamente é o bem-estar recíproco. Outra forma de descrever a morte: organismo e nicho deixam de conservar uma relação de bem-estar recíproco. Tudo o que é vivo só floresce em terra boa.
Mesmo que a empatia, definida como a capacidade de se colocar no lugar do outro, possa parecer uma grande utopia, ela nos relembra que somos capazes de produzir coisas incríveis quando estamos juntos. Foi assim que uma determinada espécie de primatas bípedes acabou por produzir o humano, único entre todos os seres conhecidos do planeta imersos numa linguagem tão sofisticada que nos permite refletir sobre tudo o que fazemos, nos possibilizando fazer sempre e a qualquer momento novas escolhas. “O amor é o fundamento emocional que torna possível o surgimento evolutivo de nosso viver humano na origem da linguagem”1. Talvez tenha chegado o momento de escolher retomar esse projeto esquecido do humano. Já que vivemos sempre no tempo zero, podemos simplesmente começar agora.
1. Maturana, H. R., & Dávila, X.Y. (2015). El Arbol del Vivir. Santiago: Matriztica e MVP Editores.
2. Mariotti, H. (2000). As Paixões do Ego. São Paulo: Palas Athena.
A crença de que, no Brasil, o ano só começa depois do Carnaval pode ser encarada como um bom primeiro passo para um 2016 melhor do que 2015. Soma-se o fato de estarmos em um ano bissexto, com menos feriados caindo em dias de semana ou favorecendo pontes, e já temos um belo início para 2016. Mas você pode ignorar esses sinais e seguir disseminando um clima de pessimismo que, a despeito de todas as evidências, definitivamente não tem ajudado a melhorar as coisas. Pelo contrário, mesmo justificável, o pessimismo desencadeia o ciclo do medo. No curto prazo, esse mecanismo impede que pensemos e ajamos como seres humanos – estamos sob o comando de nosso sistema mais primitivo, o reptiliano – e, a longo prazo, resulta em doenças sérias e, eventualmente, no fim de nossa autopoesis, como um professor espirituoso costuma explicar a morte.
“Certamente podemos viver cegos desde nossa própria dor, cegos à ternura, cegos ao amar que nos deu origem, cegos à dor da pobreza material e cegos à pobreza da alma.” 1 Contra a catarse da desesperança, tenho uma prática muito simples que tem se mostrado um antídoto infalível. Pelo menos, nunca falhou comigo. A capacidade que nós, como seres humanos constitutivamente amorosos, temos de nos identificar com a dor alheia. Sem o outro, nada seríamos. Como escreveu outro professor, “ninguém faz nada sozinho. Precisamos do outro desde que nascemos: é ele quem confirma a nossa existência e a recíproca é verdadeira.”2 E, no entanto, o que mais se vê entre nós são atos de crítica, julgamento, agressão e, por fim, de exclusão do outro, que perde seu posto natural de parceiro de co-evolução para o de inimigo a ser eliminado. Mesmo que isso nos custe a própria existência.
Não seria um preço alto demais a pagar?
Mais um motivo para se entregar ao fluxo natural da vida. E o viver natural do humano é o conviver com o outro, construindo mundos com o outro e crescendo junto com o outro. Essa coisa de se emocionar com o emocionar do outro não é algo trivial. A permeabilidade celular é uma propriedade que tudo o que é vivo tem, e tudo o que morre deixa de ter. Como seres vivos, somos, portanto, vulneráveis ao meio em que vivemos, nosso nicho, que nos afeta e é afetado por nós – basicamente, nós e o meio nos transformamos juntos. E muitos outros habitam este mesmo nicho ou nichos vizinhos. Somos afetados pelos outros que nos habitam. E afetamos tanto e tantos outros, que nos espantaríamos de saber o quanto e quantos.
No entanto, é impossível especificar o impacto real no outro do que fazemos ou falamos. Só sabemos que, ao nos colocarmos ao lado do outro, temos muito mais chances de construir algo que possa ser bom para os dois lados. Isso se passa na medida em que, assumindo uma atitude de empatia, não emergimos nessa relação como uma ameaça que desencadeia no outro o ciclo do medo – exatamente o que acontece quando, deliberadamente ou não, atuamos contra o outro, procurando subjugar o outro, com a intenção, consciente ou não, de ocuparmos uma posição de superioridade. Ao agirmos assim, ainda somos recompensados pela cultura matriarcal-patriarcal reinante no mundo ocidental. Os jornais vivem de dar más notícias porque já aprenderam que, numa cultura dominada pelo medo, pela exigência à obediência e por uma necessidade obsessiva de controlar a vida, a dor e o sofrimento são muito mais populares do que o prazer simples e que não requer teorias explicativas, o prazer do viver e conviver, a base do viver sem esforço.
Isso porque não há esforço no viver biológico de qualquer ser vivo. Há somente o viver contínuo que segue se mantendo enquanto nós e nosso nicho continuarmos num conviver onde o que se conserva recursivamente é o bem-estar recíproco. Outra forma de descrever a morte: organismo e nicho deixam de conservar uma relação de bem-estar recíproco. Tudo o que é vivo só floresce em terra boa.
Mesmo que a empatia, definida como a capacidade de se colocar no lugar do outro, possa parecer uma grande utopia, ela nos relembra que somos capazes de produzir coisas incríveis quando estamos juntos. Foi assim que uma determinada espécie de primatas bípedes acabou por produzir o humano, único entre todos os seres conhecidos do planeta imersos numa linguagem tão sofisticada que nos permite refletir sobre tudo o que fazemos, nos possibilizando fazer sempre e a qualquer momento novas escolhas. “O amor é o fundamento emocional que torna possível o surgimento evolutivo de nosso viver humano na origem da linguagem”1. Talvez tenha chegado o momento de escolher retomar esse projeto esquecido do humano. Já que vivemos sempre no tempo zero, podemos simplesmente começar agora.
1. Maturana, H. R., & Dávila, X.Y. (2015). El Arbol del Vivir. Santiago: Matriztica e MVP Editores.
2. Mariotti, H. (2000). As Paixões do Ego. São Paulo: Palas Athena.