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Amor, a emoção que nos permite coevoluir

Falta amor nas organizações porque faltam espaços de diálogos corajosos e francos, abertos para as possibilidades que poderão emergir.

 (Canva Studio via Pexels/Corall Consultoria)
(Canva Studio via Pexels/Corall Consultoria)
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Gestão Fora da Caixa

Publicado em 8 de abril de 2021 às, 06h05.

Neste artigo quero refletir com você sobre o amor no contexto organizacional, não quero falar sobre o amor romântico, que exerce um enorme impacto na nossa cultura e que gera no imaginário coletivo a perfeição e a pureza entre dois amantes. Quero falar de um amor horizontal, que permite olhar o outro nos olhos, fazendo-o sentir que sua existência é reconhecida e respeitada.

"Amar es dejar aparecer"

- H.Maturana

Imagine comigo, como seria uma organização que vive a essência do amor, em que a convivência entre as pessoas se dá através do mútuo respeito, permitindo que o outro apareça como legítimo outro durante a convivência, sem expectativas de mudá-lo e fazendo combinados que cocriem realidades interdependentes, em um ambiente seguro e que não nutre a competição entre as pessoas, com o habitual comportamento de medir quem é o melhor, o pior, o mais rápido, o mais bonito e afins… E sim, libere o potencial das pessoas para realizar propósitos maiores…

"Sem a competição, a colaboração aparece"

- H. Maturana

Para que esse imaginário se torne uma narrativa possível na convivência organizacional, o diálogo passa a ser fundamental para o fortalecimento de relações amorosas, ou seja, de relações em que eu permito que o outro apareça.

Reflexões sobre o amor na organização:

Você já teve a sensação de falar e não ser escutado? De expressar uma perspectiva e não receber nenhum retorno? De estar em uma conversa e o outro não olhar para você nos olhos?

  • Pare e pense, como você se sentiu?

Se você disse “sim” para uma dessas três perguntas você provavelmente experimentou a rejeição, o sentimento de não fazer parte, de não ser visto, ou seja, de não ser respeitado. Deste lugar você não terá vontade de colaborar ou de fazer coisas junto com essa pessoa ou equipe. Agora, em quais espaços conseguimos conversar sobre como eu me senti em uma situação como essa?

Por que falta amor nas organizações?

Falta amor nas organizações porque faltam espaços de diálogos corajosos e francos, abertos para as possibilidades que poderão emergir das dores, das diferentes perspectivas e histórias de vida. O diálogo nasce da coragem de mostrar seu ponto de vista para o outro sem medo de ser julgado, criticado ou de mudar de opinião. Vivenciar um diálogo é vivenciar um fluxo ou uma dança em que Eu e o Outro, sem expectativas de estar certo ou errado, se abrem para novas perspectivas, sem apego.

Por exemplo: poder conversar sobre como me sinto trabalhando nesta equipe e que eventualmente situações me incomodam e que poderiam ser intencionalmente diferentes. Parar e refletir se ainda quero conviver ou se há alguma nova possibilidade emergente. Ou ainda, contar sobre as minhas necessidades atuais e fazer pedidos e novos combinados.

Poderia ser um hábito no viver cotidiano das pessoas nas organizações, mas ainda é um privilégio que poucas Culturas Organizacionais que conhecem o valor do amor essencial e nutre espaços que tornam essas conversas parte dos rituais da Organização.

Colaborar para coevoluir

Ora, se queremos organizações mais colaborativas precisamos conhecer as pessoas e para isso precisamos dialogar mais e assumir o amor, tirá-lo da parte afastada que o colocamos, deixá-la entrar no contexto organizacional, convidá-la a se sentar nas reuniões, incluí-la dentro de cada um, através do cultivo à curiosidade pelo ponto de vista e o lugar em que o outro fala ou se expressa. Sei que sustentar um diálogo não é fácil, é desafiador, nos coloca em contato com conteúdos invisíveis, geram incômodos importantes, porque revelam apegos e fragilidades que estavam submersos.

“Só sobre verdades velhas é que sabemos muito. A verdade que nos faz progredir é ousada e nova, pois oculta o seu fim, como a semente oculta a árvore".

- Bert Hellinger

O amor nos permite conviver, é uma emoção pré verbal que nos permitiu coevoluir e podemos trazer para as organizações o poder de boas conversas, de bons diálogos que lentificam a ânsia contínua por entregas e que criam laços mais profundos e duradouros. A colaboração é muito mais que framework da metodologia ágil que vejo com bons olhos na transformação organizacional, mas acredito que precisamos adicionar a essa transformação espaços para reflexões e diálogos que nos permitam falar sobre as emoções, necessidades não atendidas e dores a serem superadas despertando nas pessoas o sentido e o significado do que estão fazendo para modificar o jogo competitivo e abusivo que estamos vivendo nas organizações adoecidas do século XXI.

“Se percebemos que a vida realmente tem um sentido, percebemos também que somos úteis uns aos outros. Ser um ser humano, é trabalhar por algo além de si mesmo”

- Viktor Frankl

Vale lembrar que a saúde mental das pessoas nas organizações está comprometida, depressão e ansiedade são a terceira causa de afastamento do trabalho no Brasil segundo a Associação Nacional de Medicina do Trabalho, a fragmentação do trabalho, a falta de conexão entre a produção, o produto e o significado do trabalho está levando as pessoas à uma crise de propósito muito crítica na nossa sociedade.

Como levar mais amor às organizações?

Não encare essa lista como passos, mas como reflexões que você poderá transformar em ações durante a convivência com pessoas em diferentes contextos para coevolução:

  1. Abra espaços para boas conversas, se ninguém está fazendo, não se acomode, seja o primeiro a abrir esse importante momento de reflexão e cuidado. Afinal, amar também é cuidar de si mesmo, do outro e de como convivemos.
  2. Esteja atento a linguagem e a postura que exclui e rejeita, pratique a empatia como Patrícia Moore, designer industrial que se colocou literalmente no corpo de uma idosa por 3 anos para entender suas dificuldades e dores.
  3. A convivência existe através de acordos e combinados, não podemos seguir sem combinarmos o que queremos fazer e não fazer juntos.
  4. No filme Monstros S/A, a epifania representada na força do sorriso das crianças e da coragem de mudar o modelo econômico trocando gritos por sorrisos é de uma inspiração à leveza.
  5. Não tratar a colaboração como ferramenta e sim, como a base relacional que se dá durante a convivência, reconhecendo o outro em sua integridade.
  6. O amor é um aprendizado de virtude e como toda virtude precisa de prática, é um desafio de austeridade, se quisermos conviver aprenderemos juntos a superar, a respeitarmos uns aos outros nas diferenças e criaremos acordos de convivência.

E para concluir, deixo você com a história de amor do Ique Carvalho é de tirar o fôlego!

Um abraço com carinho e até a próxima!