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Os caminhos para um novo morar

A construção civil não pode ficar alheia às mudanças do mercado, seja por pressão de consumidores ou de investidores cada vez mais atentos a soluções ESG

A sustentabilidade é valorizada com a pandemia e leva a repensar o jeito de morar | Foto: Getty Images (jcomp/freepik/Divulgação)
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Da Redação

Publicado em 31 de julho de 2021 às 09h30.

O mercado é feito de ciclos econômicos e a cada período surge uma nova tendência. Há alguns anos, vimos as grandes empresas se dedicarem à sustentabilidade: foram montados comitês, departamentos, contratados executivos e a chancela de companhia sustentável passou a ser um requisito importante não só como atributo de marca mas também como exigência do compliance.

Com o tempo, a sustentabilidade entrou de forma tão orgânica na gestão dos negócios  que deixou de ser uma frente tratada à parte e foi dando espaço para outras demandas, que variaram entre modas passageiras e pontos efetivos de amadurecimento.

Nos últimos dois anos, vimos despontar o ESG. As empresas passaram a buscar ações alinhadas às melhores práticas ambientais, sociais e de governança, dando mais solidez para o que antes entendíamos como sustentabilidade. Ao mesmo tempo, investidores passaram a perceber o potencial de negócios “verdes”, e os consumidores, a exigir com mais frequência produtos que possuem esses atributos.

Não é um movimento linear em que uma coisa acontece em decorrência da outra, mas, sim, uma soma de forças que direcionam nosso comportamento como sociedade.

Quando já estávamos nesse caminhar, veio a pandemia do coronavírus e nosso modo de consumo foi colocado em xeque. Muitos de nós ficamos confinados, vivendo a atribulada rotina de home office, home schooling e fazendo compras pela internet.

Se antes entendíamos nossa casa como um local para “voltar ao final do dia”, começamos a passar dias inteiros sem sair dela. Dentre todas as reflexões que a situação nos infligiu, tivemos que repensar o nosso jeito de morar.

Espaços que antes estavam diminuindo por questões de praticidade tornaram-se angustiantes. Com isso, o desejo por casas que comportem nossas novas rotinas aflorou -- não só em termos de tamanho mas também em relação à localidade, à vizinhança e à proximidade com o verde, por exemplo.

Cansamos de nossas paisagens cinzas e entendemos que podemos viver melhor, dentro de ambientes com mais bem-estar, conectados com pessoas que compartilhem conosco das mesmas necessidades e urgências. Mas se por um lado a busca por morar melhor cresceu, por outro a construção civil ainda não conseguiu reagir enquanto setor.

Majoritariamente, estamos falando de uma indústria que, segundo o Dieese, representa 3,7% do PIB nacional, mas que até este momento está longe dos pilares do ESG. Ainda discute-se pouco o impacto causado pelo uso de matérias primas não-renováveis como concreto e aço, o gasto exorbitante de água e a grande geração de resíduos das obras.

O fato é que o segmento não pode ficar alheio às mudanças do mercado, seja por pressão de consumidores ou de investidores cada vez mais atentos a soluções que conversem com o ESG.

Um dos desafios é sair de ações eventuais para realizações que gerem impactos de longo prazo. Não basta, por exemplo, falar em reúso de água, mas, sim, preservação dos recursos hídricos. Não é mais questão de paisagismo, mas de proteção e regeneração das nascentes com plantio de espécies nativas.

Responsável por aproximadamente 18% das emissões globais dos gases de efeito estufa, a construção civil precisa se reinventar. E, para tanto, há soluções e saberes que já estão à disposição de empresas, engenheiros e arquitetos. Um bom exemplo é a difusão de soluções construtivas em madeira engenheirada e woodframe, que despontam como sistemas alternativos de carbono-negativo para casas e edifícios de diferentes tipologias.

Se há alguns anos podíamos dizer que o cliente das incorporadoras e construtoras não entendia o valor da sustentabilidade, agora sabemos que ele a tem como critério de seleção. Também já está claro que essa tendência transpassa os segmentos, do popular ao alto padrão, da edificação à infraestrutura dos loteamentos.

Aliás, o excesso perdeu lugar e o novo luxo reside agora nas escolhas conscientes e na exclusividade. Esse amadurecimento do consumidor é a pedra fundamental para que o setor se organize em torno dessa demanda.

Por experiência própria, sei dos desafios e das oportunidades, mas tenho a confiança de afirmar que o futuro da construção civil está na emissão zero de carbono. Cabe a nós, empreendedores, oferecermos produtos inovadores e guiarmos nossos clientes nessa jornada pelo novo morar.

*Marcelo Willer é arquiteto urbanista e CEO da Artesano Urbanismo.

 

 

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O mercado é feito de ciclos econômicos e a cada período surge uma nova tendência. Há alguns anos, vimos as grandes empresas se dedicarem à sustentabilidade: foram montados comitês, departamentos, contratados executivos e a chancela de companhia sustentável passou a ser um requisito importante não só como atributo de marca mas também como exigência do compliance.

Com o tempo, a sustentabilidade entrou de forma tão orgânica na gestão dos negócios  que deixou de ser uma frente tratada à parte e foi dando espaço para outras demandas, que variaram entre modas passageiras e pontos efetivos de amadurecimento.

Nos últimos dois anos, vimos despontar o ESG. As empresas passaram a buscar ações alinhadas às melhores práticas ambientais, sociais e de governança, dando mais solidez para o que antes entendíamos como sustentabilidade. Ao mesmo tempo, investidores passaram a perceber o potencial de negócios “verdes”, e os consumidores, a exigir com mais frequência produtos que possuem esses atributos.

Não é um movimento linear em que uma coisa acontece em decorrência da outra, mas, sim, uma soma de forças que direcionam nosso comportamento como sociedade.

Quando já estávamos nesse caminhar, veio a pandemia do coronavírus e nosso modo de consumo foi colocado em xeque. Muitos de nós ficamos confinados, vivendo a atribulada rotina de home office, home schooling e fazendo compras pela internet.

Se antes entendíamos nossa casa como um local para “voltar ao final do dia”, começamos a passar dias inteiros sem sair dela. Dentre todas as reflexões que a situação nos infligiu, tivemos que repensar o nosso jeito de morar.

Espaços que antes estavam diminuindo por questões de praticidade tornaram-se angustiantes. Com isso, o desejo por casas que comportem nossas novas rotinas aflorou -- não só em termos de tamanho mas também em relação à localidade, à vizinhança e à proximidade com o verde, por exemplo.

Cansamos de nossas paisagens cinzas e entendemos que podemos viver melhor, dentro de ambientes com mais bem-estar, conectados com pessoas que compartilhem conosco das mesmas necessidades e urgências. Mas se por um lado a busca por morar melhor cresceu, por outro a construção civil ainda não conseguiu reagir enquanto setor.

Majoritariamente, estamos falando de uma indústria que, segundo o Dieese, representa 3,7% do PIB nacional, mas que até este momento está longe dos pilares do ESG. Ainda discute-se pouco o impacto causado pelo uso de matérias primas não-renováveis como concreto e aço, o gasto exorbitante de água e a grande geração de resíduos das obras.

O fato é que o segmento não pode ficar alheio às mudanças do mercado, seja por pressão de consumidores ou de investidores cada vez mais atentos a soluções que conversem com o ESG.

Um dos desafios é sair de ações eventuais para realizações que gerem impactos de longo prazo. Não basta, por exemplo, falar em reúso de água, mas, sim, preservação dos recursos hídricos. Não é mais questão de paisagismo, mas de proteção e regeneração das nascentes com plantio de espécies nativas.

Responsável por aproximadamente 18% das emissões globais dos gases de efeito estufa, a construção civil precisa se reinventar. E, para tanto, há soluções e saberes que já estão à disposição de empresas, engenheiros e arquitetos. Um bom exemplo é a difusão de soluções construtivas em madeira engenheirada e woodframe, que despontam como sistemas alternativos de carbono-negativo para casas e edifícios de diferentes tipologias.

Se há alguns anos podíamos dizer que o cliente das incorporadoras e construtoras não entendia o valor da sustentabilidade, agora sabemos que ele a tem como critério de seleção. Também já está claro que essa tendência transpassa os segmentos, do popular ao alto padrão, da edificação à infraestrutura dos loteamentos.

Aliás, o excesso perdeu lugar e o novo luxo reside agora nas escolhas conscientes e na exclusividade. Esse amadurecimento do consumidor é a pedra fundamental para que o setor se organize em torno dessa demanda.

Por experiência própria, sei dos desafios e das oportunidades, mas tenho a confiança de afirmar que o futuro da construção civil está na emissão zero de carbono. Cabe a nós, empreendedores, oferecermos produtos inovadores e guiarmos nossos clientes nessa jornada pelo novo morar.

*Marcelo Willer é arquiteto urbanista e CEO da Artesano Urbanismo.

 

 

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