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O retorno e a importância do varejo físico

No segundo trimestre, grandes varejistas reportaram crescimento expressivo em suas linhas de receita, mesmo em um cenário macroeconômico mais desafiador

Varejo: um ponto em comum dentre os números de crescimento de receita apresentado pelas companhias é a fonte deste crescimento: o canal físico de vendas (Lucas Jones Dias/Renner/Divulgação)
KM

Karla Mamona

Publicado em 6 de outubro de 2022 às 14h02.

Última atualização em 6 de outubro de 2022 às 15h17.

*Anita Scal

Com o avanço global da pandemia no primeiro trimestre de 2020 (1T20), o desenvolvimento e aperfeiçoamento do varejo online se tornou não apenas essencial, mas urgente para praticamente todas as companhias e setores do varejo. À medida que as normas que ditavam as restrições de circulação eram adotadas, centros comerciais, ruas de grandes fluxos, shopping centers, assim como os pontos de aglomeração para a prática de venda de mercadorias (com exceção de supermercados e outros serviços essenciais, mas, ainda assim, com regras restritivas) tiveram de buscar formas alternativas de manter o comércio ativo, competitivo e, ainda mais difícil, lucrativo. Naquele momento, o comércio online se mostrou um ótimo remédio, capaz de conectar compradores e vendedores a qualquer horário, de maneira segura, rápida e conveniente, embalando um movimento que, já faz algum tempo, dá o tom dos objetivos estratégicos de grandes empresas de capital aberto.

No entanto, com os resultados do segundo trimestre de 2022 (2T22), divulgados pelas maiores empresas varejistas do mercado brasileiro listadas em bolsa, o que se viu foi, de um lado, o crescimento forte das vendas no varejo físico, e, de outro, a continuação da expansão de lojas físicas em todos os seguimentos e em todas as regiões do país. Parte da explicação se fundamenta na volta da circulação e do fluxo de pessoas com o arrefecimento da pandemia. A outra parte tem a ver com as características únicas que apenas o varejo físico consegue entregar.

No segundo trimestre deste ano, grandes varejistas de moda reportaram crescimento expressivo em suas linhas de receita, mesmo em um cenário macroeconômico mais desafiador, com perda do poder de compra e inflação de custos. A Renner, uma das principais empresas deste seguimento, divulgou resultado robusto, com receita líquida crescendo cerca de 57% em relação ao 2T19, período de pré-pandemia. De igual modo, o Grupo Soma, varejista de moda com foco nos públicos de classe A e B, e dona de marcas como Animale e Farm, reportou aumento consistente nas vendas, com crescimento de aproximadamente 40% versus 2T21 em sua receita líquida trimestral. E a Centauro, varejista de roupas e artigos esportivos, apresentou números significativos de crescimento, tendo sua receita líquida trimestral consolidada crescido 30,3% na comparação anual com 2021.

Neste setor, de modo geral, as empresas destacaram alguns fatores que serviram como drivers de crescimento de receita, como a demanda reprimida e atualização de guarda-roupa, uma vez que a volta ao trabalho e às atividades presenciais exigiram atualização de roupas e acessórios, além da própria execução das operações e assertividade da moda, que ajudou a elevar o ticket médio dos produtos oferecidos.

Outras varejistas, como Americanas, Magazine Luiza e Via, apesar de terem enfrentado com mais dificuldade os desafios econômicos, apresentaram crescimento ou estabilidade das vendas. A Americanas reportou crescimento de 10,4% em sua receita trimestral na comparação anual. No mesmo período, a Magazine Luiza informou aumento de 1,3% na linha de receita. Já a Via, destoando dos principais concorrentes, apresentou leve queda na linha de receita bruta de 3,7%.

Um ponto em comum dentre os números de crescimento de receita apresentado pelas companhias é a fonte deste crescimento: o canal físico de vendas.

Para a Renner, as lojas físicas se destacaram. Apesar das vendas online reportarem um crescimento de 32% no primeiro semestre de 2022 frente ao mesmo período do ano anterior, o impacto do online diminuiu, ou seja, vendas feitas no online sobre as vendas totais ficaram em 13,9% no primeiro semestre, abaixo dos 15,7% do primeiro semestre de 2021.

O Grupo Soma destacou o crescimento robusto das vendas no varejo físico, de 95,4% no 2T22 versus 2T21, e ainda reforçou a importância da experiência e do caráter relacional que agregam valor ao seu produto. Nesta mesma base de comparação, a empresa reportou queda nas vendas online, de 4,5%. Foi apresentado também a evolução da base de clientes do Grupo, que atualmente conta com 74% de clientes que utilizam exclusivamente o canal de lojas físicas, ante 64% no 2T21. Os consumidores que utilizam exclusivamente o canal digital formam 18% de sua base, ante 28% no 2T21.

De sua parte, a Centauro reportou crescimento de vendas das lojas físicas, da própria marca Centauro, de 28,8% enquanto as vendas em plataforma digital cresceram, 17%, no 2T22 versus 2T21. Nos números da Americanas, o canal de lojas físicas informou aumento de 26,9% no segundo trimestre do ano, enquanto o canal digital apresentou uma retração de 7,6% na comparação com mesmo período de 2021.

Para a Magazine Luiza, o crescimento do canal físico foi positivo, apesar de menor do que o canal online. As lojas convencionais reportaram aumento nas vendas na casa de 2,8% no primeiro semestre do ano, enquanto o crescimento do e-commerce foi de 8,7% na comparação com o primeiro semestre de 2021.

Já para a Via, o principal motivo da retração da receita foi o canal online, que reportou redução de 22% nas vendas no segundo trimestre do ano versus 2T21. Para a companhia, foram as vendas das lojas físicas que sustentaram o resultado da varejista, marcando crescimento significativo neste canal (13,4% no período).

Como visto nos números acima, com a volta do fluxo de pessoas nas ruas e nos grandes centros comerciais, além da queda das medidas restritivas, o canal físico voltou a se destacar como parte fundamental para a manutenção e impulsionamento das vendas. Essa fórmula não é novidade. Por isso, as varejistas contam com amplos planos de expansão de suas estruturas, divulgando, nos resultados do segundo trimestre do ano, aberturas de lojas físicas e evolução deste canal de vendas.

Até junho, a Renner já havia aberto 18 lojas físicas e, atualmente, conta com um plano de inauguração de um total de 40 lojas no acumulado do ano. O foco está voltado para lojas em rua, e não em shoppings, de pequenas e médias cidades, onde não há presença da marca. A empresa destaca que as lojas físicas trabalham de forma complementar ao e-commerce, e isso se mostra através do crescimento de aproximadamente 20% das vendas online em municípios que não tinham a presença da marca e receberam novas lojas físicas.

O Grupo Soma também prestou contas com relação ao processo de expansão das lojas do grupo, informando que, neste segundo trimestre, o número de novas lojas físicas da companhia aumentou em 50 unidades na comparação com 2T21.

A Centauro não apenas indicou o aumento da sua estrutura, mas também atribuiu o bom desempenho das vendas por este canal à inauguração de 17 novos estabelecimentos e à mudança de 14 lojas da marca Centauro nos últimos 12 meses para o modelo de experiência, que busca atrair consumidores através de interação diferenciada, em uma operação que oferece provador inteligente, esteira e pista para experimentação de calçados, além de área própria para realização de eventos e palestras.

A Americanas chegou a abrir dez novas lojas no ano, enquanto a Magazine Luiza reportou no 2T22 em relação ao 2T21, um aumento de 6,2% em sua área de venda de lojas físicas, além da abertura de 87 espaços convencionais no período. A Via também destacou a abertura de 32 novas lojas no primeiro semestre do ano, todas em pontos de rua e em novas praças, com o objetivo de ganhar market share e fortalecer a omnicanalidade e os serviços logísticos.

Em grande parte dos resultados das varejistas, um dos principais drivers de crescimento nas linhas de receita envolve os pontos de venda físicos, que se beneficiaram da diminuição das restrições, da volta de datas comemorativas e eventos festivos, do retorno do fluxo de pessoas nas lojas, da demanda reprimida por itens que consumidores ainda preferem adquirir presencialmente e demais benefícios, como relacionamento e experiência proporcionados por lojas físicas.

Além disso, fica evidente que a expansão de lojas, principalmente em novas praças, segue uma avenida de crescimento para os varejistas, que, além de proporcionar exposição de marca e aumento do market share, promovem a fidelização da base de clientes e potencializam a sinergia com o modelo online de vendas através da logística.

*Anita Scal é sócia e diretora de Investimentos Imobiliários da Rio Bravo

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*Anita Scal

Com o avanço global da pandemia no primeiro trimestre de 2020 (1T20), o desenvolvimento e aperfeiçoamento do varejo online se tornou não apenas essencial, mas urgente para praticamente todas as companhias e setores do varejo. À medida que as normas que ditavam as restrições de circulação eram adotadas, centros comerciais, ruas de grandes fluxos, shopping centers, assim como os pontos de aglomeração para a prática de venda de mercadorias (com exceção de supermercados e outros serviços essenciais, mas, ainda assim, com regras restritivas) tiveram de buscar formas alternativas de manter o comércio ativo, competitivo e, ainda mais difícil, lucrativo. Naquele momento, o comércio online se mostrou um ótimo remédio, capaz de conectar compradores e vendedores a qualquer horário, de maneira segura, rápida e conveniente, embalando um movimento que, já faz algum tempo, dá o tom dos objetivos estratégicos de grandes empresas de capital aberto.

No entanto, com os resultados do segundo trimestre de 2022 (2T22), divulgados pelas maiores empresas varejistas do mercado brasileiro listadas em bolsa, o que se viu foi, de um lado, o crescimento forte das vendas no varejo físico, e, de outro, a continuação da expansão de lojas físicas em todos os seguimentos e em todas as regiões do país. Parte da explicação se fundamenta na volta da circulação e do fluxo de pessoas com o arrefecimento da pandemia. A outra parte tem a ver com as características únicas que apenas o varejo físico consegue entregar.

No segundo trimestre deste ano, grandes varejistas de moda reportaram crescimento expressivo em suas linhas de receita, mesmo em um cenário macroeconômico mais desafiador, com perda do poder de compra e inflação de custos. A Renner, uma das principais empresas deste seguimento, divulgou resultado robusto, com receita líquida crescendo cerca de 57% em relação ao 2T19, período de pré-pandemia. De igual modo, o Grupo Soma, varejista de moda com foco nos públicos de classe A e B, e dona de marcas como Animale e Farm, reportou aumento consistente nas vendas, com crescimento de aproximadamente 40% versus 2T21 em sua receita líquida trimestral. E a Centauro, varejista de roupas e artigos esportivos, apresentou números significativos de crescimento, tendo sua receita líquida trimestral consolidada crescido 30,3% na comparação anual com 2021.

Neste setor, de modo geral, as empresas destacaram alguns fatores que serviram como drivers de crescimento de receita, como a demanda reprimida e atualização de guarda-roupa, uma vez que a volta ao trabalho e às atividades presenciais exigiram atualização de roupas e acessórios, além da própria execução das operações e assertividade da moda, que ajudou a elevar o ticket médio dos produtos oferecidos.

Outras varejistas, como Americanas, Magazine Luiza e Via, apesar de terem enfrentado com mais dificuldade os desafios econômicos, apresentaram crescimento ou estabilidade das vendas. A Americanas reportou crescimento de 10,4% em sua receita trimestral na comparação anual. No mesmo período, a Magazine Luiza informou aumento de 1,3% na linha de receita. Já a Via, destoando dos principais concorrentes, apresentou leve queda na linha de receita bruta de 3,7%.

Um ponto em comum dentre os números de crescimento de receita apresentado pelas companhias é a fonte deste crescimento: o canal físico de vendas.

Para a Renner, as lojas físicas se destacaram. Apesar das vendas online reportarem um crescimento de 32% no primeiro semestre de 2022 frente ao mesmo período do ano anterior, o impacto do online diminuiu, ou seja, vendas feitas no online sobre as vendas totais ficaram em 13,9% no primeiro semestre, abaixo dos 15,7% do primeiro semestre de 2021.

O Grupo Soma destacou o crescimento robusto das vendas no varejo físico, de 95,4% no 2T22 versus 2T21, e ainda reforçou a importância da experiência e do caráter relacional que agregam valor ao seu produto. Nesta mesma base de comparação, a empresa reportou queda nas vendas online, de 4,5%. Foi apresentado também a evolução da base de clientes do Grupo, que atualmente conta com 74% de clientes que utilizam exclusivamente o canal de lojas físicas, ante 64% no 2T21. Os consumidores que utilizam exclusivamente o canal digital formam 18% de sua base, ante 28% no 2T21.

De sua parte, a Centauro reportou crescimento de vendas das lojas físicas, da própria marca Centauro, de 28,8% enquanto as vendas em plataforma digital cresceram, 17%, no 2T22 versus 2T21. Nos números da Americanas, o canal de lojas físicas informou aumento de 26,9% no segundo trimestre do ano, enquanto o canal digital apresentou uma retração de 7,6% na comparação com mesmo período de 2021.

Para a Magazine Luiza, o crescimento do canal físico foi positivo, apesar de menor do que o canal online. As lojas convencionais reportaram aumento nas vendas na casa de 2,8% no primeiro semestre do ano, enquanto o crescimento do e-commerce foi de 8,7% na comparação com o primeiro semestre de 2021.

Já para a Via, o principal motivo da retração da receita foi o canal online, que reportou redução de 22% nas vendas no segundo trimestre do ano versus 2T21. Para a companhia, foram as vendas das lojas físicas que sustentaram o resultado da varejista, marcando crescimento significativo neste canal (13,4% no período).

Como visto nos números acima, com a volta do fluxo de pessoas nas ruas e nos grandes centros comerciais, além da queda das medidas restritivas, o canal físico voltou a se destacar como parte fundamental para a manutenção e impulsionamento das vendas. Essa fórmula não é novidade. Por isso, as varejistas contam com amplos planos de expansão de suas estruturas, divulgando, nos resultados do segundo trimestre do ano, aberturas de lojas físicas e evolução deste canal de vendas.

Até junho, a Renner já havia aberto 18 lojas físicas e, atualmente, conta com um plano de inauguração de um total de 40 lojas no acumulado do ano. O foco está voltado para lojas em rua, e não em shoppings, de pequenas e médias cidades, onde não há presença da marca. A empresa destaca que as lojas físicas trabalham de forma complementar ao e-commerce, e isso se mostra através do crescimento de aproximadamente 20% das vendas online em municípios que não tinham a presença da marca e receberam novas lojas físicas.

O Grupo Soma também prestou contas com relação ao processo de expansão das lojas do grupo, informando que, neste segundo trimestre, o número de novas lojas físicas da companhia aumentou em 50 unidades na comparação com 2T21.

A Centauro não apenas indicou o aumento da sua estrutura, mas também atribuiu o bom desempenho das vendas por este canal à inauguração de 17 novos estabelecimentos e à mudança de 14 lojas da marca Centauro nos últimos 12 meses para o modelo de experiência, que busca atrair consumidores através de interação diferenciada, em uma operação que oferece provador inteligente, esteira e pista para experimentação de calçados, além de área própria para realização de eventos e palestras.

A Americanas chegou a abrir dez novas lojas no ano, enquanto a Magazine Luiza reportou no 2T22 em relação ao 2T21, um aumento de 6,2% em sua área de venda de lojas físicas, além da abertura de 87 espaços convencionais no período. A Via também destacou a abertura de 32 novas lojas no primeiro semestre do ano, todas em pontos de rua e em novas praças, com o objetivo de ganhar market share e fortalecer a omnicanalidade e os serviços logísticos.

Em grande parte dos resultados das varejistas, um dos principais drivers de crescimento nas linhas de receita envolve os pontos de venda físicos, que se beneficiaram da diminuição das restrições, da volta de datas comemorativas e eventos festivos, do retorno do fluxo de pessoas nas lojas, da demanda reprimida por itens que consumidores ainda preferem adquirir presencialmente e demais benefícios, como relacionamento e experiência proporcionados por lojas físicas.

Além disso, fica evidente que a expansão de lojas, principalmente em novas praças, segue uma avenida de crescimento para os varejistas, que, além de proporcionar exposição de marca e aumento do market share, promovem a fidelização da base de clientes e potencializam a sinergia com o modelo online de vendas através da logística.

*Anita Scal é sócia e diretora de Investimentos Imobiliários da Rio Bravo

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