O Mercado por Elas: O que o setor imobiliário pode esperar para o próximo ano
A coluna ouviu a opinião de executivas, que estão à frente de grandes operações e empresas e que mostram o que esperar para o próximo ano
Publicado em 5 de dezembro de 2022 às, 10h19.
Última atualização em 5 de dezembro de 2022 às, 16h44.
*Elisa Rosenthal
Com a definição das urnas, a copa em andamento e a decoração de natal presente nas ruas, os ânimos se voltam para as expectativas de cenários econômicos para o próximo ano. No setor imobiliário não poderia ser diferente.
A coluna "O mercado por Elas" ouviu a opinião de cinco grandes executivas, que estão à frente de grandes operações e empresas e que mostram, por meio de vasta experiência de atuação neste mercado, o que esperar para o próximo ano.
Para a CEO da Cavazani Construtora, Cecília Cavazani, 2023 é visto com otimismo para as operações de construção no Casa Verde Amarela (CVA) ou como originalmente podemos chamar, Minha Casa Minha Vida (MCMV), grupos 2 e 3.
"Acreditamos que os projetos para a continuidade do programa serão desenvolvidos e amadurecidos, assim sentiremos os efeitos no terceiro trimestre de 2023", indica Cecília.
Ela complementa ainda que o MCMV (ou CVA) passou a ser um programa de estado, a expectativa é de que as mudanças feitas em 2022 como o financiamento em 35 anos e a utilização do FGTS para pagamento das parcelas, sejam mantidas ou até mesmo ampliadas para contemplar mais famílias.
Na visão da executiva, são pequenos ajustes que podem impulsionar o mercado de empreendimentos econômicos, como o financiamento de uma maior porcentagem do preço do imóvel e o subsídio um pouco maior nas taxas de juros. Também é importante estimular a concorrência no mercado de insumos, para que a competitividade possa refletir na diminuição do preço do metro quadrado construído, tornando assim possível manter margens para as empresas e o preço do imóvel acessível para as famílias. "Não esperamos mudanças drásticas, estamos cientes de que manter o controle fiscal é necessário para a sustentabilidade do mercado no longo prazo" completa.
Mariliza Pereira, que é CEO da RIO8, incorporadora e construtora nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, acredita que a recuperação do programa MCMV deverá acontecer a longo prazo e projeta para o segundo semestre de 2024. Seu entendimento é de que os custos de obra não devem diminuir e tendem a continuar no patamar de estabilidade após a forte elevação que tivemos ao longo deste ano. Para a executiva, a retomada do programa depende de ajustes diversos que vão além de decisões políticas e econômicas, como a revisão de renda, por exemplo.
Para Fernanda Mustacchi, sócia na Mustacchi Advogados, é essencial uma política econômica que traga confiança do mercado para novos investimentos e que permita a redução da taxa básica de juros, a Selic, estimulando assim a competição entre fabricantes de matérias-primas (já que os valores dos materiais de construção estão muito elevados), e ajude a manter um fluxo crescente de investimentos no setor.
"Essas condições favoráveis derivam de muitos fatores, entre eles a desoneração da folha, a manutenção e ampliação dos benefícios do RET (regime especial de tributação, implementado em 2004) e o aumento nas verbas destinadas a projetos habitacionais", enfatiza Fernanda.
Para Giovana Campanelli, diretora sênior da consultoria empresarial Alvarez & Marsal, 2022 já se consolidou como um ano de cenário econômico difícil, com aumento de inflação e taxa básica de juros, o que tornou a vida das empresas e consumidores mais desafiadora pelo aumento da queima de caixa e das taxas de financiamento.
Na opinião de Giovana, o novo governo sinaliza pelo aumento de gastos e, com isso, do risco fiscal. Neste cenário, o setor pode continuar com dificuldades, como alta taxa de juros, especialmente no primeiro semestre, inflação em ascensão, mantendo as margens comprometidas e a capacidade de crédito das companhias e consumidores limitada.
Após o início da atuação do novo governo, a executiva avalia que o cenário deverá apresentar diminuição da instabilidade com aumento da previsibilidade, especialmente em função da equipe que estará à frente da agenda econômica do país. "Esta insegurança atrapalha a precificação do investidor. A escolha da equipe econômica é fundamental para o aumento do apetite dos investidores e companhias do setor", reforça.
Otimismo no Corporativo
Para Alessandra Arnone, Diretora na Tetris, o cenário do mercado corporativo ainda passará por adaptações e uma grande acomodação de como serão os escritórios do futuro, "sem o medo do começo (do ano) de que não existirão mais", reforça.
Muitos números mostram que há uma volta considerável aos escritórios (em torno de 70%), mesmo com os modelos híbridos e flexíveis implantados na maioria das empresas, lembra Alessandra e complementa: "com a necessidade do escritório ser o ponto de colaboração entre os times, da propagação da cultura da empresa, o edifício e o entorno também estão sofrendo melhorias para a atração dos colaboradores o que vem transformando as cidades também".
A executiva que também tem ampla experiência no setor hoteleiro, setor que, em 2022 mostrou sinais de recuperação, indica que já temos taxas de ocupação e tarifas maiores e equilibradas em algumas regiões do país. "Em 2023 ainda veremos a renovação de muitas propriedades que não aconteceram nos últimos 2 anos, apesar dos pouquíssimos novos projetos e aberturas que ainda não possuem taxas de financiamento atrativas".
Alessandra está otimista e vê um "positivismo no ar e a sensação de que podemos de novo ser “a bola da vez”, principalmente por estarmos acostumados e sermos criativos em saber navegar em períodos de turbulência."
Das cinco executivas, três atuam como conselheiras do Instituto Mulheres do Imobiliário e todas são membros do Amazonita Clube, o primeiro Think Tank feminino do setor.
*Elisa Rosenthal é Diretora presidente do Instituto Mulheres do Imobiliário. LinkedIn Top Voices, TEDx Speaker. Colunista na Revista HSM Management, no Conecta Imobi Mundo Zumm e na Exame Invest. Autora de “Proprietárias: A ascensão da liderança feminina no setor imobiliário”.