Vista de São Paulo - Brooklin Paulista - SP - Predios - moradia - imoveis - mercado imobiliario - urbanismo - Foto: Leandro Fonseca Data: 23/06/2025 (Leandro Fonseca /Exame)
Redação Exame
Publicado em 30 de junho de 2025 às 09h00.
*Marcos Leite é CRO do Grupo OLX
É nos momentos mais adversos que o mercado imobiliário revela sua resiliência. E, neste ano, mesmo com a escalada dos juros, que acaba
estrangulando a oferta de crédito, e com o aumento no custo dos materiais de construção, é possível vislumbrar caminhos promissores para os lançamentos imobiliários, em especial, nos segmentos de luxo e econômico.
Dados do Anuário DataZAP, mostram que, entre 2023 e 2024, o volume de unidades habitacionais lançadas no país passou de 154 mil para 167 mil, um crescimento de mais de 8%. O estoque de imóveis cresceu em todas as nove capitais analisadas pelo Anuário (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Goiânia, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Fortaleza e Recife).
O volume de imóveis transacionados (isto é, aqueles que foram de fato comercializados) também aumentou, passando de 151 mil em 2023 para 162 mil em 2024. Ou seja, as novas unidades estão vendendo. Consequentemente, os imóveis seguem se valorizando.
Segundo as parciais do Índice de Lançamentos Imobiliários, também do DataZAP, a valorização média dos imóveis nas nove capitais analisadas foi de 2,72% no primeiro trimestre deste ano, consideravelmente mais que a inflação de 1,7% registrada pelo INCC (Índice Nacional de Custo da Construção). No acumulado anual, o preço dos lançamentos subiu 12,38%.
O que explica esse bom desempenho, apesar das dificuldades colocadas pelo cenário macroeconômico? De um lado, temos o mercado de alto
padrão, ou de “luxo”, que é mais ou menos “imune” à taxa de juros. Afinal, os compradores neste segmento recorrem bem menos ao financiamento bancário.
De outro, a habitação popular, impulsionada por programas como o Minha Casa Minha Vida (MCMV), que se apresenta como grande motor do bom desempenho nos últimos meses. Esse segmento foi, de longe, o maior responsável pelo crescimento registrado em 2024: cerca de 93 mil das 167 mil unidades lançadas naquele ano foram imóveis econômicos.
Os lançamentos do MCMV aumentaram 44,2% na comparação entre 2023 e 2024, e as vendas cresceram 43,3%. Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), mais de 40% de todos os lançamentos e imóveis vendidos no país estavam enquadrados nesse programa federal. O fenômeno tem tudo para se repetir neste ano. A Lei Orçamentária aprovada pelo Congresso prevê R$ 18 bilhões para o MCMV. O governo também elevou os limites de renda dos beneficiários. É uma mudança importante, pois contempla a população de renda intermediária, justamente a que mais sofre com o aumento dos juros na hora de comprar um imóvel de médio padrão.
Não por acaso, menos de três semanas após o anúncio das mudanças no MCMV o número de simulações na Caixa Econômica Federal já ultrapassava a marca das 600 mil, sinal do enorme interesse pelas faixas de renda mais elevadas recém-criadas.
Moral da história: embora o contexto econômico do país exija um olhar mais setorizado, podemos, sim, esperar crescimento, com a habitação popular puxando o grosso dos novos lançamentos e o mercado de alto padrão seguindo suas dinâmicas próprias, relativamente independentes do cenário do crédito.
Tendo dito tudo isso, e o médio/alto padrão? Essa categoria, na realidade, segue com uma demanda considerável — segundo o Anuário DataZAP, que monitora as 10 principais capitais do país, foram vendidas 65.868 unidades, em 2024, com um aumento de 5 pontos percentuais na velocidade de vendas e valorização média de 6% no preço quando comparado com o ano anterior. Isso revela que existe um alto volume de transações e oportunidades para profissionais que atuam neste segmento. Esse cenário confirma a resiliência do mercado imobiliário brasileiro.