Fundos imobiliários em 2024: performance e perspectivas
Especialistas da gestora Rio Bravo traçam cenários para o desempenho dos FIIs no segundo semestre deste ano
Redação Exame
Publicado em 11 de julho de 2024 às 13h39.
Última atualização em 11 de julho de 2024 às 13h41.
Por Anita Scal e Isabela Almeida*
O IFIX encerrou o primeiro semestre de 2024 com performance de 1,1%, impactado positivamente pela alta dos fundos de CRI de 4,4% e negativamente pelos fundos de tijolo, cuja performance foi de -0,6%. Neste texto, apresentaremos uma retrospectiva do semestre e as perspectivas para a performance dos fundos imobiliários (FIIs) no restante de 2024.
O ano começou com uma expectativa de que teríamos, ao final de doze meses, uma SELIC entre 8,5% - 9,0% a.a. Os dados de uma inflação mais controlada, inclusive do setor de serviços, animavam o mercado em relação à continuação do ciclo de afrouxamento monetário por parte do Banco Central. Até março, os fundos imobiliários de tijolo apontaram para alta de 2,6% e ainda estavam conseguindo realizar novas emissões de cotas a preços atrativos, já que muitos negociavam com ágio frente ao seu valor patrimonial.
A partir de abril, com a piora na percepção do risco fiscal no Brasil e a atenção do mercado com relação a trajetória de juros nos EUA, houve revisão de expectativas domésticas de inflação e SELIC. O mercado observou uma abertura das curvas de juros e os ativos de risco passaram a registrar maior volatilidade. O IFIX apresentou uma queda de 1,8%, majoritariamente influenciada pelos fundos de tijolo, que caíram 3,1%.
Diante de uma perspectiva de uma inflação mais alta e a manutenção da taxa SELIC entre 10,50% e 10,00%, o que se deve esperar dos FIIs para este ano? Mais importante que isso, buscaremos responder se essa volatilidade excessiva possui fundamento.
Os fundos imobiliários têm, até o momento, apresentado resultados consistentes. Na ótica dos fundos de tijolo, diversos FIIs têm conseguido absorver vacância. Como grande parte das locações são realizadas com algumas condições de carência e desconto por determinado período, elas acabam impactando a receita do fundo de uma forma não imediata. As locações que foram firmadas em 2022 e 2023 ainda aumentam o resultado dos fundos atualmente, conforme os períodos de carência e desconto vão se encerrando. Dessa maneira, muitos fundos ainda devem ter incremento de resultado recorrente (FFO), o que se reflete em uma maior distribuição de dividendos para os seus cotistas.
Além disso, no final de 2022 e ao longo de 2023, os FIIs de tijolo fizeram novas emissões de cotas e realizaram venda de imóveis para pré-pagar as suas dívidas. Atualmente, a maior parte dos FIIs tem alavancagem controlada – cerca de 12,7% em relação ao valor de seus ativos, de um modo geral. A maioria dos FIIs endividados realizou o pré-pagamento de suas dívidas mais caras, que, no geral, eram as indexadas ao CDI. A alavancagem que permanece em muitos casos é atrelada ao IPCA e a taxas mais atrativas em comparação ao cap rate dos ativos. Esse cenário é diferente do que ocorre com diversas companhias abertas listadas, que se encontram bastante alavancadas e com endividamentos superiores à sua geração de caixa.
A venda de imóveis realizadas por muitos FIIs no último ano têm impactado as suas receitas não recorrentes. Como grande parte das vendas é estruturada de forma parcelada, o ganho de capital é reconhecido conforme as parcelas vão sendo pagas. Normalmente, as parcelas são corrigidas pelo IPCA ou CDI do período, o que tem gerado um maior ganho para os fundos. Muitas vendas foram estruturadas com parcelas até o final de 2025, o que também deve assegurar que esses FIIs consigam manter o seu nível de distribuição atual.
Na ótica dos FIIs de papel, com as expectativas de SELIC e inflação mais altas, esses fundos devem manter um alto carrego neste ano. Os FIIs de papel possuem, majoritariamente, CRIs indexados ao IPCA ou ao CDI – a taxa média dos FIIs high grade (fundos que possuem um menor risco) hoje é de IPCA + 8,0% a.a. e CDI + 3,6% a.a. Com a alteração da Resolução CMN 5.118 e 5.119 a respeito dos lastros elegíveis para emissões de CRIs, CRAs, LCIs, LCAs e LIGs, os FIIs de CRI podem ter uma maior procura por parte dos investidores.
Dessa maneira, as perspectivas dos FIIs para este ano é de que eles sejam capazes de manter os dividendos aos níveis atuais. O dividend yield do IFIX atualmente é de 10,6% a.a., sendo que os fundos de tijolo isoladamente possuem um yield de 10,0%. É difícil estimar exatamente o momento em que teremos um ponto de virada e uma forte apreciação dos fundos de tijolo no mercado secundário, diante da volatilidade observada no mercado. Entretanto, perante a expectativa de uma estabilidade na distribuição de rendimentos e o desconto de 10,0% do preço dos FIIs em comparação ao seu valor patrimonial, não nos parece um bom período de saída. Neste momento, surgem oportunidades de investimento para os investidores que visam recorrência e ganho de capital no médio prazo.
*Anita Scal é diretora de investimentos imobiliários da Rio Bravo e Isabela Almeida é analista de investimentos da gestora
Por Anita Scal e Isabela Almeida*
O IFIX encerrou o primeiro semestre de 2024 com performance de 1,1%, impactado positivamente pela alta dos fundos de CRI de 4,4% e negativamente pelos fundos de tijolo, cuja performance foi de -0,6%. Neste texto, apresentaremos uma retrospectiva do semestre e as perspectivas para a performance dos fundos imobiliários (FIIs) no restante de 2024.
O ano começou com uma expectativa de que teríamos, ao final de doze meses, uma SELIC entre 8,5% - 9,0% a.a. Os dados de uma inflação mais controlada, inclusive do setor de serviços, animavam o mercado em relação à continuação do ciclo de afrouxamento monetário por parte do Banco Central. Até março, os fundos imobiliários de tijolo apontaram para alta de 2,6% e ainda estavam conseguindo realizar novas emissões de cotas a preços atrativos, já que muitos negociavam com ágio frente ao seu valor patrimonial.
A partir de abril, com a piora na percepção do risco fiscal no Brasil e a atenção do mercado com relação a trajetória de juros nos EUA, houve revisão de expectativas domésticas de inflação e SELIC. O mercado observou uma abertura das curvas de juros e os ativos de risco passaram a registrar maior volatilidade. O IFIX apresentou uma queda de 1,8%, majoritariamente influenciada pelos fundos de tijolo, que caíram 3,1%.
Diante de uma perspectiva de uma inflação mais alta e a manutenção da taxa SELIC entre 10,50% e 10,00%, o que se deve esperar dos FIIs para este ano? Mais importante que isso, buscaremos responder se essa volatilidade excessiva possui fundamento.
Os fundos imobiliários têm, até o momento, apresentado resultados consistentes. Na ótica dos fundos de tijolo, diversos FIIs têm conseguido absorver vacância. Como grande parte das locações são realizadas com algumas condições de carência e desconto por determinado período, elas acabam impactando a receita do fundo de uma forma não imediata. As locações que foram firmadas em 2022 e 2023 ainda aumentam o resultado dos fundos atualmente, conforme os períodos de carência e desconto vão se encerrando. Dessa maneira, muitos fundos ainda devem ter incremento de resultado recorrente (FFO), o que se reflete em uma maior distribuição de dividendos para os seus cotistas.
Além disso, no final de 2022 e ao longo de 2023, os FIIs de tijolo fizeram novas emissões de cotas e realizaram venda de imóveis para pré-pagar as suas dívidas. Atualmente, a maior parte dos FIIs tem alavancagem controlada – cerca de 12,7% em relação ao valor de seus ativos, de um modo geral. A maioria dos FIIs endividados realizou o pré-pagamento de suas dívidas mais caras, que, no geral, eram as indexadas ao CDI. A alavancagem que permanece em muitos casos é atrelada ao IPCA e a taxas mais atrativas em comparação ao cap rate dos ativos. Esse cenário é diferente do que ocorre com diversas companhias abertas listadas, que se encontram bastante alavancadas e com endividamentos superiores à sua geração de caixa.
A venda de imóveis realizadas por muitos FIIs no último ano têm impactado as suas receitas não recorrentes. Como grande parte das vendas é estruturada de forma parcelada, o ganho de capital é reconhecido conforme as parcelas vão sendo pagas. Normalmente, as parcelas são corrigidas pelo IPCA ou CDI do período, o que tem gerado um maior ganho para os fundos. Muitas vendas foram estruturadas com parcelas até o final de 2025, o que também deve assegurar que esses FIIs consigam manter o seu nível de distribuição atual.
Na ótica dos FIIs de papel, com as expectativas de SELIC e inflação mais altas, esses fundos devem manter um alto carrego neste ano. Os FIIs de papel possuem, majoritariamente, CRIs indexados ao IPCA ou ao CDI – a taxa média dos FIIs high grade (fundos que possuem um menor risco) hoje é de IPCA + 8,0% a.a. e CDI + 3,6% a.a. Com a alteração da Resolução CMN 5.118 e 5.119 a respeito dos lastros elegíveis para emissões de CRIs, CRAs, LCIs, LCAs e LIGs, os FIIs de CRI podem ter uma maior procura por parte dos investidores.
Dessa maneira, as perspectivas dos FIIs para este ano é de que eles sejam capazes de manter os dividendos aos níveis atuais. O dividend yield do IFIX atualmente é de 10,6% a.a., sendo que os fundos de tijolo isoladamente possuem um yield de 10,0%. É difícil estimar exatamente o momento em que teremos um ponto de virada e uma forte apreciação dos fundos de tijolo no mercado secundário, diante da volatilidade observada no mercado. Entretanto, perante a expectativa de uma estabilidade na distribuição de rendimentos e o desconto de 10,0% do preço dos FIIs em comparação ao seu valor patrimonial, não nos parece um bom período de saída. Neste momento, surgem oportunidades de investimento para os investidores que visam recorrência e ganho de capital no médio prazo.
*Anita Scal é diretora de investimentos imobiliários da Rio Bravo e Isabela Almeida é analista de investimentos da gestora