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Elas querem mais do que construir: querem transformar São Paulo

Executivas que representam diferentes frentes do mercado se juntaram para propor soluções concretas aos desafios urbanos

Reunião realizada no gabinete da vereadora Cris Monteiro em abril de 2025. Esquerda para direita: Maria Antonia de Carli (coordenadora de políticas públicas e comentarista política), Flávia Ribeiro - Advogada e presidente da Comissão de Estudos e Direito Imobiliário IASP) Cris Monteiro (Vereadora), Elisa Rosenthal (Diretora Presidente do Instituto Mulheres do Imobiliário), Alessandra Arnone (Managing Director - Tetris), Caroline Simionato (Co-líder do núcleo cidades inteligentes do InfraWomen Brazil) e Gabriela Bráz Aidar (co-fundadora do A.Urbe)
 (IMI/Divulgação)

Reunião realizada no gabinete da vereadora Cris Monteiro em abril de 2025. Esquerda para direita: Maria Antonia de Carli (coordenadora de políticas públicas e comentarista política), Flávia Ribeiro - Advogada e presidente da Comissão de Estudos e Direito Imobiliário IASP) Cris Monteiro (Vereadora), Elisa Rosenthal (Diretora Presidente do Instituto Mulheres do Imobiliário), Alessandra Arnone (Managing Director - Tetris), Caroline Simionato (Co-líder do núcleo cidades inteligentes do InfraWomen Brazil) e Gabriela Bráz Aidar (co-fundadora do A.Urbe) (IMI/Divulgação)

Elisa Rosenthal
Elisa Rosenthal

Idealizadora e diretora-presidente do Instituto Mulheres do Imobiliário

Publicado em 5 de agosto de 2025 às 10h19.

Última atualização em 5 de agosto de 2025 às 10h19.

O setor imobiliário é um dos pilares de desenvolvimento urbano, mas raramente é convocado a atuar como parceiro estratégico na construção de cidades mais seguras, sustentáveis e acessíveis. Essa lógica começou a mudar em São Paulo, a partir da união de executivas que representam diferentes frentes do mercado — do jurídico ao desenvolvimento, do meio ambiente à incorporação — para propor soluções concretas aos desafios urbanos.

O enterramento da fiação elétrica, tema recorrente e muitas vezes considerado inviável pelo poder público, tornou-se a pauta central de um grupo de trabalho liderado pelo Instituto Mulheres do Imobiliário (IMI), com participação da InfraWomen, da A.Urbe e potencializado pelo gabinete da vereadora Cris Monteiro, pelo PL 838/2025. 

A proposta nasceu da observação de que o setor privado já intervém cotidianamente na malha urbana e, portanto, pode ser também protagonista de sua qualificação, desde que exista um marco legal claro, contrapartidas equilibradas e incentivos eficazes.

Hoje, menos de 1% da rede elétrica de São Paulo é subterrânea. Em cidades como Buenos Aires, a instalação de novos postes foi proibida desde 2005. No Brasil, os dados revelam um desafio: em São Paulo, segundo dados oficiais, a malha de distribuição da capital paulista tem cerca de 43 mil km, dos quais apenas cerca de 40 km estão enterrados. A meta anunciada pela prefeitura — de alcançar 80 km — ainda está longe de ser atingida, apesar dos investimentos pontuais feitos nos últimos anos. No Rio de Janeiro, o percentual de rede subterrânea sobe para 11% e recua para 2% em Belo Horizonte. O custo estimado de substituir a rede aérea por subterrânea gira entre 8 e 10 vezes o valor da instalação convencional. Mas o retorno — em segurança, acessibilidade, preservação de árvores, estabilidade no fornecimento e diminuição da poluição visual — é igualmente expressivo.

A proposta de lei, construída com base em um fórum técnico promovido pelo Instituto Mulheres do Imobiliário (IMI), busca exatamente isso: criar um ambiente legal e institucional favorável à cooperação entre o poder público e o setor produtivo. A interlocução foi conduzida por Elisa Rosenthal, presidente do IMI, e reuniu mulheres de diferentes áreas — da engenharia ao direito ambiental, da incorporação à gestão de ativos — que compreenderam que o setor imobiliário não precisa ser apenas um receptor de regras, mas pode também ser formulador de soluções urbanas.

Essa atuação não seria possível sem uma estratégia consistente de advocacy — o exercício da influência legítima na formulação de políticas públicas. Ao se organizarem para apresentar propostas estruturadas, com dados técnicos e visão de longo prazo, essas lideranças femininas mostraram que o setor imobiliário pode — e deve — ocupar um lugar de protagonismo no debate urbano. O advocacy qualificado rompe a lógica da reação e abre caminho para a cocriação de soluções, fortalecendo a ponte entre quem conhece a cidade na prática e quem legisla sobre ela.

A construção do projeto reuniu nomes como Alessandra Arnone (Managing Director da Tétris Design & Build), Ana Beatriz Barbosa (sócia da Pérez & Barros Advogados), Bruna Santini (diretora de Incorporação da Cury), Caroline Simionato (Co-líder do núcleo cidades inteligentes do InfraWomen Brazil), Elisa Figueiredo (sócia do escritório Figueiredo, Fernandes, Françoso e Petros), Flávia Ribeiro (presidente da Comissão de Direito Imobiliário do IASP), Gabriela Braz Aidar (cofundadora da A.Urbe) e Juliana Paviato (diretora de Licenciamento e ESG da Setin). Todas unidas pela ideia de que melhorar o entorno é também um caminho para valorizar os empreendimentos — e, mais do que isso, deixar um legado urbano positivo.

O texto do projeto de lei (PL 838/2025) prevê que grandes empreendimentos — a depender do impacto territorial — contribuam para o enterramento da fiação na quadra onde atuam. Como contrapartida, ganham previsibilidade regulatória e incentivos. Trata-se de uma lógica inspirada em modelos internacionais, que reconhecem o setor privado como aliado na transformação das cidades.

A vereadora Cris Monteiro (foto), com sua trajetória executiva no setor financeiro, tem sido uma aliada estratégica ao trazer para o legislativo paulistano uma visão de negócios ancorada em propósito público. Seu gabinete acolheu e aprimorou as sugestões do grupo, viabilizando um texto técnico, realista e capaz de produzir resultados concretos para a cidade.

Cris Monteiro

O que se propõe é uma nova forma de fazer política urbana: onde quem constrói também cuida; onde o mercado não se opõe ao bem comum, mas atua como vetor de mudança; e onde as mulheres do setor imobiliário ocupam também os espaços de formulação e decisão.

O desafio de transformar São Paulo é imenso — mas com inteligência coletiva, cooperação entre setores e compromisso com o futuro, ele pode ser enterrado, fio por fio, sob uma cidade mais segura, justa e moderna.

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