Uma greve de caminhoneiros de proporções globais?
A qualidade de vida da população global está ameaçada. Uma guerra comercial teria efeito comparável às consequências da paralisação das estradas brasileiras
ligiatuon
Publicado em 4 de julho de 2018 às 17h40.
Última atualização em 4 de julho de 2018 às 17h41.
A importância do comércio internacional vai muito além das manchetes sobre as decisões tomadas em Washington, Pequim e Bruxelas. Na verdade, ele nos acompanha do início ao fim do dia. Basta imaginar, por exemplo, o que seria do início das manhãs sem uma xícara de café. Essa poderia ser uma realidade para milhões de europeus e americanos, não fosse o acesso que o comércio permite aos grãos produzidos, majoritariamente, produzidos na Colômbia, no Brasil e no Vietnã. Ou, o que seria do nosso sistema de saúde caso os hospitais não pudessem adquirir máquinas de diagnóstico em imagens, quase na sua totalidade fabricadas fora do Brasil.
O comércio internacional está tão presente no cotidiano – até mesmo em países muito fechados, como o Brasil –, que sua importância só será notada em momentos disruptivos que o ameacem. Vale um paralelo com situação recente enfrentada pelo
Brasil: apenas com o país paralisado pela greve dos caminhoneiros é que boa parte da população compreendeu, pela primeira vez, a dependência extrema do nosso modelo econômico em relação aos combustíveis fósseis. Em 1960, o comércio internacional representava 24% do PIB global. Atualmente, ele responde por 60% da economia mundial. Seu peso é gigantesco e movimentos que busquem reverter artificialmente essa tendência – obrigando o retorno de linhas de produção a partir da elevação de tarifas de importação – privarão a atual e as próximas gerações de um dos maiores benefícios do capitalismo: a agregação de valor e a produtividade a partir do livre acesso aos melhores insumos. O perde- perde é tão certo quanto o elevado preço do populismo econômico, que será pago, cedo ou tarde, pelos iludidos em eleições ou referendos.
Para ficar no exemplo anterior, a escalada de uma guerra comercial seria comparável às consequências de greve de caminhoneiros de proporções globais: em um cenário extremo, isso significaria o aumento desenfreado de tarifas, levaria à
escassez de insumos básicos para a indústria de diversos países, assim como o fechamento de mercados consumidores e à redução drástica dos postos de trabalho. Muitos, certamente, ficariam com saudades de debater os efeitos da
robotização sobre o mercado de trabalho. Do ponto de vista estrutural, o desequilíbrio pode originar uma disparada da
inflação e uma guerra cambial sem precedentes. Os efeitos seriam, potencialmente, mais graves do que as crises financeiras de 1929 e de 2008, combinadas. Além disso, vale destacar que a possibilidade de livre intercâmbio de produtos, serviços e conhecimento tem sido um dos principais vetores para o progresso da civilização, melhora dos níveis de desenvolvimento e aumento da expectativa de vida da espécie humana. O fato de nenhum país ser autossuficiente é um dos maiores incentivos à inovação.
A necessidade de compartilhamento de insumos, componentes e know-how entre diferentes centros de produção e pesquisa permitiu o rápido desenvolvimento da robótica, da informática e das novas tecnologias, como a inteligência artificial e o
blockchain. Sem o comércio internacional de componentes e de dados, nossas indústrias nunca teriam a oportunidade de acessar tecnologias que tem provocado um verdadeiro salto na produtividade, melhorando a qualidade do crescimento econômico. É claro que o livre comércio e a globalização geraram efeitos colaterais. Ao longo das últimas décadas, muitos países e pessoas foram deixados para trás. Mas isso não quer dizer que o fechamento econômico seja a solução. Ao contrário, é preciso fortalecer os mecanismos de abertura com a repactuação do sistema multilateral, com uma nova agenda de inclusão, que contemple facilitação de investimentos, o comércio eletrônico e a internacionalização de pequenas e médias empresas. Nadar na contramaré nos fortalecerá.
A importância do comércio internacional vai muito além das manchetes sobre as decisões tomadas em Washington, Pequim e Bruxelas. Na verdade, ele nos acompanha do início ao fim do dia. Basta imaginar, por exemplo, o que seria do início das manhãs sem uma xícara de café. Essa poderia ser uma realidade para milhões de europeus e americanos, não fosse o acesso que o comércio permite aos grãos produzidos, majoritariamente, produzidos na Colômbia, no Brasil e no Vietnã. Ou, o que seria do nosso sistema de saúde caso os hospitais não pudessem adquirir máquinas de diagnóstico em imagens, quase na sua totalidade fabricadas fora do Brasil.
O comércio internacional está tão presente no cotidiano – até mesmo em países muito fechados, como o Brasil –, que sua importância só será notada em momentos disruptivos que o ameacem. Vale um paralelo com situação recente enfrentada pelo
Brasil: apenas com o país paralisado pela greve dos caminhoneiros é que boa parte da população compreendeu, pela primeira vez, a dependência extrema do nosso modelo econômico em relação aos combustíveis fósseis. Em 1960, o comércio internacional representava 24% do PIB global. Atualmente, ele responde por 60% da economia mundial. Seu peso é gigantesco e movimentos que busquem reverter artificialmente essa tendência – obrigando o retorno de linhas de produção a partir da elevação de tarifas de importação – privarão a atual e as próximas gerações de um dos maiores benefícios do capitalismo: a agregação de valor e a produtividade a partir do livre acesso aos melhores insumos. O perde- perde é tão certo quanto o elevado preço do populismo econômico, que será pago, cedo ou tarde, pelos iludidos em eleições ou referendos.
Para ficar no exemplo anterior, a escalada de uma guerra comercial seria comparável às consequências de greve de caminhoneiros de proporções globais: em um cenário extremo, isso significaria o aumento desenfreado de tarifas, levaria à
escassez de insumos básicos para a indústria de diversos países, assim como o fechamento de mercados consumidores e à redução drástica dos postos de trabalho. Muitos, certamente, ficariam com saudades de debater os efeitos da
robotização sobre o mercado de trabalho. Do ponto de vista estrutural, o desequilíbrio pode originar uma disparada da
inflação e uma guerra cambial sem precedentes. Os efeitos seriam, potencialmente, mais graves do que as crises financeiras de 1929 e de 2008, combinadas. Além disso, vale destacar que a possibilidade de livre intercâmbio de produtos, serviços e conhecimento tem sido um dos principais vetores para o progresso da civilização, melhora dos níveis de desenvolvimento e aumento da expectativa de vida da espécie humana. O fato de nenhum país ser autossuficiente é um dos maiores incentivos à inovação.
A necessidade de compartilhamento de insumos, componentes e know-how entre diferentes centros de produção e pesquisa permitiu o rápido desenvolvimento da robótica, da informática e das novas tecnologias, como a inteligência artificial e o
blockchain. Sem o comércio internacional de componentes e de dados, nossas indústrias nunca teriam a oportunidade de acessar tecnologias que tem provocado um verdadeiro salto na produtividade, melhorando a qualidade do crescimento econômico. É claro que o livre comércio e a globalização geraram efeitos colaterais. Ao longo das últimas décadas, muitos países e pessoas foram deixados para trás. Mas isso não quer dizer que o fechamento econômico seja a solução. Ao contrário, é preciso fortalecer os mecanismos de abertura com a repactuação do sistema multilateral, com uma nova agenda de inclusão, que contemple facilitação de investimentos, o comércio eletrônico e a internacionalização de pequenas e médias empresas. Nadar na contramaré nos fortalecerá.