A Europa e a China contra Donald Trump
A postura do presidente americano em relação ao comércio exterior leva a uma aproximação da China com a União Europeia
filipeserranoexame
Publicado em 23 de julho de 2018 às 12h15.
Última atualização em 23 de julho de 2018 às 14h28.
A iminência do início da Primeira Guerra Comercial do século XXI começa a movimentar o xadrez das alianças geopolíticas – e os países já se armam para a série de batalhas comerciais, que terão Washington e Pequim como epicentros.
Nesta semana, União Europeia e China anunciaram a criação de uma força tarefa internacional para estudar e propor um conjunto de reformas institucionais no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC). O objetivo é proteger o sistema multilateral de comércio e neutralizar as pressões de Donald Trump contra a OMC.
No fundo, o movimento sino-europeu é uma das reações mais concretas ao tarifaço de Trump contra a China. Caso implementado, atingirá cerca de US$ 200 bilhões em produtos do país asiático – correspondente a 40% do volume total exportado pela China para os Estados Unidos (EUA). Um estudo recente publicado pela UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) demonstra que essas medidas resultarão na desaceleração da economia mundial, sendo os países menos desenvolvidos os que mais sofrerão consequências.
Talvez Donald Trump e sua equipe imaginassem que as diferenças políticas entre China e União Europeia não seriam capazes de impedir um alinhamento estratégico entre as duas regiões. No atual contexto de fechamentos dos EUA, a aliança entre União Europeia e China se dá não apenas pela convergência de interesses econômicos no Sudeste Asiático, mas também pela preocupação mútua de preservar a ordem liberal construída pelo próprio ocidente no pós-Segunda Guerra mundial.
A nova postura da China em defesa da ordem liberal quebra o velho dualismo ‘Ocidente-Oriente’ e é consequência direta não só do trumpismo – que tem levado a um redesenho completo do xadrez político internacional -, mas também do amadurecimento pelo qual o país passou desde o início do processo de acessão à OMC, em 2001 A esse processo, soma-se a compreensão das autoridades chinesas de que tanto o crescimento do país, quanto a estabilidade da Ásia, dependerão do multilateralismo.
Tanto os europeus como os chineses sabem da importância do comércio para a segurança internacional: quanto maior o intercâmbio internacional de produtos e serviços, maior a cooperação entre os países e menores as chances de conflitos.
Trump age como um lobo solitário na política internacional, pois suas decisões estão longe de encontrar respaldo na Secretaria de Estado americana e no United States Trade Representative (USTR, na sigla em inglês), o poderoso órgão de comércio do país. O constrangimento dos diplomatas americanos no exterior é tão grande que muitos deixaram seus postos ou seguem cientes da resistência contra o que parece ser um longo inverno diplomático. A Eurásia une-se, portanto, não contra os EUA, mas contra o trumpismo.
As medidas de proteção unilateral das velhas indústrias americanas poderão comprometer a produtividade geral da economia norte-americana, sobretudo dos setores mais integrados às cadeias globais, como tecnologia e telecomunicações. Empresas desses segmentos serão as primeiras a sentir os graves efeitos de possíveis retaliações no exterior, sobretudo de natureza regulatória, como a quebra de patentes no âmbito de retaliações cruzadas.
Dentro da estratégia de reação internacional a Trump, a União Europeia e outras importantes economias têm intensificado a celebração de novos acordos comerciais entre si.
Em meio ao isolamento dos EUA, abrem-se diversas oportunidades também para o Brasil. Ao contrário do que têm dito os protecionistas deste lado do hemisfério sul, este é momento para se abrir, não para se fechar.
Nesta semana, a União Europeia anunciou a assinatura do maior acordo de livre comércio da sua história com o Japão: serão mais de 600 milhões de pessoas livres para intercambiar produtos, serviços e conhecimentos. É nesta direção que devemos caminhar, sob o risco de ficarmos isolados.
A iminência do início da Primeira Guerra Comercial do século XXI começa a movimentar o xadrez das alianças geopolíticas – e os países já se armam para a série de batalhas comerciais, que terão Washington e Pequim como epicentros.
Nesta semana, União Europeia e China anunciaram a criação de uma força tarefa internacional para estudar e propor um conjunto de reformas institucionais no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC). O objetivo é proteger o sistema multilateral de comércio e neutralizar as pressões de Donald Trump contra a OMC.
No fundo, o movimento sino-europeu é uma das reações mais concretas ao tarifaço de Trump contra a China. Caso implementado, atingirá cerca de US$ 200 bilhões em produtos do país asiático – correspondente a 40% do volume total exportado pela China para os Estados Unidos (EUA). Um estudo recente publicado pela UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) demonstra que essas medidas resultarão na desaceleração da economia mundial, sendo os países menos desenvolvidos os que mais sofrerão consequências.
Talvez Donald Trump e sua equipe imaginassem que as diferenças políticas entre China e União Europeia não seriam capazes de impedir um alinhamento estratégico entre as duas regiões. No atual contexto de fechamentos dos EUA, a aliança entre União Europeia e China se dá não apenas pela convergência de interesses econômicos no Sudeste Asiático, mas também pela preocupação mútua de preservar a ordem liberal construída pelo próprio ocidente no pós-Segunda Guerra mundial.
A nova postura da China em defesa da ordem liberal quebra o velho dualismo ‘Ocidente-Oriente’ e é consequência direta não só do trumpismo – que tem levado a um redesenho completo do xadrez político internacional -, mas também do amadurecimento pelo qual o país passou desde o início do processo de acessão à OMC, em 2001 A esse processo, soma-se a compreensão das autoridades chinesas de que tanto o crescimento do país, quanto a estabilidade da Ásia, dependerão do multilateralismo.
Tanto os europeus como os chineses sabem da importância do comércio para a segurança internacional: quanto maior o intercâmbio internacional de produtos e serviços, maior a cooperação entre os países e menores as chances de conflitos.
Trump age como um lobo solitário na política internacional, pois suas decisões estão longe de encontrar respaldo na Secretaria de Estado americana e no United States Trade Representative (USTR, na sigla em inglês), o poderoso órgão de comércio do país. O constrangimento dos diplomatas americanos no exterior é tão grande que muitos deixaram seus postos ou seguem cientes da resistência contra o que parece ser um longo inverno diplomático. A Eurásia une-se, portanto, não contra os EUA, mas contra o trumpismo.
As medidas de proteção unilateral das velhas indústrias americanas poderão comprometer a produtividade geral da economia norte-americana, sobretudo dos setores mais integrados às cadeias globais, como tecnologia e telecomunicações. Empresas desses segmentos serão as primeiras a sentir os graves efeitos de possíveis retaliações no exterior, sobretudo de natureza regulatória, como a quebra de patentes no âmbito de retaliações cruzadas.
Dentro da estratégia de reação internacional a Trump, a União Europeia e outras importantes economias têm intensificado a celebração de novos acordos comerciais entre si.
Em meio ao isolamento dos EUA, abrem-se diversas oportunidades também para o Brasil. Ao contrário do que têm dito os protecionistas deste lado do hemisfério sul, este é momento para se abrir, não para se fechar.
Nesta semana, a União Europeia anunciou a assinatura do maior acordo de livre comércio da sua história com o Japão: serão mais de 600 milhões de pessoas livres para intercambiar produtos, serviços e conhecimentos. É nesta direção que devemos caminhar, sob o risco de ficarmos isolados.