Um Salto pro Digital Deepening
Quem não vende on-line, hoje em dia não vende. E quem não sabe comprar on-line, não só não compra, como também não come
Victor Sena
Publicado em 15 de julho de 2020 às 09h28.
Última atualização em 15 de julho de 2020 às 10h43.
Eu estava perto dos meus 20 anos (hoje tenho 41), quando instalaram um Bungee Jump na praia da Barra da Tijuca. Eu não sei vocês, mas eu tenho medo de altura, e tenho raiva até hoje de quem teve essa infeliz ideia. Infeliz porque um Bungee Jump no meio da praia virou automaticamente a grande atração daquele verão e todo mundo “tinha que saltar”. Lembro até hoje, quando saímos em dois carros, eu e um grupo de mais 9 amigos – num total de 4 garotos e 6 garotas -, para ir a um bar na Barra e, depois de alguns chopps, a garota que eu estava interessado deu a “ótima ideia” de pular de Bungee Jump. Eu adorei #sóquenão.
Fomos nós 10 para a praia, onde um guindaste havia sido instalado na areia, com um elástico amarrado na gaiola do salto para pularem lá de cima. Saltou a primeira, pulou a segunda e, depois da quinta pessoa, chegou a minha vez. Confesso, estava simplesmente apavorado. Mas como iria dizer para a garota que estava tentando conquistar que eu estava com medo? Soubesse eu que anos depois encontraria a mulher da minha vida, teria ignorado essa pressão. Mas, naquele momento, não tinha outra alternativa, senão subir naquela grua. Cheguei lá em cima e o pavor tomou conta de mim. Ventava muito, o elástico (que é bem pesado) me puxava pra baixo e eu segurava firmemente na caçamba, repetindo insistentemente pro instrutor que não iria pular de jeito nenhum. Aí olhava lá pra baixo e via a turma gritando: “pu-la, pu-la” e só pensava – “Maldita hora que eu resolvi sair de casa hoje...”
Corta pra 2020 e para a pandemia que vivemos. O vírus que mudou o mundo como conhecíamos se chama “COVID-19” e é a junção das palavras Corona (Coroa em espanhol), Vírus e Doença (disease em inglês), mais o ano de 2019. Esse vírus, que causou uma das maiores pandemias da história da humanidade, quase fez o mundo parar. As lojas fecharam, os restaurantes não funcionam mais e a maior parte das pessoas começou a trabalhar de casa, no agora famoso home-office. Para sobreviver, todos foram forçados a “pular” pro on-line. Seja abrir seu e-commerce, seja integrar seu restaurante nos aplicativos de delivery. Quem não vende on-line, hoje em dia não vende. E quem não sabe comprar on-line, não só não compra, como também não come, tem dificuldades para pagar contas e também para investir. Chamamos isso de Digital Deepening.
Digital Deepening é o nome que damos para o fenômeno de todos serem obrigados a mergulhar na internet. Seja o pequeno comerciante, que não teve outra opção para vender que não o digital, já que sua loja física foi forçada a fechar, seja pessoas como o meu pai, que tem 72 anos, e que se viu baixando os aplicativos de delivery de comida para poder comer algo diferente. Mas a grande novidade é que muitos desses consumidores perceberam que a experiência é muito mais prática e sem fricção on-line. Que é muito mais eficiente, e muitas vezes mais barato, comprar sua cerveja via aplicativo ou a ração do seu cachorro digitalmente. Vai ser difícil imaginar uma nova ida até o Pet Shop para comprar um pacote de 15 quilos de ração, lembrando que depois de comprar você vai ter que carregá-lo até a sua casa, quando podemos encomendar on-line, e mais, assinar um serviço para a loja te entregar mensalmente o mesmo produto, sem você nem precisar lembrar que precisava comprar novamente.
E pelo menos os brasileiros estão entendendo, e pelo visto gostando, desse novo normal. 16% dos brasileiros pediram comida em casa pela primeira vez on-line pós Covid. 13% compraram pela primeira vez via Smartphone e 11% compraram digitalmente e retiraram na loja. Segundo um estudo da Decode/ BTG Pactual (“O legado da quarentena para o consumo”), os brasileiros estão consumindo mais entretenimento on-line do que nunca, estão comprando mais remédios e vinhos, se preocupando com a manutenção da forma física, estudando e trabalhando digitalmente.
No mundo todo, as ações de empresas de e-commerce atingiram seus níveis mais altos de valorização durante a pandemia com a aceleração das vendas on-line. Essa alta foi chamada de “Efeito Amazon”, em homenagem a varejista americana, que aumentou seu valor de mercado em mais de USD 400 bilhões (mais de R$ 2 trilhões na cotação atual) desde o início do ano. As empresas que são nativamente digitais foram as grandes beneficiárias dessa crise, com altas relevantes nas ações do Alibaba, Shopify, Mercado Livre e Magazine Luiza, para citar apenas algumas.
E o que o Digital Deepening tem a ver com o Bungee Jump? Bem, imagino que vocês queiram saber se eu efetivamente pulei né? Eu pulei sim, quero dizer, na verdade fui empurrado. Lá em cima, a 40 metros de altura, com o corpo paralisado de medo, lembro do instrutor falando: “Bota um braço atrás da cabeça. Agora bota o outro. Pode ficar tranquilo, que eu não vou te empurrar...”. Esse foi meu erro, eu acreditei nele! E logo após levantar a segunda mão, que estava literalmente grudada na gaiola, ele me deu um leve empurrão, que me fez relembrar de toda minha vida até aquele momento, durante os exatos 12 segundos de queda.
Pois é, às vezes a gente precisa de um empurrão para acelerar uma decisão. Decisão esta, que até já estava tomada quando subi no guindaste, mas que às vezes ficamos postergando a execução, seja lá qual for o motivo. Que o Covid-19 seja como o empurrão que o instrutor me deu naquele dia. O impulso que faltava para você também pular definitivamente de cabeça no on-line. Esse não é mais o futuro, mas sim o presente.
Eu estava perto dos meus 20 anos (hoje tenho 41), quando instalaram um Bungee Jump na praia da Barra da Tijuca. Eu não sei vocês, mas eu tenho medo de altura, e tenho raiva até hoje de quem teve essa infeliz ideia. Infeliz porque um Bungee Jump no meio da praia virou automaticamente a grande atração daquele verão e todo mundo “tinha que saltar”. Lembro até hoje, quando saímos em dois carros, eu e um grupo de mais 9 amigos – num total de 4 garotos e 6 garotas -, para ir a um bar na Barra e, depois de alguns chopps, a garota que eu estava interessado deu a “ótima ideia” de pular de Bungee Jump. Eu adorei #sóquenão.
Fomos nós 10 para a praia, onde um guindaste havia sido instalado na areia, com um elástico amarrado na gaiola do salto para pularem lá de cima. Saltou a primeira, pulou a segunda e, depois da quinta pessoa, chegou a minha vez. Confesso, estava simplesmente apavorado. Mas como iria dizer para a garota que estava tentando conquistar que eu estava com medo? Soubesse eu que anos depois encontraria a mulher da minha vida, teria ignorado essa pressão. Mas, naquele momento, não tinha outra alternativa, senão subir naquela grua. Cheguei lá em cima e o pavor tomou conta de mim. Ventava muito, o elástico (que é bem pesado) me puxava pra baixo e eu segurava firmemente na caçamba, repetindo insistentemente pro instrutor que não iria pular de jeito nenhum. Aí olhava lá pra baixo e via a turma gritando: “pu-la, pu-la” e só pensava – “Maldita hora que eu resolvi sair de casa hoje...”
Corta pra 2020 e para a pandemia que vivemos. O vírus que mudou o mundo como conhecíamos se chama “COVID-19” e é a junção das palavras Corona (Coroa em espanhol), Vírus e Doença (disease em inglês), mais o ano de 2019. Esse vírus, que causou uma das maiores pandemias da história da humanidade, quase fez o mundo parar. As lojas fecharam, os restaurantes não funcionam mais e a maior parte das pessoas começou a trabalhar de casa, no agora famoso home-office. Para sobreviver, todos foram forçados a “pular” pro on-line. Seja abrir seu e-commerce, seja integrar seu restaurante nos aplicativos de delivery. Quem não vende on-line, hoje em dia não vende. E quem não sabe comprar on-line, não só não compra, como também não come, tem dificuldades para pagar contas e também para investir. Chamamos isso de Digital Deepening.
Digital Deepening é o nome que damos para o fenômeno de todos serem obrigados a mergulhar na internet. Seja o pequeno comerciante, que não teve outra opção para vender que não o digital, já que sua loja física foi forçada a fechar, seja pessoas como o meu pai, que tem 72 anos, e que se viu baixando os aplicativos de delivery de comida para poder comer algo diferente. Mas a grande novidade é que muitos desses consumidores perceberam que a experiência é muito mais prática e sem fricção on-line. Que é muito mais eficiente, e muitas vezes mais barato, comprar sua cerveja via aplicativo ou a ração do seu cachorro digitalmente. Vai ser difícil imaginar uma nova ida até o Pet Shop para comprar um pacote de 15 quilos de ração, lembrando que depois de comprar você vai ter que carregá-lo até a sua casa, quando podemos encomendar on-line, e mais, assinar um serviço para a loja te entregar mensalmente o mesmo produto, sem você nem precisar lembrar que precisava comprar novamente.
E pelo menos os brasileiros estão entendendo, e pelo visto gostando, desse novo normal. 16% dos brasileiros pediram comida em casa pela primeira vez on-line pós Covid. 13% compraram pela primeira vez via Smartphone e 11% compraram digitalmente e retiraram na loja. Segundo um estudo da Decode/ BTG Pactual (“O legado da quarentena para o consumo”), os brasileiros estão consumindo mais entretenimento on-line do que nunca, estão comprando mais remédios e vinhos, se preocupando com a manutenção da forma física, estudando e trabalhando digitalmente.
No mundo todo, as ações de empresas de e-commerce atingiram seus níveis mais altos de valorização durante a pandemia com a aceleração das vendas on-line. Essa alta foi chamada de “Efeito Amazon”, em homenagem a varejista americana, que aumentou seu valor de mercado em mais de USD 400 bilhões (mais de R$ 2 trilhões na cotação atual) desde o início do ano. As empresas que são nativamente digitais foram as grandes beneficiárias dessa crise, com altas relevantes nas ações do Alibaba, Shopify, Mercado Livre e Magazine Luiza, para citar apenas algumas.
E o que o Digital Deepening tem a ver com o Bungee Jump? Bem, imagino que vocês queiram saber se eu efetivamente pulei né? Eu pulei sim, quero dizer, na verdade fui empurrado. Lá em cima, a 40 metros de altura, com o corpo paralisado de medo, lembro do instrutor falando: “Bota um braço atrás da cabeça. Agora bota o outro. Pode ficar tranquilo, que eu não vou te empurrar...”. Esse foi meu erro, eu acreditei nele! E logo após levantar a segunda mão, que estava literalmente grudada na gaiola, ele me deu um leve empurrão, que me fez relembrar de toda minha vida até aquele momento, durante os exatos 12 segundos de queda.
Pois é, às vezes a gente precisa de um empurrão para acelerar uma decisão. Decisão esta, que até já estava tomada quando subi no guindaste, mas que às vezes ficamos postergando a execução, seja lá qual for o motivo. Que o Covid-19 seja como o empurrão que o instrutor me deu naquele dia. O impulso que faltava para você também pular definitivamente de cabeça no on-line. Esse não é mais o futuro, mas sim o presente.