Exame.com
Continua após a publicidade

Eu acredito em fadas

"Se hoje em dia, a moeda mais valiosa do mundo é a atenção, Rayssa Leal tratou de chamar a atenção do mundo todo para si com alegria, valor e propósito"

A filipina Margielyn Didal e a brasileira Rayssa Leal no skate em Tóquio.
 (Toby Melville/Reuters)
A filipina Margielyn Didal e a brasileira Rayssa Leal no skate em Tóquio. (Toby Melville/Reuters)
F
Frederico Pompeu

Publicado em 17 de agosto de 2021 às, 15h37.

Por Frederico Pompeu

“Rrrrrrrrrebeca Andrade do Brasilllll” gritou emocionado o locutor Galvão Bueno, assim que nossa ginasta conquistou brilhantemente a medalha de ouro no salto e se tornou a primeira mulher brasileira a faturar duas medalhas em uma mesma edição das Olimpíadas. Os Jogos Olímpicos, quero dizer, na verdade os esportes, têm esse poder de fazer rir, chorar, criar vilões e heróis. Os Jogos de Tóquio terminaram e o Brasil garantiu a melhor campanha de sua história com 21 medalhas: sete ouros, seis pratas e oito bronzes. Nomes como a própria Rebeca (Ginástica artística), Ítalo Ferreira (Gabriel Medina, não foi dessa vez, mas Paris é logo ali), Martine Grael e Kahena Kunze (vela), Isaquias Queiroz (canoagem), Herbert Conceição (boxe), Ana Marcela Cunha (maratona aquática) e nossa seleção de futebol acabaram entrando para o seleto rol de atletas, que tiveram a honra de subir no lugar mais alto do pódio.

Cada um deles certamente tem uma história de vida fantástica, de muita garra, suor e determinação (qualquer semelhança com o empreendedorismo não é mera coincidência). Mas, dentre todas, a medalha que mais me marcou não foi uma de ouro, mas sim, uma de prata. Uma medalha conquistada com leveza, graciosidade e muito estilo, num esporte novo neste tipo de competição – o Skate Street.

A skatista brasileira Rayssa Leal entrou para a história do esporte como a terceira medalhista individual mais jovem da história. Internacionalmente conhecida como “Fadinha”, pela fantasia que usava quando começou no esporte, ela atraiu todos os holofotes para si. Não só pelo fato de ganhar uma medalha olímpica com apenas 13 anos, mas também pela forma como conquistou. Quando perguntada sobre a forma como dançava e brincava mesmo durante uma final olímpica, ela respondeu com a irreverência de uma adolescente, mas com a maturidade de uma gigante: "Eu estava me divertindo, no momento mais especial da minha vida. Quando eu fico feliz, eu fico animada, me divertindo.... Faz o que tu ama (sic), se diverte, fica animado sempre... Eu já falei muitas vezes, mas é só diversão", encerrou com um sorriso contagiante, já ostentando sua prata no peito.

Com toda essa alegria e talento, Rayssa foi a atleta mais comentada do mundo no Twitter durante as Olimpíadas. E não foi só no Twitter que nossa “fadinha” mostrou os seus poderes. No Instagram, ela passou de 600 mil seguidores que tinha antes de embarcar para o Japão para seus atuais 6,7 milhões de fãs. Já com relação aos patrocinadores, se no início da competição ela tinha somente oito, agora ela já negocia com mais de vinte. A Nike, por exemplo, uma de suas principais apoiadoras, verificou um aumento de 700% na busca por produtos relacionados a skates no seu e-commerce durante os dias em que ela competiu.

Vivemos numa era, onde os influenciadores têm maior poder de conversão em vendas do que os próprios vendedores. Por isso, a parceria com influenciadores digitais vem sendo cada vez mais usada como estratégia de marketing das empresas. À medida que as pessoas passam mais tempo nas redes sociais, o que foi ainda mais exponencializado durante a pandemia, é natural que elas também passem pelo menos parte desse tempo interagindo com influenciadores. Por isso, um dos maiores “deveres de casa” que os times de marketing devem fazer antes de fechar um contrato como esses, é garantir que o influenciador tenha o perfil e o estilo de vida alinhados com a marca e o produto a ser anunciado. As marcas tendem a priorizar cada vez mais parcerias de longo prazo, com menos influenciadores que sejam mais aderentes aos seus valores.

Segundo a Statista, o marketing usando influenciadores vem crescendo fortemente ano após ano, tendo mais que dobrado entre 2019 e 2021, vindo de 6,5 bilhões para 13,8 bilhões de dólares em apenas três anos. O Instagram segue sendo a principal plataforma para este tipo de mídia, seguido pelo TikTok na segunda posição, que foi o aplicativo mais instalado no mundo em 2020. Por isso, esse crescimento no número de seguidores da Rayssa tem o potencial de mudar definitivamente a vida dela.

Outra tendência que vem se materializando cada vez mais é a entrada dos artistas e esportistas como sócios das companhias. O que já era comum lá fora, com casos como o da cantora Rihanna, que virou bilionária muito mais pela sua participação em uma marca de cosméticos (a Fenty Beauty), do que pela sua música ou do lutador Connor McGregor, que se tornou sócio de uma marca de whisky (a Proper Twelve) posteriormente vendida por USD 150 milhões, começa a chegar ao Brasil também. Casos como o da atriz Marina Ruy Barbosa, que lançou sua própria marca de roupas, ou do Bruno Gagliasso, que era sócio da CredPago antes do BTG Pactual investir, vem ganhando mais tração por aqui. Nestes casos, as companhias têm que prestar ainda mais atenção ao perfeito fit entre a personalidade escolhida e o propósito da empresa.

Por isso, voltando medalha de prata em questão, ela tem o potencial de mudar completamente a vida da nossa querida Rayssa. E merecidamente. Se hoje em dia, a moeda mais valiosa do mundo é a atenção, a skatista tratou de chamar a atenção do mundo todo para si com alegria, valor e propósito. Qual marca não quer se atrelar a uma mensagem dessas? Rayssa, você é a maior prova de que uma pessoa é do tamanho do seu sonho. Virei teu fã e passei a acreditar em fadas.