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Adaptabilidade, não se esqueça dessa palavra

"Às vezes, experimentamos a inversão da matriz problema-solução, quando a própria solução pode passar a ser um problema"

Choluteca Bridge: a ponte que não ia para lugar nenhum (Twitter/Reprodução)
Choluteca Bridge: a ponte que não ia para lugar nenhum (Twitter/Reprodução)
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Frederico Pompeu

Publicado em 9 de setembro de 2020 às, 15h39.

Você conhece a história da ponte que ia para lugar nenhum? Parece brincadeira, mas isso realmente aconteceu em Honduras, um pequeno país localizado na América Central, região constantemente atingida por vendavais e furacões. Por isso, em 1996, quando o Governo decidiu construir uma nova ponte sobre o Rio Choluteca (também conhecida como Puente del Sol Naciente), eles contrataram uma firma do Japão, país que também sofre com grandes desastres naturais.

Na construção da ponte em Honduras foi utilizado o que se tinha de mais moderno em termos de tecnologia para garantir robustez e solidez à obra. A construção levou 2 anos e, quando foi inaugurada em 1998, tornou-se um ícone do local, virando um verdadeiro ponto turístico e trazendo orgulho para os moradores da região.

No mesmo ano em que a ponte recebeu autorização para sua inauguração, Honduras foi atingida pelo furacão Mitch, que causou danos consideráveis ​​ao país e à sua infraestrutura. Sendo um dos mais devastadores ciclones tropicais que já passaram pelo Oceano Atlântico, ele atingiu ventos de 290 km/h e gerou enormes volumes de chuva durante quatro dias, o equivalente ao que estava previsto para cair em seis meses. O rio Choluteca inundou o país e mais de 7.000 pessoas perderam suas vidas. O Mitch danificou ou destruiu a maioria das pontes de Honduras, exceto uma.

A nova ponte, que tinha acabado de ficar pronta, não foi afetada. Ela resistiu fortemente à fúria do furacão. Embora a ponte em si estivesse em condições quase perfeitas, as estradas em cada extremidade da ponte haviam praticamente desaparecido. E havia um outro problema ainda maior. O rio havia mudado seu curso original. Ele formou um novo canal que não fluía mais sob a ponte, mas sim ao seu lado. A Puente Sol Naciente tornou-se uma ponte que ligava o nada a lugar nenhum.

A repentina alteração no curso do rio Choluteca apenas nos mostra o quanto a vida pode ser incerta. O fenômeno natural se tornou uma metáfora para muitas lições que abrangem nossa vida pessoal, empresarial e até mesmo tecnológica. Assim como o rio, talvez precisemos mudar o curso de nossas vidas por fatores que fogem ao nosso controle. Nessas horas, a capacidade de se adaptar às mudanças será peça fundamental para sobrevivência e resiliência do seu negócio.

Usualmente ficamos focados na solução do problema de hoje, sem perceber que o problema em si pode mudar. Às vezes, experimentamos a inversão da matriz problema-solução, quando a própria solução pode passar a ser um problema. Quer um exemplo? Que tal pensarmos nos bancos?

Durante anos, ter o maior número de agências possível era uma característica fundamental para aumentar a sua base de clientes e, consequentemente, sua receita. Era muito difícil ter um cliente em uma cidade que você não tivesse presença física. Com a chegada da internet, “o curso do rio mudou”.

A Internet e seu custo zero de distribuição transformou não só todas as formas de mídia, incluindo impressão, música e vídeo, como também a indústria bancária. Ao não precisar ter custos com aluguel de imóveis, segurança e infraestrutura local dentre outros, os bancos digitais conseguem ser mais baratos e leves, capturando cada vez mais clientes - que hoje, nem querem mais ir a uma agência. O que um dia foi a solução para capilaridade e aumento da base, hoje é um problema por conta dos custos necessários para que a rede seja mantida.

Até mesmo o melhor produto pode acabar sem um mercado. O melhor tocador de CDs, o melhor gravador, GPS, câmeras, agora estão todos embutidos em um único dispositivo: seu Smartphone. O mercado desses outros produtos diminuiu muito ou simplesmente desapareceu. Hoje, a tecnologia e a forma de fazer negócios mudam muito mais rapidamente. Esteja pronto e disposto a aceitar e trabalhar com mudanças inevitáveis. Quando necessário, seja você mesmo o agente dessa mudança.

Tenho convicção de que estamos num ponto da história onde as oportunidades são maiores do que nunca. Hoje é muito mais fácil ter acesso a informações e a capital do que em qualquer outro momento das nossas vidas. Por outro lado, os modelos de negócio dos incumbentes são questionados e desafiados diariamente. Como meu amigo Ricardo Dias, ex-CMO da Ambev costuma dizer: “Lembre-se: você não precisa fazer nada errado, desde que os outros o façam melhor do que você”. Por isso, os líderes precisam ser flexíveis o suficiente para saber quando e como administrar a mudança, caso contrário, eles mesmos rapidamente se tornarão obsoletos também.

E você quer saber o que aconteceu com a ponte que ligava o nada a lugar nenhum? Em 2003, eles religaram a ponte à reconstruída rodovia ao seu redor, ou seja, a adaptaram. Adaptabilidade, não se esqueça nunca dessa palavra.